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A importância da mulher no cangaço: Anésia Cauaçu

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS - UFAL CAMPUS DO SERTÃO CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA. TALITA CORDEIRO ROCHA. A IMPORTÂNCIA DA MULHER NO CANGAÇO: ANÉSIA CAUAÇU. Delmiro Gouveia / 2017.

(2) TALITA CORDEIRO ROCHA. A IMPORTÂNCIA DA MULHER NO CANGAÇO: ANÉSIA CAUAÇU. Trabalho de Conclusão de curso apresentada a Universidade Federal de Alagoas, Campus do Sertão como requisito para obtenção de grau de Licenciatura em História. Orientadora: Profa. Msc. Sheyla Farias Silva. Delmiro Gouveia / 2017.

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(5) Meus país...que sempre estiveram comigo nos bons e maus momentos da minha vida.

(6) AGRADECIMENTOS. Meus agradecimentos primeiramente a DEUS, minha razão e inspiração de vida, aos meus País, minha mãe Josilva Cordeiro Araújo Leal e meu pai Manoel Leal Rocha que nunca desistiram de mim, minha vó Rilva Cordeiro Araújo, a minha família que é tudo para mim, agradecer a meus amigos, não poderia de deixar meus agradecimentos especial para meu amigo escritor Domingos Ailton a minha inspiração para esse tema, que me ajudou muito com seu conhecimento e documentação, a minha orientadora que nunca desistiu de mim e aos meus professores que acreditaram que um dia chegaria na última etapa a ser concluída e a todos que contribuíram direta e indiretamente a minha descoberta..

(7) “Não acredito que existam qualidades, valores, modos de vida especificamente femininos: seria admitir a existência de uma natureza feminina, quer dizer, aderir a um mito inventado pelos homens para prender as mulheres na sua condição de oprimidas. Não se trata para a mulher de se afirmar como mulher, mas de tornaremse seres humanos na sua integridade.”. “Não se nasce mulher: torna-se”. Simone de Beauvoir.

(8) RESUMO. A presente pesquisa importou-se na discussão da mulher como figura empoderada e protagonista de suas atitudes de lutas e vitórias diante o contexto do cangaço. O presente trabalho buscou discutir o papel da mulher na sociedade, a forma como ela foi e continua sendo tratada historicamente, bem como a importância de inseri-la como sujeito da história. Nesta perspectiva, confirmou-se, a mulher como objeto da narrativa literária, descreveu-se algumas notas sobre o cangaço, a história dos Cauaçus e particularmente, a história de Anésia Cauaçu, como exemplo de luta por espaço na história e de exemplo de mulher do cangaço. O trabalho se atentou ainda em refletir sobre este contexto, analisando assim as formas como as mulheres cangaceiras são descritas ao longo da história.. Palavras-chaves: Cangaço, Mulher, Anésia Cauaçu..

(9) ABSTRACT. The present research was important in the discussion of women as an empowered figure and protagonist of their attitudes of struggles and victories in the context of the cangaço. The present work sought to discuss the role of women in society, the way it has been and continues to be treated historically, as well as the importance of inserting it as a subject of history. In this perspective, the woman as object of the literary narrative was confirmed, some notes on the cangaço, the history of the Cauaçus and particularly, the history of Anésia Cauaçu, like example of fight by space in the history and example of woman Of the cangaço. The paper also attempted to reflect on this context, thus analyzing the ways in which women cangaceiras are described throughout history.. Keywords: Cangaço, Woman, Anésia Cauaçu..

(10) SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 10 CAPITULO 1 ....................................................................................................................... 12 A HISTÓRIA DA MULHER................................................................................................... 12 1.1 BREVE CONTEXTO SOBRE A HISTÓRIA DA MULHER .......................................... 12 1.2 O SERTÃO NORDESTINO E ALGUNS REFLEXOS DO CANGAÇO......................... 20 CAPITULO 2 ....................................................................................................................... 26 ALGUMAS NOTAS SOBRE O CANGAÇO .......................................................................... 26 2.1 AS MULHERES NO CANGAÇO .................................................................................... 34 CAPITULO 3 ....................................................................................................................... 39 A HISTÓRIA DOS CAUAÇUS ............................................................................................. 39 3. 1 ANÉSIA CAUAÇU ..................................................................................................... 46 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 50 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 52.

(11) 10. INTRODUÇÃO A escolha do tema “a importância da mulher no cangaço” buscou analisar a sociedade sertaneja, no contexto do cangaço, especificamente trilhando a história de Anésia Cauaçu no que diz respeito à atuação das mulheres num contexto predominantemente masculino e influenciado por relações patriarcais. A inquietação neste trabalho está no tocante de descobrir um novo olhar para o feminino. Neste novo universo as mulheres não assumiram o papel de vítimas e construíram sua história como protagonistas e emancipadoras. A esta categoria de mulheres, interessou-nos estudar as mulheres cangaceiras, em especial, a Anésia Cauaçu, que se recusam a apenas cumprir com os papéis determinados por sua posição social e protagonizaram inúmeras outras formas de resistências praticadas pelas mulheres ao longo da história. De acordo com Novaes (2009, p.1) “a formação do campo historiográfico sobre a História das Mulheres percorre uma trajetória que foi se constituindo principalmente a partir da década de 60 e de forma mais contundente e significativa no meio acadêmico nos anos 80”.. Num primeiro momento, esta história está intrinsecamente associada à necessidade de focalizar a mulher enquanto heroína; posteriormente, de forma complementar e para muitos contraditoriamente, a história das mulheres traduz-se numa perspectiva de gênero que contempla não só os aspectos políticos como também as mulheres enquanto categoria analítica na pesquisa histórica (NOVAES, 2009, p.1). Assim este estudo busca fazer um apanhado histórico sobre as mulheres do cangaço, no sentido de refletir sobre este contexto. Trata-se de uma análise das formas como as mulheres cangaceiras são descritas ao longo da história. A historiografia tradicional no cangaço privilegiou nos seus estudos os homens, apesar das mulheres estarem presente em seu meio. Estas começaram a entrar no cangaço em meados do século XIX e início do século XX. As novas abordagens historiográficas têm refletido sobre a importância da mulher dentro do Cangaço. Sendo assim, esse estudo se insere neste debate, que compreende as formas de.

(12) 11. transgressões das mulheres em uma sociedade machista. Deste modo, Anésia Cauaçu que nasceu na região baiana de Jequié e entrou para o Cangaço no final dos oitocentos, representa na história, uma mulher que desafiou as imposições nos lugares femininos, obtendo um papel relevante no Cangaço. Através de um levantamento bibliográfico, no qual envolverá Domingos Ailton Ribeiro de Carvalho, Marcia do Couto Auad e entre outros, pretende-se contribuir para os estudos do cangaço, gênero, e entender o cotidiano de mulheres “comuns”, mas que foram revolucionárias em suas escolhas. A respeito da figura feminina, sabe-se que numa construção social, com uma bagagem de crenças e valores, fortalecidos pelo patriarcalismo, a mulher passa a ser vista à margem, sexo frágil e submissa. Neste sentido, faz-se necessário apresentar a história da mulher enquanto protagonista de sua própria vida e lutadora de seus direitos..

