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A metodologia escolhida para a realização da análise empírica desta pesquisa foi a Análise de Conteúdo (AC). Essa metodologia se consolidou nos Estados Unidos, na primeira metade do século XX, por colocar a ênfase no aspecto quantitativo, associado à comunicação como objeto de estudo (FONSECA JUNIOR, 2012).

O autor acredita que essa metodologia se mostra muito eficiente para responder aos desafios atuais da comunicação. Conforme coloca Fonseca Junior (2012, p.280):

Desde sua presença nos primeiros trabalhos da communication research às recentes pesquisas sobre novas tecnologias, passando pelos estudos culturais e de recepção, esse método tem demonstrado grande capacidade de adapta- ção aos desafios emergentes da comunicação e de outros campos do conhe- cimento.

Diversos autores contribuíram para o desenvolvimento desta metodologia, porém este trabalho se inclina às tendências metodológicas propostas por Bardin (2007). Em sua composição original, Bardin (2007) estruturou o método de análise de conteúdo em cinco etapas: (1) organização da análise; (2) codificação; (3) categorização; (4) inferência e (5) tra- tamento informático. Essas etapas foram consideradas nos procedimentos de análise desta pesquisa.

Como primeira fase da análise, Bardin (2007) sugere uma leitura flutuante do ma- terial a ser analisado, com o objetivo de conhecer o texto e se deixar invadir por impressões e orientações. Seguindo as principais regras de seleção do corpus propostos pela autora - exaus- tividade, homogeneidade e pertinência -, tomou-se o cuidado de selecionar todas as etapas do programa Mídias na Educação, incluindo as apresentações dos conteúdos, as explicações inse- ridas em recursos multimídia e as atividades práticas propostas aos professores-cursistas.

É importante ressaltar que as etapas que apresentavam os créditos de produção do módulo, as referências bibliográficas ou que eram somente de instrução para os cursistas fo-

ram excluídas da análise. As etapas que se encontravam em módulos do programa que não atendiam aos objetivos da pesquisa também foram excluídas da análise.

Os momentos seguintes da análise foram a codificação e a categorização, que de acordo com Fonseca Junior (2012) servem de elo entre o material escolhido para a análise e a teoria do pesquisador.Para a codificação e categorização do corpus, optou-se pelo método de análise categorial, que trata do desmembramento do discurso em categorias. Bardin (2007, p. 39) define este método como “espécie de gavetas ou rubricas significativas que permitem a classificação dos elementos de significação constitutivos da mensagem”.

Para a realização dessa etapa, criou-se uma planilha eletrônica aplicada a todo o corpus. O objetivo da criação da planilha foi transformar a informação disponível em mãos em algo interpretável. Os dados brutos sofreram um recorte, foram agregados e classificados em categorias.

Para elaboração das categorias de análise, recorreu-se à revisão da literatura, que indicou que uma abordagem que atende às especificidades socioculturais dos educandos é aquela preocupada com o desenvolvimento da literacia midiática através das multiliteracias. Porém, outras abordagens puderam ser identificadas ao longo da transformação do conceito de educação para a mídia, e elas também foram consideradas na análise empírica.

Com base na revisão da literatura, foram criadas as seguintes categorias de análi- se: a) inoculação; b) decodificação; c) instrumentalização; d) preparação. A categoria e) ou- tros foi elaborada para agrupar os casos que não se encaixavam nas categorias anteriores. As categorias são delineadas a seguir:

a) Inoculação: conforme elucida Siqueira (2008) em uma revisão de Buckingham (2005), essa é uma abordagem de proteção dos alunos contra a mídia, colocando-os como uma audiência vulnerável aos efeitos dos meios de comunicação e da cultura massificada. Essa perspectiva era a dominante na Europa nos anos de 1940, época em que a mídia e a cultura popular eram vistas como influências negativas que ofereciam prazeres superficiais. A proposta desse método é encorajar os estudantes a lutar contra a manipulação comercial e contra os efeitos negativos que poderiam advir de uma cul- tura massificada. Nesta categoria, foram classificadas as etapas do programa que, de certa maneira, sugeriram alguma forma de proteção contra a comunicação de massa.

