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As origens do interacionismo

5 O INTERACIONISMO SIMBÓLICO

5.2 A perspectiva da interação simbólica

5.2.1 As origens do interacionismo

 

Esta corrente de pensamento tem um especial interesse pela ação social que conduz às transformações e também foi chamada de “filosofia da intervenção social”. Segundo o Interacionismo Simbólico, a conduta humana é direcionada por objetivos, sentimentos e emoções (GOFFMAN, 2009).

Ela trouxe explicitamente a interação humana para o centro da reflexão sociológica. Originada na Escola de Chicago (EUA), é uma abordagem consideravelmente importante na microssociologia e na psicologia social. Alguns pesquisadores importantes do Interacionismo Simbólico obtiveram reconhecimento internacional, como Erving Goffman, Anselm Strauss, Herbert Blumer (COULON, 1995).

A identidade desta perspectiva esteve frequentemente vinculada aos seus focos privilegiados de análise – as situações de interação social e seus

desdobramentos. Os estudos nesta abordagem estão direcionados ao âmbito microssociológico, contrários, pois, ao fluxo da macrossociologia, como as ideias de organização, estrutura social, função, sistema social (NUNES, 2005).

O Interacionismo Simbólico, por vezes, faz uso de metáforas ou modelos para explicar ou interpretar as ações e interações. A metáfora utilizada pode dizer algo sobre a realidade – a vida social (drama), as representações/papéis, indivíduos (atores), ambientes (palco ou bastidores), entre outras. Analisando autores interacionistas como Mead, Dewey, Goffman, Cooley, há uma observação no uso constante destas metáforas e analogias (NUNES, 2005).

Um dos principais precursores desta abordagem foi George Herbert Mead, estudioso da Escola de Chicago. Mead introduziu a noção de self como “realização da comunicação”, a ideia do EU como fonte da identidade. Em suas investigações sobre os processos de construção social do eu, reservou um lugar para a pluralidade. Segundo ele, os tipos de relações entre as pessoas variam de acordo com os diferentes indivíduos com que estas pessoas se relacionam. O indivíduo age de uma maneira com uma pessoa e de outra maneira com outra. Há ainda partes do EU que existem apenas em relação ao próprio indivíduo. Existe uma grande variedade e uma multiplicidade de EUS, de acordo com diferentes situações sociais (MEAD, 1976).

Mead também descreveu outros componentes envolvidos na interação humana, como a mente. A mente não é uma única entidade, mas um processo através do qual somos capazes de imaginar alternativas, ensaiar possíveis papéis, antecipar as consequências de uma escolha e imaginar como os outros reagirão a nós, tentando, assim, escolher uma ação, comportamento ou caminho a seguir.

Para ele, o self não é um autossentimento que se deve presumir como resultado de imagens refletidas de como o indivíduo é reconhecido pelos outros: ele emerge da comunicação significante com as outras pessoas. O self surge na conduta, quando um indivíduo se torna um objeto social para si mesmo. O desenvolvimento do self é gradual, a partir da infância, e se desenvolve ao longo da existência de cada um. É inegável a forte influência de Mead no quadro conceitual do Interacionismo Simbólico (MEAD, 1976).

O termo que acabou por caracterizar a corrente, na verdade, foi criado por Herbert Blumer em 1930, estudioso e intérprete de Mead, de quem sofreu forte

influência (BLUMER, 1969). Escreveu o livro Symbolic Interactionism. Blumer sintetizou as três premissas básicas desta perspectiva:

– A interpretação do comportamento humano deve incorporar a perspectiva do ator e não apenas se basear na perspectiva do observador;

– deve-se conferir prioridade epistemológica à interação social; a natureza do self e da organização social é emergente e derivada do processo social de interação;

– o self, ou as respostas reflexivas das pessoas a si mesmas, serve para conectar “processos societais” (qualquer forma de organização presentes na sociedade) às interações sociais dessas pessoas.

Blumer pôs em evidência as principais perspectivas dessa abordagem: as pessoas agem em relação às coisas baseando-se no significado que tenham para elas. Esses significados são resultantes da sua interação social e modificados por sua interpretação. Para ele, a pessoa que percebe a vida social em atividade a grande distância tem um conhecimento limitado dela. Porém, a pessoa que participa da vida social a conhecerá profundamente.

Ainda para Blumer, esquemas metodológicos de pesquisa que não encorajam ou permitem que isso aconteça pecam no princípio fundamental de respeitar a natureza do mundo subjetivo que cercam o homem, como acontece com os modelos puramente quantitativos, os quais critica enfaticamente (NUNES, 2005).

Outro nome de expressão do Interacionismo Simbólico foi Charles Cooley, o qual contribuiu com um conceito que se revelou fundamental para o desenvolvimento da abordagem: o “eu espelho”. Observou que o indivíduo tomava a si mesmo como objeto, através dos olhos dos outros, isto é, por meio das interpretações daqueles com quem interagiam. O aspecto simbólico da interação mostra-se, aqui, em toda sua densidade (COOLEY, 1908).

Peter Berger é outro importante teórico do Interacionismo Simbólico, autor do livro A construção Social da Realidade, junto com Thomas Luckmann. Ainda mencionaram terem sido influenciados por Mead e a escola simbólico-interacionista (BERGER; LUCKMANN, 1966).

Destacam-se ainda Howard Becker e Erving Goffman, ambos com importantes contribuições ao estudo do desvio, saúde mental, criminologia e pessoas estigmatizadas.

Os interacionistas rejeitam a ideia de que o conhecimento deve ter uma base fixa, independente da experiência de vida do indivíduo. Rejeitam a visão do sujeito como apenas “espectador” e ainda a dualidade cartesiana entre corpo e mente. Segundo eles, as pessoas interpretam o significado das coisas, eventos e ações, e nada está pronto no mundo, como sugere uma visão construcionista, mas tudo emerge e é construído a partir da interação social (GOFFMAN, 2009).

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