(13) 12. CAPITULO 1 A HISTÓRIA DA MULHER 1.1 BREVE CONTEXTO SOBRE A HISTÓRIA DA MULHER Discutir sobre a história das mulheres se apresenta como sendo algo complexo, uma vez que nos achados bibliográficos a figura feminina se aparece como invisível durante um grande período.. Após séculos de história ocidental, estritamente uma narrativa sobre o “grande homem”, os historiadores gradualmente voltaram atenção para o problema da representação da mulher. O que significa escrever uma história das mulheres? Como seria ela? Primeiro de tudo, a história se tornou o local onde o feminismo pôde alterar a exclusiva universalidade do homem como sujeito. Fez emergir, assim, um conhecimento sobre as mulheres que questiona o papel central que os homens tradicionalmente têm ocupado nas narrativas históricas ( SILVA, 2008, p. 223). Assim, escrever sobre a história das mulheres significa uma reavaliação do conhecimento histórico, pois se sabe que a figura feminina ficou omitida do contexto história com longas décadas. A narrativa histórica não incorporou às suas preocupações o sujeito feminino. Este silêncio não foi uma prerrogativa da historiografia brasileira ou latinoamericana, mas atitude constante inclusive em países como Estados Unidos e França, onde a busca pelos direitos da mulher e o reconhecimento da condição feminina se deu mais cedo do que entre nós, dado que foi fortemente influenciado pela perspectiva do patriarcalismo (SILVA, 2008).. PATRIARCALISMO pode ser definido como uma estrutura sobre as quais se assentam todas as sociedades contemporâneas. É caracterizado por uma autoridade imposta institucionalmente, do homem sobre mulheres e filhos no ambiente familiar, permeando toda organização da sociedade, da produção e do consumo, da política, à legislação e à cultura. Nesse sentido, o patriarcado funda a estrutura da sociedade e recebe reforço institucional, nesse contexto, relacionamentos interpessoais e personalidade, são marcados pela dominação e violência (BARRETO, 2008, p. 64).

(14) 13. O conceito de Patriarcalismo já vinha dos Hebreus e vemos que era ou é uma forma de menosprezar a mulher como vemos em vários achados bibliográficos o que significa patriarcalismo. Já para Silva:. Outra causa importante foram as transformações trazidas pelo surgimento de novos paradigmas científicos. A crítica ao racionalismo e o fim da exigência de conceitos teóricos muito rígidos, relativizou o conhecimento histórico, tanto no que diz respeito a uma determinada época quanto a uma dada situação do historiador no tempo. Ao passar a interpretar os processos de mudança por meio de um conhecimento dialético, os historiadores provocaram uma reviravolta na perspectiva de análise, permitindo mais espaço para questões antes tidas como de menor ou nenhuma importância, as mulheres entre eles (SOIHET apud SILVA, 2008).. O surgimento de outras formas de pensar no contexto social foi moldando a construção da história da mulher e dando novos significados a figura feminina. A mulher agora passa de coadjuvante para protagonista e se liberta da construção social patriarcal da qual foi submissa durante anos. A presença da mulher em faculdades também proporcionou um grande salto para as discussões e pesquisas envolvendo o sexo feminino. A descoberta de que as mulheres possuíam uma história e que valia a pena procurar por ela, resultou, assim, dos próprios questionamentos que elas, num determinado momento de suas vidas, fizeram acerca de si próprias, rejeitando uma estrutura de supremacia masculina solidamente aceita e negando a ideia clássica da inferioridade do sujeito feminino.. Nos Estados Unidos, as faculdades e as escolas de graduação deram início a cursos variados, oferecendo bolsas de estudo e buscando dotar as mulheres de uma formação de nível superior. Nesse espaço aberto pelo recrutamento das mesmas, fosse pela participação profissional, fosse pela acadêmica, o feminismo logo apareceu para reivindicar mais recursos e denunciar as desigualdades (SCOTT apud SILVA, 2008).. A educação era um dos primeiros passos para a mulher emancipar-se, elas correram atrás de várias redes de comunicação para mostrar que estavam.

(15) 14. reivindicando para que todas pudessem estudar mesmo assim, sabendo que a inicio do estudo séria meio fraco. De acordo com Hahner (2003):. A educação das mulheres concentrava-se na preparação para o seu destino último: esposas e mães. Mesmo os homens brasileiros que se consideravam progressistas e que aprovavam a “igualdade universal proclamada pelo Cristianismo”, acreditavam que o objetivo da educação feminina era a preparação para a maternidade. Basicamente, as meninas deveriam aprender a cuidar bem de suas casas, pois lhes cabia a obrigação de garantir a felicidade dos homens. Todavia, alguma educação era bem acolhida, pois se tornariam melhores mães para os filhos e melhores companheiras para os maridos. Embora o homem tradicional e progressista assumisse juntos que as mulheres pertenciam ao lar, o segundo admitia ampliar o papel da mulher na família, enfatizando-lhe o poder de orientar moralmente suas crianças e fornecer bons cidadãos ao país (HAHNER, 2003, p. 123).. Hahner (2003) enfatiza que extremamente em 1879, foi criado algumas instituições de aprendizado superior para mulheres no Brasil, apenas uma pequena parte conseguiu se graduar, ênfase do preconceito social e da ausência de recursos financeiros para custear o ensino secundário.. Observando que a educação não era das melhores e também não resolveria, por ela mesma, esta participação da mulher no sufrágio brasileiro e internacional, abriria pequenas teorias de incapacidade da mulher. Enfatiza que as mulheres que eram progressistas e positivistas era uma parcial vitória da educação em favor do direito de votar e ser votada que eram chamadas de sufragistas. Perrot (2005), em seus escritos, afirma que:. (...) Assim as mulheres frequentemente apagam de si mesmas as marcas tênues de seus passos neste mundo, como se sua aparição fosse uma ofensa à ordem. Este ato de autodestruição é também uma forma de adesão ao silêncio que a sociedade impõe às mulheres, feitas, como escreve Jules Simon, “para esconder sua vida”; um consentimento à negação de si que está no centro da educação feminina, religiosa ou laica, e que a escrita – assim como a leitura – contradiziam (PERROT, 2005, p. 37)..

(16) 15. O pensamento de Perrot (2005) em relação à educação é que nesta época a mulher era educada de uma forma natural é tanto que a autora enfatiza: “Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino” (p.99). Neste sentido a sociedade daquela época visava a educação da mulher de uma maneira secundaria que a mesma nasceu para cuidar das obrigações de casa como: cozinhar, ser mãe e ser um objeto sexual para o homem, e se não fosse com esses fins, a mulher era vista pela sociedade como destruidora da ordem.. No Brasil, a Fundação Carlos Chagas, sob patrocínio da Fundação Ford, proporcionou apoio a muitas pesquisas envolvendo as mulheres. É a partir de lutas íntimas, portanto, que as mulheres iniciam um questionamento quanto à realidade social, criando os primeiros movimentos feministas, marcados por uma grande diversidade de reivindicações (SILVA, 2008, p.227). Antes das historiadoras foram as feministas que fizeram a história das mulheres. O feminismo evidenciou a ausência da figura feminina no território historiográfico, criando as bases para uma história das mulheres feita por historiadoras (PRIORE, 2001). Por isso, a pesquisa pretendeu discutir o mundo feminino na perspectiva do cangaço, levando em conta as representações de “ser mulher” no contexto sertanejo, e para além disso, ser mulher cangaceira lutadora e que busca suas ideias, sempre evidenciando a figura feminina em primeiro plano. O estudo não objetiva a discussão de ideologia de gênero, nem se propõe à perspectiva feminista, trata-se apenas de uma revisão bibliográfica sobre a importância da mulher no cangaço, evidenciando o sexo feminino como protagonista de sua história.. Vagamente ouvimos falar do cangaço e mais vago ainda da importância das mulheres que dele participaram. Comumente as vemos como mulheres de cangaceiros, mas quem foram essas mulheres? Foram elas heroínas ou meninas moças sem juízo atraídas por um guerreiro fabricado pela fantasia popular, como comumente são descritas na literatura e analises de estudiosos? Quem são os.

