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AS MULHERES NA HISTÓRIA: REFLEXÕES DAS LUTAS FEMININAS

CAPÍTULO I – BREVE HISTÓRIA SOCIAL DAS MULHERES NO BRASIL

1.1 AS MULHERES NA HISTÓRIA: REFLEXÕES DAS LUTAS FEMININAS

Desde o século XVIII há registros históricos de lutas de mulheres em várias partes do mundo, especificamente no Brasil. No artigo “Participação feminina no debate público brasileiro” (2013) as autoras Maria Ligia Prado e Stella Scatena Franco destacam vários nomes que tiveram participação relevante em momentos de batalhas no

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País, a exemplo da Revolução Pernambucana de 1817, que teve Bárbara Alencar3, a primeira mulher presa no Brasil por reivindicar direitos igualitários. Defendeu a independência e as ideias republicanas, participando de forma ativa do movimento que proclamou a República na cidade do Crato, interior do Ceará, lugar este em que foi morar após o casamento. Depois da Proclamação, Bárbara Alencar ao ser presa, foi transferida para as cidades de Fortaleza, Recife e Salvador, “onde foi encarcerada ao lado de um de seus filhos, o padre Martiniano de Alencar, pai do escritor José de Alencar. Libertada em 1820, ainda se envolveu na epopeia da Confederação do Equador, em 1824. Faleceu no Piauí, em 1832” (PRADO; FRANCO, 2013, p. 196).

Ainda neste contexto, durante a Independência do Brasil, Maria Quitéria de Medeiros se vestiu de soldado para lutar na batalha pela independência em relação a Portugal. Maria Quitéria nasceu em 1792, em Cachoeiro, interior da Bahia, foi criada em ambiente rústico, de uma pequena propriedade rural, aprendeu a montar e manobrar armas de fogo. Segundo Prado e Franco (2013, p. 196), ela

Não sabia, entretanto, ler ou escrever, mas ouviu histórias sobre a opressão de Portugal (representada na Bahia pela figura do general Madeira e seus soldados) que fizeram, de acordo com o que se escreveu a seu respeito, seu coração ‘arder de amor à pátria’. Ao escutar as palavras de um defensor da independência, que recrutava soldados do interior da Bahia, pernoitara na casa de seu pai, Maria Quitéria teria decidido lutar como soldado. Dirigiu-se, então, à casa da irmã mais nova, casada, Teresa, que a apoiou em sua opção. Maria Quitéria cortou os cabelos, vestiu as roupas do cunhado e ingressou como homem no Regimento da Artilharia onde permaneceu até ser descoberta, semanas depois. Foi transferida para o Batalhão dos Periquitos e chegou a participar de algumas batalhas. Em 2 de julho de 1823, entrou na cidade de Salvador, acompanhando as tropas vitoriosas. Em agosto, foi recebida, no Rio de Janeiro, pelo imperador, que lhe ofereceu a Condecoração de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro em um soldo de alferes de linha (PRADO; FRANCO, 2013, p. 196).

Além de Bárbara Alencar e Maria Quitéria, também merece destaque Antônia Alves Feitosa, conhecida como Jovita. Ela nasceu em 1848, na cidade de Brejo Seco, no

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A biografia de Bárbara Alencar “foi elaborada por Inês Sabino, que a chamou de ‘Stael brasileira’. (...) Aos 57 anos de idade engajou-se com o irmão e os três filhos na revolução de 1817” (PRADO; FRANCO, 2013, p. 196).

interior do Ceará, mudando-se posteriormente para o interior do Piauí. Jovita aprendeu a ler, a escrever e a manejar armas, tendo como profissão a de costureira.

Na época da guerra do Paraguai, seu irmão se alistou como soldado voluntário, momento em que Jovita também decidiu se alistar, disfarçada de homem: Cortou os cabelos, vestiu calça e camisa masculina e colocou um chapéu de couro. Em julho de 1865, apresentou-se como “voluntário da pátria”, mas teve seu disfarce rapidamente descoberto. Mesmo assim, foi aceita como recruta e partiu para o Rio de Janeiro com os demais voluntários do Piauí. Durante a viagem, o navio que os transportava atracou em portos da Paraíba, Pernambuco e Bahia. Em todos eles, Jovita foi saudada pela população local e bem recebida, inclusive por autoridades. Ao aportar no Rio de Janeiro, ganhou novas homenagens por seu destemor e foi cumprimentada, juntamente com outros oficiais do Piauí, pelo imperador D. Pedro II. Contudo, seu alistamento foi considerado ilegal. Seu batalhão partiu para a guerra, mas ela ficou no Rio de Janeiro, impedida de seguir para o Paraguai. Morreu pouco tempo depois (PRADO; FRANCO, 2013, p. 200).

