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As Ordens do Hospital e do Templo nas inquirições régias de 1258 e 1288,

As Ordens do Hospital e do Templo nas inquirições régias de 1258 e 1288 no Entre-Lima-e-Minho

À falta das inquirições de 1220 para o território português a norte do Lima, que à época e até finais do século XIV, pertencia ao bispado de Tui, é pelos dados recolhidos nas inquirições do Bolonhês que esboçamos este primeiro panorama geral da presença do Hospital e do Templo nessa franja territorial que hoje constitui a maior parte do distrito vianense134. Em função dos dados selecionados, e visto não possuirmos dados tão minuciosa e discriminadamente inventariados como os que encontrámos para o capítulo anterior em relação a 1220 na série Bens das Ordens, optámos por uma metodologia diferente, tratando a informação por terras, representando graficamente, mais adiante, a presença destas duas instituições mediante a sinalização das freguesias onde elas aparecem referidas.

1 – Inquirições de 1258

Como no capítulo anterior, começaremos pela Ordem do Hospital, desde logo a mais disseminada, aparecendo em pouco mais de trinta freguesias, sendo clara e evidente a sua

      

134 Para períodos mais recuados, sendo as inquirições neste ponto menos “esclarecedoras” ou melhor dizendo,

sugestivas, indicamos alguns documentos do tombo de Fiães, onde encontramos referências ao Hospital. No documento n.º 60, datado de 1155 e onde um tal “Nuno Dente”, em conjunto com seus parentes doa a Deus e ao “Sancto Hospitali Iherosolimis” metade da sua herdade. Curioso, visto que, não encontraremos qualquer bem no actual concelho melgacense (ao qual se refere, em princípio, este documento) nas inquirições, como veremos adiante, apesar de no século XIV a Ordem aparecer na posse do couto de Lamas de Mouro (Ver DOMINGUES, José – Os Limites da Freguesia de Lamas de Mouro e os Caminhos da (in)Justiça, p. 65). Também no documento n.º 77, datado de 1242, figura um “Johanes Moogo capellanus de Spitale”, se bem que é possível tratar-se do capelão da albergaria que existia na terra de Valadares. Por último, o documento n.º 144, datado de 1237, e de onde pouco podemos obter, devido ao caráter algo confuso da informação, alude ao “Hospitalem” e a Távora. Cf. FERRO COUSELO, Xesús – Tumbo de Fiães, pp. 66, 74 e 106, respetivamente. Os documentos n.º 29, 202, 213 e 341, apesar do segundo ter sido “realizado” em Ázere (c.º de Arcos de Valdevez), reportam-se a bens sitos na Galiza. Ibidem, pp. 49, 136, 142 e 213.

Noutro acervo, neste caso no “Cartvlário de Crasto”, deparamos com os documentos XIII (datado de 1132) e XXIII (datado algures entre 1114 e 1146, visto que o seu interveniente vem referido nos restantes diplomas entres estas datas). Ora, no primeiro, tenhamos em consideração o excerto “Ille dedit ipsa hereditate ad

Jherusalem Velasco Suariz et sua mulier Dona Goncina”, enquanto, no segundo vem registado: “locum qui dicitur Jherusalem” (O sublinhado é nosso). Cf. Cartvlário do Mosteiro de Crasto (edição e nota prévia de

Alfredo Pimenta), pp. 25 e 35. Note-se que os ditos documentos remetem-nos para a freguesia de Brandara e arredores (Arcozelo) no concelho de Ponte de Lima e podem ter tanto a ver com o Hospital como com o Templo ou a Ordem do Santo Sepulcro, ou com nenhuma delas, em última análise.

Quanto aos templários, como veremos, encontramo-los no Entre-Lima-e-Minho, também por meados do século XII, logo após o recontro de Valdevez, no julgado do mesmo nome, fr. de Rio Frio.

prevalência na terra de Valdevez, onde é referenciada em dezoito freguesias135 contra quatro, na terra de S. Martinho136; cinco, na terra de Froião137 e três, na terra de Valadares138.

