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As pesquisas sobre a história da escola primária no Brasil

Capítulo 1 – Histórias das escolas brasileiras: diálogos

1.1 As pesquisas sobre a história da escola primária no Brasil

Não é recente o interesse de pesquisadores brasileiros em entender a história da organização do ensino primário no Brasil, principalmente durante a primeira república brasileira, historicamente marcada por reformas no ensino, por renovações organizativas e didáticas e por redefinições do papel da escola como alavanca para a mudança social.

Dentre os estudos que indicam a já antiga necessidade de entender a história da escola, destaco: Nagle (1966); Antunha (1967); Reis Filho (1974); Costa (1980); e Carvalho, C. (1988)2.

Movidos pela necessidade de entender a história da educação, os autores dessas pesquisas pioneiras desenvolvidas entre as décadas de 1960 e 1980 tiveram como foco aspectos da história da escola primária paulista. De modo geral, essas pesquisas situam a escola primária de um ponto de vista mais estrutural, compreendendo-a como parte de um sistema maior, capitalista em sua essência, que não prescindia das políticas educacionais, as quais, sob a forma de regulamentações e leis, moviam essa instituição e a construíam como planejada em documentos oficiais3.

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Informo que dessa referência em diante, quando citar Nagle, Antunha, Reis Filho e Costa utilizarei, respectivamente, as seguintes datas: 2009; 1976; 1976; e 1983, pois essas datas se referem à publicação dos textos acadêmicos desses autores sob o formato de livros, os quais acessei para o desenvolvimento desta tese.

Com reconhecido mérito no campo da história da educação brasileira, esses estudos fornecem informações importantes para a compreensão de determinados aspectos da escolarização, especialmente na primeira república. É inegável, portanto, a relevância desses estudos e o papel que desempenham para

Dentro da abordagem teórica de "matriz analítica azevediana" (CARVALHO, M., 2003) que esses autores utilizam, a tendência é analisar a escola como uma organização administrativa e pedagógica, influenciada quase que exclusivamente por dispositivos legais que constituem um sistema de ensino. Dentro do ponto de vista da abordagem utilizada por esses estudiosos, compreendendo e repertoriando as leis que organizam a escolarização, compreende-se consequentemente a escolarização4.

Em Educação e sociedade na primeira república: 1920-1929, Nagle (2009) apresenta resultados de sua tese de doutorado defendida junto à Unesp-Araraquara com o objetivo de analisar integradamente a educação e a sociedade brasileira no período da primeira república.

Para tal, o autor conduz seu trabalho de modo a englobar em sua análise três pontos principais: "a sociedade, o sistema escolar e a estrutura técnico-pedagógica" (NAGLE, 2009, p. 7). Tendo dividido seu livro em duas partes estruturadas de acordo com esses pontos, os quais são os principais de sua análise, Nagle (2009) minuciosamente apresenta, na primeira parte, um "retrato" da sociedade brasileira, analisando os setores sociais, políticos, econômicos e as correntes de ideias e de movimentos políticos sociais.

Munido da análise a respeito da sociedade brasileira na primeira república, Nagle (2009, p. 7) se detém, na segunda parte do livro, na análise da educação escolar, destacando o fenômeno do entusiasmo pela educação e as reformas empreendidas pelos governos federal e estaduais. Com esse panorama, o autor analisa a penetração do escolanovismo no Brasil, problematizando a atuação do Estado para a educação.

A partir de sua análise, Nagle (2009, p. 315) conclui que

[...] o Estado – uma das instituições sociais – se estruturou e atuou, em suas funções de poder e de serviço, como instrumento que expressava as características fundamentais da ordem social mais ampla. Mesmo da década de 1920, quando se alteram os diversos setores da sociedade

a compreensão desse momento histórico da educação brasileira. Apesar de não ter utilizado esses estudos como referências teóricas para o desenvolvimento de minha pesquisa de doutorado, a opção por citá-los se deve à relevância histórica que eles assumem dentro do campo de pesquisa da história da educação brasileira.

