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2. GLOBALIZAÇÃO E A UTILZAÇÃO DE NOVAS TECNOLOGIAS

3.2. AS MUDANÇAS

O jornal impresso passou por diversas transformações durante a sua trajetória, e com a inserção e o crescimento do jornalismo on-line, tais transformações passaram a ser não somente uma ordem natural das coisas, mas sim uma necessidade de adaptação a um novo cenário da comunicação no mundo. Em coadunância com Ziller (2005), compreendemos que, para trabalhar com informação no ciberespaço, o jornalista necessita conhecer a maneira adequada de lidar com essa mídia, que a todo tempo realiza mudanças no processo de escrita e veiculação da notícia, além disso, saber adaptar a construção da notícia do jornal impresso a essa nova era digital, onde há alguns anos, essa prática demandava apenas uma boa formatação do texto e nas edições das imagens. Hoje, no entanto, é preciso pensar a informação no âmbito da produção de conteúdos multimídia. Essa diferença no profissional

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da área de jornalismo também provoca a pulverização da notícia. Quem hoje em dia tem o direito de escrever e transmitir informações? Este é um ponto importante. Cumprir a função de (des)informante virtual é tarefa simples nos dias de hoje. A essa discussão voltaremos adiante.

Com as novas plataformas o jornalismo dinamizou-se trafegando em facilidades tecnológicas, porém, seu novo e exigente público espera compensações nem sempre disponíveis. O esforço para chamar a atenção do público deve ir além da forma, o conteúdo exclusivo determina a fonte de recita. O jornalista nesse novo ambiente precisa ter diferencial capaz de produzir conteúdo multimídia (Villela, 2002).

Como forma de compreender a influência dessa nova linguagem no meio jornal da atualidade, é preciso fazer um diagnóstico das principais características oferecidas e necessárias ao profissional de comunicação pela web. Para tanto, convém utilizar as definições apresentadas por (Pinho, 2003, p. 49) em “cada um dos aspectos críticos que diferenciam a rede mundial” das mídias tradicionais:

3.2.1. Hipertextualidade

É importante compreender que “As técnicas digitais de hipertextualização e de navegação constituem de fato uma espécie de virtualização técnica ou de exteriorização dos processos de leitura” (Lévy, 1996, p. 50). Dessa forma, o hipertexto é uma ferramenta de trabalho essencial do jornalismo on-line. Com a inserção de links nas palavras-chaves do texto, que remetam a outros textos, vídeos, fotos, áudios etc, o hipertexto torna a notícia interativa com outros textos e imagens, permitindo ao leitor se conectar com mais facilidade naquilo que deseja saber e se aprofundar nos fatos. Segundo Mielniczuck (2002, p. 11), a narrativa “no hipertexto é apresentada como um texto pulverizado”. Este tipo de escrita oportuniza o leitor a liberdade de navegação, através do aprofundamento naquilo que é do seu interesse, ou do acesso fácil àquilo que não seja ainda do seu conhecimento.

3.2.2. Não-linearidade

A característica da não linearidade tem relação com a anteriormente enfocada. É interessante e típica desse formato, porque é o que permite que o leitor “construa” a sua própria narrativa, podendo percorrer diversas páginas de informação, pesquisando apenas aquele assunto que é

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de seu interesse. “O hipertexto permite que o usuário se movimente mediante as estruturas de informação do site sem uma seqüência predeterminada” (Pinho, 2003, p. 50). Ou seja, a não linearidade é possibilitada pelos hipertextos no decorrer da página.

3.2.3. Extensão

Pelo fato da leitura de uma página da web ser mais cansativa devido a incidência da luz do veículo emissor (tablet, notebook, smartphone, etc), recomenda-se que: “o texto preparado para a Internet seja cerca de 50% mais curto do que o escrito para o papel” (Pinho, 2003, p. 51). Esse é o tipo da característica que muda em vários aspectos o caráter do meio comunicativo. Desde a maneira como o profissional redige a informação, passando pela maneira condensada/superficial como a notícia chega até o seu destinatário e até com relação à apresentação visual do jornal.

3.2.4. Instantaneidade

O webjornalismo vem conquistando cada vez mais leitores e se destacando por poder possibilitar ao leitor a uma cobertura instantânea dos principais acontecimentos locais e mundiais, já que não requer de complexos aparatos tecnológicos, sendo um meio de comunicação relativamente acessível a qualquer jornalista. Se realizarmos uma comparação com a televisão, podemos pensar no tempo que leva para uma equipe inteira de reportagem se deslocar até o local e conseguir veicular a matéria ou como acontece nos impressos, em que o leitor precisa aguardar até o outro dia que é quando o jornal será impresso e distribuído. “Na mídia on-line, a instantaneidade da informação modificou até mesmo o sentido do furo de reportagem” (Pinho, 2003, p. 51).

