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CAPÍTULO 3 – A NÃO PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA CAÇOTE NA FESTA

3.1. As mudanças do tempo

“Antigamente no tempo no meu bisavô era outra coisa…”79

Imagem 12 - Negra do Rosário na matriz. Data: 2000

Créditos: AC Junior.

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Como já ressaltamos a irmandade do Rosário, localizada na cidade de Jardim do Seridó/RN, vem, ao longo do tempo, sofrendo algumas mudanças, a família Caçote, que representa uma das famílias presentes na irmandade é exemplo de fé e devoção, além de se destacar pela quantidade de membros na festa, mas ao longo dos anos, essa grandiosidade foi diminuindo, os mais velhos foram morrendo, e faltava interesse por parte dos mais novos para continuar na irmandade. Verificamos algumas controvérsias ao longo das entrevistas, pois, para alguns, essas mudanças foram poucas, e os mais novos estão interessados80, já para outros, as mudanças são visíveis e preocupantes81.

Exemplo disto, é quando os negros do Rosário veem as mudanças ao longo dos anos como algo negativo, na narrativa de Seu Enoc, ele faz sua própria comparação de quem já viveu muitos anos e conhece a festa há muito tempo, ou seja, sua narrativa parte de seu próprio convívio com a festa. Hoje, aos 74 anos, ele ressalta que ocorreram mudanças, que os tempos mais antigos eram melhores.

Deste modo, Seu Enoc proporciona pensar como eram os tempos mais antigos, destaca, ainda, uma longitude maior em relação ao tempo de seu avô: “Mudou, antigamente, no tempo do meu bisavô era outra coisa, hoje em dia não é mais do jeito que era do meu avô, não […].82” Pela narrativa de Seu Enoc, vemos que, seu avô ou seu pai, falavam muito bem de como era a festa no seus tempos, as afirmativas feitas pelo mesmo, nos proporcionam pensar mais uma vez nas mudanças que ocorreram.

Assim como Seu Enoc, a jovem Jardelly Lhuana destaca, em sua narrativa, a questão das mudanças, apesar de sua pouca experiência na festa, as justificativas para ela partem da própria falta de interesse dos jovens, com relação à sua família, Caçote, essas mudanças se justificam a partir do falecimento de sua bisavó Inácia, que fazia questão de repassar e incentivar os jovens a participarem da irmandade, além do zelo e cuidados com a família, Inácia também os tinha com a própria irmandade em si e seus preparativos para a festa. Jardelly destaca que, os cuidados e zelo com a irmandade mudaram bastante, no tempo em que sua bisavó era viva essa preocupação era maior.

-Sim, principalmente quando vó ainda era viva, você percebia que havia um zelo maior nas coisas da irmandade, era tudo muito planejado pra se ter,

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Antônio Canuto do Nascimento Filho (Motor), 58 anos, entrevista realizada em 06/01/2016 na cidade de Jardim do Seridó/RN.

81Jardelly Lhuana da Costa Santos, 23 anos, entrevista realizada em 06/01/2016, na cidade de Jardim do Seridó.

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quando tinha a reunião dos irmãos de mesa, antes da missa, era tudo feito e eles seguiam, de certa forma, aquela tradição de fazer a reunião dos reinados, estarem todo completo, inclusive a preocupação de deixar claro que a importância daquela festa é o poder que realmente a rainha perpétua tinha na época, que na época da minha bisavó ela era rainha perpétua, era a mais velha da irmandade, então ela tinha um certo poder, então, se ela não concordava com alguma coisa, a irmandade, de certa forma, também concordava com aquilo que ela estava querendo dizer, respeitava a opinião dela, e hoje não, hoje já mudou muito e a quantidade de netos da família Caçote diminuiu bastante. e você já vai percebendo que não tem mais aquele zelo. É uma festa que acontece em três dias, mais que é como se fosse só aqueles três dias, não existe mais aquele zelo, as pessoas não param mais o que fazia durante o mês de dezembro pra se dedicarem à irmandade. É algo que está sendo entretalhado às outras coisas que eles têm pra fazer, algo de segundo plano, e então, essa questão de como era antes a festa, as pessoas falam muito: ah, era muito lindo, quando eles saiam com a coroa, o batuque, e hoje não tem mais, hoje já é, antes existiam mais adultos pulando, hoje já são mais crianças e adolescentes.83

A partir desta narrativa, percebemos falas voltadas para um passado, como “era antes”, “as pessoas falam”, “antes existiam”, assim como Jardelly, os Caçotes narram um passado forte e melhor. As questões, mais uma vez da família, são muito fortes com relação à irmandade e à própria família Caçote.

Neste âmbito de mudanças, a pesquisa feita por Goulart, já destacada anteriormente, ressalta questões relacionadas à irmandade do Rosário, em Jardim do Seridó. Um ponto importante são os assuntos voltados para as mudanças, comparando a festa antes e hoje, em sua pesquisa, ressalta a entrevista feita com Motor: “Rapaz, eu acho que a festa de dez anos pra cá, a festa tem mudado. Porque tem muita ajuda, sabe?! Muita ajuda que eu nem falei […] tem muitas coisas que tá voltando ao que era […] E é uma coisa que está mudando a irmandade, festa na rua, que é uma coisa que nós nunca mais tivemos uma banda tocando na rua igual esse ano […] e não estava havendo aquele leilão, e já vai voltar a acontecer também, o leilão da casa do Rosário.” (Silva, p.73 ,2012)

Neste contexto, observamos que, para Motor, a festa passou por algumas mudanças, mas que está voltando às antigas tradições, como por exemplo, as bandas tocando na rua e os leilões.

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