(17) 16. detentores do discurso corrente a respeito do cangaço e, mais especificamente da entrada de mulheres neste universo? Quais as justificativas para a constituição e permanência dos discursos a que temos acesso? (SANTOS, 2005, p.14). O que se percebe ao analisar a história do cangaço, é uma exclusão do protagonismo feminino. “O feminino está presente somente nas entrelinhas, como um acidente ou objeto de transgressão” (SANTOS, 2005, p. 17). Por este motivo, deu-se a importância desse estudo.. Entretanto, incluir o sujeito feminino na história significou avançar por caminhos sinuosos, desconhecidos, como a esfera do privado e das relações cotidianas, território em que os historiadores pouco estiveram atentos. Assim, singelezas sem importância maior para a história tradicional tiveram de ser buscadas com um novo olhar, porque muito cedo se evidenciou que eram nestes pequenos detalhes que se tornava possível detectar as fontes mais preciosas (SILVA, 2008, p 22).. Como tão poeticamente ressaltou Bosi (1995), foi preciso ir ao fundo das casas, às cozinhas e oficinas, àqueles lugares onde se movem as figuras menores e furtivas.. No Brasil, as primeiras narrativas históricas sobre as mulheres tiveram início na década de 1980 e foram muito marcadas pela preocupação com a dialética da dominação versus opressão, dando pouco ou nenhum destaque às múltiplas formas de resistência que as mulheres elaboraram ao longo do tempo para fugir à dominação masculina (SILVA, 2008, p. 10). Várias historiadoras alertaram para este fato: Carla Bassanezi, Mary Del Piore, entre outras. Porém, mais do que falar sobre as misérias da vida feminina, importava decodificar que poderes informais e estratégias as mulheres detinham por trás do ficcional poder masculino, e como articulavam a subordinação e a resistência (Priore, 1994). Segundo a Michelle Perrot, em seu livro “Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros”, ela enfatiza que: “Da História, muitas vezes a mulher é.

(18) 17. excluída”, essa passagem de Perrot aponta para a realidade do universo feminino, tendo em vista que a mulher estava em situação de submissão e marginalização. É impossível falar do feminino e não falar da filosofa, escrita pela francesa e Simone de Beauvoir (1967) segundo ela, uma mulher torna-se plenamente humana quando tem oportunidade de se dedicar ao exercício de atividades públicas e quando pode ser útil à sociedade:. “[...] É um paradoxo criminoso recusar à mulher pública, vedar-lhe as carreiras masculinas, incapacidade em todos os terrenos e confiar-lhe delicada, mais grave que existe: a formação de (BEAUVOIR, 1967, p.291).. toda a atividade proclamar sua a empresa mais um ser humano”. Já para Scott (1992) a questão da história e das mulheres foi condicionada a um estabelecimento que foram estratégias de metodologia como de espaço e tempo.. Segundo Priore (2001), em um artigo ela enfatiza sobre as mulheres, quando limitadas ao espaço doméstico, são depositarias “de um presente sem passado, de um passado descomposto, disperso, confuso” (PRIORE, 2001, p. 46). Já em outra abordagem Priore (2001) descreve que nessa definição, torna indispensável ausentar-se o sexo feminino da clausura concebida pela exclusão, por esquecimento e pelo privado, a finalidade coberta pelos trabalhos dedicados a demonstrar que as mulheres também perpetravam no processo histórico e que eram vítimas da injustiça, da opressão e exploração. Segundo Silva (2008) “alguns historiadores chegam, antes da citada reviravolta, a desenvolver estudos sobre as mulheres1” (p. 275), que apontam o crescente espaço da figura feminina como protagonista na historiografia brasileira. Nesta linha de pensamento o autor nos mostra que a história da mulher começou a ser escrita. Perrot (2005) fala muito sobre introdução da categoria gênero. Scott (1992) faz um pensamento no âmbito de Gênero, fala muito sobre fontes, temas e abordagens sobre o sexo feminino. Obtivemos várias histórias das mulheres. 1 Tânia. Maria Gomes da Silva (TRAJETÓRIA DA HISTORIOGRAFIA DAS MULHERES NO BRASIL); Margareth Rago (AS MULHERES NA HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA), entre outras..

(19) 18. ao longo do tempo e vários historiadores e historiadoras que dedicaram anos e até mesmo décadas de estudos para as histórias de “Gênero ou mulher”. A escritora Scott (1992), descreve gênero como “um termo usado proposto por aquelas que defendiam que a pesquisa sobre as mulheres transformaria fundamentalmente os paradigmas no seio de cada disciplina. As pesquisadoras feministas assinalaram muito cedo que o estudo das mulheres acrescentaria não só novos temas como também iria impor uma reavaliação crítica das premissas e critérios do trabalho cientifico existente” (p.03). A mulher obteve seu papel na sociedade de forma muito marcada, ela teve o espaço com destaque na história e as mesmas sofreram muitos preconceitos devido a construção social de gênero que foi embutida na dinâmica do dia a dia. As mulheres tiveram e têm um papel muito importante na história. Segundo Perrot (2005) em seu livro, “As Mulheres ou os silêncios da História”, é enfatizado que: “a história das mulheres interessou-se inicialmente por seus papéis privados, observando-os, de certa forma, lá onde elas estavam, em seus corpos, sua casa, seus gestos cotidianos, correndo o risco de fechá-los em uma repetição (...) [mas] a questão do poder colocou-se rapidamente, pois ela funda a relação entre os sexos” (p. 261). Assim, a história das mulheres começou em seu patamar mais privado de sua vida e ao longo dos anos foi modificando a cada dia. A mulher na antiguidade só se destacava quando ela incomodava a ordem, como falar em público, e como defender seus direitos, entre outras conquistas. O feminino veio ganhando espaço ao longo do tempo, confrontando os construtos erguidos ao longo da história. Segundo Perrot (2005):. A irrupção de uma presença e de uma fala feminina em locais que lhes eram até então proibidos, ou pouco familiares, é uma inovação do século 19 que muda o horizonte sonoro. Subsistem, no entanto, muitas zonas mudas e, no que se refere ao passado, um oceano de silêncio, ligado à partilha desigual dos traços, da memória e, ainda mais, da História, este relato que, por muito tempo, “esqueceu” as mulheres, como se, por serem destinadas à obscuridade da reprodução, inenarrável, elas tivessem fora do tempo, ou ao menos fora do acontecimento (PERROT, 2005, p. 9)..

(20) 19. “As mulheres foram imaginadas do que descritas ou contadas, e fazer a sua história é, antes de tudo, inevitavelmente, chocar-se contra este bloco de representações que as cobre e que é preciso necessariamente analisar, sem saber como elas mesmas as viam e as viviam (PERROT, 2005, p.11) ”. Assim, autora aborda que a história das mulheres não era tão vista como assunto principal e depois passou a ser visto como estudos pelos pesquisadores e pesquisadoras no mundo todo. Segundo Priore (2010) em “A História das mulheres no Brasil”, falar da mulher é um desafio, é algo que exigi muito esforço já que elas não tiveram voz e nem mente própria, e em séculos raramente aparecia no cenário da história. A emergência da história das mulheres como um campo de estudo não só acompanhou as campanhas feministas para a melhoria das condições profissionais, como envolveu a expansão dos limites da história (SOIHET, 1997, p.277). Neste sentido, a figura feminina passou a ser vista como uma categoria homogênea, o antagonismo homem versus mulher teve fim. Soihet (1997) reflete que, a partir das discussões de gênero notou-se o rompimento da dicotomia entre a vitimização ou os sucessos femininos, passando-se assim a vislumbrar toda a complexidade do protagonismo feminino.. O desenvolvimento da história das mulheres, articulado às inovações no próprio terreno da historiografia, tem dado lugar à pesquisa de inúmeros temas. Não mais apenas focalizam-se as mulheres no exercício do trabalho, da política, no terreno da educação, ou dos direitos civis, mas também se introduzem novos temas na análise, como a família, a maternidade, os gestos, os sentimentos, a sexualidade e o corpo, entre outros (CARDOSO e VAINFAS, 1997, p.280). Para Soihet a mulher começa a ser protagonista de sua história, a partir de duas vertentes: uma voltada aos movimentos sociais (feministas) e outra trata de manifestações informais que evidencia a atuação feminina. O autor supracitado (1997), ainda afirma:. Num outro tipo de abordagem (movimentos sociais), destacam-se aquelas obras que creditam especial atenção ao momento da.

