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portador, que deve preparar-se para experienciar novas trajetórias de vida após o diagnóstico. É importante mencionar que as alterações epidemiológicas têm ocorrido em contextos de desigualdades sociais, econômicas e políticas que implicam diferenciais de condições sobre a situação de saúde.

De acordo com estudo realizado por Souza (2014, p.105):

O viver em condições crônicas de saúde exige uma nova abordagem dos profissionais de saúde e enfermagem que contemple as múltiplas dimensões envolvidas na questão. Essas múltiplas dimensões se traduzem em necessidades e potencialidades de cuidado o que ainda apresenta vulnerabilidade, tanto nos aspectos das práticas cotidianas como nas concepções teóricas que permeiam um novo pensar em saúde.

O profissional desenvolve a atenção à saúde ressaltando a relevância de conhecer e interpretar as crenças e valores do idoso e da família, no intuito de não se contrapor a esses valores. Durante o processo de cuidar há o compromisso do profissional de enfermagem em dedicar-se ao atendimento do idoso, buscando controlar os danos e riscos da patologia. Para Lenardt et al. (2014, p. 153), “na interação e construção do cuidado, considera-se a multiplicidade de dimensões envolvidas dentre elas como a espacial, a ambiental, a econômica, a cultural e a social, busca-se a integração destas com o planejamento e na ação do cuidado”.

2.3 AS PERCEPÇÕES SOBRE ENVELELHECIMENTO E SAÚDE

A questão do envelhecimento se configura como um processo de mudança e, como tal, demanda um ritmo contínuo de estudos que busquem contemplar os diferentes aspectos que emergem. No estudo de Tura e outros (2011), os sentidos atribuídos à saúde constituem um conjunto de informações relevantes, indicando a visão de sujeitos que vivem em contextos socioculturais e econômicos muito diferenciados e que têm demandado a implantação de políticas especialmente orientadas para suas especificidades. Demonstram também que a atenção à saúde prestada a esse grupo se caracteriza pela fragmentação, valoriza o acesso

à assistência e a medicamentos proporcionados pela expansão da ESF, mas se ressente da inexistência de um sistema integrado que assegure a continuidade do cuidado.

No que tange aos conteúdos e à estrutura representacional acerca do processo de envelhecimento em psiquiatria, Silva, Gomes e Oliveira (2011) verificaram ser a representação do envelhecimento essencialmente negativa, possivelmente fruto de uma realidade multifacetada, na qual se misturam o abandono familiar, a exclusão social, o isolamento social, o sucateamento progressivo do sistema de saúde, as dificuldades da formação profissional, a característica moderna de valorização da razão e do lucro em detrimento do humano. Evidenciaram ainda um forte processo de desfiliação social, na qual a perda de referências grupais e identitárias caracteriza o envelhecimento no contexto asilar psiquiátrico. Nesse momento, é oportuno destacar a importância que essas representações podem ter na concretização dos cuidados em saúde, articulando-os com as dificuldades que se observam no cotidiano das instituições.

As dimensões presentes na estrutura da representação mostram como o grupo de profissionais organiza a reconstrução sociocognitiva do processo de envelhecimento no contexto institucional psiquiátrico, com dimensões que dão sentido inclusive à prática profissional, e determinam, em diversas situações, a adoção de determinadas atitudes e/ou ações. Assim, conhecer as representações sociais dos profissionais propicia à enfermagem um instrumental a mais para planejar e empreender mudanças no contexto assistencial.

No estudo de Cruz e Ferreira (2011) os resultados obtidos revelam que suas representações sobre a velhice têm uma conotação negativa, reconhecendo no velho algumas características que consideram peculiares a eles. Assim, as representações sociais do velho/velhice geram atitudes e práticas que podem influir no cuidado ao idoso, devendo essa questão ser bem refletida no campo da gerontologia. Apesar de na atualidade haver uma tendência de se formar uma nova visão da velhice, de um envelhecimento mais saudável, as representações encontradas no grupo em questão reafirmam a representação de uma velhice atrelada a perdas, a abandono e morte.