Antes de prosseguirmos, chamamos a atenção para a inexistência de testemunhos para os atuais concelhos de Caminha139, Vila Nova de Cerveira e Melgaço140, e ainda, para a dificuldade de identificar corretamente algumas das freguesias onde recolhemos dados e que foram já enunciadas em rodapé, não interferindo, no entanto de modo algum com os números também apresentados. Reportamo-nos aos casos de Vilafonche141; Sá (Ponte de Lima), pois pensamos que as testemunhas se referiam à vizinha freguesia de Santa Comba ou então à zona onde ambas se dividem uma da outra142 e a dupla Sá/Valadares (ambas em Monção) que aparecem referidas nas ditas inquirições em conjunto, levando-nos a contabilizar apenas uma referência. Apesar de não sabermos a qual delas se refere o relato, tão-pouco podemos afastar a hipótese de se referir a algum lugar limítrofe de ambas143.

Prosseguindo, detenhamo-nos na seguinte tabela:

Tabela 2

1258: Entre-Lima-e-Minho – Propriedades detidas pelo Hospital

      

135 Aguiã, Arcos – S. Paio, Gondoriz, Jolda – Madalena, Monte Redondo, Oliveira, Paçô, Padreiro – Salvador,

Padroso, Rio Frio, Sabadim, Santar, S. Jorge, Sistelo (ainda não emancipada de Cabreiro), Tabaçô, Távora – S. Vicente, Vilafonche (isto é, algures em Vilafonche, Parada e/ou Arcos – Salvador, que à data eram uma freguesia apenas, assim como actualmente, após o agrupamento de freguesias dos últimos anos) e Vilela.

136 Parte a norte do Lima dos concelhos de Viana do Castelo e Ponte de Lima, à exceção de Refóios do Lima,

então do julgado de Valdevez e alguns acertos posteriores. As referências aludidas reportam-se a Carreço (Viana do Castelo); Cepões, Estorãos e Sá (Ponte de Lima).

137 Esta terra englobava, sensivelmente, os atuais concelhos de Valença e Paredes de Coura. As freguesias onde

se percebe a presença do Hospital são as de Fontoura (Valença); Cristelo, Formariz e Várzea (hoje Parada), todas três no concelho de Paredes de Coura a que acresce “Doadi”, hoje sede do dito concelho.

138 Ceivães, Podame e Sá/Valadares, no concelho de Monção.

139 Apesar de tudo, note-se que em 1284 existe uma referência a um casal em posse dos hospitalários na

freguesia de Venade (atual c.º de Caminha) que é doado pelo rei aos povoadores da vila minhota, recebendo a Ordem outros bens em compensação no julgado de Valdevez. Assim, é de pensar que este casal terá ido parar às mãos dos freires após 1258, o que, por outro lado, pode não ser verídico. De qualquer das formas, o facto de já no reinado de D. Dinis (nas inquirições de 1288) não se registar menção alguma ao Hospital no concelho caminhense, não vem alterar o que dissemos. Ver MARQUES, José – “A póvoa dionisina de Caminha – 1284”,

Estudos Regionais, II Série, n.º 6, pp. 23 e 44.

140 Apesar de tudo, em pleno século XIV veremos que o couto de S. João de Lamas de Mouro é pertença do

Hospital, bem como a sua igreja. Vide DOMINGUES, José – Os Limites da Freguesia de Lamas de Mouro e os

Caminhos da (in)Justiça, p. 65.

141 Vide nota 135.

142 Na inquirição da freguesia de Sá (c.º de Ponte de Lima) refere-se o topónimo “Ovosina”. Este deverá

corresponder atualmente a Avozinha (Santa Comba), daí a incerteza da localização exacta do bem mencionado. Veja-se BAPTISTA, António José – Toponímia de Ponte de Lima. I – Levantamento Toponímico, p. 270. Recorde-se também que os limites entre freguesias foram variando ao longo dos tempos e desconhecemos se já estariam perfeitamente fixados por esta altura.

FREGUESIAS ATUAIS BENS QUANTIDADE Terra de Valdevez

Arcos (S. Paio) Herdade

(onde mora D. Vicente)

1 Gondoriz Herdades Mais de 1 Jolda (Madalena) Quinhões

(de herdade?)

