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Para fazer a gestão do conhecimento de uma organização é necessário ter, primeiro, uma visão sistêmica do capital intelectual e das redes de relacionamento construídas por ela e por seus colaboradores. A partir daí, são estabelecidas estratégias e diretrizes para mensurar os ativos intangíveis da organização e gerenciá-los de forma que agreguem valor para a empresa e a sociedade. (ASSUMPÇÃO, FNQ, 2008)

Os ativos de conhecimento são assim chamados por agregarem valor ao negócio corporativo e serem “únicos, difíceis de adquirir, de desenvolver e até mesmo de copiar; além disto, alguns podem ser até protegidos legalmente” (PEREZ; FAMÁ, 2006, p. 84). Diferentemente dos ativos tangíveis, como destaca Schnorrenberger (2004), os ativos intangíveis não perdem valor com o uso, pelo contrário, aumentam de valor.

Na verdade, como afirma Silveira (2000, p. 37), “as novas organizações de aprendizagem estão focando suas estratégias à identificação, captura e alavancagem de seus ativos de conhecimento”.

Uma das principais referências neste assunto é o livro de Nonaka, Toyama e Konno (2001), em que os autores se propõem a oferecer um caminho para a gestão dos ativos do conhecimento organizacional. Nonaka, Toyama e Konno (2001) destacam os ativos do conhecimento experiencial, conceitual, sistêmicos e rotineiros (Quadro 10):

a) ativos do conhecimento experiencial: constituídos de carinho, confiança, tensão, ritmo, senso de existência etc., a partir do compartilhamento dos conhecimentos tácitos de especialistas durante o exercício de suas atividades;

b) ativos do conhecimento conceitual: somam os conhecimentos explicitados e já articulados. Constituídos de imagens, símbolos, linguagem (i.e. marca, conceitos de produtos, projetos de inovação, projetos compartilhados,...) construídos por clientes e funcionários;

c) ativos do conhecimento sistêmicos: são os conhecimentos já explicitados e formalizados (i.e. tecnologias explícitas, especificações de produto, manuais e informação documentada de clientes e fornecedores, registros e patentes). Esses conhecimentos podem ser transferidos mais facilmente dos que os anteriores;

d) ativos de conhecimento rotineiros: englobam know-how, rotinas organizacionais e cultura organizacional. Explicitam os conhecimentos tácitos embutidos nas ações e práticas da rotina organizacional. Os paradigmas organizacionais que impõem aos seus participantes padrões de pensamentos, sentimentos, palavras e atitudes ajudam a formar seus conhecimentos práticos, que levam aos conhecimentos rotineiros.

Quadro 10 - Quatro categorias dos ativos de conhecimento Ativos do conhecimento

experienciais

Conhecimento tácito compartilhado através de experiências comuns:

• habilidades e know how dos indivíduos

• cuidado, amor, confiança e segurança

• energia, paixão e tensão

Ativos do conhecimento conceituais Conhecimento explícito articulado através de imagens, símbolos e linguagem:

• conceitos de produto • projeto

• patrimônio da Marca

Ativos de conhecimento de rotina Conhecimento tácito em rotina e incorporado em ações e práticas: • know how em operações

diárias

• rotinas organizacionais • cultura organizacional

Ativos do conhecimento sistêmico Conhecimento explícito sistematizado e documentado:

• documentos, especificações, manuais

• banco de dados • patentes e licenças Fonte: Nonaka, Toyama e Konno (2001, p. 29).

Para Arnosti et al. (2003), ao se incorporar conhecimentos às atividades produtivas, o valor destas é potencializado. Por serem um tipo de ativo intangível, os ativos do conhecimento não são mensuráveis. Porém, por meio de ferramentas específicas de gestão do conhecimento, deve-se identificar e analisar o nível do impacto do

conhecimento sobre o negócio no que tange aos custos, lucros, esforço, estratégia e competitividade.

Dessa maneira, pesquisadores têm se preocupado em estudar o impacto dos ativos intangíveis na geração de valor para a organização. Ritta e Einsslin (2010), representativos deste grupo, vêm estudando a inter-relação entre os ativos intangíveis (AI) e a geração de valor e apresentaram (Quadro 11) a relevância estratégica dos ativos intangíveis para a geração de valor organizacional.

Quadro 11 - Inter-relação entre ativos intangíveis e geração de valor Autores Relevância Estratégica dos AI

Martin et al., 2003; Kayo, Teh e Basso, 2006

Constataram que a quantidade de patentes influencia negativamente o nível de endividamento das empresas.

Crisóstomo e Gonzales, 2005

Encontraram uma relação positiva e estatisticamente significativa entre investimentos em pesquisa e desenvolvimento e o valor de mercado das empresas.