Nesse contexto, torna-se evidente que concepções sobre dependência e cuidado na velhice assumem um papel relevante, na medida em que esses aspectos podem determinar não apenas o modelo das interações pessoais e sociais, mas também o modo de cuidar. Sendo assim, conhecer essas concepções e ações que dela demandam é fundamental para lidar com os familiares que convivem com o idoso e

cuidam dele. De acordo com Cruz e Ferreira (2011), a existência de representações sociais com conteúdos mais positivos e outras com conteúdos mais negativos sobre a velhice mostra a importância de se realizar pesquisas que explorem as diversas nuances do objeto velhice/envelhecimento na nossa sociedade, nos mais variados grupos sociais, e ainda mostram a aplicabilidade da teoria em tais estudos na evidenciação dos processos que constroem tais representações e suas dinâmicas.

2.4O CUIDAR DE IDOSOS

A feminilização do cuidado, a utilização do cuidado leigo, a presença do vínculo afetivo, a inclusão da dimensão corporal, relações familiares e sociais, bem como o desgaste do cuidador foram representações sociais comuns entre os estudos sobre cuidado de pessoas idosas (AGUIAR et al., 2011).

No estudo de Souza e Menezes (2008), estereótipos acerca da velhice, conflitos intergeracionais, problemas econômicos e questões culturais são influências constantes no pensar e no agir das pessoas que são mais próximas dos idosos: seus cuidadores familiares.

O despreparo do cuidador para atender às necessidades dos idosos pode gerar ansiedade e maior desgaste físico e adoecimento, ocasionando situações de risco para ambos. Portanto, essa realidade exige atenção especial da enfermagem para traçar estratégias que proporcionem um cuidar saudável e com equilíbrio para a tríade desse processo de cuidar: equipe de saúde – idoso – cuidador familiar (AGUIAR et al., 2011).

Dessa forma, a dinâmica do cuidado ao idoso se beneficia quando é ampliada, envolvendo-o em sua totalidade, unicidade e diversidade, sem deixar de lado seus cuidadores e familiares, visto que a atenção não deve estar voltada só para as necessidades físicas, mas também para as psicológicas e socioculturais, incluindo a participação da família como colaboradora nesse processo do cuidar humano.

É importante salientar que, diante de reflexões realizadas sobre o cuidar de idosos, na visão dos cuidadores principais há necessidade de implantar práticas integrativas nos diferentes níveis de atenção à saúde, contribuindo para a satisfação das necessidades singulares não apenas dos idosos, mas incluindo o cuidador e a família no foco do cuidado de enfermagem (AGUIAR et al., 2011).

Diante dessas considerações, é possível observar que a família tem-se preocupado e se ocupado no cuidado de seus membros idosos.

Por isso, é de suma importância que os profissionais de saúde estabeleçam e/ou fortaleçam uma relação mais estreita de parceria com os familiares cuidadores, vendo-os como colaboradores e clientes, uma vez que agregam hábitos de vida semelhantes aos dos idosos sob seus cuidados. No entanto, mesmo reconhecendo que a participação do familiar no cuidado ao idoso oferece contribuições positivas, o autocuidado deverá ser incentivado sempre.

É importante salientar que no estudo de Araújo, Cruz e Rocha (2013), a análise dos conteúdos permitiu verificar a forma como os atores sociais Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e Profissionais de Saúde representaram socialmente a violência contra a pessoa idosa, associando-a tanto à falta de preparo por parte do profissional de saúde quanto à falta de preparo do familiar e/ou cuidador. Verifica-se que é muito grande a dificuldade de se aplicar as leis penais de proteção ao idoso, punindo efetivamente aqueles que os agridem e maltratam.

