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As manifestações dos requeridos

Analisando o processo, constata-se que, além dos autores, Procuradoria-Geral da República e Governo do Estado do Rio de Janeiro, há manifestações da Advocacia-Geral da União, encaminhando informações, elaboradas pelo Dr. Rogério Marcos de Jesus Santos, que expõe sobre os fundamentos da impugnação elencando os pedidos a questão fática, a mora e o direito, a abordagem constitucional do tema, o papel dos princípios na interpretação constitucional, a boa fé e pré-compreensão na interpretação constitucional, a necessidade de interpretação sistemática e teleológica do artigo 226, §6º da Constituição Federal, a aplicabilidade direta das normas constitucionais, os direitos fundamentais violados, direito a privacidade, igualdade, concluindo que “... será inconstitucional interpretação que negue às pessoas do mesmo sexo o direito ao reconhecimento da união estável” (ADIn n. 4277, p. 392).

No tocante à questão fática, no mérito, asseverou a Advocacia Geral da União, representando o requerido Presidente da República, que, a união entre pessoas do mesmo sexo é fato incontroverso, salientando a existência de visões diferentes sobre a questão da união, entendendo ser obstáculo jurídico o disposto no artigo 226, §3º da Constituição Federal, o qual é reproduzido no artigo 1.723 do Código Civil Brasileiro (ADIN n. 4.277, p. 358).

Retrata a questão da moral e do direito, buscando em James Rachels, em sua obra Filosofia da Moral, linha de raciocínio para embasar suas argumentações (ADIN n. 4.277, p. 359), bem como outros autores e obras, para ao final, concluir que a homossexualidade deve ser respeitada, entretanto, não devem servir como parâmetros para uma razão pública (ADIN n. 4.277, p. 363).

Abordando sobre a questão jurídico-constitucional da homoafetividade entendeu estar o tema relacionado diretamente à situações relevantes do direito constitucional, dentre eles: a) o papel das normas constitucionais no ordenamento jurídico; b) o papel da jurisdição constitucional do regime democrático de direito; c) via de consequência desde último, a garantia dos direitos fundamentais das minorias” (ADIN n. 4.277, p. 363).

No exame do caso, expõe ainda sobre o papel dos princípios na interpretação constitucional, a boa-fé e pré compreensão na interpretação constitucional, a necessidade de interpretação sistemática, a aplicabilidade direta das normas constitucionais, os direitos fundamentais violados, à privacidade e à igualdade.

Apresenta, como fonte de suas argumentações, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, decorrente do julgamento da ADIn 3.300, de relatoria do Ministro Celso Melo36, que em decorrência da impossibilidade jurídica da discussão quanto ao reconhecimento da união homoafetiva como entidade familiar, extingue o processo.

E, diante das exposições realizadas nas informações, concluí que o entendimento do requerido é demonstrar que será “inconstitucional interpretação que negue às pessoas do mesmo sexo o direito ao reconhecimento da união estável” (ADIN n. 4.277, p. 392).

A Câmara dos Deputados, instada a se manifestar, na ADIn n. 4.277, em meia lauda, proferiu a seguinte manifestação à fl. 395: “A presente Ação Direta, proposta originalmente como Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, objetiva, em resumo, interpretação conforme à Constituição do art. 1723 do Código Civil, buscando o reconhecimento judicial da união homoafetiva, motivo pelo qual, em face do disposto no art. 103, §3º, da Constituição Federal, não há o que esta presidência informar”. (ADIn n. 4.277, p. 395).

O Senado Federal, de igual forma, instado a se manifestar através de Ofício n. 1151/P, conforme certidão de fl. 396, deixou correr in albis o prazo de prestar informações.

Abrindo-se-lhe vistas para a Advocacia Geral da União, manifestou-se nos termos do artigo 103, §3º da Constituição Federal, bem como na Lei n. 9.868/1999, quanto ao mérito, pela procedência, pois, afigura necessário o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo, como entidade familiar, a fim de que aos participantes da união homoafetiva sejam assegurados os mesmos direitos e deveres dos companheiros heterossexuais nas uniões estáveis. (ADIn n. 4277, p. 413).