(21) 20. Revolução Francesa, quando as mulheres se vê em despojadas da cidadania por uma ordem que ajudaram a fundar. As reivindicações se mantém latentes, manifestando-se em outros momentos críticos da história francesa, quando vislumbram a possibilidade de brechas no sistema de poder. No tocante aos movimentos feministas da virada do século, alguns autores ressaltam o seu moralismo, a diversidade de correntes, suas aspirações em torno da igualdade de direitos, e, em especial, do voto (SOIHET, 1997, p. 282). Com relação à atuação informal das mulheres podemos destacar alguns aspectos posteriores à história social e história cultural que apresentava a mulher como submissa, dócil, mostrando as atitudes de resistências que o sexo feminino provocou em seu cotidiano (SOIHET, 1997). Soihet (1997) ainda enfatizam que “a história da família conta, desde a década de 1970, com trabalhos significativos, como os de Philippe Ariès, Jean Louis Flandrin, Le Roy Ladurie, André Burguière e Edward Shorter, entre outros. Deve-se a estes um melhor conhecimento acerca da posição da mulher, a partir de novos achados sobre seus papéis nesta instituição” (p 289). Dessa maneira, de acordo com Cardoso e Vainfas (1997), assuntos como família, maternidade e sexualidade feminina foram sendo discutidos e ganharam força através dos movimentos feministas. Neste sentido, a libertação feminina condicionava-se à transformação das quatro estruturas em que se integra a mulher: produção, reprodução, socialização e sexualidade. A mulher, por longos anos, foi vista como objeto de reprodução. As lutas incansáveis tiraram o sexo feminino da margem e o trouxe ao protagonismo. Sabe-se que um dos grandes problemas do estudo da história das mulheres, é a escassez de vestígios acerca do passado das mulheres. As representações e referências sobre as mulheres, em sua maioria, têm por base um discurso masculino que determinam quem são e o que devem fazer as mulheres.. 1.2 O SERTÃO NORDESTINO E ALGUNS REFLEXOS DO CANGAÇO. O sertão na literatura modernista começou então, a atrair olhares, levantar discussões e revelar realidades. Criou-se um imaginário de um local ligado à colonização, à expansão e à oposição entre.

(22) 21. desenvolvimento e atraso, expressa pela oposição entre sertão e litoral (QUEIROZ, 2005, p.21). Essa região explorada, pouco conhecida, que ali está para ser desvendado, faz com que os que o vê em exteriormente criem uma imagem de lugar distante e isolado. E esta localidade começou a ser vista como um espaço ocupado por povos diferentes, exóticos, culturalmente ou racialmente distintos. Seus habitantes, ainda são definidos como arcaicos dotados ou não de alguma positividade (QUEIROZ, 2005).. “Chico Bento, por exemplo, não teve alternativa senão soltar o gado da fazenda onde trabalhava para morrer ao relento e deixar o sertão com sua família quando a seca já castigava o lugar. O velho touro da fazenda saiu, arrogante. Garrotes magros, de grandes barrigas, empurravam as vacas de cria, atropelando-se. Até que a derradeira rês, a Flor do Pasto, fechando a marcha, também transpôs a porteira e passou junto de Chico Bento que lhe afagou com a mão a velha anca rosilha, num gesto de carinho e despedida” (QUEIROZ, 2004, p. 24).. Percebe-se então que o nordestino sertanejo, seja ele com direitos trabalhistas ou não, acaba por migrar do alto sertão para as grandes capitais para fugir da seca, mesmo que isso signifique não retornar jamais para sua terra natal. Segundo Queiroz (2004), assim como os judeus, os nordestinos são, por natureza, migrantes que, mesmo não tendo vivido os horrores da guerra, vivem o “genocídio da seca”. E a estes nordestinos a quem resta somente a fuga, fazem da partida a única e triste busca por uma nova vida, mesmo que o futuro não lhes reserve algo tão promissor.. Assim como acontece no poema “A Triste Partida” de Patativa do Assaré, a ida para São Paulo assemelha-se ao provável destino de Chico Bento: “tornar-se mais um migrante em meio a uma multidão que muito espera do futuro e pouco receberá neste novo destino. Em suma, o pobre proletariza-se, metamorfoseia-se em mercadoria circulante, mão - de - obra vendável, com destino já traçado, no caso: São Paulo” (QUEIROZ, 1997, p. 45).. O sertão torna-se então, não apenas um lugar, mas uma condição. Não apenas uma materialidade terrestre, mas uma realidade simbólica. E a partir desta condição sertaneja, percebe-se que o sertão é qualificado para ser superado, sendo que toda.

(23) 22. esta diferença, peculiaridade, exotismo característico do sertão e do sertanejo, supera a paisagem e torna-se, sobretudo, cultural (QUEIROZ, 2004). O Brasil sendo um país de proporções continentais possui costumes, tradições e culturas diferenciadas, que certamente, nem sempre foram ou são aceitas com facilidade. A cultura, segundo Queiroz (2004) é uma herança de valores ou de objetos e, além disso, a sociedade está cercada por culturas variadas, sejam elas cultura de massa, erudita ou popular. A cultura popular implica em modos de viver e é justamente o popular, o cotidiano, a representatividade local por meio de tradições e costumes que fez com que surgisse na literatura brasileira, o interesse pelo selvagem, pelo negro e pelo sertanejo (QUEIROZ, 2005) Nesse sentido, autores de obras com caráter regionalista, como Mário de Andrade autor de Macunaíma, Guimarães Rosa autor de “Grande Sertão Veredas”, “João Cabral de Melo Neto” autor de Morte e Vida Severina e a própria Rachel de Queiroz com “O Quinze”, atravessam barreiras ideológicas e psicológicas deixandose conhecer a cultura popular ao produzirem suas obras (QUEIROZ, 2005) Segundo Queiroz (2004) a quebra destas barreiras deveria ser efetivada por todos que desconhecem a condição do popular em nosso país, afinal, são obras extremamente importantes que abrem caminho para reflexões novas e produtivas. Nesta ótica e neste contexto nasce a mulher como protagonista e figura central de uma historiografia até então oculta. De acordo com Aras (2000) há muito tempo discute-se a questão do poder e da mulher enquanto sujeito ativo da História, muitos são os autores que revelam a partir de suas análises a efetiva atuação feminina, que extrapolam a esfera do privado e tornam-se protagonistas nos espaços masculinos. Já para Priore:. Mulheres ricas, mulheres pobres; cultas ou analfabetas; mulheres livres ou escravas do sertão. Não importa a categoria social: o feminino ultrapassa a barreira das classes. Ao nascerem, são chamadas “mininu fêmea”. A elas certos comportamentos, posturas, atitudes e até pensamentos foram impostos, mas também viveram o seu tempo e carregaram dentro delas (PRIORE, 2010, p 241).

(24) 23. Pode-se notar na historiografia da mulher, que existe na narrativa um descaso com a figura feminina, ou seja, de fato, as leituras impõem uma perspectiva de alheamento, na medida em que estigmatiza a mulher como criatura pouco interessada e que não participava das questões políticas. Já para Falci enfatiza o contexto do Sertão Nordestino:. O sertão nordestino sobre o qual nos debruçamos aqui não existe mais. Hoje só é conhecido por ocasião das secas e pela população de crianças famintas e esquálidas. Mas a história tem outra memória sobre o sertão do Nordeste: uma terra de modo de vida excêntrico para as populações do Sul, onde perduraram tradições e costumes antigos e específicos, onde extensas fazendas de gado e de plantio de algodão utilizaram mão de obra livre e escrava trabalhando lado a lado [...] Ali se gestou uma sociedade fundamentada no patriarcalismo. Altamente estratificada entre homens e mulheres, entre ricos e pobres entre escravos e senhores, entre “brancos” e “caboclos” (FALCI, 2010, p. 242).. No Nordeste foi formada uma sociedade de perspectiva patriarcal, onde o homem era o senhor e dono da sua mulher e com isso o protagonismo feminino dificilmente se sobressaia. Mesmo neste contexto, algumas mulheres emergiram, numa constante luta cotidiana de vencer a subordinação masculina e construir uma nova ordem que não seja ditada pelo desejo do homem e transformando a tradição ilógica de resguardar as mulheres apenas ao interior das casas. Dessa forma, Priore (2010) afirma que a história das mulheres é relacional, à medida que inclui tudo que envolve o ser humano, suas aspirações, realizações, construções e derrotas. A abordagem da historiografia social levanta uma análise que perpassa em toda uma história dos movimentos sociais, bem como a caracterização isolada das diversidades das atividades humanas. A discussão sobre a historiografia da mulher trata de desvendar as complicadas relações entre a mulher e o contexto em que vive. As transformações da cultura e as mudanças nas ideias nascem das dificuldades que são simultâneas aquelas de uma época e as de cada indivíduo histórico, homem ou mulher..