3.2.5. Público alvo

De acordo com o IBGE, grande parte do público que utiliza o on line, é formado por pessoas jovens, com alto grau de escolaridade e boas condições financeiras. Trata-se de uma conclusão extraída da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (IBGE, 2006) referentes ao acesso à internet, segunda a qual:

21,0% das pessoas acessaram a Internet [...]pelo menos uma vez, no período de referência. [...] A idade média da população de 10 anos ou mais de idade, usuária da Internet, situou-se em 28,1 anos. Considerando a população por faixas de idade, verificou-se que a utilização da Internet estava mais

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concentrada nos grupos etários mais jovens. No grupo de 15 a 17 anos de idade, 33,9% das pessoas acessaram esta rede. [...] O número médio de anos de estudo dos usuários da Internet foi de 10,7 anos, enquanto o das pessoas que não utilizaram esta rede ficou em 5,6 anos. Quanto mais elevado era o nível de instrução, maior foi a proporção de usuários da Internet. [...]O nível do rendimento médio mensal domiciliar per capita das pessoas que utilizaram a Internet foi expressivamente mais elevado que o daquelas que não acessaram esta rede. Esse rendimento das pessoas que não utilizaram a Internet ficou em R$ 333,00, representando ¹/³ daquele dos indivíduos que acessaram esta rede (R$ 1.000,00) (IBGE, 2006, pp. 2-3).

3.2.6. Interatividade

Um dos grandes atrativos da internet é a interatividade, onde permite espaço para que exista um fluxo de comunicação, o emissor é também receptor e o receptor em diversos momentos torna-se emissor.

“Na Internet, a organização não está falando para uma pessoa, mas sim conversando com ela” (Pinho, 2003, p. 54). O internauta tem a possibilidade de interagir através de fóruns, votar em enquetes, comentar notícias, corrigir possíveis erros, dar sugestão de novas matérias, criticar, e pode até mesmo ter textos, fotos e vídeos publicados, por isso, “a notícia on-line possui a capacidade de fazer com que o leitor/usuário se sinta parte do processo” (Mielniczuk, 2002, p. 5). A interatividade oferecida por este suporte digital ainda está em processo de desenvolvimento, pois são inúmeras as possibilidades oferecidas.

3.2.7. Pessoalidade

A interação no mundo virtual, permite ao público receber respostas dirigidas e em curto espaço de tempo; “o que faz a Internet interativa também faz a comunicação ser muito pessoal” (Pinho, 2003, p. 54). Existe também a possibilidade de receber notificações avisando atualizações dos sites mais acessados pela pessoa, através de um sistema denominado RSS (Really Simple Syndication).

Existem jornais que disponibilizam também a possibilidade de receber as principais notícias através de mensagens SMS (Short Message Service) no celular, sendo cobrado o serviço via fatura do telefone.

21 3.2.8. Memória e documentação

O meio digital, permite ao leitor acessar a notícia a qualquer momento, pois possui um armazenamento de dados de fácil acesso e superior em termos de capacidade de espaço do que qualquer arquivo físico. “Na Web, o material elaborado e disponibilizado instantaneamente possui um caráter cumulativo, que o diferencia dos outros meios” (Mielniczuk, 2002, p. 7). Um webjornal é, portanto, uma maneira de escrever e armazenar a história.

3.2.9. Segmentação

Nos jornais on line existe uma facilidade de ser dividido por nichos de interesse do leitor, essa possibilidade de segmentação do conteúdo consiste na “possibilidade de cada leitor estabelecer um percurso individualizado de leitura a partir da navegação pelo hipertexto” (Mielniczuk, 2002, p. 06). Além disso, vale salientar a possibilidade de realizar pesquisas por palavras chave, oportunizando ao leitor encontrar diversos tipos de conteúdo a respeito daquele tema que o interessa. Enfim, acrescentamos que as mudanças trazidas pelo advento do webjornalismo não podem ser entendidas como estanques. A web é por si só, um meio de transformações rápidas e contínuas, em constantes atualizações. A linguagem on-line, por exemplo, que tem suas características que a distingue da linguagem do jornal impresso também está se transformando rapidamente. Então, diz-se que esta muda conforme o avanço do tempo e as mudanças sociais. Sobre esse aspecto, nos indica Edo (2007, p.11) que:

Escribir textos periodísticos para Internet exige una revisión dinámica de los modos habituales de presentar la información, de la estructura textual, del estilo y de las características de los lectores, a los que la interactividad característica de la red convierte en actores que interactúan con los medios y los periodistas. Y se hace necesario adaptar el lenguaje a las posibilidades de la nueva situación tecnológica y social, dejando claro desde el primer momento que no estamos ante un modelo definitivo, sino en una de las primeras fases de una viaje semántico, lingüístico y estilístico que acaba de empezar y cuyo desarrollo depende de los avances científicos y de la evolución del periodismo y de la sociedad.

