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Figura 2 Fachada antiga da igreja de Nossa Senhora do Carmo

2.6. A festa de Nossa Senhora do Carmo

2.6.1. As missas de sábado e os terceiros domingos

Os sábados eram dedicados particularmente ao culto a Nossa Senhora. Além disso, neles os irmãos vivos prometiam “graças especiaes”269

às almas dos irmãos

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ACCD, Livro de Termos de 1822 a 1850, fls. 52v.-53.

63 Para além disso, foi registado neste termo, que a irmandade foi obrigada por ordem do corregedor da Comarca a contribuir com o

donativo de 20.000 réis para a “Tropa fiel” de D. Miguel. ACCD, Livros de Termos de 1822 a 1850, fls. 53v.-54.

267 Para este assunto leia-se Costa, João Paulo Oliveira e, Episódios da Monarquia Portuguesa, Lisboa, Círculo de Leitores e autor,

2013, pp. 384-385. Relativamente às lutas liberais (1822-1834) veja-se Ventura, António, “Da revolução de 1820 ao fim das guerras civis”, in Barata, Manuel Themudo, Teixeira, Nuno Severiano (dir.), Nova História Militar de Portugal, vol. 3…, pp. 206-214.

268 ACCD, Livro da Receita e Despesa de 1812 a 1841, fl. 68. 269

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defuntos.270 Celebrava-se uma missa rezada pelo padre protetor, ou algum religioso que o prior do convento determinasse.

Segundo os estatutos, estas missas, mas também as principais festividades de Nossa Senhora, isto é, “Desposorios, Purificação, Incarnação, Prazeres, Assunção, Natividade, Apresentação, Conceição e Expetação”,271

deviam ser celebradas pelos religiosos do convento.

Os fiéis eram avisados destas celebrações através do sino pequeno e de cinco badaladas do sino grande, entre as sete e as oito horas. A esse sinal deslocar-se-iam à igreja o procurador e os assistentes. O primeiro preparava o altar mor com quatro velas, e mais duas para Nossa Senhora. Os segundos estavam obrigados a assistir às missas com tochas acesas.

O pagamento destas missas de sábado por parte da irmandade aos religiosos do convento seria de 120 réis para determinados encargos, como, por exemplo, o toque dos sinos.272

Nos terceiros domingos de cada mês a irmandade procedia a outras celebrações festivas, à semelhança do que se passava em outras associações religiosas.273 Embora os estatutos e os termos da Mesa, não mencionem o principal propósito desta celebração na irmandade, sabemos que esta era dedicada inteiramente ao culto de Nossa Senhora.

Desde o princípio do mês de outubro até ao Pentecostes e, no tempo que restava até ao fim do mês de setembro, fazia-se uma procissão em honra de Nossa Senhora pelas quatro horas da tarde.274

Nossa Senhora era considerada defensora dos pecadores e intercessora celeste no alívio e libertação das almas do Purgatório. Nesse sentido, as confrarias tiveram um papel importante, pois desenvolviam atos e celebrações de louvor e piedade mariana para os seus membros e crentes.275

270 Os irmãos terceiros carmelitas do Porto deviam também assistir à missa dedicada a Nossa Senhora e a todos irmãos vivos e

defuntos ao sábado. Veja-se Costa, Paula Cristina de Oliveira, Os terceiros carmelitas da cidade do Porto (1736-1786)…, p. 175.

271 ACCD, Estatutos da Irmandade de Nossa Mãy Sanctissima do Carmo da Cidade de Braga…, fls. 20-21. 272

ACCD, Estatutos da Irmandade de Nossa Mãy Sanctissima do Carmo da Cidade de Braga…, fls. 20-21.

273 Na confraria do Santíssimo Sacramento da Misericórdia de Vila Viçosa, celebravam-se os terceiros domingos com missa

cantada, pregação e procissão no interior da igreja e adro, juntamente com os irmãos que transportavam tochas e velas. Confira-se Araújo, Maria Marta Lobo de, “As traves mestras da confraria do Santíssimo Sacramento da igreja da Misericórdia de Vila Viçosa: o compromisso de 1612”, in Trabalhos de Antropologia e Etnologia, vol. 41 (3-4), 2001, pp. 137-150.