2 Monte Redondo Herdades Mais de 1

Oliveira Casais 2 Paçô Herdade afosseirada

(de toda a freguesia?) Um terço

Padreiro (Salvador) Quintã de “Menio” Uma parte indeterminada Padroso Couto144 1

Rio Frio Casais145 2 (pelo menos) Sabadim Herdade foreira

(de um herdador)

Metade Santar Casais

(além de outra herdade)

3

(além da dita outra herdade) S. Jorge Casal Meio

Sistelo “Pobla que chamam

Sistelo”;

1 Tabaçô Herdade Indeterminada Távora (S. Vicente) Herdade Uma parte indeterminada

Vilafonche Herdade Indeterminada

Terra de Ponte

Carreço Casais146 1 e Meio

      

144 Não se faz menção a quem detém o senhorio deste couto. Porém, como em 1288 ele aparece sujeito à ordem

do Hospital, contabilizámo-lo também. Cf. Portvgaliae Monvmenta Historica. Inqvisitiones – Inquirições

Gerais de D. Dinis de 1288..., p. 254 ou os Anexos a esta dissertação.

145 Além destes casais, há referência a outros conseguidos indevidamente pelo Hospital e pelo Templo nesta

freguesia, a saber, “poblas et chantadorias et casas et vinas”. Portugaliae Monumenta Historica, Inquisitiones, p. 383.

146 Nesta freguesia, vêm expressos dois casais que foram de “Fernam Acha”, e que, em 1258, pertencem ao

Hospital. Um na íntegra, outro compartilhado com o mosteiro de Tibães (c.º de Braga). Ora, se este senhor, de quem eram os casais, foi quem os doou, então, podemos retroceder no tempo, bem antes talvez, da realização das inquirições de 1220. Isto, porque nestas, em São Tiago de Vila Chã vem dito que “omnes alii fugierunt

propter inimiciam de Fernam Acha” e, talvez incompleta, a informação repete-se em Entre-ambos-os-Rios:

“omnes alii fugierunt propter inimiciam”. Eram muitos, portanto, os que andavam fugidos por causa dos inimigos deste indivíduo. Na vizinha freguesia de Britelo, também se regista “omnes alii fugierunt propter

homicidium de Fernam Acha”, isto é, ou este senhor fora morto, ou tinha assassinado alguém, e, por causa disso,

os seus inimigos queriam vingar-se dele. Ver Portugaliae Monumenta Historica, Inquisitiones, pp. 37 (para as duas primeiras localidades) e 38 (para Britelo).

Ora, nas inquirições de 1220, este senhor figura como detentor do couto de Gondiães. Ver Portugaliae

Monumenta Historica, Inquisitiones, p. 22: “quia est cautum de Fernando Acha”. Como se depreende do

exposto, este fidalgo viveu, na primeira pessoa, os tempos conturbados que, desde finais do reinado de D. Sancho I se arrastarão até ao advento de D. Afonso III.

Como complemento, regista-se, nas inquirições de 1288, na freguesia de Brandara (c.º de Ponte de Lima) uma senhora, de nome “Maria Acha”, certamente sua parente. Aliás, no “Índice Onomástico”, no final da obra enunciada, vem acrescido o patronímico “Fernandes”, o que, sugere que esta senhora seria filha do dito “Fernam Acha”. Cf. Portvgaliae Monvmenta Historica. Inqvisitiones – Inquirições Gerais de D. Dinis de

FREGUESIAS ATUAIS BENS QUANTIDADE

Sá Propriedade indeterminada que parte com uma leira

reguenga

Indeterminada

Terra de Froião

“Doadi” (P. Coura) Herdade Indeterminada Fontoura Casais 3

Terra de Valadares

Podame Herdade foreira dos Tavarelas

Indeterminada Sá/Valadares Herdade foreira Indeterminada

À semelhança do que fizemos para as terras entre os rios Lima e Cávado, principiamos pelos bens que detetámos, a saber, um couto147, uma “pobla” (em Sistelo, então ainda parte de Cabreiro), doze casais e um grande número de herdades indefinidas. Tendo em conta que, na Idade Média o termo “herdade” abarcava todo o tipo de propriedade passível de ser herdado ou transmitido por herança148, salientamos desde logo o caráter vago e pouco preciso destes dados a nível de contabilização de bens149. Aliás, muitas destas herdades, oneradas com o pagamento de foros e fossadeira ao Rei, vindo parar às mãos do Hospital, deixavam de o fazer, pelo menos em favor do fisco régio. Certamente ancorados nos privilégios da Ordem, a partir do momento em que os freires entram na posse dos bens, estes “non fazem foro al

Rey”150. Este detalhe é uma constante nas inquirições de D. Afonso III, não fosse a sua

intenção primordial a identificação de tributos e bens do Rei e os abusos que o privava dos mesmos.

