• Nenhum resultado encontrado

3. DO DISCURSO À AÇÃO DOS AGENTES EDUCATIVOS: O QUE NOS REVELA O EFEITO

3.1 O plano do discurso

3.1.3 As orientações didáticas sobre a Provinha

Duas das perguntas do questionário direcionado às professoras participantes da pesquisa trataram acerca da divulgação e da orientação didática feitas por parte das supervisoras educacionais a partir dos resultados da Provinha. Essas questões foram as seguintes:

Há falhas no que se refere à forma de divulgação dos resultados da Provinha aos professores do segundo ano? Comente a respeito.

Há falhas no que se refere às orientações dadas a respeito de como devem ser aproveitados os resultados da Provinha? Comente a respeito.

(Questões 11 e 12 do questionário 2)

Nossa intenção era saber não apenas a opinião das professoras sobre a utilização dos resultados da prova, mas, principalmente, correlacionar essa opinião com o efeito retroativo dessa avaliação em suas salas de aula. Nesse sentido, o que pudemos perceber através dos depoimentos das professoras foi que, se o efeito retroativo da Provinha depender da orientação didática da supervisão, este estará ausente nas aulas de leitura. Vejamos as respostas à primeira dessas questões, a que trata a respeito das falhas no processo de divulgação dos resultados da Provinha:

Exemplo 11:

Sim, na maioria das vezes não temos informações dos resultados [sic], não acompanhamos a aplicação da provinha nem orientações sobre o objetivo dessa avaliação, a única coisa que recebemos depois da aplicação e correção é o caderno do aluno para trabalhar em sala de aula sem muitas informações.

Exemplo 12:

Sim. Os resultados da Provinha deveria [sic] ser discutido entre os professores do segundo ano.

(Resposta da P2 à 11ª questão do questionário 2)

As respostas acima nos levam a perceber que as duas professoras não consideram como divulgação dos resultados só a entrega da prova respondida, porque isso, segundo a P1, já é feito na rede de ensino pesquisada, porém, “sem muitas informações”. A resposta da P2 confirma essa visão de que a simples entrega a prova não basta, pois, segundo ela, “os resultados da Provinha deveria [sic] ser discutido”.

Entendemos que essa falta tanto da “discussão” citada pela P2, quanto das “informações dos resultados” apontada pela P1, dizem respeito, na verdade, à necessidade de uma divulgação de resultados que relacione o desempenho dos alunos na prova com os seus déficits de aprendizagem. Em outras palavras, parece que as professoras sentem falta de uma divulgação que as faça refletir sobre o que os alunos já sabem e o que eles precisam aprender, tal como é feito no Guia de Correção e

Interpretação dos Resultados, por exemplo, documento do Kit Provinha que classifica

em cinco níveis o desempenho do aluno de segundo ano.

Segundo esse guia, o aluno com menor nível, o nível 1, é o que acertou até cinco questões da prova e o de maior nível, o nível 5, é que acertou de 18 a 20 questões da Provinha. O documento também descreve as habilidades do aluno desenvolvidas em cada nível, assim como as que ele ainda precisa desenvolver e

junto à descrição dos níveis, existem considerações e sugestões de trabalho para que os alunos progridam ao longo do processo de aprendizagem. (INEP/DAEB, 2015, p.23)

Acreditamos que são às informações sobre a descrição das habilidades dos alunos, seguidas dessas sugestões de trabalho, a que as professoras se referem quando dizem haver falhas na divulgação dos resultados. Para elas, a ação de divulgar parece estar ligada a de fazer refletir sobre a tomada de decisões do professor, uma

tarefa que, segundo a P1, cabe às supervisoras cumprir. É isso que a P1 deixa claro na resposta da pergunta sobre as falhas nas orientações dadas a partir dos resultados da Provinha. Vejamos:

Exemplo 13:

Infelizmente há falhas, sendo a Provinha Brasil um instrumento de avaliação que sinaliza as dificuldades encontradas no 2º ano do ensino fundamental, sua importância para (...) um novo olhar na elaboração do planejamento é muito bem- vindo. Cabe à equipe promover momentos de reflexão para estabelecer estratégia ou plano de ação que vise à melhoria na aprendizagem dos alunos.