Outra personalidade feminina foi Hipólita Jacinta Teixeira de Mello, mulher rica e filha de portugueses, que durante a Conjuração Mineira denunciava as injustiças e os traidores através de cartas e avisos secretos. Liderava reuniões sigilosas e lutava contra a exploração dos menos favorecidos (TELLES, 1986 apud COSTA, 2015). Como exemplo de suas mensagens secretas tem-se um bilhete escrito por ela e enviado ao padre Toledo, cuja mensagem dizia o seguinte:

Dou-vos parte, com certeza, de que se acham presos, no Rio de Janeiro, Joaquim Silvério dos Reis e o alferes Tiradentes, para que vos sirva ou se ponham em cautela; e quem não é capaz para as coisas, não se meta nelas; e mais vale morrer com honra que viver com desonra." Quando percebeu que o movimento fracassava, tentou alertar ao coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, aconselhando-o para "montar uma reação, a partir de lá do Serro

(TELLES, 1986 apud COSTA, 2015, p. 3).

A participação das mulheres na luta pela independência no Brasil foi ampla, porém pouco revelada ou pesquisada, como afirma Carla Cristina Garcia (2015). De acordo com a autora as dificuldades que as mulheres encontravam não impediram o

pouco progresso. Ao lutar pela igualdade de gênero, a participação feminina contribuiu para o processo de desenvolvimento econômico e social brasileiro.

Foram muitas as mulheres que protagonizaram na luta pela independência do Brasil. Isto nos mostra que antes mesmo da luta pelo sufrágio universal, muitas mulheres já tinham um grande percurso de batalhas. Muitas mulheres tiveram interesse pela conjuntura política do País, tiveram esclarecimentos na troca de ideias e vontade de manifestação, além de interesse pelas questões públicas. Tais mulheres decidiram militar por melhores condições de vida, melhores condições de educação, de saúde, entre tantas outras reivindicações. Trabalharam contra a escravidão, contra a opressão feminina, mostrando que eram a favor de transformações da sociedade. E mais do que isso, que poderiam, enquanto sujeitos sociais, participarem de forma ativa na sociedade, independentemente de condição de classe, de sexo, de gênero ou etnia.

A história nos revela que os costumes naquela época deixavam clara a presença do homem como “dono da casa” e “chefe de família”. Este homem dominador tinha muitos escravos, os quais comandavam, além da esposa os filhos. A mulher era vista como submissa, era passiva, tinha muitos filhos, e vivia a maior parte do tempo no próprio lar, único âmbito de onde tinha voz ativa para comandar os assuntos “de casa”.

Porém, nem todas as mulheres de elite eram confinadas ao reduto doméstico, a exemplo das viúvas dos fazendeiros, que sozinhas cuidavam da própria fazenda e dos próprios negócios, além disso comandavam escravos e escravas. Além das viúvas ricas, havia também as mulheres liberais e negras que saiam durante o dia para comercializar, e durante à noite procuravam companheiros, sejam amantes ou não.

Naquela época, no Brasil, a educação das mulheres era incipiente em relação à educação dos homens, pois, acreditava-se que as mulheres ao saberem ler e escrever, poderiam se utilizar da escrita e da leitura para fazerem um “mau uso”, colocando o espaço doméstico “em perigo”. Para tanto, lhes eram permitidas apenas tarefas simples como aprender as orações, a coser e a costurar, atividades próprias para quem deveria se dedicar a uma vida doméstica, para serem futuras mães e esposas exemplares. “A ideia de educação escolar para meninas foi-se somando lentamente à ideia mais antiga de educação doméstica, embora a escolaridade que lhes destinavam não fosse idêntica à dos meninos” (HAHNER, 2003, p. 57). Ora, as meninas ricas, não só aprenderam a

oração, a coser e costurar, mas aprenderam outras línguas e a tocar piano, isto ajudaria nas relações sociais, como “mulheres encantadoras” e de “boa companhia”.