b) Decodificação: essa abordagem é prática decorrente da desmistificação. Siqueira (2008), em revisão de Buckingham (2005), explica que a desmistificação se fortaleceu

ao final dos anos de 1950 e começo de 1960, época do início dos estudos culturais bri- tânicos. A decodificação, especificamente, é uma abordagem que, como o próprio nome já indica, busca decodificar a linguagem midiática, tornando claros os conceitos relativos à área de comunicação e ao funcionamento das mídias. A prática da decodifi- cação é utilizada, principalmente, para análises do texto midiático, pois permite a in- terpretação de códigos e linguagens específicas de cada meio. Entretanto, não oferece orientações mais amplas acerca das funções sociais, econômicas e culturais da mídia e não prevê o trabalho com atividades de produção. Nesta categoria, foram classificadas as etapas do programa que ofereceram definições mínimas de conceitos da área de comunicação e esclareceram aspectos relativos aos processos midiáticos, mas não ori- entaram o professor, necessariamente, a pensar sobre a leitura crítica dos meios ou em atividades de produção de conteúdo.

c) Instrumentalização: de acordo com Siqueira (2008), essa abordagem utiliza a mídia como recurso pedagógico para apoio ao ensino de outras disciplinas que já se encon- tram nos programas oficiais de ensino. Essa perspectiva se desenvolveu com a chega- da das novas tecnologias ao ambiente escolar e coloca a mídia como um instrumento para transmissão de conteúdos das outras disciplinas. Sob essa ótica, as mídias são co- adjuvantes das disciplinas tradicionais e se estabelecem apenas como ferramenta pe- dagógica e não como objeto de estudo. Nesta categoria, foram inseridas as etapas do programa que sugerem o uso da mídia de forma predominante como ferramenta peda- gógica de apoio ao ensino de outras disciplinas.

d) Preparação: de acordo com Buckingham (2005), essa abordagem propõe uma leitura crítica, reflexiva e criativa dos meios: crítica, porque auxilia na identificação de aspec- tos midiáticos antes ocultos e colabora para a compreensão dos aspectos políticos, econômicos e sociais dos meios de comunicação; reflexiva, porque os indivíduos edu- cados sob essa abordagem conseguem se atentar às associações semânticas, linguísti- cas e, principalmente, sintagmáticas utilizadas nos diferentes meios; criativa, porque, através de atividades de produção, esses indivíduos se tornam capazes de descontruir sintaxes e recombiná-las para criar novas formas de trabalho utilizando as mídias. Através da preparação, portanto, é possível o desenvolvimento de habilidades essen- ciais, ou multiliteracias, para o domínio dos atuais recursos midiáticos e consumo consciente dos meios tradicionais. Nesta categoria, foram inseridas as etapas do pro-

grama que de alguma maneira fornecem a preparação criativa, através do incentivo a atividades de produção de conteúdo; crítica, através de conteúdos que explorem as questões sociopolíticas e econômicas dos meios; e reflexiva, através de análises de re- presentações simbólicas em textos, imagens e vídeos.

e) Outros: nesta categoria, foram colocados os casos que não puderam ser classificados em alguma categoria anterior, pois não fizeram menção às mídias.

Em virtude da quantidade de dados, o tratamento informático foi feito com o auxí- lio do computador, através de uma planilha eletrônica.

Considerando-se os três ciclos de estudo do programa Mídias na Educação, foram analisadas, no total, 958 etapas (Quadro 3):

Quadro 3. Quantidade de etapas analisadas por ciclo de estudo do programa Mídias na Educação

Ciclo de estudo Quantidade de etapas analisadas

Básico 265

Intermediário 280

Avançado 413

Total 958

Fonte: elaboração própria

As etapas do programa foram classificadas nas categorias correspondentes através da planilha eletrônica. Ao final desse processo, somou-se a quantidade de etapas presentes em cada uma das categorias. Os resultados obtidos foram inseridos em quadros e gráficos, um para cada ciclo do programa e um para os resultados totais, e estão descritos no próximo capí- tulo.

7 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este capítulo apresenta os resultados da pesquisa e os discute, à luz da revisão da literatura, dividindo-se em duas seções, a saber: 6.1 Descrição dos resultados e 6.2 Discussão dos resultados. Na primeira, apresentam-se os resultados obtidos com a análise de cada ciclo do programa, além do resultado global da pesquisa. A segunda seção discute esses resultados diante da fundamentação teórica que embasa o estudo.