(Resposta da P1 à 12ª questão do questionário 2)

A resposta acima nos mostra que a P1 parece reconhecer o objetivo principal da Provinha que, segundo ela, é o de promover, a partir das habilidades que avalia, planejamentos didáticos cuja temática sejam as dificuldades de aprendizagem apontadas através das respostas dos alunos. Trata-se de uma visão que está em consonância com o objetivo oficial da Provinha que, como já mencionado neste estudo, visa a:

Avaliar o nível de alfabetização dos educandos nos anos iniciais do ensino fundamental e oferecer às redes de ensino um resultado da qualidade do ensino, prevenindo o diagnóstico tardio das dificuldades de aprendizagem. (BRASIL, PORTARIA NORMATIVA Nº 10 DE 24/04/2007)

Entendemos que para a P1 são nesses planejamentos didáticos em que se deve refletir sobre as dificuldades de aprendizagem dos alunos com vistas a “estabelecer estratégia ou plano de ação que vise a melhoria” dessas dificuldades. Vê- se que a P1 não chega a afirmar que a orientação sobre a Provinha é inexistente, em sua visão, ela é inadequada. Já a P2 afirma isso categoricamente quando diz que “Não há nenhuma orientação a respeito dos resultados”. Pensamos que a P2 afirma não haver orientação, ou porque não há durante o ano letivo nenhum momento dedicado à prática da orientação sobre resultados da Provinha, ou porque para ela só pode ser considerada orientação uma ação como a descrita pela P1, com “reflexão ou

estabelecimento de estratégias ou plano de ação”. Assim, não é que não haja orientação, o que parece é que ela não ocorre como a P2 acha que deveria ocorrer.

Ainda que a P2 não se refira explicitamente em nenhuma de suas respostas às responsáveis pelo processo de divulgação dos resultados da Provinha e orientação sobre os mesmos, a P1 o faz na resposta à segunda pergunta que aqui analisamos. É à equipe de supervisoras da rede municipal a quem ela faz referência quando, no exemplo 13, aqui mostrado, ela afirma que

Cabe à equipe promover momentos de reflexão para estabelecer estratégia ou plano de ação que vise a melhoria na aprendizagem dos alunos.

Sabemos disso porque, na rede municipal de ensino foco deste estudo, são as supervisoras as responsáveis pela Provinha, desde o momento de sua entrega pelos Correios até as supostas orientações sobre seus resultados. São também a essas profissionais que a P1 se refere, ainda que não explicitamente, quando responde a primeira das duas questões do questionário aqui analisadas. Voltemos a ela.

Segundo essa agente de ensino, as professoras de segundo ano não acompanham “a aplicação da Provinha” e nem têm “orientações sobre o objetivo dessa avaliação”, ações que, no contexto investigado, são executadas pela equipe de supervisão.

Ainda que essa questão não tenha indagado a esse respeito, já que questionou as professoras sobre as falhas no processo de divulgação dos resultados da Provinha, é importante analisarmos a partir dela que outras falhas foram verificadas pela professora. Na visão da P1, outras questões relativas à Provinha, além da divulgação de seus resultados, são importantes para que seu efeito retroativo ocorra. A respeito do acompanhamento das professoras de segundo ano na aplicação da Provinha, por exemplo, vejamos o que as professoras afirmaram, em trecho de discussão feita na ocasião do grupo focal:

Exemplo 14:

D1: Como a Provinha Brasil é aplicada pela secretaria (de educação), eu tive a oportunidade de aplicar em outras escolas um ano. Eu acho que influencia a pessoa que aplica... a gente já teve resultados negativos aqui que a gente atribuiu à pessoa que aplicou.

P2: É porque elas seguem a coisa rigorosa da prova, que não pode dar pista...

P1: É dizer: olha, preste atenção onde vai botar o X...Explicar bem direitinho...

Mediadora: E a familiaridade com a aplicadora ajuda?

P1: Eu acho também, sabe por quê? Porque se eu disser a meus alunos que amanhã vem outra pessoa, ninguém quer. (...) Eu acho que bom seria se fosse a professora... às vezes a questão diz “marque a primeira sílaba da palavra GALINHA” e se você não disser pausadamente GA...LI...NHA eles não vão saber. (...)