Naquele período, as mulheres de elite não tinham o direito de escolher seus parceiros. Os seus pais quem os escolhiam de acordo com a expectativa de ascensão social do futuro cônjuge. As meninas, ainda muito jovens, eram “usadas” para expandir as riquezas dos seus próprios pais, sendo o casamento um contrato social que serviria para celebrar contratos entre as famílias ricas. Devido às convenções sociais, as meninas não tinham liberdade de escolher seus parceiros, casando-se, comumente, com homens mais velhos cuja disparidade de idade era muito grande.

Porém, haviam exceções no século XIX, a exemplo também da feminista Nísia Floresta Brasileira Augusta que lutou contra a submissão feminina, questionando as condições econômicas e sociais, que já apontavam altos níveis de desigualdade de classes sociais (CASTRO, ALBERTON, EGGERT, 2010; CASTRO, 2010; HAHNER, 1981). Sobre as batalhas e conquistas de Nísia Floresta veremos nas próximas páginas.

A partir da segunda metade do século XIX o Brasil mostrava-se mais próspero, sendo este um momento em que as cidades cresciam, a produção aumentava e uma complexidade social e econômica começava a surgir. Os avanços sociais brasileiros tinham uma considerável influência europeia. Além disso, a densidade demográfica começava a crescer, observando-se alto nível de êxodo rural. Muitos fazendeiros deixavam o campo pela vida na cidade.

As cidades do Rio de Janeiro e São Paulo tornaram-se centros comerciais, financeiros e administrativos, com grandes atividades de exportação de café, além de importação e distribuição também de outros produtos, emergiu como “centro das primeiras manifestações de protesto contra a subordinação feminina, lideradas pelas mulheres de classe média e alta” (HAHNER, 2003, p. 73).

No final do século XIX havia um crescimento da presença de mulheres no magistério, mesmo com salários inferiores aos dos homens. De fato, as mulheres na educação aponta uma ferramenta importante nas transformações sociais, pois ajudou significativamente na ampliação da alfabetização de mulheres, além de disseminar novas ideias, cogitar a igualdade de direitos, questionar valores e papéis sociais femininos hegemônicos. As primeiras professoras foram feministas e lutaram a favor da

emancipação das mulheres no Brasil, utilizando os meios impressos como veículo para a disseminação de suas ideias. As feministas incentivavam as mulheres a lerem jornais a fim de conhecerem os direitos então garantidos e cogitar a lutar por outros.

Ainda no século XIX algumas mulheres lançaram seus próprios jornais como forma de protesto e reivindicações pelos direitos feministas. No Brasil, a ideia de transmitir as reivindicações feministas através dos periódicos se constitui como a primeira manifestação feita pelas mulheres, principal veículo de divulgação naquela época (COSTA, 2013).

O “Jornal das Senhoras”, idealizado no Rio de Janeiro em 1852, era editado pela argentina Joana Paula Manso de Noronha4, que colaborou com o jornal brasileiro e publicou várias obras. O objetivo do periódico era contribuir para “o melhoramento social e para a emancipação feminina”, além de conscientizar sobre a importância das mulheres apresentadas, não como submissas, mas como indivíduos que merecem respeito e valor moral, além de igualdade de direitos. Em matérias do referido Jornal, por exemplo, o casamento era apresentado como o “fim das mulheres”, como algo que acabava com todas as esperanças de realização delas (HAHNER, 2003).

As autoras temiam revelar a autoria nas matérias publicadas, o medo da exclusão social e a subordinação imposta fazia com que muitas delas não assumissem o que escreviam.

(...) Muitas colaboradoras, para permitirem que suas matérias fossem publicadas, exigiam a promessa do anonimato. (...) Mesmo a autora da seção de moda mostrava-se muito temerosa de um possível ridículo e, admitindo carecer da coragem da editora, exigia que seu anonimato fosse mantido. Ao longo de quatro anos verificaram-se mudanças: algumas mulheres passaram a se identificar por meio de suas iniciais e os homens que, porventura, colaborassem, com o jornal, em geral assinavam os nomes completos, assumindo a autoria (HAHNER, 2003, p. 88).