Falamos, portanto, de um meio comunicativo vivo, pela sua própria natureza e que vem em conjunto com transformações para além dele mesmo, como as ocorridas simultaneamente com o profissional do jornalismo e com o consumidor final. Essas duas, influenciando diretamente das transformações no modelo de gestão neste ramo, que é o tema principal deste estudo.

22 3.3. UM NOVO JORNALISTA

Sugerimos, ao citar as transformações no meio de comunicação em foco, as transformações pelas quais vêm passando os profissionais da área. Em termos de competências necessárias, habilidades, foco e perfil, este profissional vêm mudando e nem sempre se assemelha àquele estereótipo antigo do jornalista, sentado à sua máquina de escrever, livre em seus posicionamentos e opinião a serem expressos no jornal.

Com relação a essas mudanças, Canavilhas (2001) trouxe a observação de que a linguagem no webjornal português vinha funcionando como uma simples transposição da linguagem do jornal impresso para a internet. Quando a internet, segundo autor supracitado, pode ser mais que isso. Nesse aspecto já vimos anteriormente as características do texto webjornalístico, de maneira que na atualidade há sensíveis diferenças já em vista.

As transformações deste profissional no Brasil começaram bem antes, com a adoção, em meados do século XX, do modelo norte-americano de jornalismo - isento e empresarial -, em contraposição ao jornalismo crítico, pessoal e de combate. Em primeiro lugar, portanto, de acordo com Biroli (2007), teria vindo a necessidade de coesão e controle social por parte da mídia de massa. Essas mudanças, em conjunto com a profissionalização da gestão de um jornal - tema relevante para a investigação atual - começam a moldar a configuração do que hoje podemos chamar de novo jornalista. Inclui-se, então, a disciplinarização da prática profissional por empresas que também tem por objetivo a rentabilidade da atividade. A redação jornalística tornou-se um espaço mais dinâmico, competitivo e adaptado aos que funcionavam desta forma, transformando a identidade profissional do jornalista.

Um dos aspectos que atariam a mudança na rotina jornalística a mudanças mais amplas, justificando as adaptações nas rotinas de trabalho, foi a percepção de que estava em curso uma espécie de aceleração do tempo, que implicava em uma correlação de novo tipo entre o cotidiano e a informação, entre as possibilidades dos leitores e aquilo que os jornais noticiosos deveriam oferecer-lhes. (Biroli, 2007, p. 123)

Dentre as mudanças principais, que ocorreram antes da ascensão prodigiosa do webjornal, destaca-se uma especificamente relacionada ao tempo. O tempo das pessoas mudou de tal forma que houve a necessidade do texto do jornal impresso ser cada vez mais curto e objetivo, pois ainda que as pessoas não abrissem mão da leitura do jornal diário, o tempo dedicado a

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esta tarefa não era mais o mesmo, bem como a disponibilidade para reflexão sobre a notícia lida.

Ainda na perspectiva do tempo, a notícia enquanto novidade passou a ser ainda mais estimada, ao passo que a tecnologia permitiu que a edição de um jornal pudesse ser fechada até pouco antes de o dia anterior acabar, estendendo, também, o tempo de trabalho do jornalista que passou a ter durante as 24 horas do dia a possibilidade de trabalhar em noticiamentos sempre atuais, reafirmando a ideia de jornalismo enquanto missão.Com o advento do jornalismo na internet, parece ter surgido numa consonância muito interessante com essas transformações que já vinham acontecendo com o jornal impresso. A rapidez, portanto, das mudanças que começaram ainda antes da internet se tornar um veículo jornalístico, consolidou-se após esse advento. O profissional e as características que o mesmo precisou buscar para ser o jornalista do novo milênio, agora são mais presentes do que nunca. Para além dessa discussão e fazendo parte das transformações ocorridas nesse aspecto, há também certa dissolução do remetente da informação na internet. Além dos webjornais, os blogs, fotologs, microblogs e as redes sociais também são depósitos e transmissores de informação. Esse fato tem nuances positivas e negativas para a profissão jornalista: se por um lado torna a web um grande caldeirão de informações, também mistura as fontes informativas, deixando de ser o jornal o principal informador, detentor único de confiança.

Outro aspecto, que está relacionado com as transformações no público consumidor é a de que, por não existir mais o limite de tempo/espaço como antes, e pelas relações se tornarem mais fáceis e curtas, não é mais necessário separar um pequeno espaço para destinar à participação das pessoas na notícia - a exemplo do quadro “cartas do leitor” - mas assume um papel de selecionar e organizar a informação enviada pelo público de maneira que o jornalista adquire, ainda, ares de bibliotecário (Primo & Träsel, 2006).

