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10SANTOS, Flávia Santana dos. Cangaceiras: rebeldia, romantismo e liberdade. Monografia. Brasília, 2005,

p. 07.

11 ARAÚJO, Wilma Antunes de; RODRIGUES, Linduarte Pereira. A figura de Maria Bonita no imaginário

A história do movimento do cangaço no que se refere às cangaceiras, ainda são poucos os estudos sobre a trajetória dessas participantes. A invisibilidade dessas personagens inicia-se com a ausência de uma definição sobre o que foram.

O cangaceiro foi definido por Queiroz (2005) como homem que vivia fortemente armado na região da caatinga do sertão nordestino; grosso modo, as cangaceiras seriam uma versão feminina do cangaceiro.

Já para Ferreira:

A reflexão que se pode fazer é com relação à definição de feminino no movimento do cangaço produzido nos filmes. Essa problematização possibilita a construção da história das mulheres no cangaço, no cinema e na historiografia. Na construção dessa história das cangaceiras (FERREIRA, 2011, p.241)

Segundo Ferreira as características do cangaceiro não são o suficiente para definir a cangaceira, pois elas foram múltiplas. As múltiplas cangaceiras foram mulheres pertencentes ao sertão nordestino, independente da categoria social. Em outras palavras, as “mulheres-macho”, marcadas pela diversidade do sertão e regidas por uma sociedade pautada no patriarcado.

A importância sobre a história das mulheres teve um papel muito grande para sociedade, sendo assim, a historiografia as tem como “heroínas”, afinal, elas foram as pioneiras para a sociedade patriarcal. A mulher obteve seu desempenho na sociedade de forma muito marcada, o seu espaço conquistado, tiveram e têm uma função muito importante na historiografia brasileira, teve várias papeis múltiplos (CASCUDO, 2009)

Mas as “mininu fêmea” recebiam uma formação diferente da dos homens. Eram ensinadas a elas as “prendas domésticas”, a responsabilidade com a maternidade e o cuidado com a família (FERREIRA, 2003). De acordo com Falci (2007), tal formação contribuía para definir os espaços de atuação das mulheres sertanejas.

Conforme verificado a histórias das mulheres trata-se inegavelmente que enfrentaram de tudo para chegar onde estão, foram mulheres guerreiras não se importavam se a sociedade julgasse ou se perseguisse, sempre estiveram firmes e fortes. Segundo: “uma mulher torna-se plenamente humana quando tem oportunidade de se dedicar ao exercício de atividades públicas e quando pode ser útil à sociedade” (FERREIRA, 2011, p. 291).

A entrada de mulheres ao cangaço suscita diversas indagações que buscam compreender quais seriam os reais motivos que as levaram seguir este estilo de vida. Quais os papéis desempenhados por estas no bando. E quais estereótipos foram criados em torno dessas cangaceiras (FREITAS, 2005)

Segundo a concepção da socióloga Queiroz (apud FREITAS 2005), a inclusão de mulheres ao banditismo se processou a partir de uma escolha pessoal. Para ela, a inserção ao cangaço representava para aquelas sertanejas menos abastadas a oportunidade de se livrar de trabalhos rurais, enxergando ali a possibilidade de uma ascensão social.

Essas ideias partiram do pressuposto de que os cangaceiros obtinham riqueza fácil, devido à ilegalidade que praticavam, acrescentando além dessas características a virilidade masculina destacada em sua coragem e o temor que provocava entre os poderosos. Tais características faziam com mulheres sentissem atraídas por esses homens (FERREIRA, 2011).

Segundo Ana Saraiva de Freitas (2005), nem todas as mulheres que optavam pelo cangaço eram de famílias pobres, muitas escolhiam este estilo de vida com intuito de fugir dos padrões estabelecidos pela sociedade, uma alternativa de escolher o seu próprio marido.

Segundo a referida autora citada acima (2005), de acordo com “a bibliografia especializada e as diversas fontes consultadas, Maria Bonita (Maria Gomes de Oliveira) foi à primeira mulher a entrar para o cangaço em meados de 1930, provocando modificações na estrutura do bando, abrindo o caminho para entrada de mais de trinta mulheres a esse estilo de vida” (p. 32).

