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Neste capítulo serão analisadas as normas legais e as políticas de preservação do patrimônio da cidade de Joinville. As fontes utilizadas para este momento foram as atas da Comissão de Patrimônio de Joinville, desde a sua fundação, na década de 1980, até agosto de 2016, e outros documentos arquivados junto à Fundação Cultural de Joinville. Além disso, realizei seis entrevistas, no formato semiestruturado, com dois funcionários da Coordenadoria de Patrimônio Cultural da FCJ [recentemente excluídos do quadro, pois desde janeiro de 2017 a FCJ foi extinta, para redução de custos da Prefeitura e a agenda cultural da cidade foi transferida para a Secretaria de Cultura e Turismo – Secult]; com o presidente da FCJ [até dezembro de 2016, atualmente é gerente da CPC]; com um Procurador do Estado [promotor de justiça]; com um Procurador do Município; e com uma professora da Univille, doutora em História. Tive acesso ainda, junto ao Laboratório de Memória, Acervos e Patrimônio (LAMAP) da UFSC, coordenado pela Prof. Leticia Nedel, e ao arquivo pessoal de Bruno da Silva120, mestre em

História pela UDESC, a outras entrevistas transcritas com pessoas que, de alguma forma, participaram do processo construtivo do campo do patrimônio na cidade de Joinville.

Cabe destacar que os órgãos envolvidos no campo do patrimônio de Joinville são a Comissão do Museu Nacional de Imigração e Colonização (MNIC), o Conselho Municipal de Cultura (CMC), a Comissão de Patrimônio Cultural (Comphaan), a Fundação Cultural de Joinville (FCJ)121

e a Coordenação de Patrimônio Cultural (CPC). De modo geral, a Comissão do Museu Nacional de Imigração e Colonização (MNIC) foi nomeada pelo prefeito Helmut Fallgatter (1961-1965) para realizar a coleta de bens móveis para o próprio museu.

120 Bruno da Silva foi subcoordenador da CPC na FCJ e também pesquisa as políticas públicas de preservação de patrimônio cultural na cidade de Joinville, sob o recorte de 1960 a 1980. Tive acesso a algumas entrevistas que o mestrando realizou durante sua pesquisa de campo. Ele defendeu sua dissertação de mestrado em dezembro de 2016.

121 Até o fim da coleta de dados desta tese, em agosto de 2016 a FCJ ainda estava vigente e ativa. No entanto, conforme afirmei antes, a FCJ foi extinta em janeiro de 2017 e a agenda cultural da cidade foi transferida para a Secretaria de Cultura e Turismo – Secult. Porém, preciso esclarecer que neste Capítulo e também no 4º Capítulo desta tese utilizarei a nomenclatura da FCJ para mencionar fatos relacionados àquela instituição, apenas fazendo menção à Secult quando se tratar de assunto recentes, datados de janeiro de 2017 para cá.

Contudo, além dessa responsabilidade, a Comissão assumiu as obrigações do convênio assinado entre a Prefeitura de Joinville e o Ministério da Educação e da Cultura, gerindo o que seria o patrimônio da cidade por muitos anos. Tal Comissão era composta por pessoas da elite intelectual e financeira do município que, no entanto, não possuíam capacitação técnica na área museológica ou patrimonial.

O Conselho Municipal de Cultura, fundado em 1968, teve seu Regimento Interno regulamentado em 1972, quando previu a criação da Comissão de Patrimônio Cultural, chamada, em seu texto normativo, de Comissão do Patrimônio Arqueológico, Histórico, Artístico, Paisagístico e do Arquivo Municipal de Joinville. Esta Comissão teve como expressão principal a preocupação com as edificações em enxaimel.

O Serviço de Patrimônio da cidade de Joinville, chamado de Comissão do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Natural (Comphaan), foi fundado somente em 1980 e, diferentemente da Comissão de Patrimônio e do Conselho Municipal de Cultura, acima mencionadas, era ligada diretamente à gestão da Fundação Cultural de Joinville e tem por objetivos principais formular políticas públicas de preservação do patrimônio cultural em nível municipal e aplicar e cumprir com a proteção do patrimônio histórico, arqueológico, artístico e natural do município de Joinville.

