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2.1 O CONTEXTO DAS FUSÕES E AQUISIÇÕES

2.1.1 As ondas de F&A no mundo

Em resumo, a Figura 4 apresenta as ondas de F&A no mundo. As primeiras cinco ondas de F&A se concentraram nos EUA (WESTON et al. 1990; POST, 1994). A sexta onda se caracterizou pela movimentação de compra e venda de empresas em nível global e, neste início do século XXI, ela ainda está em movimento, mudando alguns enfoques e mercados, o que pode estar originando a sétima onda de F&A no mundo.

Figura 4 - Ondas de F&A no mundo

Fonte: Elaborado pela autora, com base em Weston et al. (1990) e Post (1994). A primeira onda de F&A foi registrada entre os anos de 1895 e 1904. Basicamente, o objetivo das F&A naquele período era a ampliação de mercado pelas empresas regionais que queriam se nacionalizar. Uma recessão econômica deu fim a esse crescimento horizontal inorgânico, mas, principalmente a Suprema Corte Americana, ao proibir fusões que prejudicassem o livre comércio. Assim, a concentração de mercado foi proibida. Dessa forma, a primeira onda perdeu força.

A segunda onda, ocorrida entre 1919 e 1929, foi modelada pela necessidade das empresas americanas de aumentar a economia de escala devido à alta competitividade no mercado regional. Para tal, foi promovida a consolidação vertical, demonstrada no Quadro 3. A Grande Depressão de 1929, nos EUA, deu fim a essa onda.

Quadro 3 - Tipos e motivos de ocorrência de F&A Tipo Definição Possíveis objetivos Horizontal Fusões dentro de

uma mesma indústria ou segmento • Economia de escala e escopo. • Elevação do market-share. • Penetração rápida em novas regiões. Vertical Fusões de empresas

que estão à frente ou atrás da cadeia produtiva

• Maior controle sobre as atividades. • Proteção do investimento principal. • Facilitação na distribuição de produtos. • Assegurar matérias- primas.

Concêntrica Fusões de empresas com bens ou serviços não similares, que apresentam algum tipo de sinergia

• Diminuição dos custos de distribuição. • Diversificação do risco. • Adquirir rapidamente o know-how no setor. • Ampliar a linha de produtos. • Entrar em novos mercados. Conglomerado puro

Fusões sem qualquer

tipo de sinergia • Diversificação do risco. • Oportunidades de investimento.

Fonte: BNDES5 (1999).

Weston et al. (1990) e Post (1994) apontam que a terceira onda aconteceu de 1940 a 1947 e foi bem rápida, por ter sido apenas sustentada pela demanda da Segunda Grande Guerra e a oportunidade de as empresas americanas participarem da reconstrução da Europa no pós-Guerra.

Na década de 1960, surge a quarta onda de F&A. Caracterizada pela estratégia de diversificação de presença no mercado, ela trouxe as F&A do tipo conglomerado, quando pequenas empresas americanas passaram a adquirir pequenas e médias empresas de outros mercados, para crescerem com rapidez e se defenderem da instabilidade econômica. No entanto, a crise do petróleo alterou esse movimento.

Em 1976, nasce a quinta onda de F&A nos EUA, a partir de mudanças nas leis que regulamentavam alguns setores da economia, como a área de seguros, financeira e hospitalar. Os planos de investimento nessas F&A privilegiavam as operações de tipo horizontal, caracterizando-se por reestruturações societárias a partir de F&A. Essa onda findou-se no final da década de 1980 (1989), e nem Weston et al. (1990) e Post (1994) definem com muita clareza os motivos para essa desaceleração.

5 O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES, 1999), a partir de dados da revista Informação Econômica, (v. 27, n. 12, dez. 1997), classifica as operações de F&A por tipos e objetivos de ocorrência, como apresentado no Quadro 3.

As instabilidades econômicas internacionais entre a década de 1990 e o ano 2000 provocaram um colapso do mercado de ações, e o volume de operações de F&A diminuiu bruscamente.

Seu renascimento como sexta onda, pode ser identificado pela volta acelerada, em 2004, das F&A, com novos rumos e mercados envolvidos, sendo ampliada para além dos EUA. Nesse momento, surgem operações em escala global. Como explicam Gregoriou e Renneboog (2007), essa onda de F&A se destaca em termos de dimensão e dispersão geográfica, em que, pela primeira vez, as empresas do continente europeu estavam capacitadas a participar das operações tal como as empresas americanas e inglesas. Essa onda levou as F&A a atingirem mercados intensivos em conhecimento, como os de biotecnologia e produtos farmacêuticos. Em 2008, pelo medo das possíveis consequências advindas da crise americana (surgida com o estouro da bolha6 no mercado imobiliário norte-americano), houve a desaceleração das F&A.

