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3.2 HIPÓTESES E MODELOS ECONOMÉTRICOS

3.2.2 As Partes Interessadas como Determinantes da Divulgação de Informações ao CA

Neste tópico são apresentadas as hipóteses que procuram identificar efeitos das partes envolvidas nas relações abrangidas na governança corporativa, sobre a divulgação de informações ao CA, sendo esta sujeita às dinâmicas de poder na organização, tal como já identificado em outras ferramentas de GC. Conforme discutido, as diferentes formas de acesso às informações da contabilidade de gestão por estas partes são fatores que influenciam o nível de assimetria informacional na relação. Dessa forma, hipóteses para investigar influências de acionistas, conselheiros e executivos são formuladas.

A participação acionária é identificada como um fator determinante da GC nas empresas. Diferentes vertentes de análise relacionam a concentração acionária, a atuação dos investidores institucionais, como os fundos de pensão, e os investidores estrangeiros (BEBCHUK; WEISBACH, 2010; BECHT; BOLTON; RÖELL, 2002; GILLAN, 2006; SHLEIFER; VISHNY, 1997; SILVEIRA, 2010). Altos níveis de concentração acionária, indicando a existência de um controlador ou investidores influentes estão associados a alterações em outras ferramentas de governança corporativa, assim como na gestão e no desempenho das organizações.

A literatura indica, dentre outros resultados, que a participação de acionistas na empresa pode reduzir os problemas de assimetria informacional e, por consequência, de monitoramento sobre os executivos (MARQUEZAN; DIEHL; ALBERTON, 2012; SHLEIFER; VISHNY, 1996), melhorar o desempenho (HENRY, 2010; KRIVOGORSKY, 2006) e reduzir os níveis de expropriação (BURKART; PANUNZI, 2006), comportamento relacionado ao risco moral. Considerando o autointeresse discutido na Teoria de Agência, há expectativa de incremento nos níveis de monitoramento sobre os executivos e de maior pressão sobre conselheiros, na presença de investidores com maior poder.

No entanto, tais resultados não são unanimidade. A atuação de acionistas no conselho de empresas familiares foi associada à redução dos níveis de controle (JAGGI; LEUNG; GUL, 2009), entrincheiramento do principal executivo, evitando decisões mais arriscadas (KIM; LU, 2011) e iniciativas da gestão (BURKART; PANUNZI, 2006).

Devido à diversidade de resultados empíricos, busca-se a formulação da hipótese relacionada à expectativa teórica. Por ela, supõe-se que o autointeresse por melhores desempenhos da empresa tende a direcionar os acionistas com maior influência a incrementar os níveis de exigência sobre os conselheiros. Como resposta, conselheiros podem utilizar maiores informações sobre os executivos, resultando na seguinte hipótese:

H2a: O nível de influência dos acionistas está positivamente relacionado ao nível de divulgação de informações da contabilidade de gestão ao conselho de administração.

Conselheiros

Dentre as características investigadas como influência positiva na governança corporativa, está a participação de conselheiros independentes (COLES; HESTERLY, 2000; KRIVOGORSKY, 2006; LINCK; NETTER; YANG, 2008), tanto para melhores desempenhos organizacionais quanto para maior monitoramento sobre a gestão, por maiores níveis de

controle sobre o poder dos executivos. Uma das explicações identificadas é que conselhos mais independentes ao principal executivo são mais propensos a solicitar novos sinais (informações) sobre as habilidades desse para avaliá-lo, devido a terem menores custos relacionados às demais formas de relacionamento que um conselheiro não-independente possui, somado ao fato de serem menos informados sobre a empresa, necessitando de mais informações para decidirem sobre questões estratégicas (ADAMS; HERMALIN; WEISBACH, 2010).

Ainda, Weisbach (1988) identificou que a substituição do principal executivo é sensível à interação entre o nível de informação sobre o desempenho (contábil e retornos de mercado), disponível ao conselho, e a participação de conselheiros externos, reforçando a percepção de poder desses sobre os executivos. Nesse sentido, espera-se que o papel de controle do conselheiro independente e sua distância em relação às atividades da companhia o façam solicitar maior detalhamento das informações para que possa atuar no CA, vinculado à premissa de que estes conselheiros dediquem maior tempo a monitorar e avaliar os executivos (FENG; NANDY; TIAN, 2015), reduzindo níveis de assimetria de informações.

Outro elemento, a experiência dos conselheiros pode influenciar a forma como contribuem para empresa (NEVILLE, 2011). Adams, Hermalin e Weisbach (2010) destacam que o principal executivo pode perceber a presença de um conselheiro experiente como maior capacidade de monitoramento de suas ações, pela experiência em identificar eventos em outras empresas, atuando pelo melhor interesse do principal. A hipótese desta discussão é assim descrita:

H2b: O nível de influência dos conselheiros está positivamente relacionado ao nível de divulgação de informações da contabilidade de gestão ao conselho de administração.

Executivos

Evidências indicam que executivos mais influentes podem reduzir o nível de GC da empresa (COLES; DANIEL; NAVEEN, 2008; COLES; HESTERLY, 2000; LINCK; NETTER; YANG, 2008). Além da participação acionária, há outros fatores determinantes da sua influência já identificados na literatura, como idade (BEBCHUCK, COHEN; WANG, 2014; HE, 2008; KABIR; MINHAT, 2014) e outras relações com a empresa, incluindo o tempo no mandato (BEBCHUCK, COHEN; WANG, 2014; HÜTTENBRINK et al., 2014; KABIR; MINHAT, 2014) e a dualidade de cargos, atuando como diretor-presidente e na presidência do conselho de administração (ASHBAUGH-SKAIFE; COLLINS; LAFOND, 2006; KABIR; MINHAT, 2014), dentre outros fatores. Ainda, a participação de executivos no conselho de

administração reduz a vigilância sobre as ações do CEO, visto que aqueles possuem uma relação de emprego subordinada a esse (PATTON; BAKER, 1987).

