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As partes mínimas de um slide: Estrutura Básica

As bases teóricas e os conceitos relacionados

3.1 O MODELO MULTICAMADAS DE BATEMAN

3.1.1 As partes mínimas de um slide: Estrutura Básica

Uma das etapas iniciais e preparatórias para a análise de um documento multimodal, qualquer que seja o enfoque escolhido, é a decomposição visual e apreensão sistemática de todas as partes que compõem as suas páginas e que configuram a sua camada básica. Na nossa investigação em particular, esse nível de análise foi útil para percebermos a complexidade de um PowerPoint Educativo em termos de suas “peças” constitutivas – da mais singela à mais relevante – que, de forma integrada e cooperativa, fazem mover a engrenagem que realiza o projeto didático do professor como um todo, incluindo aí os objetivos que ele almeja alcançar e as competências e conhecimento que deseja ver construídos pelos seus alunos.

A análise nesse nível deve garantir que tudo o que pode ser visto numa página multimodal, por exemplo, títulos de seções, notas, números de página, logomarcas, setas, fotos, foto-legendas etc., tenha uma unidade básica vinculada na estrutura básica do documento. Uma recomendação útil é que as unidades básicas sejam identificadas apenas com um número sequencial único, evitando-se, assim, utilizar as denominações tradicionais de alguns elementos familiares, como, por exemplo, foto-legenda, que remete a outros níveis de abstração. Só interessam, nessa etapa específica, as informações visualmente apreendidas do contato direto da visão com a página. Além disso, o rótulo único vai facilitar as referências, especialmente no caso de corpus muito amplo ou de estudos quantitativos, ou as classificações cruzadas entre as diversas camadas de análise.

Daí que uma questão importante nesse modelo envolve a definição dos parâmetros que devem ser considerados na divisão de um documento/página em partes. A princípio, podem surgir dúvidas quanto ao “tamanho” das unidades básicas, principalmente porque, na multimodalidade, trabalhamos com elementos de naturezas bastante diferentes (por exemplo, figuras, tabelas com suas colunas e linhas, itens em uma lista de marcadores, as opções em um menu etc.). Qual seria, então, a extensão da segmentação do material linguístico (palavras, frases, períodos, parágrafos etc.)? Quais os limites de decomposição do material visual da página?

Para responder a essas questões, Bateman (2008) introduz em seu modelo o conceito de grau de granularidade, estabelecendo que as unidades básicas representam “o mais alto grau de granularidade possível que uma unidade de análise pode apresentar”. A segmentação é balizada por um limite mínimo de preservação do conteúdo atrelado a essas partes básicas, quando for o caso. Também não há necessidade de segmentação maior se a parte resultante perde sua autonomia de realização nas páginas do documento, ou seja, não tem vida própria fora da unidade visual a que pertence. Vem daí que uma unidade básica não pode mais ser quebrada em segmentos menores, configurando-se como a unidade mínima de análise. As unidades de análise nos demais níveis de descrição (unidades de layout, segmentos retóricos e elementos de navegação), portanto, podem ter graus de granularidade igual ou menor do que as unidades básicas. Assim, resta-lhes a possibilidade de serem elementos iguais ou mais complexos que as unidades da camada básica, nesse último caso, realizando-se como um agrupamento ou combinação de duas ou mais unidades básicas, como podemos inferir no diagrama já apresentado na Figura 13 (seção 3.1, p. 135).

Essa etapa é relativamente simples, porque consiste apenas em preparar uma lista de todas as unidades básicas presentes na unidade visual de análise, por exemplo, um slide de uma APP. Mas é, ao mesmo tempo, fundamental, porque é a partir das unidades básicas que as análises posteriores vão poder construir as principais estruturas do documento, agrupando-as, definindo funções e permitindo interpretações. Para ilustrar o resultado de uma análise nesse nível, tomamos como base o slide 17 da APP1,

Exemplo 2 - Excerto da APP1, correspondente ao slide 17

O Quadro 4, a seguir, apresenta um extrato da Estrutura Básica desse

slide que oferece informações adicionais sobre o tipo do elemento apreendido

(se texto verbal, ícone, fotografia, símbolo, entre outros) e uma breve descrição para facilitar a identificação na página sob análise.

Quadro 4 - Extrato das Unidades Básicas do slide 17, APP1

Identificação Tipo de material Descrição da unidade

U001 C caixa de texto, sombreamento azul

U002 I triângulo isósceles apontado para a esquerda

U003 T Gasolina no Brasil

U004 L linha vertical

U005 L linha vertical

U006 I Logomarca da instituição

U007 T Darwin

U008 I triângulo isósceles

(...)

Legenda: C = caixa; D = desenho; I = ícone; L = linha; F = fotografia; P = pintura; T = texto verbal; S = seta; s = símbolo

Portanto, essa estrutura mostra que o fragmento de texto verbal “Gasolina no Brasil” é percebido visualmente e considerado como uma unidade mínima de análise no slide 17, recebendo o rótulo U003 (lê-se “unidade básica três”):

Exemplo 3 - Unidade básica 3 (U003) do slide 17, da APP1

Finalmente, com o objetivo de facilitar a localização da unidade básica apresentada no Exemplo 3 e de todos as demais unidades visuais da página, as unidades básicas apreendidas são reapresentadas sobre o slide com definição reduzida, da forma explicitada no Exemplo 4.

Na próxima seção, vamos discutir a página multimodal do ponto de vista do layout, que é um nível superior de abstração. Buscamos, prioritariamente, identificar as unidades de layout presentes nos slides da APP e observar como estão distribuídas na página, para construir, a partir daí, uma estrutura hierárquica que expresse graficamente essa organização visual e espacial.