Perez e Famá, 2006ª

Constataram que as empresas que direcionaram uma parcela maior de seus recursos para investimentos em AI estão obtendo melhores resultados econômicos. Concluíram que os AI são relevantes ao desempenho econômico da empresa. Seus resultados indicaram que as empresas com maior parcela de AI geraram mais valor para seus acionistas.

Azevedo e Gutierrez, 2009

Verificaram que os gastos em pesquisa e desenvolvimento possuem relação positiva com o crescimento de longo prazo das empresas e encontraram evidências de que esses investimentos proporcionam o crescimento dos lucros.

Colauto et al., 2009

Encontraram uma correlação positiva entre o valor de mercado e o Grau de Evidenciação dos Ativos Organizacionais nas empresas pertencentes ao nível da Bovespa chamado de Novo Mercado de Governança Corporativa.

Fonte: Ritta e Einsslin (2010).

A gestão do conhecimento (GC) tem como objetivo a gestão dos ativos intangíveis, buscando otimizá-los de maneira a criar, adquirir e agregar valor à organização. A GC identifica cada um dos ativos e gerencia-os independentemente e em correlação ao fluxo organizacional, enriquecendo-os.

Como já apontado anteriormente, os valores competitivos da Sociedade do Conhecimento são baseados em conhecimentos e práticas

organizacionais inovadoras (ENSSLIN; CARVALHO, 2007). Dessa forma, a literatura acadêmica conclui ser estratégica a gestão dos ativos intangíveis pelo fato de esses elementos serem geradores e mantenedores de vantagens competitivas (PEREZ; FAMÁ, 2006).

Mas a quebra de paradigma não é algo fácil de ser processado (KUHN, 1994). Ainda mais quando transforma o modo tangível de a empresa se relacionar com a mão de obra para uma forma intangível de ser relacionar com os valores dos ativos do conhecimento. Os primeiros estudos relacionados aos ativos intangíveis são recentes, datados da década de 1980. E, mesmo tendo sido tratados pela área da contabilidade, os ativos intangíveis só passaram a receber atenção das empresas quando o termo Capital Intelectual foi cunhado e apontado como riqueza para o negócio.

Em 1980, Hiroyuki Itami publica o estudo intitulado Mobilizing invisible assets, que desperta a atenção sobre o valor dos "ativos invisíveis" na corporação. Naquela década, a preocupação em como mensurar esses intangíveis era puramente com finalidade econômica. São representantes daquela época os economistas Penrose (1959), Rumelt (1979), Wemerfelt (1984) e o economista da Universidade da Califórnia em Berkeley, o professor David Teece (1998).

Entre 1986 e 1989, fortalecendo esse paradigma, Karl Sveiby publica três livros que elaboram a primeira proposta de como gerenciar os ativos intangíveis. Em The know-how company (SVEIBY, 1986), o autor disserta sobre o gerenciamento de ativos intangíveis. Em The new annual report (SVEIBY, 1988), ele cunha o termo Capital de Conhecimento. No livro The invisible balance sheet (SVEIBY, 1989), o autor formata um caminho de como tratar, mensurar e gerenciar os ativos invisíveis na organização.

Para o autor, o patrimônio visível é o que abrange os ativos tangíveis menos os passivos visíveis, e os ativos invisíveis/intangíveis são compostos pela estrutura externa, a estrutura interna e a competência pessoal (Quadro 12) e, dessa forma, devem ser gerenciados de maneira a ampliar os relacionamentos externos, a estrutura interna e o desenvolvimento dos funcionários.

Quadro 12 - Valor de mercado de uma empresa Patrimônio Visível Ativos Intangíveis

Ativos tangíveis

Passivos visíveis Estrutura externa Estrutura interna Competência pessoal Fonte: Sveiby (1998, p.188).

Sveiby (1998), em seguida, aponta que os ativos intangíveis devem ser analisados por três diferentes critérios, para que possam ser gerenciados: eficiência operacional, crescimento e renovação organizacional, instabilidade e estabilidade.

Então, quando passíveis de serem gerenciados, os ativos intangíveis passam a ser mais valorizados (COLAUTO et al. 2009; ENSSLIN et al., 2009; LEV, 2001; SCHMIDT; SANTOS, 2002). Para a contabilidade, o reconhecimento dos ativos intangíveis se deu quando foi percebida a diferença entre o valor econômico e o valor contábil das empresas listadas em Bolsa. Assim, incluir na contabilidade o cálculo dos ativos intangíveis seria apenas um mecanismo para a análise real do patrimônio dessas empresas. Em 2007, a Lei n. 11.638, de 28 de dezembro 2007, cria o subgrupo intangível, dentre os ativos permanentes.

2.10 Modelos de mensuração dos ativos intangíveis e CI