Seguindo este raciocínio, é de facto elevado o número de direitos sonegados, perpetrados pelos herdadores, que estavam sujeitos à solvência dos ditos, com a conivência do Hospital, mas também de fidalgos, outras instituições eclesiásticas e até de instituições concelhias151.

Por vezes, estes réditos devidos à Coroa são retidos pela própria Ordem. Através da compra de imóveis, além de ir contra as leis de desamortização, os freires livravam os que aí

      

147 Vide nota 144.

148 Vide FERNANDES, A. de Almeida – Toponímia de Ponte de Lima. II. EstudoToponímico, “Herdade” p.

129.

149 Isto, quando comparados com o minucioso e detalhado arrolamento da série Bens das Ordens, das

inquirições de 1220.

150 Portugaliae Monumenta Historica, Inquisitiones, p. 386. Esta expressão, aqui recolhida em Paçô, repete-se

em muitas outras freguesias.

151 Esta temática, para o julgado de Valdevez, nas inquirições de 1258, foi já abordada em dois estudos, que

visam, essencialmente, a nobreza e organizações eclesiásticas. As Ordens Militares, estão, por isso, incluídas. Ver REIS, António Matos – “Valdevez Medieval. Alguns aspectos da crise social do século XIII no julgado de Valdevez”, Terras de Valdevez, n.º 11, 1988, pp. 5-23, e também do mesmo autor, – “Um Julgado Medieval. Arcos de Valdevez no século XIII”, Estudos Regionais, n.º 21, pp. 27-66.

moravam, ou trabalhavam, do pagamento das prestações que os bens comprados, anteriormente pagavam ao fisco régio, ou então, recebiam-nas em seu benefício. Assim aconteceu em S. Vicente de Távora, onde o Hospital comprou parte de uma herdade, e, desde que o fez, “tole j. soldo de fossadeira al Rey cada ano et outro foro”152. Do mesmo modo, em Sá/Valadares, após a compra da herdade de “Ousenda Pinoiz”, todos os que aí habitam deixam de pagar qualquer tributo ou prestação ao rei e seus representantes153. Sirva de exemplo também o que aconteceu no julgado de Froião, em “Doadi”, onde “os freires do

Espital filarom erdade de Pedro Midiz, que era foreira del Rey”, deixando de fazer por tanto

foro ao Rei: “... et non fazem dela foro al Rey.”154 Situação análoga evidencia-se no mesmo julgado, em São Fins da Várzea155.

Todavia, se neste caso a Ordem entra na posse de determinado bem, privando assim o fisco régio de vários proventos, voltemos às situações em que, pura e simplesmente se referem herdadores (ou homens foreiros) alardeando algum tipo de relação com o Hospital, motivo pelo qual procedem à “escusa” de rendas e serviços.

Assim, através dos termos “trivodou se cun”156 ou “deu trivudo”157, pela locução “deu

renda... por seer per y enparada”158, “enplazou se cum”159, ou simplesmente “excusan se”160

torna-se perceptível o interesse dos não privilegiados em associar-se a um senhor poderoso como uma Ordem religiosa e militar, ou então, aceitar a sua proteção, gozando dos benefícios daí decorrentes161.

Posto isto, consideremos a tabela abaixo para determos um panorama de conjunto acerca destes abusos senhoriais em que o Hospital surge como agente ativo ou passivo:

Tabela 3

1258 – Abusos perpetrados pelo Hospital ou sob a sua alçada, a norte do Lima

      

152 Portugaliae Monumenta Historica, Inquisitiones, p. 391.

153 Aqui, deixam de “dar vida” ao mordomo régio, de pagar voz e coima e qualquer foro e eximem-se do serviço

da anúduva e da entroviscada. Portugaliae Monumenta Historica, Inquisitiones, p. 376.

