• Nenhum resultado encontrado

3 Processos educativos na convivência e no brincar infantil

4.2 As participantes

Após várias inserções em campo, pude paulatinamente reconhecer quem seriam as participantes da pesquisa. As crianças convidadas, bem como a definição do número de participantes se deveram tanto às características consideradas relevantes ao andamento da pesquisa (tais como: compromisso com a pesquisa e disposição para a sua realização) quanto à heterogeneidade dos sujeitos que segundo Arnoldi e Rosa (2008, p. 53) “[...] propicia uma maior quantidade de dados qualitativos [...]”.

Neste sentido, a partir de várias discussões junto à professora orientadora, concluímos que seriam convidadas três crianças de acordo com o tempo de permanência no Serviço Girassol: uma que estivesse há mais tempo, uma há menos tempo e outra a um tempo intermediário. No entanto, no decorrer da pesquisa de campo e das entrevistas, pudemos observar que o tempo de permanência no Serviço não apresentou dados diferentes em relação ao brincar e à convivência das crianças participantes. Isto se deve ao fato de que, das doze crianças atendidas no período da manhã, quatro são irmãos, quase todos estudam na mesma escola e, por ser um município pequeno, já se conheciam de outros espaços, sendo a acolhida entre eles realizada rapidamente e a adaptação também. Então, das dez que permaneceram desde o início até o final do ano de 2011, cinco meninos e cinco meninas, optamos por aquelas que tiveram menos faltas; embora os cinco meninos estivessem constantemente, houve períodos em que, por motivos justificáveis, três deles não foram assíduos às atividades; optamos, também, por não selecionarmos irmãos para as entrevistas;dois deles são irmãos de uma das selecionadas; ocorrendo, então, ter sido a pesquisa realizada apenas com meninas.

Com isto, o período constante de participação estabelecido como critério de seleção indicava um tempo no qual o (a) educando (a) tivera oportunidade de experimentar diversas atividades, bem como a alteração das mesmas, dos educadores (as) e dos colegas.

Embora as três meninas e suas mães participantes quisessem manter os nomes verídicos, se sentindo parte da construção da dissertação de mestrado, por questão de ética e uma vez que o termo de consentimento livre e esclarecido assinado por elas lhes assegurasse o sigilo, optamos por substituir os nomes verídicos, aproveitando uma das brincadeiras realizadas por nós em uma das inserções em campo em que escolhemos nomes de frutas para

brincarmos de bola, bem como adotar para as mães o nome da árvore da fruta denominada por sua respectiva filha.

Em um primeiro momento, através de conversas com a educadora e análise das fichas de matrículas foram convidadas as três crianças; a partir disto, e dado o interesse e envolvimento das mesmas, foram selecionadas:

1) Goiaba, 09 anos, freqüenta o Serviço Girassol há três anos, (auto) declara-se parda, gosta de brincar de bonecas e de estudar, tem um problema de saúde que necessita cuidados diários, estuda na quarta série da escola Municipal Amélio de Paula Coelho.

2) Morango, 10 anos, está há aproximadamente dois anos no Serviço Girassol, (auto) declara-se branca, apesar de ter a pele morena, gosta de atividades físicas e de tocar percussão, estuda na quinta série da escola Municipal Amélio de Paula Coelho.

3) Jabuticaba, 08 anos, entrou no Serviço Girassol em fevereiro de 2011, (auto) declara-se branca, gosta de dançar e brincar de boneca, estuda na terceira série da escola Amélio de Paula Coelho.

Entrei em contato por telefone com as mães das meninas e estas, também, concordaram em conceder a entrevista completando, assim, o grupo de participantes:

4) Goiabeira, 34 anos, é separada de seu companheiro, sendo responsável sozinha por cuidar do sustento da casa, (auto) declara-se parda, completou o ensino médio, tem mais um filho de 13 anos de idade, vive em casa alugada, trabalha de gari, recebe um salário mínimo ao mês, participa do o Programa de Transferência de Renda “Renda Cidadã”.

5) Morangueiro, 28 anos,vive com o companheiro (trabalhador rural), (auto) declara- se branca, é catadora de lixo reciclável, não tem uma renda fixa mensal, estudou até a quinta série do ensino fundamental, tem mais três filhos com 12, 13 e 6 anos de idade, vive em casa alugada, recebe o Programa de Transferência de Renda “Bolsa Família”.

6) Jabuticabeira, 44 anos, é separada do companheiro, (auto) declara-se branca, estudou até a quinta série do ensino fundamental, tem mais cinco filhos com 4, 7, 10, 12 e 14 anos de idade, vive em casa alugada, trabalha de gari, recebe um salário mínimo ao mês, recebe o Programa de transferência de Renda “Bolsa Família”.

Enquanto responsáveis pelas crianças, foram selecionadas as mães por estas terem maior disponibilidade para a pesquisa e estarem mais presentes quanto à participação nas reuniões de pais e nas outras atividades desenvolvidas pelo CRAS; durante todo o ano de 2011 apenas um pai compareceu às reuniões.

Neste aspecto, cabe destacar o papel que a mulher ainda exerce enquanto força de trabalho que, segundo Machado (1999, p.17):

[...] Nas sociedades capitalistas, o trabalho reprodutivo é de responsabilidade da mulher. Este fato é visto de maneira tão natural que não é nem mais entendido como trabalho, tornando-se invisível.

O papel de gerentes de comunidade tende a ser visto como uma extensão do papel reprodutivo. São as mulheres que se organizam para a reivindicação de serviços e infra-estrutura. Isto é feito para que elas consigam melhores condições para poder assegurar o bem-estar de suas famílias. Suas comunidades são sentidas como extensões da esfera doméstica.

Importante, então, enfatizar que, por serem separadas, Goiabeira e Jabuticabeira são responsáveis sozinhas por cuidarem do sustento da casa, seus ex-companheiros aparecem esporadicamente e quando o fazem não se responsabilizam por algumas atividades específicas dos filhos, tais como: acompanhamento escolar, cuidados com higiene, dentre outros. Morangueiro é casada, mas, por seu companheiro trabalhar na zona rural, tem o tempo quase todo comprometido pela atividade profissional.

Estes dados foram coletados nas fichas de matrícula das crianças atendidas pelo

Serviço Girassol, nos cadastros dos Programas de Transferência de Renda “Bolsa Família e

Renda Cidadã” e, sobretudo, através das conversas em que pude estabelecer uma relação mais amigável e recolher dados sobre a história de vida trazida pelas crianças e suas mães.

Documentos relacionados