(25) 24. A historiografia costuma apontar, nos lugares do sertão, o êxodo rural dos homens: demandando a fronteira de povoamento, sempre mais para o “sertão”, ou voltado ao litoral para estudarem grandes centros após a reviravolta que a vinda da Corte portuguesa fez no ensino, ao propiciar curso superior no Brasil. Seria então a população feminina numericamente superior à masculina por essas razões? (PRIORE, 2010, p. 243). Neste sentido, pode-se perceber que a mulher não tinha acesso livre aos estudos como o homem possuía. Dessa forma, a autora faz uma reflexão do porquê a população sertaneja se apresentar com índice feminino maior que masculino. Tento em vista que os homens buscavam o curso superior, enquanto as mulheres estavam ocupadas com os afazeres domésticos e impedidas de vislumbrar uma faculdade. Abordar estudos referentes à mulher sertaneja e a sua atuação é positivo e contribui no entendimento de que a historiografia da mulher tem tido avanços quando o assunto é espaço por protagonismo. O Brasil, em especial, o sertão nordestino traz marcas patriarcais bastante rígidas, com uma forte presença masculina. Apesar da crescente população feminina e de sua inserção no mercado de trabalho das mais variadas formas, a história restringiu estas mulheres a um papel secundário, não as percebendo como agentes sociais que, através de suas práticas cotidianas, contribuíram para a estruturação da sociedade sertaneja, rigidamente estratificada (PRIORE, 2010). Já para Novais:. Esta rígida estratificação social, resultante do próprio processo de colonização, não foi um fator inibidor para a participação das mulheres menos abastadas. Muitas delas se destacaram não somente no trato com as questões domésticas, insubordinando-se, à medida que se inseriam em atividades denominadas masculinas. O ideal da mulher enclausurada, responsável pela casa e pelo bem-estar da família, subjugada pelo marido não foi predominância no sertão, por vezes agiam, reagiam e tinham condutas próprias (NOVAIS, 2011, p 92).. Luíza Amélia usou a poesia como meio de manifestar seu posicionamento crítico em relação à condição feminina da época. “Se algumas mulheres estiveram preocupadas com a alma universal, com a liberdade, com o amor, outras estiveram.

(26) 25. preocupadas com Deus, e outras ainda, com a submissão da mulher e a necessidade de sua independência” (PRIORE, 2010, p 254).. Nessa perspectiva, para se compreender a entrada de várias mulheres no cangaço, é de suma importância entender o próprio fenômeno e os reais motivos que culminaram no surgimento do cangaceirismo, assim, essa análise sobre o movimento será embasada a partir das interpretações de alguns autores sobre o tema proposto (SOUZA e LIMA, 2013, p.4). Segundo Facó (1963) o surgimento do cangaceirismo está relacionado com o sistema político e econômico, mudava-se o regime no Brasil sem revolucionar a situação da população carente, principalmente a do sertão, as terras permaneciam inacessíveis para aqueles que não detinham condições, as desigualdades e o domínio dos coronéis nas regiões nordestinas eram constantes. Com esse cenário, devido à exploração e a desigualdade, houve reações com armas. Consequência deste contexto, o fenômeno do cangaço, surge como resposta a tal situação, esses sujeitos tornaram-se a voz do sertão, por conta disso, principalmente no que se refere na participação masculina no movimento, o que despertou interesse de diversos escritores sobre o tema, o que não ocorreu em relação à presença feminina nos bandos, dessa forma considera-se notável a importância de refletir sobre a ausência dessas personagens na produção historiográfica (FERREIRA, 2011). Já em relação à presença das cangaceiras nos jornais, literatura e no cinema, quando aparecem percebemos os estereótipos que lhes foram concebidos, foram caracterizadas como bandoleiras, criminosas, amantes ou companheiras de um cangaceiro, não abordando os reais motivos que as levaram para este ambiente, ofuscando dessa maneira o que é ser mulher em um movimento discriminado aos olhos da sociedade (FERREIRA, 2011). Compreendendo os períodos acima citados, os papéis que homens e mulheres deveriam seguir já estavam estipulados a partir de uma ótica patriarcalista, em que a mulher independente de sua raça ou de sua classe social era considerada um ser inferior, não sendo vista como uma cidadã política..

(27) 26. CAPITULO 2 ALGUMAS NOTAS SOBRE O CANGAÇO. A caatinga ocupa uma área total aproximada de 1.100.000 km2 (800.000 km2 com ação antrópica), representando mais de 70% do Nordeste brasileiro e 11% do território nacional. As temperaturas e a evapotranspiração são muito elevadas, enquanto a umidade relativa do ar e as precipitações pluviométricas – entre 400 e 800mm anuais – são baixas, caracterizando, desta forma, um acentuado déficit hídrico. A maioria dos rios seca e desaparece durante o período de estiagem (rios temporários), formando leitos secos onde os sertanejos, em alguns lugares atualmente, ainda cavam cacimbas para obterem um pouco de água que restara (também extraem água de algumas espécies de cactos e bromélias ou da batata-de-umbu 2, existente na raiz do umbuzeiro – Spondieas tuberosa – sendo esta última, uma técnica bastante utilizada pelos cangaceiros) (ALBERTO, apud EMBRAPA, 1996).. Nesse ambiente, o sertanejo, em sua relação com o habitat2, adquiriu bastante intimidade através da qual tornou-se possível sua sobrevivência, conhecendo quais espécies da fauna e da flora têm uso na alimentação ou na cura de enfermidades, bem como os recursos utilizados para se obter água nos períodos de longas estiagens. Agregando-se esse fator a religiosidade e aos costumes, de forma geral, é que se constitui a cultura sertaneja, a qual, vai contribuir para com o surgimento do cangaço, em especial nos hábitos e comportamento dos cangaceiros que, posteriormente vão influenciar essa mesma cultura, seja na história, seja quanto ao fenômeno social em si, seja na figura dos cangaceiros, nos mitos, lendas, música, dança e versos de cordel.. Um dos primeiros autores nordestinos a estudar o cangaço foi Gustavo Barroso. Franidin Távora já tinha publicado O Cabeleira em 1876, mas não teve o impacto de Barroso. O cearense Barroso escreveu diversas obras sobre assuntos típicos do Nordeste, entre os quais o cangaço. Descreveu tanto aspectos folclóricos como fatos históricos. Ele é freqüentemente citado como fonte. Por exemplo, o capítulo sobre Antônio Silvino, na obra Os cangaceiros de Maria Isaura Pereira de Queiroz, inspira-se extensamente em Heroes e bandidos, de 1917. Todavia, Barroso raramente fornece dados sobre as origens das suas 2. Conjunto de características ecológicas do lugar de vida de um organismo ou população: morada natural (ALBERTO apud EMBRAPA, 1996)..