E complementa que, a manifestação funda-se na necessidade de que seja “conferida interpretação conforme a Constituição ao artigo 1.723 do Código Civil, de forma a contemplar, no conceito de entidade familiar, a união estável entre pessoas do mesmo sexo,

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ADIn n. 3.300 do STF: “Ementa: União civil entre pessoas do mesmo sexo. Alta relevância social e jurídico- constitucional da questão pertinente às uniões homoafetivas. Pretendida qualificação de tais uniões como entidades familiares. Doutrina. Alegada inconstitucionalidade do art. 1º da lei n. 9.278/96. Norma legal derrogada pela superveniência do art. 1.723 do novo Código Civil (2002), que não foi objeto de impugnação nesta sede de controle abstrato. Inviabilidade, por tal razão, da ação direta. Impossibilidade jurídica, de outro lado, de se proceder à fiscalização normativa abstrata de normas constitucionais originárias (CF, art. 226, § 3º, no caso). Doutrina. Jurisprudência (STF). Necessidade, contudo, de se discutir o tema das uniões estáveis homoafetivas, inclusive para efeito de sua subsunção ao conceito de entidade familiar: Matéria a ser veiculada em sede de ADPF.

desde que atendidos os mesmos requisitos exigidos para a constituição da união estável entre homem e mulher”. (ADIn n. 4277, p. 418).

Com base em tais considerações, o Advogado-Geral da União, discorre sobre as uniões homoafetivas como família, enfocando que, a doutrina37 já firmou que,

A família existe para a satisfação de seus membros e como materialização de uma situação compartilhada por pessoas que vivem juntas, trocando experiências e partilhando de vida em comum. Há a opção pessoa de cada um de unir e partilhar de sentimentos comuns. (THOMAZ, 2003, p. 97). (ADIN n. 4.277, p. 407)

Com efeito, traz diversas considerações doutrinárias sobre a questão posta, bem como manifestações jurisprudenciais, no âmbito dos Tribunais Superiores (pp. 413-416), e em suas ilações manifesta-se pela procedência da Ação Direta de Inconstitucionalidade.

O Senado Federal, em atendimento a solicitação constante no Ofício 1151/P, datado de 28 de julho de 2009, sobre informações elaboradas pela Advocacia do Senado, manifestou prestando informações ao Supremo Tribunal Federal (pp. 628-633) para fins de instrução da Ação Direta de Inconstitucionalidade em arguição ao artigo 1.723 do Código Civil por suposta discriminação de homossexuais para fins de constituir em unidade familiar, citando os artigos 1.723 do Código Civil e artigo 226 da Constituição Federal, para ao final, manifestar pela inexistência de identidade de matéria, pois entende que a união homoafetiva não encontra respaldo legal ou previsão no ordenamento jurídico (ADIN n. 4.277, p. 632).

E, em conclusão manifesta-se pela improcedência do pedido, pois entende que:

... não há inconstitucionalidade no art. 1723 do Código Civil, ao estabelecer como entidade familiar a união estável entre homem e mulher, conceito recolhido do §3º do art. 223 da própria Constituição que, quando se trata de dispositivos originais, não derivados, não pode legislar contra si mesmo para ofender princípios constitucionais amplos, devendo a união homoafetiva, enquanto não dispuser o legislador a fixá-la como entidade própria, distinta da familiar, ainda que objeto de igual proteção do Estado, continuar recebendo tratamento analógico aplicável a cada caso concreto, até onde

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THOMAZ, Thiago Hauptmann Boreli, União homossexual – reflexões jurídicas,. Revista dos Tribunais – Ano 92 – Volume 807 – janeiro de 2003, São Paulo: RT, 2003, p. 97

exista identidade de matéria, com a união estável heterossexual.” (ADIn n. 4.277, pp. 632 e 633).