A FCJ era a detentora da pasta da Prefeitura Municipal que faz a gestão de todo o setor cultural da cidade, em todos os seus segmentos (até dezembro de 2016). E dentro da FCJ há três agendas ligadas ao patrimônio cultural: a Unidade de Patrimônio, Ensino e Arte (GPEA) e outros dois setores, o setor de Patrimônio – Coordenação de Patrimônio Cultural (CPC) e o Centro de Conservação de Bens Culturais, que buscam preservar e valorizar o patrimônio cultural de Joinville. A CPC é responsável pela fiscalização de bens protegidos, por atividades e projetos de conservação e pesquisa e também por fornecer os elementos do trabalho técnico para a Comphaan.

A Fundação Cultural de Joinville detém certa interdisciplinaridade por conta dos cursos especializantes que seus funcionários frequentaram, no entanto, contava até final de 2016 no quadro da Coordenação de Patrimônio Cultural, com três arquitetos urbanistas – Raul Walter da Luz, que foi Coordenador da CPC desde 2006; Dinorá Nass Allage; e Marcus Vinicius Ramos Filho – e com cinco historiadores – Bruno da Silva, que foi coordenador-II da CPC; Valéria König Esteves, que possui cargo administrativo e também mestrado em patrimônio cultural, cursado na Univille; Cristiano Fontes de Oliveira; Dilney Fermino da Cunha, que, além de historiador,

trabalha com as escolas sob o viés da educação patrimonial; e ainda Dietlinde Clara Rothert, que, além de historiadora, é especialista em restauro. A FCJ tem ainda quatro estagiários na área de Arquitetura. Portanto, primordialmente, possui profissionais técnicos da área da História e da Arquitetura.

Isso posto, nos próximos subcapítulos discutirei as políticas públicas que gerem o passado no presente e as normas que estão em vigência na cidade de Joinville. O passado, gerido por diferentes linhas legais e instrumentos técnicos de preservação do patrimônio, define a sobreposição dos discursos que se querem preservar, por meio de tombamento, inventários e demais formas de preservação. Inicialmente, é importante destacar que o maior número, quase em sua totalidade, de ações de tombamento e inventariação da cidade se deu por meio de bens isolados. Trata-se de uma experiência urbana gestada pelos grupos escolhidos e nomeados para tanto. Joinville não possui um centro histórico oficialmente intitulado, nem mesmo alguma via urbana ou rural especialmente protegida por sua história. Essa situação dificulta as ações de preservação vindas da administração pública e do colegiado deliberativo com poder para isso, pois os exemplares tombados isolados em meio a edificações contemporâneas podem sofrer – e vêm sofrendo – o impacto das transformações urbanas e da modernização do entorno, vindo, muitas vezes, a desaparecer em áreas verticalizadas.

Nesse sentido, observo algumas marcas, que discutirei ponto a ponto nos subcapítulos, dentre as fases das políticas públicas, que foram divididas cronologicamente: fase nostálgica, da década de 1960 a maio de 1991; fase dos ajustamentos, de maio de 1991 a 2003; fase dos tombamentos, de 2003 a 2011; e fase dos inventários, de 2011 a agosto de 2016.

As marcas do campo do patrimônio em Joinville são: a festa do centenário, em 1951, que é realmente o primeiro marco das políticas públicas de preservação de patrimônio, o que se tornou, na verdade, um período de reconciliação; outro fator é a migração, que pelas narrativas pesquisadas, vinha miscigenando a identidade da cidade; e há também um terceiro elemento, que são os agentes que entraram nesse campo da preservação – os velhos agentes, da década de 1960, como a família Schneider, Carlos Ficker e as senhoras Hilda Krisch e Edith Wetzel, que estão ligados à Comissão do Museu, são os de origem ou os de dentro, que divulgavam um discurso de pureza da cidade. Nas décadas de 1970 e 1980 entraram outros sujeitos, como o historiador Afonso Imhof e o político Miraci Deretti, que não nasceram em Joinville, mas que atuaram fortemente no poder público. Estes atores e outros novos, como, mais

recentemente, Sandra Guedes, os estrangeiros e os migrantes que foram trazidos para o jogo, chegaram com outra concepção de cultura, voltada ao popular, a valorizar a diferença e o migrante. Apesar de não negarem a cultura anterior, germânica, estas pessoas ampliaram tudo isso que se diz Joinville. Todos são a memória viva da Comphaan.

