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CAPÍTULO III: ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

3.6 As marcas lexicais no C2

3.6.1 As representações dos PAs no fim do semestre

3.6.1.1 As mudanças linguísticas nas representações do PA01

Ao longo da análise das duas entrevistas, em cada discurso dos PAs, verificamos que algumas escolhas lexicais permaneciam, enquanto outras foram significativamente alteradas. Portanto, elaboramos uma figura que ilustra os principais argumentos que acompanhavam as marcas linguísticas, tendo como base agora o conteúdo daquilo que dizem. Faz-se necessário relembrar que tal conteúdo foi selecionado a partir das marcas linguísticas É, Tem e Acho e organizados de acordo com os dois momentos, ou dois grupos de entrevistas, o C1 e o C2, que podemos conferir na Figura 7.

Figura 7 – Estrutura das representações de PA01 no C1 e no C2

Fonte: Dados da pesquisa.

Por meio do uso de alguns atributos, a classificação dos processos pôde ser melhor entendida, como é o exemplo de Saber interagir. Podemos sugerir que todos os atributos que aparecem no C1 tendem a ilustrar uma preferência pelo processo Saber. Na segunda etapa, temos processos outros, como o Ser (dedicado), seguidos de Cumprir, Saber novamente e Conhecer, esses últimos ficam em ordens similares, no sentido de que o primeiro ilustra algo que se conhece com mais intelectualidade, enquanto o segundo é de uma ordem mais prática, sem muito aprofundamento, ou seja, em termos sistêmico-funcionais, uma alternância de processos mentais para processos materiais. Entende-se ainda que no C2 temos o implemento de escolhas lexicais diferenciadas, como as relacionadas à dedicação e à burocracia, que não foram feitas no C1. O processo de mudança das representações se deu pela inserção de novas escolhas lexicais às anteriormente referidas.

Uma marca extremamente recorrente no discurso do PA01 era a interatividade que o “bom professor” deveria ter. Por esse motivo, a sua ausência no C2 não era esperada. A interatividade, para lograr êxito, não depende apenas do momento no qual as pessoas inseridas em tal atividade se relacionam. Nesse sentido, ainda percebemos que, conforme os jogos, as brincadeiras e os aspectos mais lúdicos foram bem recebidos em sala de aula, “pois permitem um melhor processo de apropriação de conhecimentos e habilidades, bem como o incremento de capacidades cognitivas diversas, especialmente aquelas do tipo criativo” (MARTINEZ,

C1

•Saber Interagir

•Saber as necessidades de todos

•Saber das deficiências •Saber apresentar uma

aula •Ter sensibilidade de conhecer •Preparar-se, estudar e dominar o conteúdo C2 •Ser dedicado •Cumprir com seus

compromissos burocráticos •Saber passar o conteúdo •Conhecer o aluno para

transmitir melhor o conteúdo

1997, p. 169), o professor que utiliza esses meios foi sendo considerado um ser naturalmente interativo, e no IA os professores adotam, em essência, e respeitando a escolha metodológica contextual, o método comunicativo (Cf. LARSEN-FREEMAN, 2011).

Também estão inclusos aí pontos importantes como o conhecimento da pessoa e de suas expectativas. Tal ponto apareceu no C1, mas talvez os dados no C2 sugiram que o PA passou a ver na relação, baseada na interatividade, uma consequência um tanto quanto natural do processo de ensino-aprendizagem quando se conhece melhor o aluno.

Durante o semestre, as experiências vivenciadas pelo PA01 podem ser um indicativo para as diferenças em suas escolhas lexicais do seu discurso. No entanto, uma das ideias que não mudou, a de transmissão, expressa nos exemplos como “passar o conteúdo” ou “transmitir”, sugere uma reflexão maior nos cursos de formação de professores, já que ilustra o processo de ensino-aprendizagem como sendo o papel do professor de transmitir ou de passar os conteúdos, ainda que conhecer e saber das necessidades dos alunos seja muito saudável.

Soma-se a essas representações do segundo momento a preocupação com a burocracia que a profissão implica. Questões acerca de reuniões, relatórios, cumprimento de horários e de tarefas variadas, chegando até a questões dos planos de aula. O entrevistado pensa ser importante ressaltar essa parte do trabalho, uma vez que a profissão docente não faz ligação direta com esses pontos burocráticos. Como exposto no Capítulo 1 – Fundamentação Teórica –, as pessoas que tiveram oportunidade de serem inseridas em uma educação formal sabem como é, tecnicamente, o trabalho docente, visto que participam do processo. Entretanto, como é sabido entre os profissionais desse campo, o grande trabalho docente está no planejar, ou seja, uma das tarefas mais burocráticas e essenciais ligadas a esse tipo de trabalho (TARDIFF, 2009).

Por fim, queremos ressaltar que a representação mais forte revelou um grupo de ideias específicas circunscritas em um saber comum: conhecer o aluno. Por vezes, o PA01 marcou seu discurso com a importância de se conhecer o aluno, de saber das suas necessidades e, em suas palavras, das suas deficiências. Essa parte do trabalho, imprescindível para o exercício da profissão, ainda segundo o entrevistado, permeia também as ações burocráticas anteriormente citadas, já que para se preparar uma atividade para um grupo de pessoas é preciso conhecer para quem se quer propor tal atividade. Esse conhecimento pode ser tanto com relação a objetivos, necessidades, como também incluir outras demandas como interesses e facilidades ou dificuldades. As estruturas que construíram as representações do entrevistado sofreram, desse modo, tanto processos de apagamento quanto processos de soma, sendo alteradas sem a

percepção do PA01, pois, uma vez questionado sobre mudanças em seu discurso entre C1 e C2, respondeu negativamente.

3.6.1.2 As mudanças linguísticas nas representações do PA02

O segundo entrevistado, PA02, teve seu discurso no C1 marcado pelas formas verbais Tem, expressando uma ideia de obrigação ou de necessidade de algum requisito para se considerar um “bom professor”, como pode ser conferido no Gráfico 2 (p. 78). Em sua segunda entrevista, o “bom professor” é definido pela expressão É aquele que. Assim como todos os outros PAs, o PA02 se vale dessa construção no intuito de contrair ao máximo a sua ideia. A partir de suas concepções em seu discurso, elaboramos a Figura 8:

Figura 8 – Estrutura das representações de PA02 no C1 e no C2

Fonte: Dados da pesquisa.

Umas das primeiras representações, sobre a criatividade, não foi revalidada no discurso do PA02 no C2, assim como o professor que faz pensar. Essas duas ideias sofreram um apagamento no C2, o que nos leva a refletir se realmente eram marcas fortes na composição das representações gerais de PA02 acerca do “bom professor”. Observamos ainda que a obrigatoriedade anteriormente vista no C1 sobre “conhecer os alunos, saber onde está

C1 •Ser criativo •Ser envolvente •Ser perspicaz •Fazer pensar •Conhecer o aluno •Saber onde está pisando •Ter jogo de cintura

C2

•Aplicar bem a metodologia •Passar o conteúdo para o aluno •Despertar atenção

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