(28) 27. informações. Na obra A margem da história do Ceará, apenas esporadicamente cita uma fonte, porém o faz com mais freqüência que nas suas publicações sobre o cangaço. Na sua primeira obra de 1912, Terra de Sol (Naturesa e costumes do Norte), já fala sobre cangaço. Foi um contemporâneo tanto de Silvino como de Lampião. Conhece bem a literatura popular e retoma estrofes de folhetos em numerosas obras, até naquelas que tratam de história. Às vezes, Barroso parece seguir elementos de folhetos de cordel que não estão de acordo com fatos encontrados em documentos e jornais. Raramente, indica um jornal como fonte. Cita um telegrama retomado do jornal Pacotilha de 30 de janeiro de 1913, em Heroes e bandidos, mas o texto citado apresenta uma divergência com o telegrama original. Não foi possível estabelecer se esta divergência era devida à fonte usada, portanto uma fonte não confiável, ou a uma adaptação do próprio Barroso. Esta só foi uma das divergências encontradas e assinaladas num estudo feito sobre Antônio Silvino. Como parece difícil poder esclarecer estes pontos, Barroso deve ser abordado de modo crítico, mas, mesmo assim, permanece um autor importante sobre o cangaço (WIESEBRON, p. 419, 1996). Assim como afirma Wiesebron, “o interesse pelo cangaço não teve fim e continua intenso. Na cultura popular brasileira, os cangaceiros inspiram ainda até hoje folhetos de cordel, e o casal Lampião e Maria Bonita é reproduzido como bonequinhos de barro” (WIESEBRON, 1996, p. 418) A história do cangaço, que vai muito além do surgimento do próprio cangaceiro – a exemplo de Cabeleira, como ficou conhecido José Gomes, um dos mais antigos predecessores de Lampião que, segundo Ferreira e Araújo apud Alberto (1999), atuou no sertão pernambucano na segunda metade do século XVIII – deve ser entendida como tendo início desde o princípio do próprio Brasil, e já para Costa:. Não o Brasil do índio, mas o Brasil do português, das capitanias hereditárias, o Brasil do donatário, o Brasil dos flamengos de Maurício de Nassau, o Brasil do capitão, do senhor de engenho, do latifúndio e do boi; o Brasil das velhas ordenanças manoelinas e filipinas. O Brasil da Guarda-Nacional, do Regente Feijó, o Brasil de suas disputas internas, eternas desavenças que foram embriões, célula-ovo de onde germinaram o jagunço e o cangaceiro. Lutas iniciadas com a invasão holandesa, em 14 de fevereiro de 1630, passando pela Rebelião de Bequimão (Manoel Beckmão, no Maranhão em 1684); os Emboadas (1708/1710); os Mascates (1710/1711); Balaiada (1834/1841) e muitas outras que junto às pequenas brigas familiares culminaram por criar, no Brasil Colonial, o paraíso da violência e da medição de forças entre os potentados e do sofrimento e humilhação da ralé personificada na simplória figura do homem sertanejo. Esse reino de desgraças montou.

(29) 28. sua estrutura e seu mundo nos sertões nordestinos. Vem daí todos os males que ainda afligem e maltratam a gente sertaneja e brasileira (COSTA, 1994, p.20).. Faz-se relevante citar algumas observações de um dos mais importantes estudiosos desse fenômeno, devido à abrangência de suas pesquisas sobre o tema, o escritor Frederico Pernambucano de Mello. Em nota à segunda edição de sua obra – Guerreiros do Sol – em 2004, esclarece o autor:. Sertão é o nome desse cenário de vida difícil, zona fisiográfica perfeitamente definida em seus contornos naturais e sociais. Foi lá que a decadência precoce da colonização iniciada na segunda metade do século XVII, interrompendo o fluxo de penetração social menos de cem anos após seu início, veio a decretar o isolamento das populações já assentadas, empobrecidas a ponto de não se animarem a voltar para o litoral, além de asselvajadas por guerra longa e surda contra as tribos indígenas nativas e contra os animais bravios, notadamente, quanto a estes últimos, o felino que dizimava o gado. Isolamento e incomunicabilidade respondendo pela característica mais marcante do universo cultural sertanejo: o arcaísmo. Ainda hoje se pode sentir o eco do que foi esse traço fortíssimo da vida social fixada na caatinga, por conta do abandono em que esta jazeu ao longo de séculos. Nos modos de produção, nas relações negociais, na religiosidade, na moral, inclusive a sexual, na linguagem, nas formas de resolução de conflitos, nos jogos, no lazer, na predominância do interesse privado sobre o público, do individual sobre o coletivo, em tudo, enfim, a mumificação dos costumes provocada pelo isolamento deitou seu braço poderoso, a ponto de se respirar ali, ainda nas primeiras décadas do século passado, um clima humano muito próximo do quinhentismo e do seiscentismo trazidos pelos portugueses do primeiro momento da colonização (MELLO apud ALBERTO, 2004, p. 20).. Devido ao fato de no sertão nordestino ter havido um período de enraizamento de uma tradição de violência, inclusive legitimada, conforme já fora visto anteriormente, a violência como componente da cultura sertaneja, cabe então destacar a figura do valentão, um tipo à parte dentre os já citados – cabra, capanga e jagunço – que, ainda hoje, norteia, mesmo que de forma mais diluída, o comportamento do sertanejo quanto a questões de honra, orgulho e moral, pessoal e familiar perante a sociedade..

(30) 29. A tolerância para com a violência deve ser encarada no universo cultural do ciclo do gado como um dos apanágios do próprio ciclo, não sendo, portanto, de surpreender o destaque social que nesse universo desfruta a figura do valentão, daquele homem que enganchava a granadeira e, viajando léguas e mais léguas, ia desafrontar um amigo, parente ou mesmo um estranho que tivesse sofrido algum constrangimento ou humilhação. Para tanto sendo suficiente que o desvalido lhe invocasse o nome, pondo-se ao amparo de suas armas justiceiras (MELLO apud ALBERTO, 2004, p.65).. A figura de Lampião como justiceiro não é uma imagem compartilhada nem pela maioria daqueles que viveram o cangaço, nem por muitos estudiosos do assunto. As obras sobre Lampião e outros cangaceiros são numerosas. Datam da época do cangaço, mas outras continuam a aparecer regularmente. Os autores destas vêm de regiões diversas do Brasil e do estrangeiro, como também têm profissões bem variadas (FACÓ, 1963). O que se observou nesta pesquisa foi que os registros de escritos regionais com relação ao cangaço, em especial, à figura feminina como protagonista de sua história ainda são poucos e/ou quase escassos em nosso acervo literário. É valido pontuar que, como este trabalho trata da importância da mulher na história, e como ele pretende debater a vida de Anésia Cauaçu como exemplo de figura feminina que fez história e ocupou seu lugar no contexto social, justifica-se então algumas notas sobre o cangaço, para que o leitor tenha o entendimento da região nordestina onde a história dessa importante figura feminina será contada. Já para Dutra:. Nos cerrados e, sobretudo, nas caatingas, a vegetação alcança já uma plena adaptação à secura do clima, predominando as cactáceas, os espinhos e as xerófilas, organizadas para condensar a umidade atmosférica das madrugadas frescas e para conservar nas folhas fibrosas e nos tubérculos as águas da estação chuvosa. [...] conformou, também, um tipo particular de população com subcultura própria, a sertaneja, marcada por sua especialização ao pastoreio, por sua dispersão espacial e por traços característicos identificáveis no modo de vida, na organização da família, na estruturação do poder, na vestimenta típica, nos folguedos estacionais, na dieta, na culinária, na visão de mundo e numa religiosidade propensa ao messianismo (DUTRA, 2009, p. 307)..