Percebe-se, na discussão transcrita acima, que as duas professoras concordam com a afirmação da D1 quando esta diz que a aplicadora da Provinha influencia nos resultados finais dessa avaliação. Para a P2, as aplicadoras influenciam negativamente no desempenho dos alunos porque seguem as regras da prova que, segundo ela, são “rigorosas”, já que não permitem dar “pistas” aos alunos que os ajude a assinalar a resposta certa. Trata-se de um modelo de aplicação proposto pelo Guia

de Aplicação, documento que compõe o kit Provinha e que, de fato, orienta acerca de

determinadas regras a serem seguidas, como a quantidade de vezes que deve ser lido o enunciado de uma questão, por exemplo.

O documento não traz, no entanto, em nenhum dos trechos que o compõem, alguma informação a respeito de quem deve aplicar a Provinha, apenas usa em sua redação a expressão professor(a)/aplicador(a) para se referir ao assunto. No entanto, isso diz muito sobre quem deve aplicá-la, segundo o documento: se considerarmos as funções que assume o sinal da barra inclinada ( / ) em nossa língua, afirmamos que o Guia de Aplicação da Provinha permite que seja um professor o responsável por aplicar a prova. Vejamos: sabemos que um dos significados da barra inclinada é o de inclusão, o de adicionar a um termo um outro de igual valor, vendo por esse prisma, o Guia de Aplicação ao usar a barra entre as palavras professor(a) e aplicador(a) sugere que, além de professor, este assuma também a função de aplicador da prova. A barra também

pode ter sido usada para assumir outro significado: o de disjunção e, nesse caso, a intenção foi a de separar as duas funções e sugerir que a prova seja aplicada ou pelo professor da turma, ou por um outro aplicador.

O fato é que, nas duas situações de uso desse sinal de pontuação, o guia abre espaço para que a Provinha seja aplicada pelo professor dos alunos para os quais essa avaliação é dirigida. Aliás, ao usar a barra no primeiro sentido aqui descrito, o de inclusão, o Guia da Provinha considera, inclusive, que a prova não seja aplicada por outro profissional que não seja o próprio professor da turma de segundo ano.

Essa discussão aponta para uma outra consideração feita a partir do trecho do grupo focal mostrado acima: a de que, na visão das professoras, a equipe de supervisão parece tirar delas um direito que as assiste e que é assegurado por um documento oficial do MEC, o direito de aplicar a Provinha com seus alunos. Eis aí mais uma falha que as agentes docentes do nosso estudo atribuem às supervisoras educacionais com as quais trabalham. A essa falha da supervisão apontada pelas docentes, soma-se outra, a de que estas não recebem “orientações sobre o objetivo dessa avaliação”. De fato, a P1 parece confirmar tal afirmação em reposta a outras duas questões do mesmo questionário que indaga sobre o que as professoras sabem a respeito da Provinha Brasil e sobre seu kit e através de quem ou de que esses conhecimentos foram adquiridos:

Exemplo 15:

(...) Com relação às informações e orientações sobre a prova [sic] Brasil adquiri através de estudos e pesquisa tentando compreender a finalidade dessa avaliação (...). Sim, conheço (o kit) porque faço parte de uma equipe multiprofissional em outro município e necessito de tais conhecimentos para orientar os professores como também subsidiá- los nas atividades pertinentes aos níveis de conhecimentos dos alunos. (P1 em resposta às questões 7 e 8 do questionário 2)

Na afirmação da P1, fica claro que ela adquiriu as informações que detém sobre a Provinha de forma autônoma, sem a intervenção das supervisoras, cuja função ela procura deixar bem claro nessa sua resposta ao questionário. Segundo a docente, é

papel da equipe multiprofissional “orientar os professores como também subsidiá-los” na elaboração de atividades adequadas aos conhecimentos dos alunos. Trata-se de uma equipe geralmente formada por supervisores, orientadores e psicólogos educacionais, mas que na rede municipal na qual nosso estudo se realiza, somente as supervisoras estão diretamente ligadas às orientações das ações docentes. Por isso dizermos que, também nessa resposta, a P1 atribui à equipe de supervisão mais uma falha: a falta de informação sobre a Provinha aos professores.

A P2, no entanto, parece não concordar com essa opinião, ao menos é o que pudemos perceber também a partir de sua resposta à sétima pergunta do questionário:

Exemplo 16:

A Provinha Brasil é um instrumento de avaliação. Os conhecimentos foram dado [sic] pelas supervisoras.