154 Portugaliae Monumenta Historica, Inquisitiones, p.357-8. Esta paróquia corresponde à atual sede da

freguesia e concelho de Paredes de Coura, senão veja-se Portvgaliae Monvmenta Historica. Inqvisitiones –

Inquirições Gerais de D. Dinis de 1288..., p. 756, 2.ª coluna.

155 Portugaliae Monumenta Historica, Inquisitiones, p. 360. Hoje em dia corresponde a Parada, c.º de Paredes

de Coura.

156 Cepões: Portugaliae Monumenta Historica, Inquisitiones, p. 341. 157 Cristelo: Portugaliae Monumenta Historica, Inquisitiones, p. 358. 158 Arcos (S. Paio): Portugaliae Monumenta Historica, Inquisitiones, p. 387. 159 Vilela: Portugaliae Monumenta Historica, Inquisitiones, p. 388.

160 Aguiã e Ceivães: Portugaliae Monumenta Historica, Inquisitiones, pp. 381 e 376, respetivamente.

161 Caso de Jolda (Madalena), em que “os erdadores de Penelas enpara os o Espital que non fazem foro al Rey.”

FREGUESIA TIPO DE ABUSO INTERVENIENTES

Aguiã ou “Gueey” Escusa por razão não especificada 2 “erdadores”

Arcos (S. Paio) Escusa por pagamento de renda “Petrus Vermuiz Carrizo” Ceivães Escusa por razão não especificada “os desta collatione” 162 Cepões Escusa por pagamento de tributo “Salvator Laurentii” Cristelo Escusa por pagamento de tributo “Martinus Pelaiz”

Estorãos Escusa por pagamento de tributo “Redondo et Ousenda

Gunsalvi”; “Marina

Menendi” e “Petrus

Mouro”

Formariz Escusa por emprazamento “Johannes Filo”

Jolda (Madalena) Escusa por razão não especificada “erdadores de Penelas”163 Monte Redondo Escusa por morada em herdades da

Ordem e por tributo

“os desta collatione”164 Paçô A herdade comprada pela Ordem

não faz foro ao Rei #

Parada ou “Varzea” Escusa por pagamento de tributo “Aldonza Christovait” P. Coura ou “Doadi” Os freires “filharam” uma herdade #

Rio Frio A Ordem povoou vários terrenos e edificou prédios urbanos # Sá/Valadares A Ordem comprou herdade e, os

que aí moram não pagam diversos tributos ao Rei, como deviam

#

Santar O Hospital “ganhou” propriedades de que não dá foro ao Rei # Sistelo O Hospital recebeu uma póvoa e

não paga foro ao Rei # Távora (S. Vicente) A Ordem comprou herdade e não

faz foro ao Rei

Vilela

Escusa por razão não especificada Os “filos de Fernam

Lande... erdadores”

Escusa por emprazamento “Martinus Petri,

erdador”; “Fernandus

Petri”165e os “filios de Peayno”

Como vemos, em 1258 a norte do Lima, são significativas as referências a bens patrimoniais da Ordem de S. João de Jerusalém, estando quase todas elas conotadas com a ideia de abuso ou sonegação de direitos à Coroa, motivo pelo qual os inquiridos são compelidos a comunicá-las. Este panorama é ainda enriquecido por outras tantas referências a todo o tipo de artimanhas que, tendo os freires como cúmplices e parte interessada, eximem os herdadores de prestações e foros ou serviços devidos ao rei. Em contrapartida, e quase

      

162 Não só pelo Hospital, senão também, por cavaleiros e pelo mosteiro de Fiães. 163 Ver nota 161.

164 Também pelo Templo. Ver anexos, fr. de Monte Redondo. 165 Talvez irmãos?

como contra-senso em alguns casos são assinalados bens em plena posse do Hospital, especificamente casais, que “pectam as iij. vozes conoszudas, scilicet, omisio, et rouso et

sterco in boca” (fr. de Oliveira)166 e pagam as devidas fossadeiras ao rei, como é o caso de

Carreço167. É deveras curioso que em ambas localidades se paguem estes direitos régios enquanto que noutras tantas se procura, quase desesperadamente, a isenção dos mesmos.