Na maioria das vezes quando se aborda a respeito da mulher cangaceira, as informações se limitam apenas a sua descrição física e o nome do seu companheiro. Pode-se observar que a cobertura que a imprensa deu naquela época se limitou apenas a qualificá-las como “bandidas”, “amantes”, “megeras”; “companheiras”, “belicosas”; “hábil amazona” e “cruéis”” (QUEIROZ apud FREITAS, 2005, p.23).

Independente dos motivos que levaram essas mulheres ao bando, todas acabam sendo generalizadas e tratadas como criminosas, contribuindo dessa forma na construção do estereótipo masculino, violento de mulher e muitas vezes quando

as descrevem como amantes, as tratam também como objetos de satisfação sexual, ressaltando que todas as informações a respeito das mesmas eram fornecidas pelas autoridades policiais (FERREIRA, apud FREITAS 2005).

Neste sentido, às mulheres eram tidas como meros objetos que estavam subjugadas as vontades dos cangaceiros, sendo esse o principal papel dado a elas tanto pela sociedade, quanto na maioria dos bandos existentes na época. Já Ferreira (2011) observa, em seus achados, que a vida destas mulheres não era fácil, porém fica nítido que muitas mulheres adentraram ao bando por ascensão, por amor ou por que eram raptadas, e que muitas delas viviam em uma relação amistosa com seus companheiros.

Outro ponto interessante a se destacar de acordo com o auto acima citado (2011), a respeito das cangaceiras é que estas participavam ativamente na invasão de povoados e de confrontos com a volante, utilizando de diversas armas, resultando daí o estereótipo de mulher guerreira. O medo que elas possuíam de serem capturadas pelos volantes era muito grande, devido à carnificina que muitos dos polícias praticavam quando as capturavam.

O nível de violência que elas praticavam estava conivente ao nível praticado pela força policial. É necessário compreender que independente dos motivos que levaram essas mulheres a adentrar no cangaço, seja por opção ou por rapto, visando concretizar uma paixão ou aquisição de ascensão social, ou uma forma de proteção, todas essas mulheres não deixaram de ser mulheres, a feminilidade estava presente naquela ambiente, à preocupação com o embelezamento era constante, infelizmente essa parte foi ofuscada pela impressa que só soube levantar aspectos que faziam referências à marginalidade, a violência, a criação do estereótipo “mulher macho”, das subversivas da sociedade (QUEIROZ, 2007, p. 11).

É importante ressaltar também que, o romance de trinta, na qual a literata Rachel de Queiroz (2007) fazia parte, retratava o nordeste sem deixar de fora todas as características estereotipadas, fruto dos discursos regionalistas, em especial o discurso da seca, a região nordestina era assimilada como lugar arcaico, da seca, fanáticos e de pessoas tidas como incapazes, a autora escreve sobre um povo humilde, pobre, com um olhar de cima, da elite que não se detinha mais do grande

poder e que pode ser uma forma também de denúncia da situação de vida da população, fazendo com que o Estado voltasse a sua atenção para aquela região tão debilitada.

Podemos compreender assim que, a literatura traz fontes de expressões de valores implícitos de uma dada sociedade, dessa forma podemos considerar que todas essas produções podem ser utilizadas como um objeto de análise histórica, pois são produzidas em um determinado tempo a partir de uma percepção humana carregada de intencionalidades e significados que não podem ser analisadas e nem vistas sem ao menos ter um conhecimento prévio sobre o tema e o período abordado, para que não se cometa nenhum equívoco.

CAPITULO 3

A HISTÓRIA DOS CAUAÇUS

Facó (1963) diz que o cangaço existiu a partir do século 19, mas atingiu o auge entre o início do século 20, marcado pela ação do bando de Antônio Silvino, e a década de 1940, quando foi morto o cangaceiro Corisco, no interior da Bahia. Entre a atuação dos dois, destacou-se aquele que se tornou a personificação do cangaço, por ser o líder de uma quadrilha que atuou por quase duas décadas em diversos estados do Nordeste, o Lampião.

O cangaço, movimento de luta das populações pobres no sertão nordestino, não foi um fenômeno isolado de insurgência contra a ordem dominante. Tal movimento foi um dos meios que as populações oprimidas e exploradas encontraram de buscar sua sobrevivência, reagindo aos estímulos do meio social em que viviam. Outras situações que podem ser apontadas nessa mesma lógica são, por exemplo, as fugas e rebeliões de escravos ou as revoltas armadas contra o poder central (FACÓ, 1963)

Os Cauaçu tiveram sua importância na história da construção do cangaço porque praticaram atos pioneiros e usavam a pratica do banditismo social. O que ficou claro na pesquisa é que o cangaço apresenta necessidade de mais aprofundamento teórico cientifico. O Dicionário Aurélio (1975) define os Cauaçu como “Grupo de bandoleiros outrora existente nos sertões baianos”.