Há de se considerar o interesse do executivo em dois sentidos. Conforme a literatura relativa à Teoria de Agência, seu comportamento estaria relacionado a maiores níveis de assimetria informacional (JENSEN; MECKLING, 1976). No entanto, a literatura sobre contabilidade de gestão indica que os executivos devem utilizar os SCG no melhor interesse dos acionistas (SIMONS, 1995). Caso utilize para reduzir o nível de assimetria, este seria um custo de agência promovido pelo agente para promover garantias ao principal (JENSEN; MECKLING, 1976), reduzindo outros custos de monitoramento, bem como cumprindo a expectativa de utilização dos controles em favor do principal, atendendo tanto à literatura da Teoria de Agência quanto de contabilidade de gestão.

Entretanto, sobre a direção esperada para essa relação, há de se considerar dois elementos. Primeiramente, executivos de empresas com melhores desempenhos em relação a períodos passados podem favorecer a divulgação de informações ao CA, visto que pressupõe uma avaliação positiva pelos conselheiros. Ou, no sentido contrário, podem reter informações quando os níveis de desempenho da empresa estiverem relacionados a fatores exógenos. Ainda, em empresas com queda de desempenho, avaliado pelo lucro ou pela precificação de mercado, executivos podem responder ao conselho com a divulgação de informações da contabilidade de gestão, apresentando medidas mais sensíveis aos seus esforços (LAMBERT, 2007). Assim, comportamentos diferentes no desempenho das empresas podem influenciar essa relação e serão tratados nos testes, por segregação da amostra em relação à melhoria ou redução do desempenho. A hipótese desta discussão é assim descrita:

H2c: O nível de influência dos executivos está negativamente relacionado ao nível de divulgação de informações da contabilidade de gestão ao conselho de administração.

Assim, considerando as três hipóteses desse conjunto, o seguinte modelo econométrico será utilizado para os testes estatísticos:

= + + + +

+

[2]

onde:

é a constante do modelo;

é o nível de divulgação de informações da contabilidade de gestão aos conselheiros da empresa i no tempo t, representado por diferentes variáveis segundo os fatores identificados na pesquisa;

representa diferentes variáveis relacionadas a características dos acionistas que reflitam potencial influência nas relações de poder da empresa i no tempo t;

representa diferentes variáveis relacionadas a características dos conselheiros que reflitam potencial influência nas relações de poder da empresa i no tempo t;

representa diferentes variáveis sobre características dos executivos relacionadas à sua influência na empresa i no tempo t;

são as variáveis de controle utilizadas no modelo; é o termo dos erros do modelo da empresa i no tempo t.

Cabe reforçar que as variáveis DIVULG, INFLACIO, INFLCA e INFLEXEC serão desdobradas em conformidade com elementos descritos na metodologia do trabalho, em que diferentes agrupamentos de informações da contabilidade de gestão serão utilizados, assim como diferentes características representativas da influência de acionistas, conselheiros e executivos.

O conjunto de hipóteses de H2 será testado estatisticamente analisado em uma mesma equação, procurando reforçar relações identificadas ou perceber efeitos compensatórios ou substitutivos entre as partes envolvidas. A Figura 10 ilustra o modelo conceitual da tese e as hipóteses discutidas neste capítulo.

Figura 10 – Modelo conceitual da tese e expectativas das hipóteses

Fonte: Elaborado pelo autor.

A ilustração apresentada na Figura 10 une o modelo completo da tese com as hipóteses a serem testadas e seus direcionamentos esperados. Um resumo delas é apresentado no Quadro 3.

Quadro 3 – Resumo das hipóteses de pesquisa

Tese O sistema de controle de gestão, em particular pelas informações geradas pela contabilidade de gestão, tem papel de ferramenta de governança corporativa, ao reduzir a assimetria informacional entre executivos e conselheiros

H1 O nível de divulgação de informações da contabilidade de gestão aos conselheiros está positivamente relacionado ao desempenho organizacional. positivo Linear H2a O nível de influência dos acionistas está positivamente relacionado ao nível de divulgação de informações da contabilidade de gestão ao conselho de administração. positivo Linear H2b O nível de influência dos conselheiros está positivamente relacionado ao nível de divulgação de informações da contabilidade de gestão ao conselho de administração. positivo Linear H2c O nível de influência dos executivos está negativamente relacionado ao nível de divulgação de informações da contabilidade de gestão ao conselho de administração. negativo Linear

Fonte: Elaborado pelo autor.

Para a execução da pesquisa, foram desenhados os procedimentos metodológicos de coleta e análise dos dados, descritos nos próximos dois capítulos. As variáveis discutidas e nominadas nas hipóteses apresentadas são detalhadas, indicando a forma de obtenção das informações. Também são apresentadas as definições da amostra dos mecanismos de tratamento e análise dos dados.

4 METODOLOGIA

Neste capítulo são apresentados os passos metodológicos para execução da pesquisa. As escolhas realizadas aqui têm como norte, principalmente, as discussões de Creswell (2010), tanto para classificação da pesquisa quanto aos cuidados na execução das etapas. As questões relativas a ferramentas estatísticas envolvem, principalmente, Hair et al. (2009), Greene (2003) e Gujarati (2006).