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5.2 Ações e recomendações das comunidades europeias

5.2.1 As políticas em media literacy no Reino Unido

Os serviços de mídia no Reino Unido se caracterizam pela forte intervenção do Estado na radiodifusão, que opera seguindo mecanismo de regulamentação que garantem a diversidade e pluralidade de conteúdos (SIQUEIRA, 2007).

A migração dos meios audiovisuais para plataformas digitais levou o governo bri- tânico a investir em políticas que orientassem a população a ter acesso autônomo aos diversos conteúdos, conforme explica Siqueira (2007, p. 78):

Com a migração para as plataformas digitais, o número de canais poderá ser 100 vezes maior (eram três canais de televisão disponíveis na Inglaterra nos anos 80, hoje são 250, com mais de 400 mil horas de programação sema- nais), impossibilitando o histórico controle. A saída encontrada foi a elabo- ração de uma ampla política de educação pública para usar os meios, a fim de que os cidadãos sejam usuários autônomos ao invés espectadores passivos de uma confusão de conteúdos.

A autora também coloca que o Reino Unido tomou a dianteira no estabelecimento de uma política de media literacy, quando a educação para a mídia foi formalmente citada como responsabilidade dos órgãos governamentais que regulam a radiodifusão no Communi- cations Act 200316, a atual lei geral da comunicação britânica.

Com a promulgação do ato, os parlamentares deram plenos poderes ao Ofcom, mas alertaram, no texto do documento, que a política de media literacy não deveria ser apenas responsabilidade da agência reguladora, mas também de um amplo conjunto de instituições relacionadas com a mídia.

Segundo Siqueira (2007, p. 82), essa colocação mostra que os parlamentares re- almente entendem a comunicação como um serviço público:

Especificamente sobre a política de media literacy, no registro das discus- sões do comitê, em 10 de dezembro de 2002, um membro atenta para o fato de que esta não deve ser tarefa só do Ofcom (o Office of Communications, órgão regulador que concentra o gerenciamento da comunicação no país), mas sim de um amplo conjunto de instituições direta ou indiretamente rela- cionadas com a mídia, tais como outras esferas do governo, os próprios ca- nais de televisão, profissionais da área e a indústria eletrônica. Como se vê, já no início das discussões, os parlamentares têm claro que a comunicação é, antes de tudo, um serviço público e que até as empresas de caráter puramen- te comercial têm parcela de responsabilidade.

Desde 2003, o Ofcom vem elaborando uma série de projetos com vistas a colocar em prática a política de media literacy no Reino Unido. Sua missão é a de promover e estimu- lar a compreensão e conscientização do público sobre a natureza e o conteúdo da mídia ele- trônica, o processo pelo qual o conteúdo digital é produzido, além das formas de acesso, con- trole e a utilização desse conteúdo de maneira eficaz e adequada. Como resultado, houve uma

16 Informações sobre o Communications Act 2003 podem ser encontradas em

significativa integração das TIC e da literacia digital no sistema educacional, tanto em termos de conteúdo multimídia quanto em inclusão no currículo.

O Ofcom possui ligações com o Department for Culture, Media and Sport17 (DCMS), um departamento do governo britânico cuja responsabilidade é a de melhorar as atividades culturais e esportivas, apoiar e proteger os meios de comunicação. Por não ser um órgão responsável pela educação formal, o departamento entende a literacia midiática como uma necessidade para todos os cidadãos e não apenas para os estudantes. O DCMS trabalha em estreita colaboração com grupos de consumidores e da indústria, enxergando a media lite- racy como uma forma de disseminação de confiança e conhecimento à população (Comissão das Comunidades Europeias, 2007).

Hague e Payton (2010) lembram que o DCMS, em parceria com o Department for Business, Innovation and Skills (BIS) publicou, em 2009, o relatório Digital Britain, que de- limitava as necessidades para o futuro digital britânico e argumentava sobre as habilidades digitais, motivação e confiança que todos os cidadãos precisariam desenvolver para aumentar sua participação no mundo digital. Com esse relatório, o Reino Unido buscava garantir que o país estivesse na vanguarda da economia digital global. Um dos resultados dessa política foi o Digital Economic Act, um ato do parlamento britânico que regula a mídia digital no país.

Em pesquisa realizada pela Universidade Autônoma de Barcelona para a Comis- são das Comunidades Europeias (2007) sobre o perfil dos países europeus em educação para a mídia, revelou-se que a educação para a mídia tem sido reconhecida como algo positivo em nível político no Reino Unido e há muitas opiniões favoráveis de entidades públicas e forma- dores de opinião. Embora haja políticas voltadas para todos os meios de comunicação, a edu- cação para a mídia no Reino Unido está mais desenvolvida no setor de audiovisual do que nos outros meios de comunicação.

A pesquisa também revelou que o Reino Unido tem um lugar único no desenvol- vimento global da educação para a mídia, devido à variedade de cursos específicos de mídia que têm sido disponibilizados como opcionais para os alunos entre as idades de 14 a 18 anos. Isso significa, de acordo com o documento, que há professores britânicos com uma vasta ex- periência de ensino de mídias para alunos dessa faixa etária, e que há uma pequena indústria de editores servindo a esse setor com alguns recursos. No entanto, esses cursos alcançam ape- nas 7% do grupo etário, o que vai contra o conceito de educação para a mídia como um direito

17Site oficial: www.culture.gov.uk

para todos. Em outras palavras, segundo a pesquisa, o ensino de mídias desde os primeiros anos de escolaridade, mesmo no Reino Unido, ainda está longe de ser realizado.

Como se observa, mesmo em um país onde a preocupação com a educação para a mídia já se demonstra em várias ações e programas do governo, ainda há um longo caminho a se percorrer. No Brasil, esse caminho é ainda mais extenso, considerado os atrasos e o elitis- mo no campo da regulamentação das comunicações no país. Entretanto, algumas ações podem ser encontradas, como se verá a seguir.