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CAPÍTULO III: ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

3.6 As marcas lexicais no C2

3.6.1 As representações dos PAs no fim do semestre

3.6.1.4 As mudanças linguísticas nas representações do PA04

Em seu discurso no C1, o PA04 foi um dos que mais utilizou o processo atributivo relacional Tem no sentido de expressar um valor de obrigação pela metáfora modal Tem que, fazendo uso do processo atributivo relacional É com polaridade negativa em dois momentos e positiva em um (ver Gráfico 2, p. 78). Seu discurso é consideravelmente maior do que os dos demais PAs, tanto em quantidade de palavras quanto em tempo. Contudo, em se tratando do mesmo PA no C2, seu discurso foi o único que aumentou, corroborando a discrepância entre as duas entrevistas.

Considerando a ordem que estabelecemos para tratar das representações dos PAs, apresentamos na Figura 10 o que mudou entre os dois momentos no discurso do PA04:

Figura 10 – Estrutura das representações de PA04 no C1 e no C2

Fonte: Dados da pesquisa.

De acordo com a Figura 10, nenhuma das representações contidas no C1 foram ressaltadas no segundo momento, ocorrendo uma transformação completa das primeiras ideias e a adição de cinco novos pontos. O conhecimento da disciplina, o primeiro dos pontos, só foi considerado até agora pelo PA01 e, ainda assim, de uma maneira subtendida, quando fala em se preparar para apresentar uma aula. No caso de PA04, foi necessário ressaltar o conhecimento do idioma inglês. Os outros PAs podem não ter considerado esse ponto por se tratar de uma questão implícita, já que a pesquisa investiga o que é necessário para ser um “bom professor”, e no caso do inglês, todos já atuavam, fazendo uso da língua.

O segundo ponto abordado, da técnica, diz respeito, ainda segundo o entrevistado, aos métodos ou às metodologias de ensino. Pontualidade, o terceiro, não havia até então sido mencionado, juntamente com organização e administração. Tal fato sugere, de acordo com o discurso do PA04, que sua vivência influenciou o ressaltar desses pontos, pois já ministrava aulas, à época da pesquisa, em duas instituições públicas e participava de um curso de especialização.

Nesse ponto, há uma crítica aos cursos de graduação, no sentido de não ensinarem questões administrativas. Segundo o PA, tais elementos deveriam ser ensinados já que uma

C1 •Ter curiosidade •Ter vontade •Atualizar-se •Ser proativo C2 •Ter onhecimento da disciplina •Dominar a técnica •Ser pontual •Ser organizado •Saber se administrar

das funções da universidade é preparar para a sociedade e para o trabalho, promovendo uma melhora de vida dos indivíduos que nela constroem seus conhecimentos. A experiência do entrevistado, como podemos perceber, fez as representações serem transformadas, principalmente pela experiência em outros contextos.

Ao ser perguntado se alguma das suas concepções sobre o bom professor havia mudado no espaço do semestre letivo estudado, PA04 discorre não sobre as representações contidas no C1 e no C2, o que forma assim uma nova cadeia de significados expressos pelos seguintes exemplos:

(35) Tem duas [representações] que eu aprendi inclusive na especialização, segundo Prabuh, que ensinar é no máximo, ou no mínimo? [...] esperar que o melhor aconteça. Assim, eu não tenho tanta responsabilidade com cada qual. Eles têm que fazer por onde, porque por mais que eu explique, por mais que eu faça a minha parte, se ele também não se engajarem nisso, não vai ter efeito.

Percebemos aqui a questão da responsabilidade que é colocada nas mãos do professor, que sempre foi considerado como o elemento principal no processo de ensino-aprendizagem, é um dos motivos do reflexo da ideia de transmissão de conhecimentos. Por tempos, o professor foi o detentor absoluto do conhecimento, reservando aos alunos um papel de passividade e de inferioridade. De acordo com essa visão de ensino, o professor depositava o conhecimento nas cabeças vazias dos alunos, escrevendo em tabula rasa e limpas o conhecimento, que assim era, nessa concepção, efetivamente aprendido. Na visão de PA04, esse conceito de centralidade e de responsabilidade foi substituído pelo de participação dos alunos nas atividades, uma corruptela do conceito de construção do conhecimento. Notamos ainda que nessa nova representação ele faz o uso da metáfora de obrigação Tem que, que não foi computada na contagem do C1 e do C2 por se situar em um grupo considerado à parte, que seja o grupo das mudanças das representações.

Ainda no discurso do entrevistado, outro posicionamento que não foi identificado nem no C1 e tampouco no C2 foi revelado, de acordo com o que podemos compreender a partir do exemplo (36):

(36) A outra questão era com relação ao uso do método comunicativo, usando a língua-alvo em sala de aula. Sempre soube de escolas que prezam por isso, de que se fale inglês desde o primeiro encontro até o último, sempre tudo em inglês. Eu nunca dei crédito a isso, e sempre achei até mesmo impossível. Através do Ágora agora, aplicando isso no Ágora, e também porque eu sou professor do estado, mas não tem... não vejo como falar inglês na escola do estado e eu achava que lá...assim, achava que essa experiência de nunca poder falar inglês pelas circunstâncias, pensava que isso fosse imperativo e que não dava pra se aprender inglês sem falar inglês em sala de aula. Que dá, dá, mas eu tô vendo que falando inglês é muito mais produtivo. E que realmente aprende. Eles reclamam no

começo, mas no final do curso eles veem que eles conseguiram aprender muito mais do que se fosse o contrário.

Nesse caso, discute-se a viabilidade da abordagem comunicativa. Segundo o PA04, havia em sua concepção uma descredibilidade para com a abordagem comunicativa, pelo fato de ter passado por escolas públicas e agora atuar nessas instituições. Trabalhando no IA, o entrevistado passou não só a acreditar no método, mas também a ter preferência por ele, inclusive fazendo um juízo crítico e comparativo entre a instituição pública na qual leciona e o IA.

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