Já o historiador Émerson Pinto de Araújo no livro Nova História de Jequié afirma que eles eram cangaceiros: [...] O nome cangaço parece ter se originado da palavra canga, trava que sujeita o boi ao carro, análoga à canga que o cangaceiro usa para carregar víveres, armas e munição. Dentre os cangaceiros que atuaram nas circunvizinhanças de Jequié, os mais famosos foram os Cauaçus. (ARAÚJO, 2006, p.261-262). Já para Lokoi e Cols:

Diz-se que a origem do termo vem de “canga”, uma peça de madeira usada para prender os bois a uma carroça. É uma metáfora que retrata o sobrepeso que o cangaceiro carregava, “andava debaixo do cangaço”. Aos poucos, porém, o termo passa a designar um estilo de

vida, nômade, saqueador, dos que vagam pelos sertões. A palavra já começa a adquirir um sentido negativo, que logo se desenrola para um sinônimo de “bandido” (LOKOI e Cols, 2015, p.21).

Percebe-se que o cangaceiro é visto como um bandido, mas que essa não é a visão universal, de acordo com Lokoi e Cols (2015) “Para muitos dos pobres dos sertões, que compartilhavam da mesma pobreza que eles, os cangaceiros representavam o enfrentamento contra os coronéis - ricos e donos de muitas terras, que exploravam a população. Passaram a ser vistos com qualidades ideais, como valentes, justiceiros e defensores dos pobres” (LOKOI E COLS, 2015, p.30).

Muitos na literatura e nas tradições até os descreveram como “agitadores sociais” e “revolucionários”. Claro que é um exagero, pois os cangaceiros não tinham um projeto político de futuro, como os revolucionários, para a sociedade, nem buscavam uma transformação das estruturas da sociedade. Estavam mais preocupados em sobreviver no hostil e injusto cenário brasileiro da época, afrontando os opressores e exploradores. Mais adiante, pensaremos mais sobre os significados dos cangaceiros para a sociedade (FACÓ, 1963).

Com embasamento bibliográfico a vida no cangaço era uma forma de sobrevivência neste cenário brasileiro e os cangaceiros eles tentaram mudar esse quadro social desta época que era injusto, porém tiveram algumas atitudes com algumas pessoas injustamente um exemplo: foram as tentativas de estupros, mais sabemos que esse episódio foi mudado com a entrada da mulher no cangaço observando também que não foram em todos os bandos algumas formas de violência. Já Para Auad:

O início dos confrontos entre os Cauaçus e a força policial do governo do Estado se dá a partir do mês de abril de 1916, com a chegada da primeira expedição policial. Diante dos vários focos de lutas que estouravam na Bahia, o governo de Antônio Muniz foi instado a tomar providências. E o então secretário de Segurança do Estado, Dr. Álvaro Cova, ordenou a primeira expedição para a cidade de Jequié, com a finalidade de acabar com a chamada “conflagração sertaneja” (AUAD, 2013, p. 42)

Observando que os Cauaçus adentraram no cangaço para vingar a morte de Augusto Cauaçu, e vemos em achados bibliográficos, que os Cauaçus compraram

uma briga também com as forças do Estado, porém, eles só queriam se defender do governo do estado e não atingindo terceiros.

Em Ituaçu, antigo Brejo Grande, duas famílias disputavam o poder local: os Silvas, chamados de "rabudos", e os Gondins, denominados de "mocós". Esse conflito pelo poder local acaba ampliando seu raio de influência para outras localidades baianas como Jequié e Maracás e passa a envolver outras famílias (PIRES, 2015).

Os integrantes da família Cauaçu viviam sem envolvimento com conflitos até que por vingança ingressaram no banditismo social como revela Émerson Pinto de Araújo: Como é de praxe na história do banditismo, os Cauaçus foram durante muitos anos modestos comerciantes, com pequenas fazendas de gado, espalhados pelos municípios de Jequié, Ituaçu, Amargosa, Brumado e Boa Nova (PIRES, 2015).