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De acordo com Carvalho, M. (2003, p. 231 grifos da autora), Fernando Azevedo faz uso de um discurso apaziguador para explicar, sem muitos detalhes, os movimentos educacionais dos anos de 1920 e 1930: "Unificado como marcha ascensional pelo 'novo', no período anterior a 1930, o movimento é expurgado de tudo o que nele foi compromisso com a conservação da ordem social existente. Capturado na polaridade novo x velho nos pós-1930, é depurado de suas implicações políticas [...]". Segundo a análise de Carvalho, M. (2003), a utilização dessa forma azevediana de compreender esse momento fecundo da história educacional brasileira teria garantido certa ênfase na escolha de objetos, temas, panos de fundos, silenciamentos e supervalorização de posições específicas para a narração da história educacional brasileira.

brasileira e, em função disso, se transformam o pensamento e as realizações educacionais, o Estado se colocou, como não poderia deixar de acontecer, a serviço da classe dominante [...] No campo da escolarização, a característica conservadora se manifestou, especialmente, no ramo do ensino secundário e no do nível superior, que operaram como o principal instrumento de defesa no campo do sistema escolar.

Em resumo, também no campo da escolarização o estado se apresenta como instituição asseguradora da estrutura de classes existentes. Conserva-se, ainda na década de 1920, como centro de decisão para determinadas categorias do ensino e, tanto nestas quanto nas demais, mantém-se agente que impede, mais do que dinamiza, a escolarização. Sob todos esses aspectos, no período a organização estatal expressa apenas, as exigências de parte reduzida da Nação. No entanto, as transformações sociais e a inquietação social que se desencadeiam na década de 1920, de que resulta o fenômeno do entusiasmo pela educação e do otimismo pedagógico, denunciam a existência de um novo processo de relacionamento entre o Estado e a Nação; resta saber se a revolução de 1930, que é um movimento que nutre e se aproveita da situação de "crise" do sistema, terá condições para realizar aquela harmonização, tanto no campo social mais amplo quanto no domínio da escolarização.

Em A instrução pública no Estado de São Paulo: a reforma de 1920, Antunha (1976) apresenta resultados de sua tese de doutorado defendida na Universidade de São Paulo (USP) com o objetivo de analisar a reforma da educação paulista empreendida em 1920 por Sampaio Dória. A partir do estudo detalhado do "sistema de educação" pública paulista no período anterior à reforma, para o que considerou a expansão da escolarização e a organização do sistema de ensino, bem como as bases "ideológicas" da reforma, Antunha (1976, p. 236) conclui que

[...] a par de algumas mudanças positivas como o recenseamento escolar, a unificação das escolas normais, a criação das delegacias de ensino e as medidas nacionalizadoras e outras, encontramos certas iniciativas infelizes e que, justificadamente, foram interrompidas em 1925. Referimo-nos, neste caso, particularmente, à reorganização do curso primário, à sua redução para dois anos, à taxação do curso médio e outras medidas correlatas. [...] Concluindo, repetimos que a indicação mais importante que retiramos de nossas investigações é que a Reforma de 1920 não deve ser julgada pelas inovações introduzidas, nem mesmo pelos resultados práticos, concretos, mas sobretudo pela agitação de ideias que provocou, pelos propósitos, atitudes e determinação dos homens que a conceberam e a conduziram, enfim pelo impacto que ela causou no desenvolvimento da história da educação paulista.

Abordando as diversas formas de ensino que existiam no estado de São Paulo no momento da Reforma de 1920 e analisando o caso específico do impacto da reforma sobre as escolas isoladas, Antunha (1976, p. 222) afirma que

[...] outra medida que nos parece positiva, tanto sob o ângulo do desenvolvimento quantitativo, quanto sob o ponto de vista da melhoria dos padrões do ensino primário, foi o interesse especial que a Reforma dedicou, pelo menos de início, às escolas isoladas, procurando aumentar-lhes o número, melhor localizá-las, estender-lhes o período escolar e reunir os seus alunos em grupos mais homogêneos, de conformidade com a idade e o grau de adiantamento escolar. [...] A Reforma procurou racionalizar a localização das escolas, instalando-as onde mais necessário, sobretudo na zona rural. [...] Infelizmente, essa tendência inicial da Reforma foi, num segundo momento, substituída pela ênfase dada à criação de escolas reunidas, com o agrupamento forçado de escolas isoladas muitas vezes em locais impróprios e com resultados contraproducentes.