Portanto, desconstruir a lógica estatal de políticas públicas até o início dos anos 2000, instituída por certos grupos e até mesmo por famílias de poder e de autoridade em prol da preservação de determinado(s) patrimônio(s), é mostrar os seus processos de diálogo e negociação. As disputas que se formam com a vinda destes novos atores, especialmente a prerrogativa científica da academia e o empoderamento dos profissionais técnicos dentro dos espaços museais, são as marcas das políticas públicas que classifiquei por fases e que ainda não chegaram ao fim – e que acredito que nunca chegarão. Em que pesem as ações, tanto a FCJ quanto a Comphaan mostram-se preocupadas com os interessados por seu patrimônio, que é a população do entorno, que usa e usufrui desses bens. Contudo, ainda percebe-se o jogo de interesses políticos e econômicos de grupos específicos continuamente fortes na cidade, assim como alguns interesses pessoais.

Antes de adentrar propriamento no debate e até mesmo biografia das políticas públicas de preservação de Joinville, vale ressaltar algumas considerações sobre o campo do patrimônio construído em Santa Catarina.

O menor estado em território do Sul brasileiro recebeu imigrações vindas de várias localidades da Europa entre o fim do século XVII e meados do século XX, como os lusitanos na região de Florianópolis, Laguna e São Francisco do Sul; os germânicos no Vale do Rio Itajaí e no Norte do estado, incluindo Joinville e arredores; os de etnia italiana, próximo à colonização alemã no Vale do Itajaí e também no Sul do estado, na região de Criciúma; sem contar o tropeirismo, na região de Lages e em direção ao Oeste, de pessoas vindas do Rio Grande do Sul e do Paraná; dentre outros. Isso é o que caracteriza o estado como sendo bastante particionado, entendido por alguns autores locais (ALTHOFF, 2008; RIOS, 2016; PISTORELLO, 2010; entre outros) como um lugar sem uma identidade única, o que não necessariamente é visto como um problema. O arquiteto e urbanista Dalmo Vieira Filho, por exemplo, em várias palestras afirma que isso representa o “mosaico cultural” no qual Santa Catarina está inserido.

A partir da década de 1980, no Brasil, como já se viu no capítulo anterior, as políticas públicas de preservação do patrimônio edificado desconcentram-se das regiões Nordeste e Sudeste do país, partindo para

outras regiões, como a Sul. Antes disso, porém, na década de 1930, o IPHAN tombou quatro fortificações em Santa Catarina, hoje administradas pela Universidade Federal de Santa Catarina, e protegeu outros bens isolados. Em Joinville, por exemplo, o Palácio dos Príncipes (antes de se tornar Museu Nacional de Imigração e Colonização) foi tombado em 1939, o Cemitério Protestante, em 1962, e o Parque Schmalz, na Rua Marechal Deodoro, em 1965.

Antes da criação oficial da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), órgão estadual de preservação do patrimônio, pela Lei nº 7.439, de 1979, durante o governo de Konder Reis, houve algumas iniciativas de extrema importância para o estado, com o intuito de construir a narrativa identitária catarinense, como: a criação do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina (IHGSC) no final do século XIX, tendo como consolidadores os historiadores Oswaldo Rodrigues Cabral e Walter Piazza, o botânico Padre Rohr e o historiador e antropólogo Silvio Coelho dos Santos, dentre vários outros; a criação do Conselho Estadual de Cultura, em 1968. Posteriormente à institucionalização da FCC, “houve a criação oficial da 12ª Diretoria Regional, em Florianópolis, que teve a nomenclatura modificada em 1990 para 11ª Coordenadoria Regional e 11ª Superintendência Regional, como é atualmente” (ALTHOFF, 2008, p. 74).

O projeto de lei que definia as diretrizes de preservação do patrimônio catarinense foi elaborado por Oswaldo Cabral, médico, professor, pesquisador e escritor, tendo sua aprovação em 1974, no governo de Colombo Salles, sob o nº 5.056, de forma diferente da proposta original de Cabral. Essa lei foi revogada em 1980, pela Lei nº 5.846, e parcialmente alterada pelo governador José Konder Bornhausen, pela Lei nº 9.342, de 1993, quando é considerado o marco da formação do campo de preservação do patrimônio de Santa Catarina (RIOS, 2016, p. 79). A lei de 1993 define o que é patrimônio em Santa Catarina, in verbis:

Art. 1º Integram o patrimônio cultural do Estado, os bens móveis e imóveis que, pelo interesse público em sua conservação venham a ser tombados pelo órgão competente.