O Estado precisa apresentar políticas de apoio, estendendo os limites da assistência com a implantação das ações previstas no Estatuto do Idoso, no Plano de Ação para Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Idosa (PAEVPI) e em outros dispositivos, criando e ampliando programas de assistência, como centros de convivência, melhor acessibilidade e atendimento pelo SUS e centros de cuidados diurnos, entre outras providências que visem a facilitar a vida do idoso e de seus familiares, diminuindo, por consequência, os riscos de violência (ARAÚJO; CRUZ; ROCHA, 2013).

Diante desse contexto, tornam-se necessários mecanismos de incentivo para que sejam denunciados os atos de violência praticados contra os idosos: Delegacias e Promotorias da Defesa da Pessoa Idosa, instrumentos como o Disque Idoso e outros que incentivem as notificações oficiais de maus-tratos, oferecendo apoio psicossocial aos idosos violentados. São iniciativas práticas e eficazes que poderiam ser aplicadas dentro das condições de cada realidade.

Os dados da literatura sobre o tema exposto mostram que as políticas que permeiam as decisões circundantes aos direitos da população idosa se encontram de certa maneira regidos por atos jurídicos que proporcionam uma seguridade para essa população. Não havendo, na prática, a execução de tais leis, e muitos idosos ainda sendo negligenciados nos seus direitos de cidadãos, além das avaliações legais, deve-se priorizar maior reflexão da sociedade acerca da pessoa idosa, visando à modificação do comportamento desde o âmbito educacional, que deve ser ampliado para melhorar a formação de profissionais, até o poder do Estado.

Segundo Araújo et al. (2012), para que se possa exigir a melhor execução das políticas de atenção ao idoso ou mesmo possibilitar o surgimento de outras na área, os casos de violência precisam ser conhecidos para permitir um levantamento que revele a sua dimensão epidemiológica.

Diante dessa realidade, espera-se que esta investigação possa fornecer subsídios para discussão e reflexão acerca da violência contra a população idosa, para que as políticas públicas sejam aplicadas de modo mais eficaz, a fim de desmitificar os casos de violência contra o idoso, fornecendo-lhe informações acerca dos tipos e casos mais frequentes, com intuito de acabar com o comodismo de muitos profissionais frente à detecção dos casos de violência contra a pessoa idosa. Outro fator relevante a ser proposto é levar mais informações para as escolas com o intuito de formar cidadãos mais conscientes, da educação primária à profissional, a fim de proporcionar uma reflexão mais crítica diante de casos de omissão, por meios informativos mais seguros, como a escola, por exemplo, para que muitos casos possam ser identificados e evitados. Nessa perspectiva, são sugeridos novos estudos para que se possa avaliar o conhecimento psicossocial elaborado acerca da violência e maus-tratos na velhice, tendo como participantes os próprios idosos (vítimas da violência), os agentes de violência, os trabalhadores de saúde e de serviços sociais e os gestores públicos envolvidos com as questões gerontológicas.

2.5 PROFISSIONAIS DE SAÚDE, CONDIÇÕES CRÔNICAS E HIPERTENSÃO ARTERIAL

O fenômeno das doenças crônicas, especificamente a hipertensão arterial no idoso, investigado a partir das representações sociais de trabalhadores que circulam nesse universo relacional, possibilita superar a simples descrição, propiciando ampliar o material a ser analisado com base no processo de construção do conhecimento do fenômeno a ser investigado.

No campo da saúde, a utilização do conhecimento científico para compreender a visão dos profissionais sobre como lidar com a condição crônica caracteriza uma forma de lidar com os aspectos complexos presentes no contexto da atenção à saúde. Diversos estudos têm-se concentrado na investigação das representações sociais relacionadas à condição crônica(STUHLER; CAMARGO, 2012; SILVA et al., 2012; COSTA; SILVA; MOURA, 2011; ALMEIDA; PAZ; SILVA, 2011; SOUZA; MENEZES, 2008 )

Na condição crônica, destaca-se o estudo sobre diabetes e adesão ao tratamento em que Stuhler e Camargo (2012) verificaram a caracterização dessa doença crônica no senso comum como a “doença do não”, trazendo elementos ligados à restrição que a enfermidade impõe à pessoa diabética em condição crônica. Os autores salientam dois contextos de investigação presentes nos estudos sobre representações sociais e saúde, constituindo-se campos de relação: relações entre representações e práticas de saúde; e relações entre saber de senso comum e saber técnico.