274 ACCD, Estatutos da Irmandade de Nossa Mãy Sanctissima do Carmo da Cidade de Braga…, fls. 25-26.

275 Acerca da devoção mariana consulte-se Marques, João Francisco, “Oração e devoções” in Azevedo, Carlos Moreira (dir.),

O desfile dava a volta ao claustro do convento, saindo depois pela porta do saguão,276 ou da portaria, para se recolher pela porta principal da igreja.

Nesta procissão ia um religioso devidamente paramentado, que levava a imagem de Nossa Senhora do Carmo, debaixo do pálio.277 Ao mesmo tempo, cantava-se a ladainha e os oficiais da Mesa acompanhavam com velas acesas na mão, repartindo-as com os religiosos do convento. Recolhida a procissão, a prática era realizada por um dos padres, designados pelo prior do convento.

Existia ainda um momento de distribuição de alguns escapulários, por sortes, aos irmãos e irmãs da corporação, pelo padre pregador, que no fim os repartia do púlpito, juntamente com o padre sacristão, ou outro religioso.278 Nos estatutos, é referido que o número dos escapulários seria maior quando a irmandade atingisse maior número de irmãos.279

Sendo uma celebração realizada e suportada pela irmandade, esta desejava que se fizesse “com toda a modéstia, gravidade e quietação devida, não dando motivos de queixas, e murmurações”.280

Os terceiros domingos com a sua solenidade e procissão mensal, integravam todo o corpo clerical e irmãos da instituição constituindo um vetor pedagógico da irmandade para os seus membros e fiéis.281

Contudo, nos meses de fevereiro, março e abril, altura em que coincidia o tempo quaresmal, todos os domingos desse período estavam ocupados com sermões.282

O «mantimento espiritual» da palavra de Deus não devia faltar aos crentes, sendo esta uma preocupação contínua das disposições tridentinas.283

276 Que significava pátio estreito.

277 Nas cerimónias religiosas em que fosse o pálio, o estatuto ordenava que seis irmãos sacerdotes, “dos mais graves”,

transportassem as varas do mesmo. Se estes não pudessem, seria o mesmo número de leigos. ACCD, Estatutos da Irmandade de

Nossa Mãy Sanctissima do Carmo da Cidade de Braga…, fls. 25-26.

278 Na confraria de Nossa Senhora do Carmo de Ponte de Lima fazia-se, igualmente, uma procissão em honra de Nossa Senhora nos

terceiros domingos de cada mês e, no fim tirava-se à sorte dois escapulários que eram colocados nos braços da imagem de Nossa Senhora do Carmo que ia na procissão. Confira-se Barbosa, António Francisco Dantas, “A festividade de Nossa Senhora do Carmo de Ponte de Lima no século XVIII”, p. 13, no prelo.

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ACCD, Estatutos da Irmandade de Nossa Mãy Sanctissima do Carmo da Cidade de Braga…, fls. 25-26.

280 ACCD, Estatutos da Irmandade de Nossa Mãy Sanctissima do Carmo da Cidade de Braga…, fls. 25-26.

281 Sobre os domingos terceiros confira-se Enes, Maria Fernanda, “As confrarias do Santíssimo e das Almas no âmbito da cultura

barroca (caso da diocese de Angra)”, Atas do I congresso internacional do Barroco, Porto, Reitoria da Universidade do Porto, 1991, pp. 275-302.

282 Em 1821 na confraria do Santíssimo Sacramento de Pico de Regalados, os confrades substituíram a celebração das Endoenças,

por sermões, nos domingos da Quaresma. Sobre esta e outras celebrações desta confraria veja-se Araújo, Maria Marta Lobo de, A

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A Quaresma significava um período de reflexão e sacrifício para os cristãos. Desse modo, os sermões representavam uma grande utilidade espiritual para os fiéis, uma vez que doutrinavam e incutiam princípios morais e religiosos à população. Para além disso, a pregação tinha uma importância acrescida por se constituir num meio primordial de difusão de ideias neste Período Moderno em que a oralidade tinha predominância, daí estar presente em todas as festas e solenidades religiosas.

Também no mês de julho não haveria festa no terceiro domingo, por ser o mês da festividade de Nossa Senhora do Carmo.

Apesar da sua importância, os irmãos nem sempre compareciam, surgindo queixas sobre a ausência dos mesmos a esta celebração, bem como a outras. Muitas vezes, a Mesa combatia estas ausências aplicando penas em dinheiro sobre os seus membros. No ano de 1773, a Mesa resolveu aplicar uma pena de 500 réis aos oficiais que faltassem aos terceiros domingos e mais celebrações da instituição.284