Por fim, atentemos nos mapas 5 e 6, que consta no final deste capítulo, onde se representam as freguesias em que a presença hospitalária é registada pelos inquiridores.

Como vemos, o já enunciado predomínio de referências na terra de Valdevez, verifica- se de maneira mais acentuada nas freguesias ribeirinhas do Lima e do Vez, seu afluente, nomeadamente na parte final do seu curso. Na direção da nascente do Vez vão sobressaindo também as freguesias de Aguiã, Rio Frio, Gondoriz e pouco depois Sabadim e Vilela (onde já figura a ponte medieval168) e bem perto da Portela do Vez, deparamos com a “pobla” de Sistelo. O caso desta última localidade é muito interessante, visto que, criada por Rui Pais de Valdevez em terreno usurpado à Coroa, esta povoação é doada, não sabemos em que circunstâncias, ao Hospital pelos seus filhos, provavelmente como meio de impedirem que o Rei os espoliasse dela. Procedendo deste modo, a usurpação do seu antepassado seria melhor tolerada e aceite pela Coroa, sendo possível o seu usufruto por parte dos doadores, comummente a título vitalício. Lado a lado com a Portela do Vez, figura ainda o couto de Padroso169, onde da bacia hidrográfica do Lima passamos à do Minho.

Uma vez aí, em plena fronteira minhota, perto da sede da terra de Valadares (em Sá e Valadares, onde existe o topónimo Albergaria), deparamos com um pequeno núcleo de bens. Aqui, além de ter ganhado “erdade foreira” em Podame e de eximir os fregueses de Ceivães do foro devido ao Rei, juntamente com cavaleiros e o mosteiro de Fiães, vemos que o

      

166 Oliveira (c.º de Arcos de Valdevez): Portugaliae Monumenta Historica, Inquisitiones, p. 387. 167 Carreço (c.º de Viana do Castelo): Portugaliae Monumenta Historica, Inquisitiones, p. 328. 168 “Item, in Ponte...”, Portugaliae Monumenta Historica, Inquisitiones, p. 388.

169 Este couto suscita-nos algumas interrogações. “Sancta Maria de Pradaosso”, apesar de corresponder, quer

no nome quer no orago à atual freguesia de Nossa Senhora das Neves de Padroso, não deixa de nos parecer dúbia esta correspondência, sendo possível tratar-se da vizinha freguesia do Extremo, cujo orago é também Nossa Senhora. É também possível que ambas as freguesias estivessem integradas (pelo menos em parte) no dito couto. Pelo menos no relato da freguesia de Sto. André da Portela (vizinha de ambas as anteriores) vem expresso em 1258 “quomo parte pelo Couto da Portela de Vez”, o que nos permite inferir que será o tal de Padroso. Portugaliae Monumenta Historica, Inquisitiones, p. 385. Além disso, nas Memórias Paroquiais de 1758 é a freguesia de Extremo, e não Padroso, a que aparece ligada ao Hospital, nos seguintes termos: “Santa

Maria do Estremo de Malta da Portela de Vez... hé anexa à comenda de Tavora...” (1.ª coluna). E ainda: “Esta freguesia hé couto de Malta e tem privilegios que a izentam de varias couzas da Republica.” Cf. CAPELA, José

Viriato – As freguesias do Distrito de Viana do Castelo nas Memórias Paroquiais de 1758, p. 41. Atendendo a estes fatores, a nossa dúvida revela a sua pertinência.

Hospital tem interesse em aumentar a sua influência nesta região, pelo que “comparou a

erdade foreira de Ousenda Pinoiz”, em Sá/Valadares170.

Na terra de Froião, atuais concelhos de Valença e Paredes de Coura, surge, no mapa em causa (Mapa 4) uma espécie de “caminho” que, dos lados do couto de Padroso, no extremo noroeste do julgado de Valdevez, se dirige a Fontoura, onde o Hospital detinha 3 casais, número que, como vimos, a norte do Lima se mostra importante171.

Sublinhamos aqui a localização privilegiada desta última freguesia, em plena estrada procedente de Ponte de Lima em direcção a Valença-Tui, caminho de peregrinação jacobeia

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