Silva et al. (2013) buscou conhecer a terapêutica que contribuem para a adesão ou não de pacientes idosos ao tratamento da hipertensão. Os elementos mais citados pelos participantes: cefaleia, cardiopatia, derrame, morte e nervosismo. Conclui-se que as representações sociais dos idosos em relação à terapêutica influenciam os diferentes níveis de adesão ao tratamento.

Costa, Silva e Moura (2011) buscaram apreender as representações sociais dos profissionais de saúde sobre a HAS e as medidas de controle e explorar aspectos psicossociais relacionados aos conhecimentos, posicionamentos e comportamentos desses profissionais. As manifestações e descrições explicativas evidenciaram o conhecimento dos profissionais sobre as dificuldades relacionadas às mudanças no estilo de vida das mulheres hipertensas e fatores de risco que contribuem para o surgimento da doença. O conhecimento desses aspectos contribuiu para desvendar as questões subjetivas, peculiares da hipertensão arterial. O estudo permitiu evidenciar as diferentes concepções, atributos, posicionamentos e sentimentos dos profissionais de saúde, resgatando o saber do senso comum sobre a hipertensão arterial.

Almeida, Paz e Silva (2011) analisaram as percepções da equipe de saúde sobre a hipertensão arterial e a maneira como desenvolve os cuidados específicos aos hipertensos. Investigaram 21 profissionais de saúde que atuavam em Unidades Básicas de Saúde (UBS). Nesse estudo as representações dos profissionais revelaram um distanciamento entre as ações preconizadas pelo programa de controle e as que se realizam nas unidades de saúde. Os profissionais reconhecem a hipertensão como uma doença grave, com grandes consequências, porém as dificuldades estruturais dos serviços, em conjunto com a desmotivação do usuário para participar em ações de promoção da saúde, não favorecem um cuidado à saúde voltado para as necessidades dos portadores de hipertensão.

Souza e Menezes (2008), fala do cuidado prestado por familiares a idosos hipertensos investigaram 100 cuidadores residentes no município de Jequié/BA. De acordo com o senso comum, pouco sal, alimentação saudável, evitar passar raiva e remédio são os elementos representativos do provável núcleo central de controle da enfermidade. A família tem assumido papel importante para atender às necessidades de saúde dos seus membros idosos, cabendo à enfermagem incluí-la como sua cliente e parceira.

Para Galand e Salès-Wuillemin (2009), a intervenção profissional pode ser beneficiada com a compreensão das representações, pois valorizar os saberes do senso comum, materializados na representação social, contribui para pensar a tomada de decisão dos programas de saúde, porquanto permite apreender de que forma os grupos concebem o fenômeno e se relacionam com a doença e o tratamento.

Além disso, estudos buscam fornecer contextualizações sobre o campo da saúde atraem olhares dos profissionais dessa área para aspectos afetivos, simbólicos e subjetivos, fazendo com que a prática profissional se volte para a educação e a promoção da saúde. Nessa perspectiva as percepções de cada profissional influenciam as relações e práticas sociais, compreendem esse contexto e possibilitam à ciência disponibilizar conhecimentos mais aprimorados sobre determinada ocorrência, gerando condições mais favoráveis para aplicar estratégias de intervenção junto à população.

Conhecer as percepções dos profissionais de saúde e de enfermagem acerca das pessoas com hipertensão arterial e seus cuidados contribui para o conhecimento sobre a forma como ocorre as práticas de enfermagem são concebidas pelos profissionais e identificar fatores positivos e negativos que permitirão o planejamento de ações de educação permanente para qualificar tais práticas.

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 A INTEGRALIDADE E AS DOENÇAS CRONICAS NÃO

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