(31) 30. Geralmente. oriundos de. uma. escola evolucionista,. os historiadores. cangaceiristas tendem a conservar uma lógica que orienta um modo de pensar sobre a cultura sertaneja, no qual fatores biológicos são determinantes para configurar o universo imagético do cenário e dos atores do sertão, como se o humano dos sertões também brotasse da “poética” terra rachada e, do mesmo modo que “[...] as cactáceas, os espinhos e as xerófilas [...]” fossem predestinados a se acomodar em uma vida de adaptação às características territoriais castigantes. Já Araújo enfatiza: Araújo (2013) expõe ainda que em primeiro lugar, este breve histórico das abordagens ideológicas que sustentam as escrituras sobre o Cangaço vislumbrado a partir de 1930” (p. 30).. Proliferando, em meio à miséria, seu número crescendo, o latifúndio estagnado não podia integrá-lo totalmente em sua economia limitada. [...] Cria-se no Nordeste uma espécie de nomadismo permanente, que as secas só fazem aumentar e dar características mais trágicas. É então que se juntam, ante o flagelo, reúnem-se nos caminhos para as longas jornadas em busca do pão e água. [...] A seca expulsa-os e congrega-os. [...] A seca mata-lhes a criação, queima-lhes a roça e não lhes resta sequer água barrenta da cacimba rasa, cavada com a enxada, junto ao casebre (ARAÚJO, 2013, p. 28).. O Cangaço era uma forma de reação extrema de camponeses contra a injusta estrutura social vigente. A narrativa desse autor apresenta as características de um cenário complicado (final do século XIX), sobre o qual ele lamenta e desenvolve que o atraso cultural dos sertões localizados na região Norte, que a partir de 1920 passa a ser intitulada de Nordeste – com o isolamento da população sertaneja em um contexto marcado pelo monopólio de terra e o trabalho escravo – era caracterizado por um “[...] analfabetismo quase generalizado. Ignorância completa do mundo exterior, mesmo o exterior ao sertão, ainda que nos limites do Brasil” (ARAÚJO, 2013, p. 9). A pesquisadora Christina da Matta Machado lançou em 1969 a primeira edição do livro As táticas de guerra de um cangaceiro. Adentrando nos anos de 1970, o padre-escritor Frederico Bezerra Maciel 3(1912 – 1980), após 30 anos de pesquisa, 3. Frederico Bezerra Maciel nasceu em Pernambuco em 1912. Grande estudioso, principalmente de temas regionais. Sacerdote, com estudos eclesiásticos em São Paulo, Rio de Janeiro e Olinda,.

(32) 31. iniciou a publicação da coleção, em seis volumes, intitulada Lampião, seu tempo e seu reinado.. De modo geral, os discursos acerca do Cangaço geraram, desde sempre, perspectiva história e sociológica sobre o tema, mais do que qualquer outra forma de olhar. Pode-se dizer que, a despeito disso, a leitura dos escritos cangaceiristas, apesar do caráter conservador, foi de grande valor para essa pesquisa (ARAÚJO, 2013, p 19).. E a ideia de que o cangaceiro é incapaz de perceber a ideologia que rege o posicionamento dos poderes governantes de seu cenário desabilita de Lampião o caráter de indivíduo propositivo (já que é considerado pré-político e não partidário), mesmo que seja sabido o quanto ele realizou articulações políticas que o mantiveram no modo de vida do Cangaço por 18 anos. De modo geral, ignora-se a possibilidade de que o cangaceiro possa, a partir de contribuições individuais, ter negociado construtos de sua identidade sociocultural, seu modo de pensar e fazer as coisas (ARAÚJO, 2013) A partir da existência do movimento do cangaço surgiram muitas versões a respeito de como se deu esse cenário contraditório, ora pode ser visto como ato de heroísmo, ora de banditismo. Têm questões que vários historiadores e escritores tentam decifrar ou encontrar, mas não consegue por falta de documentação.. Bastos (2009), enfatiza acerca das características do movimento do cangaço no sertão nordestino.. [...] pode-se entender o cangaço como um fenômeno social, caracterizado por atitudes violentas por parte dos cangaceiros. Estes andavam em bandos armados e espalhavam o medo pelo sertão nordestino. Promoviam saques a fazendas, atacavam comboios e chegavam a sequestrar fazendeiros para obtenção de resgates. Aqueles que respeitavam e acatavam as ordens dos cangaceiros não sofriam. Pelo contrário, eram muitas vezes ajudados. Esta atitude especializados na Europa (Universidade Gregoriana de Roma; França; Suíça; sociologia, parapsicologia, psicoterapia, arte, estudos bíblicos...) e, por último, Técnico Agrícola em Pernambuco. Além disso, poeta, compositor musical, desenhista mormente arquitetônico e homem de ação e atuação social. Escritor singular, autor responsável pela impressionante e definitiva biografia muito embora, ele mesmo, do alto de sua humildade, o negue -, obra épica Lampião, Seu Tempo e Seu Reinado – em seis volumes..

(33) 32. tornou os cangaceiros respeitados e admirados por boa parte da população da época4.. O cangaço no Brasil pode ser visto como revolucionário, pois foi um movimento de luta contra formas de opressão no sertão nordestino. Dutra (2009) discorre sobre o movimento do cangaço como espaço de luta.. A maior parte das vezes a ficção parte da vida real, de sujeitos que viveram em uma temporalidade específica, bandidos que no seu tempo foram amados e odiados ao extremo. Muitos se tornaram posteriormente mitos, servindo de exemplo de luta para aqueles que querem ver uma sociedade melhor e contestam a força despótica do Estado, esses se apropriam da história desses bandidos elevando-os a uma nova categoria, ressignificando-os e usando-os como bandeira de luta5.. O cangaço no Nordeste brasileiro surgiu no fim do século XVIII, mas se destacou no fim do século XIX e meados do XX. Reforçando a ideia, Valéria Santos (2014) afirma que “dentre os principais bandos formados com a finalidade de enfrentar e desafiar o Estado, destaca-se o Cangaço, que surgindo no final do século XIX e meados do século XX, durante o fim da República Velha (1929), e início do Estado Novo (1930)6”. A autora ainda fala sobre os condutores dos grupos de cangaceiros, “tendo como precursor José Gomes, também chamado de o Cabeleira, Jesuíno Brilhante, passando por Antônio Silvino, até o divulgador da causa do Cangaço, e o mais famoso de todos os cangaceiros, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião” (p.03). Dutra (2011) enfatiza o movimento do cangaço no sertão brasileiro e seus principais representantes.. 4. BASTOS. Ricardo Ferraz. A imagem da organização do bando de Lampião e sua liderança. Dissertação de Mestrado. Pedro Leopoldo – MG, 2009. 5 DUTRA, Wescley Rodrigues. Teorizando o cangaço: o “rei lampião” e a questão do banditismo social. Anais do 3º. Seminário Nacional de História da Historiografia: aprender com a história? Ouro Preto: Edufop, 2009. ISBN: 978-85-288-0061-6, p. 01/02. 6 SANTOS, Valéria C. M. dos. A produção de representações do cangaço no cinema brasileiro. VII Simpósio Nacional de História Cultural HISTÓRIA CULTURAL: ESCRITAS, CIRCULAÇÃO, LEITURAS E RECEPÇÕES Universidade de São Paulo – USP São Paulo – SP, 2014, p.02..