O Jornal era uma forma de esclarecer que enquanto grande parte das mulheres permanecesse na ignorância não se teria avanços na luta por igualdade e direitos democráticos. Para tanto, a primeira conquista seria a educação, pois voto e participação

4 Joana Paula Manso de Noronha nasceu na Argentina mas chegou ao Brasil em 1819. Escreveu para vários jornais do Rio de Janeiro. IN: SCHUMAHER; VITAL (2000).

política não teria importância esperada para as mulheres caso as mesmas não tivessem conhecimento sobre o assunto. A preocupação residia na busca de uma consciência feminina diante do quadro em que se encontravam as mulheres brasileiras como submissas, dependentes financeiramente e sem escolaridade. Para se ter uma ideia no final do século XIX, aproximadamente, a totalidade das mulheres no Brasil eram analfabetas (GOTLIB, 2000).

Em 1873 a professora Francisca Senhorinha da Motta Diniz funda o Jornal o “Sexo Feminino”, momento em que também defende a educação e a emancipação feminina. “O número de 7 de abril de 1875, editado já no Rio de Janeiro, é dedicado à defesa do sufrágio. Coerente com sua condição de mulher consciente e politizada, toma partido dos abolicionistas, defendendo suas ideias em seu jornal” (ALVES, 1980, p. 90). A escritora além de dedicar o Jornal à educação, à instrução e à emancipação, desejava disseminar a informação dos direitos civis das mulheres, buscava despertar suas condições enquanto sujeitos sociais, suas necessidades e potencialidades. O referido jornal sobreviveu aproximadamente três anos. A escritora teve que suspender a publicação devido à uma epidemia de febre amarela, o que não a impediu depois de nove anos lançar os jornais “Primavera” (1880), seguido da “Voz da Verdade” (1885), ambos sem muito êxito na procura de leitores.

Francisca Diniz volta em 1890 com o jornal o “Sexo feminino”, e este obteve mais sucesso que os anteriormente lançados por ela, “atingindo uma circulação de 2.400 exemplares” (HAHNER, 2003, p. 98). Naquele ano, era positivo o número de mulheres que escreviam e editavam os jornais sobre os direitos de mulheres. Somado a isto, o crescimento do número de mulheres alfabetizadas proporcionava um grande público para este tipo de jornal. Porém, ainda um público limitado, pois eram mulheres das classes média e alta da sociedade. “A proporção de alfabetizadas entre o total da população feminina no Rio de Janeiro elevou-se de 29,3%, em 1872, para 43,8% em 1890, ao mesmo tempo em que a população da capital quase dobrava” (HAHNER, 2003, p. 99).

Além destes jornais de importante contribuição para expressar direitos e deveres sociais das mulheres e formar a imagem no social sobre modelos de feminilidade na sociedade de então, vale ressaltar que em 1862 surgiu “O Belo Sexo”, no Rio de

Janeiro. Um conjunto de mulheres se reunia toda semana para discutir o que seria publicado no periódico. Muitas não desejavam assinar os próprios nomes nos textos, apesar da editora, Júlia de Albuquerque Sandy Aguiar, insistir no contrário (HAHNER, 2003).

Nos séculos XIX e XX, as feministas brasileiras lutavam para melhorar a posição das mulheres na sociedade, propondo novas discussões sobre seus direitos, ou como muitos afirmavam os direitos do sexo feminino. Tais mulheres defendiam a “‘emancipação da mulher’, um conceito que teria seu significado definido já no século XIX e seria evocado pelo século XX adentro. Entretanto, movimentos organizados pelos direitos da mulher somente surgiram no Brasil no inicio do século XX” (HAHNER, 2003, p. 26).

Em 1975 é criado, por ex - presas políticas, o Jornal Brasil Mulher, na cidade de Londrina no Estado do Paraná. A ideia do Periódico estava ligada ao Movimento Feminino pela Anistia. Este era um movimento que surgiu naquele mesmo ano liderado por Terezinha Zerbini, cujo objetivo era “articular as lutas e mobilizações em defesa dos presos políticos, pelo retorno dos banidos, por uma anistia ampla, geral e irrestrita. O MFA foi a primeira estruturação pública e oficial de questionamento da ditadura militar” (COSTA, 2013, p. 18). Ainda neste mesmo ano surgia outro periódico, o Brasil Mulher, estes dois jornais se constituíram como as principais ferramentas de divulgação dos ideais feministas naquele período.

No Brasil, bem como nos Estados Unidos, o movimento em busca dos direitos da mulher coincidia com o movimento sufragista, nisto o interessante é que a luta em várias partes do mundo partiam de mulheres mais instruídas e que pertenciam a uma classe social elevada.