Em A educação e a ilusão liberal: origens do ensino público paulista, Reis Filho (1981) apresenta resultados de sua tese de doutorado defendida junto à Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo com o objetivo de analisar os diversos níveis de ensino paulista durante a implantação da reforma republicana no ensino, entre os anos de 1890 e 1896. Reis Filho (1981, p. 231-215) conclui que

Foram, justamente, a reforma social e a reforma política que acabaram centralizando os esforços renovadores da elite intelectual brasileira dos últimos decênios do Império. [...] essa elite intelectual brasileira mal suportava as condições concretas da vida brasileira com seus gritantes contrastes. É essa realidade que precisa ser modificada. As teorias e crenças básicas do cientificismo e do liberalismo, mescladas ao romantismo, permitiam uma atuação política renovadora, na qual a legislação era um instrumento de mudança sócio-cultural.

É dentro desse quadro amplo do processo de modernização que se coloca a Reforma do ensino, estudada neste trabalho. Parte integrante da renovação institucional, a Reforma do ensino inspirava-se e modelava-se nas instituições de ensino das nações mais desenvolvidas da época. Esta, a razão justificadora de propostas antecipadoras e distantes das condições existentes. Com efeito, as nações inspiradoras estavam em fase adiantada do capitalismo industrial, enquanto a sociedade brasileira baseava-se, ainda, na economia rural-comercial. Naquelas regiões brasileiras em que a acumulação de capital se iniciava, embora de modo incipiente, como no caso de São Paulo, as inovações aos poucos iam encontrando suporte sócio-econômico para se concretizar. As outras regiões fechavam-se dentro de seu próprio atraso, marginalizando-se pelo processo de modernização.

Em A educação em São Paulo na República Velha: a expansão do ensino primário, Costa (1983) apresenta resultados de sua dissertação de mestrado defendida na USP com o objetivo de analisar a importância da educação escolarizada no estado de São Paulo ao longo da primeira república para entender de que modo as mudanças quantitativas desenvolvidas pelo governo republicano influenciaram e alteraram a organização do ensino primário.

Para alcançar esse objetivo, a autora se concentra no "[...] confronto entre a extensão da oferta dos serviços educacionais e o volume das necessidades de instrução, criadas pelo desenvolvimento demográfico e socioeconômico do Estado de São Paulo e potencializada pela ideologia do Republicanismo." (COSTA, 1983, p. 9). Utilizando-se da legislação, como leis, decretos, ofícios e dados do censo demográfico, Costa (1983) organiza sua análise de acordo com dois tipos escolares que existiram no período abordado pela pesquisa e que, de acordo com a autora, são mais representativos na história do ensino primário paulista: os grupos escolares e as escolas isoladas.

A partir da análise que desenvolve, Costa (1983, p. 144-145) conclui que Mesmo as ideias sobre educação popular – difundidas entre as elites monárquicas mas que somente encontram realizações de certo vulto no período republicano – e a consequente necessidade de disseminação das instituições de ensino elementar, sobretudo em São Paulo, representam para as elites, mais pressões de interesses do Estado do que produtos das apropriações populares. [...]

Durante a República Velha, o Estado de São Paulo, ao mesmo tempo que preservou seu sistema de ensino para as elites restringindo as oportunidades de acesso a este, desenvolveu, paralelamente, um sistema de educação popular de proporções e repercussão consideráveis.

Apesar de o extraordinário desenvolvimento da instrução popular ocorrido em São Paulo – cuja economia destacava-se na economia nacional – responder a, primeiramente, interesses políticos das elites dirigentes, não podemos esvaziá-lo do mérito de ter-se constituído, pelo seu próprio caráter expansionista, em instrumento de democratização das oportunidades de acesso aos diversos níveis educacionais, em períodos posteriores.

Em O difícil acesso à escola primária pública: Estado de São Paulo – 1945- 1964, Carvalho, C. (1988) apresenta resultados de tese de doutorado defendida na Unicamp com o objetivo de analisar as condições de acesso às escolas públicas primárias como decorrência da relação entre a demanda social por escola, propostas para ação do estado e medidas governamentais.

