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2 FUNDAMENTOS JURÍDICO-POLÍTICOS DA PROTEÇÃO DO TRABALHO

2.2 As Normas Internacionais e Normas Constitucionais de Proteção

Na ordem supra-estatal e estatal podemos identificar diversos instrumentos normativos relativos à proteção do trabalho humano. Entre elas, o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966, ratificado pelo Brasil em 24 de Janeiro de 1992, é o mais representativo no que pertine à proteção do trabalho humano. Em tal Pacto, podemos destacar as seguintes normas

Declaração Universal de Direitos Humanos Artigo XXII

Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.

Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.

Toda pessoa que trabalha tem direito a remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.

Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e neles ingressar para proteção de seus interesses.

Artigo. XXIV – Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas. Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos

Art. 8º

1. Ninguém poderá ser submetido à escravidão; a escravidão e o tráfico de escravos, em todas as suas formas, ficam proibidos.

2. Ninguém poderá ser submetido à servidão. (omissis)

Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais

O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de 1966, e ratificado pelo Brasil em 24 de janeiro de 2002, sobre a proteção ao trabalho, estabelece, em síntese, nos artigos 6º ao 8º :

O direito de ganhar a vida mediante um trabalho escolhido livremente (art. 6º).

O dever do estado prover orientação e formação técnico profissional, elaboração de programas para o desenvolvimento de tais atividades.

O direito de gozar de condições justas e favoráveis de trabalho (art. 7º). Remuneração que garanta o mínimo, salário eqüitativo ao trabalho, sem distinções.

Condições dignas, seguras e higiênicas de trabalho.

Igualdade de oportunidades, descanso, lazer, duração razoável e férias periódicas remuneradas.

A liberdade de associação (art. 8º). O direito à greve.

Inicialmente, convém destacar que entre estas normas, encontramos normas típicas de direitos fundamentais de primeira dimensão, que consagram um espaço de liberdade do indivíduo para que ele possa agir sem interferências externas, mormente a interferência estatal, quando se protege a liberdade ao trabalho, a livre escolha, a liberdade de associação e a vedação à escravidão e a servidão. Por outro lado, encontramos normas típicas de direitos fundamentais de segunda dimensão, onde cabe ao Estado não mais uma atitude passiva, apenas não intervencionista, mas também uma atitude ativa, seja no plano legiferante, seja no plano da realização de políticas públicas.

Tais normas, características do Estado Social de Direito, estão bem representadas na obrigação do Estado de garantir um trabalho digno, em condições justas, na obrigação de o Estado imiscuir-se na relação privada de trabalho, determinando condições mínimas de desenvolvimento e remuneração. Ou seja, limitando a liberdade dos envolvidos, com a finalidade de garantir condições justas de desenvolvimento da pessoa humana, valorizando assim o plano da igualdade material.

Em nossa Constituição Federal, é possível identificar, claramente, nos artigos 5º, 7º e 8º a inserção, em nosso ordenamento jurídico, já no plano constitucional, das normas protetoras do trabalho consagradas nos documentos internacionais. Por exemplo, no art. 5º encontramos normas relativas à livre escolha do trabalho e à liberdade de associação. Nos artigos 7º e 8º deparamo-nos com um detalhado rol de normas que inserem em nosso ordenamento direitos específicos aos empregados, bem como a garantia de associação em sindicatos, e, ainda, nossa Constituição

amplia esta proteção, estabelecendo regras que, não necessariamente, estão previstas no plano internacional

A classificação ponteana das normas de direito fundamental, no plano da proteção do trabalho humano, em muito nos ajuda a entender o caráter destas normas e sua eficácia jurídica.

Inicialmente, verificamos que existem normas de proteção ao trabalho humano na ordem jurídica brasileira tanto de natureza supra-estatal, posto que representam uma imposição da ordem internacional ao Estado brasileiro (como a obrigação de se estabelecer um salário mínimo, férias remuneradas bem como a vedação à escravidão), como também encontramos normas jurídicas de caráter Estatal, posto que são emanações do legislador brasileiro como direitos fundamentais do trabalhador, a exemplo das normas relativas ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

Nesse mesmo sentido, os direitos fundamentais podem ser classificados como absolutos (os supra-estatais) e relativos (os estatais) 43. Nos primeiros, frisamos, o Estado é apenas definidor de exceções, enquanto no segundo, a ordem jurídica interna reconhece fundamentalidade sem que haja obrigação decorrente da ordem internacional para tanto.

Os direitos fundamentais também são classificados, por Pontes de Miranda, como assegurados e não-assegurados. Os primeiros encontram na ordem jurídica sanções de ordem civil, penal e administrativa como forma de garantir seu cumprimento. Os segundos, em que pese serem reconhecidos, não estariam dotados, ainda, de sanção garantidora de seu cumprimento44. Em geral, as normas constitucionais definidoras de direitos fundamentais terão do ordenamento, no mínimo, a sanção invalidante. Ou seja, em caso de violação de sua prescrição, o ato praticado será considerado.

Os direitos fundamentais protetivos do trabalho humano, expressamente reconhecidos por nossa Constituição, possuem vasta legislação infranconstitucional que, mesmo quando não garantidos expressamente pela Constituição com uma sanção, o legislador ordinário cuidou de trazer regras para sua proteção. As formas de sanção comuns são as indenizativas (quando ocorre o não pagamento de um

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LINS JUNIOR, George Sarmento. Pontes de Miranda e a teoria dos direitos fundamentais. Revista

Eletrônica do Mestrado em Direito da UFAL, Maceió, jan./dez. 2005, p. 61-63.

44

LINS JUNIOR, George Sarmento. Pontes de Miranda e a teoria dos direitos fundamentais. In:

direito patrimonial do trabalhador ou, ainda, quando violada sua esfera moral) e caducificantes (diversas normas de caráter administrativo e penal estabelecendo cerceamento à liberdade dos que violam direitos do trabalhador, com multas administrativas, penas privativas de liberdade, etc.).

Ainda na classificação ponteana, encontramos normas protetivas do trabalho humano bastantes em si45, quando geram, desde logo, direito subjetivo, sem necessidade da mediação legiferante do Estado para definir seu conteúdo e consequências (liberdade para escolha de profissão), bem como normas não - bastantes em si, tendo em vista que necessitam da mediação do legislador, tanto na definição do seu contorno como das suas consequências. Nestas últimas, encontramos normas supra-estatais, como o direito ao salário mínimo, que apesar de estar delineado internacionalmente como direito, é necessário que cada Estado defina o quantum, sob pena de o trabalhador não poder gerar direito subjetivo na relação jurídica concreta. Norma de direito fundamental estatal é a definidora do direito do trabalhador ao FGTS, que, por si só, nada significa, necessitando da legislação infraconstitucional definidora do conteúdo para que gere, assim, direito subjetivo ao trabalhador.