(P2 em resposta à 7ª pergunta do questionário 2)

Vemos que o que a P2 afirma sobre a forma como adquiriu seus conhecimentos sobre a Provinha diverge daquela citada pela P1. Segundo a P2, foram as supervisoras que lhe passaram tais conhecimentos e que não foram fruto de pesquisas individualizadas. No entanto, importa mencionar que as duas professoras agentes desta pesquisa receberam orientação didática das mesmas supervisoras, tanto em anos anteriores, quanto no ano e que se deu a pesquisa.

Diante disso, a interpretação que fazemos dessa dissonância entre os discursos das duas docentes apoia-se na teoria das representações sociais divulgadas por autores como Moscovici (2013), a qual defende que o comportamento dos sujeitos é influenciado pelas ideias, conceitos e representações que eles têm do mundo à sua volta. Nessa perspectiva, acreditamos que não é que a P1 desconsidere totalmente as informações que as supervisoras difundem sobre a Provinha, apenas ela parece não legitimá-las, pois desaprova as práticas dessas profissionais, uma vez que não coincidem com as dela, que também é supervisora educacional, conforme consta nas informações passadas em seu questionário. Nesse sentido, a representação que a P1

teria das supervisoras é a de que elas seriam profissionais que não fariam valer sua “autoridade”, uma vez que não teriam as mesmas atitudes que a P1 em situações de orientação didática.

Assim, nos utilizando aqui da teoria de Abric (1994, apud ORNELLAS, 2013), a função desempenhada pela representação social que a P1 tem das supervisoras é a

justificatória, pois seria através dela que poderíamos justificar o fato de a P1 não

considerar como válidas as informações a respeito da Provinha dadas pelas supervisoras.

Faz-se necessário, portanto, contrapor o depoimento da P1, bem como o da P2, com o das supervisoras educacionais a quem elas fazem referência. Nossa intenção é fazer com que todas as falhas aqui mencionadas pelas professoras e atribuídas às ações das supervisoras relacionadas à Provinha (informações sobre seus objetivos, sua aplicação, divulgação e orientações a partir de seus resultados), sejam contrapostas com o teor dos depoimentos das supervisoras. Pensamos que, ao menos no plano do discurso, as professoras parecem atribuir às supervisoras uma possível ausência de efeito retroativo da Provinha em suas ações de sala de aula com o ensino da leitura. Sim, porque se são as supervisoras as profissionais responsáveis pela Provinha Brasil no município, quanto mais etapas dessa avaliação apresentarem falhas, mais a “culpa” por uma possível ausência de efeito retroativo recairá sobre elas.

Vejamos o que dizem essas supervisoras (S1 e S2) sobre as primeiras etapas da Provinha, sua aplicação e divulgação:

Exemplo 16:

(...) (a prova) é aplicada pela equipe de supervisores da Secretaria de Educação, para acelerar o processo os supervisores são auxiliados na aplicação pelos diretores das escolas da rede (...). Após a correção, é feito um quadro comparativo dos resultados atuais com os do ano anterior. Esses resultados são amplamente divulgados em reunião com a equipe de supervisores e professores ou distribuídos por escola (professor da turma). (...) esses fazem a análise com os alunos, discutindo os acertos e corrigindo os erros.

Exemplo 17:

Essa aplicação é realizada por nós técnicos da educação (supervisores). (...) A Secretária de Educação recebe os resultados e repassa em reunião pedagógica para os professores.

(S2, em resposta à primeira pergunta do questionário 1)

A primeira consideração que fazemos a respeito da resposta da S1 é que, para ela, o processo de divulgação dos resultados da Provinha envolve desde as professores da rede municipal, passando pelos que são responsáveis pelas turmas de segundo ano, até chegar aos alunos a quem a prova é dirigida. A segunda consideração que fazemos é a de que a supervisora confirma o fato de que diretores das escolas auxiliam na aplicação das provas, mas deixa claro, assim como a S2, que ela não é aplicada por professores, tal como mencionado pelas docentes participantes deste estudo. Não há, no entanto, nenhuma referência dessas docentes a duas das informações trazidas pelas supervisoras: a divulgação do quadro comparativo sobre os resultados da Provinha atuais com os do ano anterior e o fato dessa divulgação ser feita pela secretária de educação e não pela supervisão.

As respostas das supervisoras também não confirmam o que é dito pelas professoras de que “na maioria das vezes” não há informações sobre os resultados da Provinha ou que estes deveriam “ser discutidos entre os professores do segundo ano”. Já no que diz respeito à aplicação da prova, há convergência entre as respostas das participantes deste estudo, pois as supervisoras confirmam que as provas realmente não são aplicadas por professores.