Art 2º Consideram-se de valor histórico ou artístico, para os fins desta Lei, as obras intelectuais no domínio da arte e os documentos e coisas que estejam vinculados a fatos memoráveis da História ou que apresentem excepcional valor arqueológico, etnográfico, artístico, bibliográfico,

religioso, bem como monumentos naturais, sítios e paisagens que importe conservar e proteger, pela feição notável com que tenham sido dotadas pela natureza ou agenciados pela indústria humana (SC, 1993).

Com a contratação de Dalmo Vieira Filho pelo governo do Estado, na década de 1980, iniciou-se a parceria entre a FCC e o IPHAN, o qual veio representá-lo até praticamente o ano de 2006, com o fim de salvaguardar o patrimônio catarinense. Neste período houve a criação das primeiras políticas públicas que buscavam uma identidade estadual também para os estados sulistas. Portanto, quando se percebe um alargamento no arcabouço protetivo de bens, a partir da Constituição Federal, questão analisada no capítulo 2 dessa tese, há um reforço do discurso do patrimônio do imigrante europeu como representativo do estado de Santa Catarina. É o discurso dos arquitetos do IPHAN que constituíram a paisagem do patrimônio catarinense.

Com endosso do IPHAN, especialmente nos anos 2000, houve 61 tombamentos, muitos advindos dos inventários dos Roteiros Nacionais de Imigração, por meio da ação da FCC. Era o chamado mosaico cultural catarinense, que tentava agregar várias culturas e diversas identidades, mas que, ainda assim, privilegiava algumas e, por isso, era excludente com outras. Quando Dalmo Vieira Filho assumiu o DEPHAN, em Brasília, na década de 1980, levou para o IPHAN o projeto dos Roteiros Nacionais de Imigração, e Santa Catarina começou a ter, então, visibilidade nacional, ainda que em tese, por meio da chancela de paisagem cultural. Com o objetivo de mapear as características ambientais, os usos e os moradores dessas regiões atingidas pelos roteiros em que havia as culturas açoriana, italiana e alemã, foi feito um recadastramento. Esses dados fizeram surgir o projeto Inventário Correntes Migratórias, no qual fichas descritivas técnicas trouxeram questões do patrimônio e da territorialidade num contexto em que o patrimônio era diretamente ligado ao econômico para fins de turismo. Preocupados com o legado deixado pelos imigrantes europeus, tendo como mentor Aloísio Magalhães, o Inventário das Correntes Migratórias foi idealizado e realizado até início dos anos 1990. O ano de 1983 também foi significativo para o projeto, pois com o foco do inventário de emergência, em razão das enchentes ocorridas naquele ano, foi gerada a possibilidade de desaparecimento do tipo de arquitetura europeia que se queria preservar. Os eventos climáticos ocorridos na região naquele ano, especialmente em Blumenau e

Pomerode, foram determinantes para que o discurso em prol daquela arquitetura imperasse, sob o pretexto de uma perda.

“Em todo esse período pós-inventários foram feitos trabalhos de planejamento e estruturação junto às Prefeituras para concretizar o projeto Roteiros Nacionais da Imigração” (ALTHOFF, 2008, p. 74). Na prática, foram estes roteiros (PISTORELLO, 2010) que trouxeram destaque ao estado, que era considerado segmentado em razão dos imigrantes alemães e italianos, principalmente, tornando o discurso oficial de identidade europeia motivo interessante que fez da cultura catarinense um suporte consumível pelo turismo. No entanto, os roteiros foram lançados oficialmente somente em 2007, abarcando no “projeto 19 áreas, juntamente com um grande número de tombamentos federais e estaduais” (ALTHOFF, 2008, p. 75).

Apesar destes projetos implementados no estado, bem como outros tantos, houveram muitos problemas na gestão do patrimônio catarinense, e Althoff (2008) aponta para alguns deles, como a falta de aparelhamento dos órgãos públicos para monitorar e fiscalizar o processo de conservação dos conjuntos protegidos e das edificações isoladas. A falta de técnicos, especialistas em Arquitetura e História, enfim, atores do campo do patrimônio cultural é um problema sério e que não há um prazo determinado para se resolver.