Mediante análise de documentos da legislação de ensino, Carvalho, C. (1988, p. 191-192) conclui que

A história do acesso à escola [...] revela a luta, de certos educadores, a pressão popular por "entrar" e usufruir da escola e as estratégias do Estado que sustenta essa escola. [...] A leitura feita mostrou aspectos da luta por construir um espaço e um tempo de aprender/saber/produzir. Essa luta acontece dentro da sala de aula, no esforço dos professores e atenção dos alunos, na fisionomia própria e diferente dos grupos que se organizam em cada escola, que, a seu modo e muitas vezes contra o estabelecido, procuram fazer uma cidadela.

Esses textos são, a meu ver, relevantes para compreender as características das pesquisas sobre a história da escola primária desenvolvidas, especialmente, entre as décadas de 1960 e 1980. Com temas, objetos de investigação e abordagens influenciadas por uma forma de compreensão da sociedade de acordo com o referencial teórico azevediano divulgado, principalmente, em A cultura brasileira, essas pesquisas são entendidas aqui do ponto de vista da representatividade dentro do campo de pesquisa sobre a história da educação brasileira.

Apesar de não trabalharem com o referencial teórico que utilizei para o desenvolvimento desta tese de doutorado, a menção a esse passado não tão distante da pesquisa histórica sobre a escola primária paulista contribui para a compreensão da historicidade das práticas, dentre as quais a da própria pesquisa em história da educação. A partir do final dos anos de 1990, a forma de condução das pesquisas históricas sobre a escola primária indica que na abordagem dessa temática os pesquisadores passaram a utilizar os referenciais da Nova História Cultural, e em suas análises ora a escola primária (em muitos casos na figura dos grupos escolares) era objeto/foco da investigação – predominando, nesse sentido, o conceito de "cultura escolar" como central para compreender as instituições escolares – ora alguns aspectos da escolarização primária eram objetos de estudos que operavam como auxiliares para o entendimento de práticas da escola primária: métodos de ensino, materiais que circularam nessas escolas, organizações espaço-temporais, calendários, festas e rituais. Nessa produção o conceito de "cultura escolar" também predominava, mas operando como o pano de fundo que seria compreendido a partir da análise de alguns dos elementos que o compõem.

Nessa produção acadêmica, há dois estudos pioneiros na abordagem cultural da escola primária, os quais, além de serem referências para os estudos que os seguiram, se tornaram modelares, instaurando uma nova tradição no campo da história da educação brasileira, com ênfase na história das escolas primárias. Correlacionando as análises da cultura escolar das escolas primárias com as análises das instituições escolares, os estudos desenvolvidos por Souza (1997) e Faria Filho (1996)5 têm se tornado modelares na área da história da educação brasileira.

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Apesar de a data de defesa da tese de Souza ser posterior à de Faria Filho, apresento-a primeiro, pois é nela que foi pensada a história da escolarização primária paulista e é com ela, principalmente, que tento estabelecer maior diálogo.

Em Templos de civilização: a implantação da escola primária graduada no estado de São Paulo (1890-1910), Souza (1997)6 apresenta resultados de sua pesquisa de doutorado defendida na Universidade de São Paulo com o objetivo de compreender a história institucional dos primeiros grupos escolares criados no estado de São Paulo, entre 1890 e 1910. Buscando ampliar o olhar para além das políticas educacionais, dos atores políticos, da expansão da escolarização, Souza (1998, p. 17) busca

[...] fazer recair o foco de luz sobre a instituição escolar, demonstrando como essa modalidade de escola primária consolidou- se no ensino público; quais as mudanças que introduziu e as práticas, os rituais e as tradições que gerou. Explicita, dessa forma, a cultura escolar que nela floresceu e ainda permanece; e, também, as representações construídas pelos profissionais da educação.

Para atingir esse objetivo, Souza (1998) utilizou como fontes documentais relatórios de diretores de grupos escolares e escolas-modelo, relatórios de inspetores de ensino, relatórios do Secretário de Negócios do Interior, Anuários de ensino do Estado

de São Paulo, Coleção de leis e decretos do estado de São Paulo, revistas pedagógicas

e artigos de jornais.