Bastante unidos, viveram pacatamente até que o dia em que um dos seus familiares, conhecido como Augusto, negou-se acompanhar Zezinho dos Laços, para quem trabalhava, quando este se dispunha a reencetar a luta conta os “mocós. Para sua perdição, o atrevimento da recusa foi acompanhado da alegação de que os Gondins e os Cauaçus sempre mantiveram um bom relacionamento, não havendo motivos para participar da briga de terceiros. Poucos dias depois, no terreiro de sua casa, Augusto era assassinado por um cabra de Zezinho, conhecido como Tavares, enquanto Miguel Preto, outro jagunço, procurava dar cabo de Félix Cauaçu (ARAÚJO, 1997, p.263).

Anésia Cauaçu concedeu entrevista ao Jornal A Tarde cujo teor foi publicado em primeira página do diário no dia 25 de outubro de 1916, onde ela também explica a origem do conflito:

Daí começou a luta, José dos Laços mandou um camarada de nome Miguel Preto, matar o Felix Cauaçu, primo carnal do menino José, enquanto o Augusto era morto, no próprio terreiro de sua casa, por quatro camaradas do mesmo José dos Laços, só me lembrando do nome de dois, um Tavares o outro Clemente. Augusto ali ficou dois dias sem ser enterrado, porque o Zezinho (José dos Laços) não consentia nessa última homenagem prestada pela minha família12.

Através de terceiros, Marcelino Cauaçu (irmão de Augusto) exigiu de Zezinho a entrega do criminoso, obtendo como resposta do chefe dos “rabudos” de que

idêntico fim estaria reservado a quem tentasse enterrar o cadáver de Augusto. Chamado pela mãe da vítima, José Cauaçu deixou a localidade conhecida como Fedegoso para, dois dias depois, sepultar o primo, tendo a seu lado Marcelino e quatro homens armados que lhe fizeram companhia. Após o enterro, reunidos em conselho de família, os Cauaçus escolheram José para seu chefe, declarando guerra aberta a Zezinho e seus jagunços (AILTON, 2011).

Os combates prosseguiram. Mesmo estando em menor número o bando dos Cauaçus não se deixou vencer, até porque ocupavam sempre as melhores posições ante a polícia. Após travar vários embates, o sargento Etelvino, juntamente com seus homens, consegue balear José cauaçu:

José Cauaçu foi baleado no dia 26 de julho por uma descarga dada por vários soldados à frente das quais estava o sargento Etelvino, entre Boa Vista e o Caldeirão do Miranda, num lugar denominado Pai Manuel. José respondeu ao fogo, fugindo a força para Boa Vista, onde foi se juntar à de Pisa-Macio. A bala entro-lhe na coca direita e saiu-lhe no quadril da perna esquerda. Depois de feriado, os seus parentes Tertuliano, Terto Cauaçu, Antônio Conselheiro, Gentil, Saturnino, Regino e cinco camaradas que o acompanhavam conduziram-no para a “Ladeira”, a uma légua de Boa Vista, onde tomaram a mulher de Cândido Araújo para ser sua enfermeira. Desde o dia que José foi ferido que não teve tratamento algum. Seu pai Rufino Cauaçu, no sábado seguinte mandou um camarada a Maracás buscar remédios. À sua passagem, no Caldeirão de Miranda, Etelvino e seus soldados mataram-no a tiros13.

Assim, ferido e sem receber tratamento adequado, José Cauaçu, faleceu. Com sua morte, seu irmão Antônio Cauaçu assumiu a liderança do bando. Esse bando era peculiar, tendo em vista que mulheres também faziam parte. Dentre elas: Anésia Cauaçu, sua mãe Maria Galiana, suas irmãs, e as esposas e amantes dos Cauaçus e de seus camaradas (AUAD, 2013).

Uma vez convertidos em bandoleiros, os Cauaçus, em sinal de luto, passaram a usar lenços pretos em torno do pescoço, cujas pontas eram introduzidas num argolão à altura do esterno. Contrastavam assim com os “rabudos” de Marcionílio Souza, que ostentavam lenços vermelhos ao pescoço e na ponta das repetições. A luta entre as duas facções se tornou intensa, principalmente depois que os Cauaçus

mataram Zezinho dos Laços na Fazenda Rochedo, de propriedade de Cândido Meira, conforme noticiou o jornal “Diário de Notícias” de 04 de novembro de 1911 (AILTON, 2011).