Enfim, podemos resumir as transformações do profissional como em dois sentidos: um com relação ao modo como as relações de trabalho vão sendo estruturadas, de acordo com as necessárias transformações do modelo de gestão, outro com relação às habilidades e competências que o mesmo precisa ter para redigir tipos diferentes de notícia, especialmente com relação à forma:

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Os infográficos e a interatividade proporcionada pelas novas tecnologias permite mais exploração do leitor e mais participação na produção do conteúdo jornalístico. A diversidade de devices facilita o acesso a noticia por parte do leitor mas exige do jornalista habilidade e raciocínio adequados ao desejo de comodidade do consumidor de conteúdo (Canavilhas, 2001).

3.4. UM NOVO CONSUMIDOR

Como já foi dito acima, para o alcance dos objetivos desta dissertação, um exame das mudanças relativas ao comportamento do consumidor são de extrema importância, tendo em vista a ligação das mudanças destas com as transformações do modelo de gestão correlato. Das mudanças na comunicação entre as pessoas à maneira como as mesmas obtém informações importantes sobre os acontecimentos sociais, tudo tem mudado rapidamente na sociedade.

As relações fluidas entre leitor-autor ficam muito claras no webjornalismo. A participação do leitor nas reportagens já publicada e na criação de suas próprias notícias já é um lugar comum na internáutica. A internet é um espaço onde, segundo Quadros (2005) se comunicam “um para um, muitos para muitos, muitos para um e também de um para muitos” (p. 4.). Essa liberdade de comunicação, que inclui a incerteza de quem são os autores e receptores da informação torna a web um grande aglomerado informativo.

Além desse fato, Ribeiro (2009) destaca as diferentes habilidades de leitura quando associada à navegação, já que o mesmo pode navegar sem ler e ler sem navegar, utilizando os hiperlinks e desconsiderando informações incompreensíveis ou incompletas, o que faz com que o público de um jornal on-line seja ainda mais diversificado.

O consumidor on-line é, ao mesmo tempo, leitor e autor, num tempo de autoria compartilhada. Neste sentido, Quadros (2005) aponta o crescimento do modelo de Jornalismo Open Source. Este último seria nesse um “jornalismo de fonte aberta” em que “os usuários de diários e revistas digitais também colaboram com editores no momento de escrever uma reportagem” (Quadros, 2005, p. 6). Dessa maneira, os papéis se misturam, o que é mais um desafio à gestão dos jornais. Ou seja: o que e como escrever quando todos querem ser autores, repórteres? É comum que os jornais se resguardem em alguns limites quando propõem a participação do público em enquetes, pesquisa de opinião ou quadro de sugestões e esse é um

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desafio real, o de um incorporar um novo público, com ânsia de participação. A ideia, portanto de pensar um modelo de webjornalismo participativo é digna de análise.

Sobre esse chamado webjornalismo participativo, Primo e Träsel (2006) dizem que “A diferença principal do jornalismo tradicional e do webjornalismo participativo está em contar com interações mais profundas com e entre os colaboradores.” (p. 15). Neste caso é importante destacar, ainda, que segundo os mesmos autores, é necessário repensar os valores de objetividade e imparcialidade que dominou o ramo do jornalismo no Brasil nos últimos anos. Neste sentido, argumentam: “Ora, o pequeno número de periódicos impressos ou emissoras de rádio e televisão parecem justificá-los. Já na Internet, com tamanha oferta informacional e com o espaço de publicação praticamente infinito, cresce a demanda por materiais que vão além do mero relato.” (Primo & Träsel, 2006, p. 16).

Outro elemento que pode compor um jornal é o fato de que, ao abrir o espaço de expressão do leitor, tornam-se conhecidas as opiniões e valores deste público, o que pode ser interessante na formatação das estratégias contínuas de marketing, publicidade, além da possibilidade de um melhor manejo da personalidade do jornal em adequação ao público leitor.

Pensar no interesse que o público leitor possa ter no jornal on-line é importante. Kimber (1997) já apontava para a necessidade de se criar um interesse nos leitores, para que se forme um público qualificado para o web jornal. Segundo o autor, corre-se o risco de que as notícias na internet se restrinjam às próprias notícias na internet.

Com tantas mudanças, no público consumidor, bem como na forma de trabalho e nas relações profissionais que fazem parte do contexto jornalístico, não é de se surpreender que mudanças em termos de gestão não tardem a se tornar necessárias e evidentes. Sobre as mudanças na gestão dos jornais é que trataremos a partir de agora.

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