Vejamos o que nos mostraram as respostas das supervisoras sobre uma etapa da Provinha que, segundo as professoras, também apresenta falhas – a orientação didática a partir dos resultados da prova.

Exemplo 18:

A partir dos resultados alcançados no teste 1 e teste 2, a equipe de

supervisores distribuem [sic] as provinhas com os professores para que eles possam analisar os acertos e erros com seus alunos. E ainda pensando em melhorar o nível de leitura, os professores da rede, elaboram projetos de incentivo a [sic] leitura (...).

(S1, em resposta à segunda pergunta do questionário 1) Exemplo 19:

(...) sempre analiso junto aos professores que fazem parte do meu grupo (polo) as questões das provas e os resultados dos alunos e devolvo a eles as provas para eles reaplicarem com seus alunos. (...) esses resultados são refletidos nos encontros de planejamento e discutidos [sic] como realizar o momento de reaproveitamento das provas com os alunos para facilitar a familiaridade com as questões e ajudar no processo de leitura de vários gêneros textuais e literários presentes na prova.

(...) (a informação) mais relevante presente no guia de aplicação, que vem sempre abaixo de cada questão informando qual habilidade é cobrada do aluno (...). Esse ponto é discutido para que o professor tenha ciência sobre quais habilidades são exigidas para o 2º ano.

(S2, em resposta à segunda pergunta do questionário 1)

A resposta da S1 parece ir ao encontro da resposta das professoras, quando estas afirmam que não há uma orientação que possa ser caracterizada como um momento de reflexão dos erros e acertos e de elaboração de estratégias de ensino que se baseiem nesses resultados, ao menos não por parte das supervisoras. O que a S1 parece deixar claro em sua resposta é que a função da supervisão nessa etapa do trabalho com a Provinha Brasil é somente a de distribuir “as provinhas com os professores para que eles possam analisar os acertos e erros com seus alunos” e que, a partir daí, também fique a cargo desses professores a elaboração de “projetos de incentivo” à leitura. A supervisão, nesse sentido, vê o professor como sendo o principal responsável pela utilização em situações de ensino do diagnóstico feito pela Provinha, o que acaba por confirmar a opinião das professoras sobre a atuação das supervisoras com a Provinha.

Convém analisar também a resposta dada pela S2 que difere daquilo que disseram as professoras, bem como do que nos afirmou a S1. Enumeraremos abaixo as ações que a S2 mencionou executar no planejamento com professores e que se

referem ao processo de aproveitamento dos resultados da Provinha. Explicitamos também os objetivos que a supervisora mostrou pretender alcançar com duas dessas ações:

1. Análise junto aos professores das questões da prova e dos resultados que os alunos apresentaram nesta;

2. Discussão com os professores sobre o momento de reaproveitamento (reaplicação) das provas com os alunos;

3. Discussão das habilidades exploradas nas questões da prova com o objetivo de que as professoras saibam o que é exigido para o segundo ano

4. Devolução para os professores, das provas respondidas para serem reaplicadas com os alunos com o objetivo de familiarizá-los com as questões e os gêneros textuais que elas exploram.

Considerando quantidade de ações que a S2 diz realizar nos planejamentos sobre a Provinha Brasil, pensamos que talvez não fosse a ela que a P2 estivesse se referindo ao afirmar que “Não há nenhuma orientação a respeito dos resultados” da Provinha. (P2). Contudo, em nenhuma das ações acima descritas há menção ao que a P1 demonstrou considerar fundamental à etapa de orientação didática a partir dos resultados da Provinha: a “reflexão para estabelecer estratégia ou plano de ação que vise a melhoria na aprendizagem dos alunos”. (P1). A análise que a S2 afirma realizar sobre as questões da prova não parece ter como objetivo o de avaliar o que os alunos precisam adquirir em termos de habilidades, ao menos não no sentido de essas deficiências servirem como norte para o estabelecimento de um “plano de ação” para a aprendizagem. Nos pareceu que tal análise visa a um reconhecimento metodológico da prova, metodologia essa com a qual os alunos precisam se familiarizar até o momento da segunda versão da Provinha, que ocorre ao final do ano letivo. Essa familiaridade parece se referir não apenas à forma com que os conteúdos de leitura são explorados,