Como visto em páginas anteriores, as mulheres viam na educação uma ferramenta de suma importância para a emancipação feminina e para melhores condições sociais, porém não desejam apenas respeito e educação. “Elas queriam o desenvolvimento integral de todas as potencialidades femininas, dentro e fora de casa” (HAHNER, 2003, p. 115). Muitas das mulheres advogavam a favor do direito ao voto, por exemplo, mas as tentativas eram negadas.

No final do século XIX, especificamente em 1889, o Brasil se depara com transformações imprescindíveis para a época, tais como o aumento da densidade demográfica, o desenvolvimento das cidades, os centros urbanos em constante crescimento, a expansão do comércio, o que contribuiu para novas estruturas políticas e econômicas do País, o que marca o fim do Império e o surgimento da República. Tem – se, como exemplo, as mulheres formadas no Curso de Bacharelado em Direito tinham dificuldades de exercer a profissão. Mirtes de Campos foi a primeira mulher a ingressar no Curso e exerceu sua atividade no tribunal do Rio de Janeiro condicionada a análises de vários juristas e consequentemente ser apoiada pelo juiz (HAHNER, 2003). O que nos revela a gritante dificuldade das mulheres em inserir-se, por direito, nos vários campos da sociedade, inclusive no de exercer a própria profissão.

No século XX a educação brasileira experimenta transformações no sentido da inclusão de gênero, observando-se um aumento significativo das mulheres alfabetizadas (HAHNER, 2003). A Lei, naquele momento, com a cumplicidade das famílias, determinava que a educação das meninas fosse diferente em relação à educação dada aos meninos: para as mulheres determinavam-se os ensinamentos domésticos, para os homens, os ensinamentos da vida pública, intelectual. As meninas da elite tinham aulas em casa ou em escolas particulares, sendo geralmente as aulas ministradas por religiosas ou professoras estrangeiras. “As crianças da elite geralmente eram educadas em casa. As ‘melhores famílias’ empregavam tutores particulares ou internavam suas filhas em escolas de freiras, especialmente as Irmãs de Caridade de São Vicente de Paula” (HAHNER, 2003, p. 79).

O Brasil, na década de 1920, por exemplo, já se caracterizava pelo período de mudança, de transformação social e econômica, o que fez surgir também vários movimentos de contestação ao sistema vigente.

A ebulição da época reflete-se nas repetidas explosões de revoltas militares e de greves operárias. Mesmo no interior das classes dominantes encontram-se sinais de esgotamento da “política dos governadores”. Foi este o contexto histórico no qual se formou o movimento sufragista. Surge, portanto, quando alguns grupos sociais, representados pelo operariado, os jovens oficiais, os intelectuais, começam a reivindicar uma maior participação nos centros de poder e de decisão política (ALVES, 1980, p. 16).

O sufragismo surge, assim, no seio da elite, que segundo Alves (1980), não se esforçou em procurar outras mulheres de outras classes sociais, mas apenas seus aliados. Se limitando às mulheres de elite, ficando na restrição da tentativa de conscientizar as mulheres de um modo geral sobre os seus direitos. Tais limitações, de acordo com o autor, devem-se a dois fatores importantes: primeiro seria o político e depois o ideológico.

A nível político, as mulheres estariam “presas” a um poder, a um contexto oligárquico, cujas dependências sociais e financeiras a incapacitariam para ampliar suas reivindicações.

A incapacidade de ampliação e de comunicação do movimento surgiria assim do próprio conteúdo de suas reivindicações. Enquanto outras categorias sociais questionavam as bases do sistema político, o movimento sufragista brasileiro, buscando afirmar seu caráter de movimento apolítico, baseava sua argumentação nas colocações amplas do discurso liberal, focalizando os direitos humanos e atuando sem exercer uma crítica com relação a realidade concreta em que existia (ALVES, 1980, p. 17).

Além de terem sido influenciadas pelos países que já haviam experimentado a revolução burguesa e encontravam se naquele momento em desenvolvimento industrial, as mulheres de elite tinham objetivos que não se coadunavam com a evolução do processo histórico, pois a atitude pouco crítica em relação aos movimentos em que atuavam eram muito mais influenciados pelo poder hegemônico, uma vez que faziam parte de um grupo do centro de poder (ALVES, 1980).

A nível ideológico as mulheres estariam em seu grau de subordinação e inferioridade social, política, econômica e cultural. “Sua indiferença para com sua própria situação indicava até que ponto ela permanecia subjugada, incapaz de se