(34) 33. O cangaço configura-se, na história do Nordeste brasileiro, como movimento relevante deixando marcas na memória, na cultura e na imagética popular. Esse movimento não foi algo repentino, mas abrangeu um longo período, tendo enraizamentos no século XVIII, passando pelo século XIX e florescendo com maior notoriedade na primeira metade do século XX. Inúmeros sujeitos surgiram como líderes importantes de bandos. Um, em especial, marca o imaginário social e história: o cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião. Durante vinte anos, ele “varreu” o sertão de sete estados nordestinos, tornando-se um poder paralelo ao oficial.. Sabe-se que é recorrente nos debates historiográficos a ideia do cangaço como espaço masculino, assim, a história destacando e privilegiando principalmente a participação do homem. João de Souza Lima 7 aborda que o cangaço era uma forma de vida brutal, um mundo exclusivamente machista. Assim, “no princípio, e por muito tempo de sua existência, o cangaço, pela brutalidade que o envolvia, era um mundo único e exclusivo dos homens, sobretudo homens destemidos. A mulher era figura descartada nesse meio8”. As novas abordagens historiográficas têm refletido a respeito da importância das mulheres dentro do Cangaço. Estas conseguiram quebrar os obstáculos e ingressar no cangaço. De acordo com o historiador João de Souza Lima acerca da entrada da mulher e sua importância no cangaço, ele nos diz que “com a chegada e a permanência feminina, os cangaceiros adquiriram mais respeito com as mulheres, diminuindo consideravelmente os terríveis estupros9”. O ingresso das mulheres no cangaço mudou também a maneira como era organizado o movimento, bem como modificou o seu modo de viver enquanto mulher. Para reforçar essa ideia, Flávia Santana dos Santos (2005) atenta:. A entrada das mulheres no cangaço veio transgredir essa estrutura, marcando um novo momento vivenciado por homens e mulheres e pelo próprio grupo de Lampião. É também o marco para uma nova organização do cangaço. Elas rompem com os papeis estabelecidos 7Escritor,. pesquisador e colecionador de peças do cangaço.. 8http://tnh1.ne10.uol.com.br/noticia/artigos/2009/03/08/47667/mulheres-no-cangaco: Acesso em: 27/09/2015. 9LIMA,. João de Souza. http://tnh1.ne10.uol.com.br/noticia/artigos/2009/03/08/47667/mulheres-nocangaco. Acesso em: 27/09/2015..

(35) 34. para elas e ingressam em um mundo cercado, limitado e dominado pelo universo masculino 10.. Na historiografia nacional sobre o cangaço, Maria Bonita teria sido a primeira mulher a entrar em um grupo de cangaceiros.. No imaginário nordestino, Maria Bonita é figura antológica, símbolo de valentia, força e coragem da mulher sertaneja. É a primeira mulher a fazer parte do cangaço, movimento social que surgiu no sertão do Nordeste brasileiro, entre o fim do século XIX e início do século XX, em meio à tentativa de industrialização e modernização do Brasil (República Velha), devido à aversão e à insatisfação aos governantes da época. A cangaceira Maria Bonita é chamada por Lampião, seu companheiro, de “princesa”, por ter despertado no “rei do cangaço” uma admiração em torno de sua beleza física, e mais tarde uma admiração quanto à sua postura, bravura e coragem. Ela se tornava, então, percussora da bravura e excelência feminina no universo do cangaço, até então meio unicamente masculino11.. Através de levantamento bibliográfico, percebemos que a história de Anésia Cauaçu não aparece na historiografia nacional mesmo ela tendo sido a primeira mulher a ingressar no cangaço, por quê? Tomando por base principalmente Domingos Ailton Ribeiro de Carvalho, este em sua obra intitulada “Anésia Cauaçu”, enfatiza que ela foi a pioneira no cangaço baiano, e provavelmente, ela não tenha sido reconhecida pela historiografia nacional como a primeira mulher a entrar no cangaço, pelo fato de não ter sido mulher de um cangaceiro, mas por ter sido líder de um bando de cangaceiros. Assim sendo, marginalizada pela historiografia brasileira.. 2.1 AS MULHERES NO CANGAÇO. 10SANTOS,. Flávia Santana dos. Cangaceiras: rebeldia, romantismo e liberdade. Monografia. Brasília, 2005, p. 07. 11 ARAÚJO, Wilma Antunes de; RODRIGUES, Linduarte Pereira. A figura de Maria Bonita no imaginário do cordel. XI Colóquio Nacional Representações de Gênero e Sexualidades. p.01..

(36) 35. A história do movimento do cangaço no que se refere às cangaceiras, ainda são poucos os estudos sobre a trajetória dessas participantes. A invisibilidade dessas personagens inicia-se com a ausência de uma definição sobre o que foram. O cangaceiro foi definido por Queiroz (2005) como homem que vivia fortemente armado na região da caatinga do sertão nordestino; grosso modo, as cangaceiras seriam uma versão feminina do cangaceiro. Já para Ferreira:. A reflexão que se pode fazer é com relação à definição de feminino no movimento do cangaço produzido nos filmes. Essa problematização possibilita a construção da história das mulheres no cangaço, no cinema e na historiografia. Na construção dessa história das cangaceiras (FERREIRA, 2011, p.241). Segundo Ferreira as características do cangaceiro não são o suficiente para definir a cangaceira, pois elas foram múltiplas. As múltiplas cangaceiras foram mulheres pertencentes ao sertão nordestino, independente da categoria social. Em outras palavras, as “mulheres-macho”, marcadas pela diversidade do sertão e regidas por uma sociedade pautada no patriarcado. A importância sobre a história das mulheres teve um papel muito grande para sociedade, sendo assim, a historiografia as tem como “heroínas”, afinal, elas foram as pioneiras para a sociedade patriarcal. A mulher obteve seu desempenho na sociedade de forma muito marcada, o seu espaço conquistado, tiveram e têm uma função muito importante na historiografia brasileira, teve várias papeis múltiplos (CASCUDO, 2009). Mas as “mininu fêmea” recebiam uma formação diferente da dos homens. Eram ensinadas a elas as “prendas domésticas”, a responsabilidade com a maternidade e o cuidado com a família (FERREIRA, 2003). De acordo com Falci (2007), tal formação contribuía para definir os espaços de atuação das mulheres sertanejas. Conforme verificado a histórias das mulheres trata-se inegavelmente que enfrentaram de tudo para chegar onde estão, foram mulheres guerreiras não se importavam se a sociedade julgasse ou se perseguisse, sempre estiveram firmes e fortes. Segundo: “uma mulher torna-se plenamente humana quando tem oportunidade de se dedicar ao exercício de atividades públicas e quando pode ser útil à sociedade” (FERREIRA, 2011, p. 291)..

(37) 36. A entrada de mulheres ao cangaço suscita diversas indagações que buscam compreender quais seriam os reais motivos que as levaram seguir este estilo de vida. Quais os papéis desempenhados por estas no bando. E quais estereótipos foram criados em torno dessas cangaceiras (FREITAS, 2005) Segundo a concepção da socióloga Queiroz (apud FREITAS 2005), a inclusão de mulheres ao banditismo se processou a partir de uma escolha pessoal. Para ela, a inserção ao cangaço representava para aquelas sertanejas menos abastadas a oportunidade de se livrar de trabalhos rurais, enxergando ali a possibilidade de uma ascensão social. Essas ideias partiram do pressuposto de que os cangaceiros obtinham riqueza fácil, devido à ilegalidade que praticavam, acrescentando além dessas características a virilidade masculina destacada em sua coragem e o temor que provocava entre os poderosos. Tais características faziam com mulheres sentissem atraídas por esses homens (FERREIRA, 2011). Segundo Ana Saraiva de Freitas (2005), nem todas as mulheres que optavam pelo cangaço eram de famílias pobres, muitas escolhiam este estilo de vida com intuito de fugir dos padrões estabelecidos pela sociedade, uma alternativa de escolher o seu próprio marido. Segundo a referida autora citada acima (2005), de acordo com “a bibliografia especializada e as diversas fontes consultadas, Maria Bonita (Maria Gomes de Oliveira) foi à primeira mulher a entrar para o cangaço em meados de 1930, provocando modificações na estrutura do bando, abrindo o caminho para entrada de mais de trinta mulheres a esse estilo de vida” (p. 32).. Na maioria das vezes quando se aborda a respeito da mulher cangaceira, as informações se limitam apenas a sua descrição física e o nome do seu companheiro. Pode-se observar que a cobertura que a imprensa deu naquela época se limitou apenas a qualificá-las como “bandidas”, “amantes”, “megeras”; “companheiras”, “belicosas”; “hábil amazona” e “cruéis”” (QUEIROZ apud FREITAS, 2005, p.23).. Independente dos motivos que levaram essas mulheres ao bando, todas acabam sendo generalizadas e tratadas como criminosas, contribuindo dessa forma na construção do estereótipo masculino, violento de mulher e muitas vezes quando.

Referências

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