A relação de espaço e poder pode ser detectada quando se começa a revelar e pontuar as áreas de domínio e de presença dos vários bandos. Esses espaços muitas vezes traziam a marca do sagrado, de local santo e proteção. O bando dos Cauaçus era extremamente conhecedor da região. Muitos de seus confrontos com as expedições policiais ocorriam em locais conhecidos por eles (AUAD, 2013).

Falar de banditismo implica estabelecer seu tempo e seu espaço na memória e na história. O fenômeno do banditismo foi registrado na Europa Medieval, no século XVI. Foi, também, registrado nos séculos XVII e XVIII uma expansão desse fenômeno na Europa Central.

O banditismo tem sua época e sua ecologia. A desintegração de sociedades tradicionais sem a correspondente modernização e capitalização do campo; surtos de pauperismo, desintegração social ou crise ecológica (como estiagem prolongada) ou econômica; uma organização agrária baseada no latifúndio e no minifúndio; um sentimento de forte solidariedade familiar e um conceito exacerbado de honra e de machismo que podem levar à vendeta como forma de disciplina social e lutas entre famílias, a simples exaltação da bravura e da carreira das armas como única opção para os segundões, ou os que estão por lei excluídos da herança do título ou da propriedade e se negam a confundir-se com a plebe ou o campesinato – todos esses fatores, separados ou consorciados, produziram em certos momentos e países surtos de banditismo (RIOS apud AUAD 2013, p. 82)

Antes de seguir, vale afirmar que na figura dos cangaceiros se misturam três tipos de banditismo, pensados pelo historiador Eric Hobsbawm14. O primeiro é o banditismo de vingança de sangue, feito de uma família contra a outra por motivos pessoais, que incluem a honra familiar e individual a ser defendida.

O segundo, é o banditismo puro ou simples. Trata-se do bandido que rouba para si, assaltando à mão armada. É um meio de vida encontrado em sociedades onde há pouca abertura e oportunidades de vida decentes para todos. Por fim, temos

14 Eric John Ernest Hobsbawm (Alexandria, 9 de junho de 1917 - Londres, 1 de outubro de 2012) foi

um historiador marxista britânico reconhecido como um importante nome da intelectualidade do século XX. Ao longo de toda a sua vida, Hobsbawm foi membro do Partido Comunista Britânico.

o banditismo social, o caso típico do lendário “Robin Hood”. É a atitude bandida feita como protesto, nem sempre consciente, às injustiças e hierarquias da sociedade, é o “roubar dos ricos para dar aos pobres” da lenda. Como veremos, nas histórias dos cangaceiros que analisamos, os três elementos estão presentes.

Cangaço remete a ideia de universo quente e seco, onde muitas vezes o gado esquelético apenas tinha para comer os mandacarus espinhosos da caatinga, em que os poderosos dominavam utilizando tal violência que essa se tornava uma das características mais marcantes dos sertões nordestinos (FACÓ, 1963).

Esse tipo de universo, da dependência inicial dos coronéis e donos da terra (e da vida alheia), desaguou historicamente na insurgência “fora da lei” contra o mandonismo coronelista e o latifúndio de raiz colonial para os quais, contraditoriamente, prestou seus serviços durante boa parte do século 19 (FACÓ, 1963).

De raízes remotas, apontadas pela historiografia especializada, seguramente, na Balaiada, uma vez fora do controle dos coronéis da terra e de seus políticos e milícias armadas, os cangaceiros se transformaram, na visão dominante – e, portanto, das classes dominantes – em sinônimo de malfeitores. A chamada “civilização do couro”, nutrida pela exploração do trabalho humano não-escravo, e pela super exploração do gado bovino, que se alastrou ao longo dos cursos d’água, a exemplo do Rio São Francisco, também conhecido, desde o período colonial, como “Rio dos Currais” (FACÓ, 1963).

Com toda repressão que acompanha necessariamente a concentração de terras desde as Sesmarias do período colonial agravada pela já vista Lei de Terras do século 19, diferenciou-se, por exemplo, da grande propriedade escravista voltada para o mercado exterior, paisagem histórica que marcou e particularizou os engenhos açucareiros nordestinos. A pecuária era uma atividade complementar de extrema importância para o funcionamento do sistema agroexportador e escravista, sendo por isso uma das principais atividades a qual se ocupavam os homens e mulheres livres

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