Além disso, tanto a FCC quanto o IPHAN, por meio de seu escritório regional, ao construírem os projetos e, em especial, os Roteiros Nacionais de Imigração, em 2007, usaram os dados dos projetos ainda obtidos na década de 1980. Portanto, para discutir o que é ser imigrante europeu hoje é importante problematizar como Santa Catarina construiu sua história em cima do processo de colonização e imigração, reforçado por meio dos tombamentos. Isso acabou por privilegiar alguns grupos que foram selecionados, definindo quais as formas deveriam ser representadas, e por silenciar outros. Sem esquecer que há outros que sequer foram lembrados. Como roteiro nacional, representativo de uma região, tal patrimônio é considerado como marca e legado da região catarinense, como se não houvesse outros. Porém, ele não representa outras regiões do Brasil, apesar de este projeto ter se tornado o carro-chefe do IPHAN, ao lado da chancela das paisagens (sistema de proteção trabalhado no subcapítulo 2.3.7) e do projeto Marcos do Brasil.

As marcas e os rumos escolhidos a partir da etnicidade é o discurso do patrimônio do Brasil, se observado a partir do olhar catarinense. O patrimônio não é importante por si e per si. São os valores atribuídos sobre tais bens que vão se modificando a partir das

pessoas e das políticas com o decorrer do tempo. O discurso vai mudando e, ao mesmo tempo, valorizando outras etnias, como a açoriana, que começa a ser considerada na capital catarinense. O olhar étnico é o discurso oficial da Fundação Cultural Catarinense e isso pôde se repetir em outras cidades, em suas Comissões de Patrimônio ou não. No entanto, é preciso problematizar esse discurso da etnicização para se entender os usos do passado e a sua invenção a partir de outros vieses transversais, como, por exemplo, por meio do olhar do trabalho.

É o que se verá adiante, a partir dos subcapítulos, quando analisarei os discursos dos agentes do campo dentro de cada fase das políticas públicas de preservação do patrimônio de Joinville. Chamarei de fase uma vez que a pesquisa me mostrou ser possível nomear cada período com diferentes acontecimentos, fatos, pessoas, narrativas, enfim, discursos. Embora haja diferentes fases dentro das políticas públicas de Joinville, a divisão dos subcapítulos não será feita por questões cronológicas. Afinal, o campo do patrimônio em Joinville não se construiu de modo linear, há diferentes processos que se repetem e que, por isso, merecem ser discutidos a partir de temáticas que se subdividem na sequência a seguir explorada.

3.1 - Comissão do Museu, Conselho Municipal de Cultura e Comphaan

A cidade de Joinville possui um acervo de obras de arte, documentos históricos e livros sob a salvaguarda de órgãos como o Arquivo Histórico, a Biblioteca Pública, o Museu de Arte, o Museu Casa Fritz Alt e museus temáticos, como o dos Bombeiros Voluntários, o da Fundição, o da Bicicleta, dentro da Estação Ferroviária, e o local, o Museu Nacional de Imigração e Colonização (Palácio dos Príncipes). Joinville detém também uma importante coleção de bens arqueológicos que, hoje, estão expostos no Museu Arqueológico de Sambaqui. A cidade comporta quase 50 sambaquis122

originais, que datam de até 5 mil anos (LOPES, 2011, p. 118).

Conforme informação da FCJ, até julho de 2016123

, existem 116 bens tombados, sendo que alguns deles também estão protegidos

122

Esses sítios arqueológicos são protegidos pela Lei Federal nº 3.921, de 1961, sob a responsabilidade de fiscalização e gerenciamento do Museu Arqueológico de Sambaqui em cooperação com o IPHAN.

123 Informação dada pela FCJ em 25 de julho de 2016, via e-mail. De acordo também com o documento Relação de Bens Tombados no Município de

concomitantemente pelo tombamento estadual e/ou federal – dos quais quatro ainda serão registrados no Livro do Tombo. Há ainda 57 bens em processo de tombamento; dois bens protegidos apenas pelo Inventário do Patrimônio Cultural de Joinville (IPCJ) – os bens tombados também estão sendo inventariados; e 12 bens em processo de inventariação, tudo pela municipalidade. No entanto, para formar todo esse complexo patrimonial da cidade, a gestão desses bens precisou passar por diferentes mãos até chegar à administração da Fundação Cultural de Joinville, na qual permaneceu sob sua agenda até dezembro de 2016.

A gestão do patrimônio, no decorrer das últimas cinco décadas, construiu os discursos sobre a cidade. Mas esses discursos nem sempre estiveram em consonância com o que se entende por importante em preservar para a sociedade de Joinville. Portanto, novamente relembro que minha tese é de que essa inconstância acontece porque os

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