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3. OS COMPONENTES DO CORPUS: MANUAIS DE ETIQUETA

3.4 O livro de Fabio Arruda

O livro de Fabio Arruda, Sempre, às vezes, Nunca, relembra que regras de convivência social e boas maneiras nunca se tornam obsoletas. O autor inicia definindo a etiqueta como um código de comportamento para se interagir em sociedade.

FIGURA 4 — SEMPRE, ÀS VEZES, NUNCA

ARRUDA, Fabio. 8.ed., 2003.

Fabio Arruda nasceu no Rio de Janeiro e é um consultor de etiqueta. Estreou na TV, no casamento de Patrícia de Sabrit com Fabio Jr.. Depois, foi chamado a vá- rios programas para falar sobre a preparação do evento. Claudete Troiano, que na época apresentava o Note e Anote, chamou-o para ter um quadro fixo em seu pro- grama.

Então, o autor se deparou com o pedido dos fãs por um material escrito. Re- solveu escrever seu primeiro livro: Sempre, às vezes, nunca. Desde então, a pes- quisa e o trabalho na mídia e fora dela não pararam. Fabio ganhou notoriedade após ter participado do programa do Jô, em junho de 2008.

Logo em seguida, devido ao sucesso, assinou um contrato com a Rede Re- cord para participar da primeira edição do reality show A Fazenda, em 2009. Foi eli- minado na quarta semana por 59,8% dos votos, contra Pedro Leonardo e Dado Do- labella. Sua eliminação ocorreu devido a seu pedido para sair do reality. Ficou co- nhecido por seu bordão “Demente!”, referindo-se ao também participante Théo Bec- ker.

Após sua saída do programa, assinou um contrato de longa duração com a Rede Record e apresentou o quadro Ajuda, Fabio Arruda no programa Geraldo Bra- sil. Atualmente, ele trabalha no programa Tudo é Possível. Fabio Arruda apresenta, ao lado de Ana Hickmann, o quadro Casamento na Real e também ganhou seu novo quadro Me Ajuda, Fabio Arruda ao lado de seu assistente Bréd Nilson (anexo 3).

Seu livro refere-se a regras estabelecidas para o aprimoramento dos relacionamentos e da convivência. O autor define a palavra etiqueta como derivada do francês estiquette; literalmente ticket (tíquete) ou cartão, conforme mencionado anteriormente (Arruda, 2003:17). Iniciada na Corte de Luís XIV, onde se estabeleceu um conjunto de regras, anotadas em um cartão que era utilizado para referência. Consistia, basicamente, em uma repetição de gestos, devido à pouca exposição a grupos diferentes. Os japoneses mais antigos seguiam fielmente o Gimu, um código de comportamento rígido que tornava a vida fácil (pela determinação) e difícil (pela necessidade de uma solução não desejada em situação inusitada) ao mesmo tempo. Oferece dicas e sugestões na organização de eventos, recepção de convidados, elaboração de cardápios, entre outras informações relevantes e curiosas sobre etiqueta e comportamento.

O livro de Fabio Arruda, parte integrante do corpus desta pesquisa, refere-se a situações conflitantes e como se comportar em determinadas circunstâncias. Para ele “Nada pode ser pior que a grosseria, afinal ela dá base para a agressividade e desrespeito” (anexo 4, entrevista respondida por Fabio Arruda, em 18 de agosto de 2010).

Assim, além de conselhos sobre o que falar em caso de ameaça às faces há também, em seu livro, alguns exemplos desse tipo de situação: como lidar com o dinheiro em caso de empréstimos e gorjetas; o uso de celulares em lugares e situa- ções impróprias; encomendas indesejáveis quando em viagem; hóspedes e anfitri- ões inconvenientes; as preferências sexuais e os grupos aos quais cada indivíduo

tem o direito de escolher participar; atitudes ao demitir empregados ou ao ser demi- tido etc.

Estas noções fornecem um excelente ponto de referência para uma primeira comparação entre todas as perspectivas teóricas vistas no primeiro capítulo, pois tais ideias permeiam, de uma forma ou de outra, todas as demais.

Há ênfase no fato de que a ameaça à face é inerente aos tipos de discursos que encontramos nos manuais de etiqueta. Pode-se afirmar, além disso, que a no- ção de cortesia não está apenas no evitar um potencial conflito, mas também em “desarmar o conflito que é intrínseco ao simples ato da comunicação” (Eelen, 2001:243).

Uma crítica a este e outros manuais de etiqueta poderia ser o fato de seu con- teúdo ser por demais descritivo. Por exemplo, há consenso em se escrever que co- locar os cotovelos à mesa de refeição não é educado, mas isto somente reproduz um senso comum de determinado lugar. Porém, quando os autores dão indicação do como, por que, quando e para quais propósitos essa determinada regra funciona, a descrição da norma passa a fazer sentido.

Ao apenas descrever a norma e não dizer nada sobre seu uso ou sobre o processo por trás de sua produção (o que faz na realidade ou o que as pessoas po- dem fazer com isso), perde o objetivo, o alvo principal.

No geral, o livro de Fabio Arruda, como os demais do gênero, tenta incorporar a cortesia e as regras de etiqueta social à dinâmica da realidade em sociedade. O viver em sociedade e a privacidade do indivíduo, o macro e o micro, podem estar integrados em uma visão coerente da realidade humana, usufruindo um espaço temporário dentro de um processo dinâmico.

Desta forma, a visão de cortesia pode ser reforçada e o estudo dela contribuir para uma maior compreensão da realidade social em geral, porque leva o indivíduo a repensar noções fundamentais das normas sociais, culturais e, de modo mais ge- nérico, à contemplação do processo envolvido no dia a dia do mundo social e como galgar patamares mais altos na profissão, na família, nas interações e outras.

4. ANÁLISE DO CORPUS

Nesta pesquisa, como dito anteriormente, adotam-se os conceitos da Sociolinguística Interacional (SI) e Análise da Conversação (AC), valendo-se das situações de ameaça às faces; dos marcadores de cortesia; correção; modalizadores; atenuadores e das formas de tratamento, para a análise proposta.

O sistema da cortesia compõe-se de uma série de ações rituais, que parecem vazias de conteúdo, mas não o são em sua finalidade, conforme Muro (2005:213 e 214). Os manuais de etiqueta correm o risco de assim serem interpretados (vazios de conteúdo) simplesmente porque consta, nesse sistema de comportamento, um conjunto de rotinas recorrentes e repetitivas, como veremos abaixo. Mas, rituais não são característicos apenas dos humanos, são mantenedores das espécies viventes, são essenciais à sobrevivência.

4.1 Elementos de cortesia na obra de Claudia Matarazzo

Na obra Marcelino por Claudia, de Claudia Matarazzo, a autora compara os costumes abordados há 50 anos com os de hoje. Os capítulos abrangem situações diversas, do aperto de mão às cerimônias fúnebres.

Para esta análise, adota-se, como objeto do estudo, o capítulo “Conversa” (p.208 a 225), no qual a autora fala sobre a arte de conversar e os fatores de maior gravidade em uma conversa. Neste capítulo, a autora descreve comportamentos linguísticos considerados inadequados na interlocução e são discutidos e analisados a seguir:

Desatenção: acontece com muita frequência. O interlocutor

está à frente, mas não presta atenção ao que o outro fala, liga- do que está ao toque do celular ou com os olhos voltados para o monitor do computador — prova cabal de indelicadeza (p. 216).

As entonações, os olhares, as mímicas e, sobretudo, a voz são recursos privilegiados para a expressão das emoções, bem como da proximidade ou

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