Porém, já em 2010, principalmente nos mercados mais jovens e menos dependentes dos EUA e China, como o Brasil, por exemplo, a onda reapareceu, como atesta o crescimento dos números de F&A no Brasil nos últimos anos (Figura 5).

Figura 5: Evolução do número de transações de F&A de 1994 – 2011

Fonte: KPMG, 2012

Uma das explicações mais utilizadas para essa performance é o fato de que o Brasil começa a chamar a atenção dos investidores e das grandes organizações internacionais desde 2009, pois foi um dos poucos países que não entraram em colapso em decorrência da crise de 2008,

6Os analistas de mercado chamam de “bolha” ao mercado que está sendo superestimado pelos investidores, ou seja, quando a realidade não condiz com a expectativa de retorno dos investimentos.

175 212 328 372351 309 353 340 227 230 299 363 473 699 663 454 726 817 199494 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11

nos EUA. Assim, aumentando a abrangência de seu escopo e mercado com o propósito de diminuir os riscos de seus investimentos, as operações de F&A tomaram força no Brasil, em todos os setores da economia.

Entender a sexta onda como tendo apenas quatro anos de movimento parece descaracterizar o impacto que ela teve na economia como um todo. Mas esse novo momento das F&A, direcionado a novos mercados como o Brasil, configura-se como uma nova onda, pois formata novas motivações e expectativas.

Dessa forma, pode-se entendê-la ou como o redirecionamento da sexta onda para os mercados emergentes, ou como o nascimento da sétima onda de F&A no mundo, agora nos mercados emergentes. Para este estudo, ela será chamada de sétima onda.

De qualquer maneira, esta onda não apresenta um tipo único de operação. Dependendo do país em que estão acontecendo as consolidações ou, principalmente, do risco do mercado específico da empresa adquirente, são percebidos movimentos verticais, horizontais, concêntricos e de conglomerado.

No Brasil, essa onda de F&A está menos relacionada aos planos de configurações concêntricas e de conglomerados e mais relacionada, principalmente, a tipos verticais e horizontais de consolidações, principalmente às consolidações realizadas pelas organizações intensivas em conhecimento, como a área das novas energias, educação e tecnologias da informação, ou mesmo o setor de energia. Ou seja, pode-se entender que os planejamentos que estão dando origem às F&A parecem ter objetivos voltados mais para o fortalecimento de cadeias produtivas do que aos mercados não conhecidos da empresa adquirente, pois esse tipo de aquisição poderia aumentar o risco pela incerteza da operação, em tempos de instabilidade mundial. Seguindo-se a classificação do BNDES (1999), nesta sétima onda de F&A os objetivos do planejamento da operação podem ser: economia de escala e escopo; elevação do market-share; penetração rápida em novas regiões; maior controle sobre as atividades; proteção do investimento principal; facilitação na distribuição de produtos; assegurar matérias-primas (eventualmente a custos mais baixos).

Um exemplo dessa nova onda é o que vem acontecendo no Brasil na área de TI, que se apresenta como setor com F&A em ritmo acelerado. A TOTVS S.A. passou a comprar, desde 2004, os seus franqueados e competidores em mercados específicos, mas não tem tirado o foco do objetivo de se tornar uma das três maiores organizações mundiais de sistema de gestão.

Nesse contexto, pode-se perceber que, mesmo que as ondas de F&A percam força por motivos alheios às determinações estratégicas das empresas envolvidas, pouco tempo depois somam-se novas forças econômicas, mercadológicas ou ambientais para formarem uma nova onda. Assim, essas operações têm existido desde 1895, e até o momento não se tem previsão de que diminuam seu movimento, pelo menos no Brasil:

O Brasil tem, nessa dimensão (investimento direto estrangeiro), um desempenho singular. As vendas de empresas se elevam consistentemente nos anos 1990 e mantêm-se altas nos anos 2000. A novidade está no aumento das compras ocorrido nestes últimos anos e que não tem paralelo em outros países periféricos. Isto indica uma aceleração da internacionalização das empresas brasileiras após 2000 e a relevância do canal de Fusões e Aquisições. (CARNEIRO, 2007) E, exatamente por isso, é importante o aprimoramento dos processos relacionados às F&A, para que estas continuem em ritmo de melhoria contínua, diminuindo-se as perdas de valor após a operação concretizada, o que será analisado na próxima seção deste estudo.