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2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

2.3 A Análise da Conversação (AC)

2.4.5 As máximas de Geoffrey Leech

De acordo com Leech (1983), existe um princípio de cortesia com as máximas da conversação semelhantes às formuladas por Paul Grice. Ele lista seis máximas: tato, generosidade, aprovação, modéstia, acordo e simpatia. Essas máximas variam

de cultura para cultura: o que pode ser considerado educado em uma cultura pode ser estranho ou completamente rude em outro.

I) A máxima de tato

Os estados máximos do tato de Leech:

a) minimizar a expressão de crenças que implicam custos aos outros; b) maximizar a expressão de crenças que implicam o benefício aos outros. A primeira parte desta máxima se encaixa à teoria de Brown e Levinson (1987) com relação à estratégia de cortesia negativa por reduzir ao mínimo a fricção, e a segunda parte reflete a estratégia de cortesia positiva em atender aos interesses que o ouvinte quer e precisa. Os exemplos abaixo são observações de conversas rotineiras da pesquisadora desta tese:

a) – Só um minutinho, posso interromper?

b) - Deixa eu esclarecer isso, então!

II) A máxima de generosidade

Os estados máximos de generosidade de Leech:

a) minimizar a expressão de crenças que impliquem em benefício para si mesmo;

b) maximizar a expressão de crenças que impliquem em custos para si mesmo.

Ao contrário da máxima de tato, a máxima de generosidade centra-se no interlocutor e diz que se devem priorizar os outros em vez de si mesmo.

a) - Você precisa vir jantar com a gente. b) - Você relaxa, deixa que eu lavo os pratos.

III) A máxima de aprovação

Os estados máximos de aprovação de Leech: a) minimizar a expressão de desprezo do outro;

É preferível elogiar para contornar um problema e, se isso for impossível, dar algum tipo de resposta mínima (possivelmente com eufemismos) ou ficar em silêncio. A primeira parte da máxima evita desacordo; a segunda parte tem a intenção de fazer com que outras pessoas se sintam bem, mostrando solidariedade.

a) - Eu ouvi o João cantando no karaokê ontem à noite... bom, pelo menos ele parecia que estava se divertindo sozinho!

b) - Gil, eu sei que você é um gênio. Você sabe resolver este problema de matemática, aqui?

IV) A máxima de modéstia

Os estados de máxima de modéstia de Leech: a) minimizar a expressão de consagração de si;

b) maximizar a expressão de autodesprezo.

a) - Eu nem olhei minhas anotações da palestra! E você? b) - Ah, eu sou tão burro!

V) A máxima de concordância

Os estados de máxima de concordância são os seguintes: a) minimizar a expressão de desacordo entre si e outros;

b) maximizar a expressão de acordo entre si e os outros.

Essa máxima está de acordo com Brown e Levinson (1987) nas estratégias de cortesia positiva: “procurar um acordo” e “evitar desacordo” à qual eles atribuem grande importância. No entanto, não sendo possível o acordo, aconselha as pessoas a evitarem totalmente o desacordo. Observa-se que são muito mais diretos na expressão de acordo do que no desacordo.

a) - Não quero que minha filha vá à festa, quero que ela estude.

b) - Sim, mas eu pensei que já havíamos resolvido isso na última visita. VI) A máxima de simpatia ou solidariedade

Os estados máximos de simpatia ou solidariedade levam a: a) minimizar a antipatia entre si e os outros;

b) maximizar a simpatia entre si e os outros.

Isso inclui um pequeno grupo de discurso, como felicitações e comiseração. Expressar condolências. Está em conformidade com a estratégia de cortesia positiva de Brown e Levinson em atender a necessidades, desejos e interesses do ouvinte.

a) – Eu também não acho que fui justo com vocês. b) - Estou triste em ouvir sobre seu pai.

As teorias apresentadas acima constituem-se, apenas, em uma pequena parte do vasto campo de pesquisa sobre cortesia. Existem vários estudos que muito têm contribuído com o tema. Contudo, essas teorias parecem ser bastante representativas na área, em termos de formarem o núcleo da pesquisa em volta do qual o campo está construído.

Grice, Lakoff, Goffman, Brown & Levinson e Leech podem ser considerados os fundadores da moderna pesquisa sobre cortesia, cujas teorias figuram na maioria das publicações sobre o tema. Entende-se que as demais teorias representam alguns anéis externos mais recentes em torno deste primeiro núcleo. As principais tendências e elaborações, que têm aparecido desde então, subordinam-se ao cerne principal pesquisado e registrado pelos cinco mais citados teóricos sobre cortesia linguística.

A cortesia é vista como um sistema de normas de comportamento em socie- dade e está intimamente ligada ao uso verbal, dado que as relações sociais aconte- cem, na maior parte, por meio da linguagem. Da mesma forma, os manuais de com- portamento urbano e social formam um conjunto de sugestões de condutas explíci- tas que imperam na sociedade. Os manuais de etiqueta são objetos de tradição e prescrição, fazem parte da cortesia interpretada, terminologia usada por Briz (2004:69). São eles uma confluência entre cortesia e descortesia, porque acredita-se que só é possível conhecer a cortesia quando se inclui também a compreensão so- bre descortesia, conforme linha teórica de Rodríguez e Lara (2006 e 2008).

3. OS COMPONENTES DO CORPUS: MANUAIS DE ETIQUETA

3.1 Contextualização e Panorâmica do Corpus

Neste capítulo, pretende-se dar uma visão panorâmica dos três manuais de etiqueta que fazem parte do corpus, os quais compõem três guias de comportamento: 1) Marcelino por Claudia: o guia de boas maneiras de Marcelino

de Carvalho interpretado por Claudia, de Claudia Matarazzo; 2) Etiqueta Século XXI: um guia prático de boas maneiras para os novos tempos, de Celia Ribeiro; e, 3) Sempre, às vezes, nunca: etiqueta e comportamento, de Fabio Arruda. Destes três

manuais, foram escolhidas algumas partes que cabiam à análise proposta. Acredita-se que descrevê-los contribuirá para situar, de maneira mais clara, a análise proposta.

Os fundamentos estão embasados nos trabalhos sobre cortesia no contexto da linguagem feitos por Robin Lakoff (1973); Paul Grice (1975); Brown e Levinson (1978); Geoffrey Leech (1983). Ao se analisar os manuais de etiqueta como livros de regras, pode-se correr o risco de acreditar que eles não fomentem a verdadeira interação, tendo em vista que as escolhas linguísticas são ensinadas e apreendidas. Porém, não se pode duvidar que a cortesia e as ameaças às faces estejam presentes.

Antes de se iniciar a análise proposta, faz-se necessária uma pequena introdução reflexiva quanto à contextualização dos manuais de etiqueta na sociedade. Sabe-se que existe uma constante vigilância sobre o uso do idioma materno. A expressão língua materna provém do costume do passado, onde as mães eram as únicas a educar seus filhos na primeira infância, fazendo com que a língua da mãe fosse a primeira a ser assimilada pela criança, que condicionava seu aparelho fonador àquele sistema linguístico. Nos dias de hoje, embora esses costumes sejam divididos, a expressão permaneceu.

Não só o idioma como todo o comportamento na fala, postura e socialização são aprendidas primeiramente no lar. Bechara (2005) comenta que, “os primeiros professores são os familiares. Eles corrigem a fala, os modos, a socialização, e tudo o mais que envolve o universo infantil”. Esse aprendizado, provavelmente,

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