A partir da minuciosa análise que elaborou, Souza (1998, p. 279-280) conclui que

No processo de institucionalização da escola primária no Brasil, a criação dos grupos escolares significou a implantação de uma nova modalidade escolar, isto é, o estabelecimento de uma organização administrativa e didático-pedagógica cujos desdobramentos institucionais e históricos suscitam a discussão sobre os problemas da inovação educacional e sua articulação com a democratização do ensino no país. [...]

A institucionalização dessa modalidade de escola primária representou uma das faces do projeto republicano de modernização da sociedade e de civilização das massas, portanto, uma expressão do processo de desenvolvimento do capitalismo no Estado de São Paulo e dos processos de urbanização e industrialização dele decorrentes.

Ampliando os estudos da tese de doutorado, em Alicerces da pátria: história da escola primária no estado de São Paulo (1890-1976), Souza (2006)7 apresenta resultados de sua tese de livre-docência, defendida na Unesp-Campus de Araraquara. O

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Dessa referência em diante, quando mencionar o texto de Souza, utilizarei a data de 1998, que se refere à data da publicação da tese da autora sob a forma de livro o qual acessei.

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Dessa referência em diante, quando mencionar essa pesquisa de Souza indicarei a data de 2009, que se refere à data de publicação da tese sob a forma de livro.

objetivo da autora era o de buscar compreender, ao longo do período entre 1890 e 19768,

[...] o aparecimento, a transformação e o desaparecimento de instituições escolares que designaram um nível de ensino – as escolas primárias – e se responsabilizaram pela educação de várias gerações, e que possuíam uma forte identidade institucional. (SOUZA, 2009, p. 19).

Para compreender a questão do "aparecimento, transformação e desaparecimento", Souza (2009) problematiza três aspectos que no seu entender explicam essas mudanças e permanências na cultura escolar da escola primária paulista: os conteúdos e métodos de ensino, as finalidades atribuídas à educação primária e as práticas simbólicas.

Como fontes para a pesquisa, Souza (2009) utilizou um conjunto variado de documentos, tais como: relatórios de professores das escolas preliminares, relatórios de delegados de ensino, fotografias escolares – localizadas em documentos, como os relatórios, em acervos públicos e no acervo pessoal da pesquisadora –, programas escolares, legislação educacional, Anuários de ensino do estado de São Paulo, circulares, instruções da Diretoria Geral da Instrução Pública e artigos em periódicos.

A partir da análise criteriosa que desenvolve, Souza (2009) conclui que "no processo histórico de constituição da cultura escolar primária" (SOUZA, 2009, p. 375), no "jogo intrincado que envolve os processos de inovação e mudança, regularidades e permanências em educação" (SOUZA, 2009, p. 375), a escola como templo de civilização passou a ser a escola básica.

A escola concebida como templos de civilização pressupunha amplas finalidades, um projeto cultural enriquecido e fundamentado na valorização de uma ampla cultura (ainda que inexequível), a distinção e exclusões sociais, em práticas simbólicas enraizadas na construção de identidades e no cultivo de valores cívicos e morais. A escola básica, por outro lado, modesta em seus propósitos, empobrecia materialmente e no seu conteúdo, rendeu-se à razão técnico- instrumental. Tornou-se uma escola de ensino e aprendizagem dos saberes elementares. Os ganhos políticos da democratização da escola pública têm sido sistematicamente obscurecidos pela pouca capacidade dessa escola realizar sua função primordial de facilitadora de cultura. Avaliações contemporâneas reforçam esse desencantamento que assola a escola fundamental. [...] A escola templo de civilização teria se transformado na escola equipamento

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De acordo com Souza (2009), a periodização da pesquisa – 1890 a 1976 – se refere, respectivamente, à data de início da Reforma Republicana da Instrução Pública em São Paulo e à implantação definitiva da Reforma do Ensino de 1º. e 2º. Graus na rede estadual de ensino de São Paulo.

urbano. Nesse processo, ainda está em jogo a mudança do sentido sociocultural da educação elementar. (SOUZA, 2009, p. 379).

Em Dos pardieiros aos palácios: forma e cultura escolares em Belo Horizonte