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As Possibilidades para o Estudo da Canção nos Livros Didáticos

4 A CANÇÃO NOS LIVROS DIDÁTICOS

4.2 As Possibilidades para o Estudo da Canção nos Livros Didáticos

Em meio ao contexto desses livros, em que, muitas vezes, as canções aparecem fragmentadas e utilizadas como coadjuvantes para ilustrar conceitos ou questões que visam à demonstração de outros conhecimentos e não propriamente à leitura e interpretação das letras, enxergamos mais de um dado positivo que se revelam como possibilidades para a inserção da canção nas nossas aulas de literatura.

I. A Referência às Canções

Primeiramente, ressaltamos a referência dispensada às composições, as quais mesmo que não sejam lidas e abordadas como textos literários, são tratadas como textos poéticos. Mesmo que sempre sejam discriminadas como canções e não como poemas, são sempre referenciadas como composições, em cujos versos podem-se observar a ocorrência de fenômenos poéticos e literários. E se em nenhum livro há a defesa explícita sobre a condição poética da letra de música, também em nenhum deles há a negação deste fato.

Fragmentada, a canção aparece, em meio a poemas, para ilustrar a ocorrência de fenômenos poéticos:

“Chico Buarque de Holanda, explorando a musicalidade das redondilhas, escreveu uma canção para homenagear outros cantores e compositores:

Paratodos

O meu pai era paulista Meu avô pernambucano O meu bisavô, mineiro Meu tataravô, baiano

Meu maestro soberano Foi Antonio Brasileiro

Foi Antonio Brasileiro Quem soprou esta toada Que cobri de redondilhas Pra seguir minha jornada E com a vista enevoada

Ver o inferno e maravilhas” (In: NICOLA, José de., 2005a, v. 1, p. 295)

Fragmentada ela dialoga com outro poema em questões de vestibulares:

(Vunesp) Em seu último álbum póstumo, o cantor e compositor Cazuza diz, com sarcasmo: ‘A burguesia fede!

A burguesia quer ficar rica! [...]

A burguesia não tem charme nem é discreta Com suas perucas de cabelo de boneca A burguesia quer ser sócia do Country

Quer ir em Nova Iorque fazer compras.’ (ISRAEL, G.; CAZUZA; NEVES, Ezequiel).

Compare os versos apresentados com o seguinte poema concreto:

LUXO LUXO LUXO LUXO LUXOLUXOLUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXOLUXOLUXO

LUXO LUXO LUXO LUXO LUXOLUXOLUXO

LUXO LUXO LUXOXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXOXO LUXO LUXO

LUXO LUXO LUXO LUXOLUXO LUXOLUXOLUXO

LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXOLUXOLUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXO LUXOLUXOLUXO (In: SARMENTO e TUFANO, 2004, p. 438)

Mas, mesmo quando fragmentada, a canção aparece, em meio a poemas, e presta-se a ilustrar a ocorrência de fenômenos poéticos ou quando dialoga com outro poema em questões de vestibulares, a canção está sendo reconhecida como uma composição poética e como um texto que merece ser mais bem observado em sala de aula.

II. O Vestibular e o Enem através dos Livros

Dos nove livros analisados, seis deles apresentam a ocorrência de textos de canções, fragmentados ou em versão integral, como parte de questões sobre conhecimentos relacionados à língua ou à literatura, reproduzidas de vestibulares do país. Os três livros que

não apresentam este tipo de ocorrência são o de Infante (2008), o de Faraco (2003) e o livro de Takazaki (2004). Nos outros seis livros, em que, conjuntamente, há 30 deste tipo de ocorrência, podemos verificar que 28 destas ocorrências são em questões diferentes, reproduzidas de vestibulares diversificados.

Instituição / Vestibular Livro(s) em que a questão é reproduzida

UEL – PR SARMENTO e TUFANO, 2004, p. 100

Vunesp – SP SARMENTO e TUFANO, 2004, p. 438

NICOLA, José de, 2005b p. 415 Uerj – Cefet – UFRJ SARMENTO e TUFANO, 2004, p. 232

UFCE – CE CEREJA e MAGALHÃES, 2005, p. 189

FUVEST – SP CEREJA e MAGALHÃES, 2005, p. 386

UEPA – PA AMARAL et al., 2003, p. 46

UFSCar – SP AMARAL et al., 2003, p. 292

PUC – SP AMARAL et al., 2003, p. 576

ITA – SP MAIA, 2008, p. 300

UEPA – PA MAIA, 2008, p. 132

Unama – PA MAIA, 2008, p. 184

UFMS – MS MAIA, 2008, p. 264

ITA – SP MAIA, 2008, p. 423

UFMT – MT TERRA e NICOLA, 2004, p. 36 – 37

Fuvest – SP TERRA e NICOLA, 2004, p. 161

Vunesp – SP TERRA e NICOLA, 2004, p. 428

UFPE – PE TERRA e NICOLA, 2004, p. 428

Vunesp – SP TERRA e NICOLA, 2004, p. 501

ESPM – SP NICOLA, 2005a, p. 238 , vol. 1

Unifesp – SP NICOLA, 2005a, p. 239 , vol. 1

Vunesp – SP NICOLA, 2005b, p. 370 , vol. 2

Fuvest – SP NICOLA, 2005b, p. 49, vol. 2

Faap – SP NICOLA, 2005b, p. 87, vol. 2

ESPM – SP NICOLA, 2005b, p. 199, vol. 2

UFES – ES NICOLA, 2005c, p. 253, vol. 3

PUC – SP NICOLA, 2005c, p. 44, vol. 3

UFSP – SP NICOLA, 2005c, p. 204, vol. 3

Unicamp – SP NICOLA, 2005c, p. 420, vol. 3

Quadro 2 - A Incidência das Canções em Questões de Vestibulares.

Do ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio - são reproduzidas duas questões que utilizam trechos de canções. Uma delas apresenta um trecho de “O que é o que é”, de Luiz Gonzaga Jr., e é reproduzida nos livros de Sarmento e Tufano (2004, p. 402) e no livro de Terra e Nicola (2004, p. 164). A outra, com um trecho de “Até o fim”, de Chico Buarque, aparece em Terra e Nicola (2004, p. 140) e em Nicola (2005a, p. 205).

Embora a maioria das canções apareça fragmentada, a incidência em 28 questões diferentes sobre língua e literatura, em diversos vestibulares do país, e em duas do ENEM, é um dado que nos permite indagar sobre o porquê da presença ainda tímida da canção na sala de aula, uma vez que ela aparece nos contextos em que, concordemos ou não, são pontos referenciais para o Ensino Médio. Se a canção está nos exames seletivos do país e no Exame

Nacional do Ensino Médio, por que ela não é mais presente e utilizada, de forma mais efetiva e proveitosa, nas nossas aulas de literatura?

III. A Recepção às Canções - As Ocorrências nos Livros

De maneira tímida ou mais atrevida, a canção responde “presente” nos livros que analisamos, cujos materiais podem abrir caminhos para o estudo de canções nas escolas em que são adotados. Ao veicularem as canções, fragmentadas ou em versão integral, os livros a retiram do universo de puro entretenimento, relativizam a sua função lúdica e institui-lhes um papel didático que favorece a sua exposição como um objeto de estudo relacionado às áreas onde estão sendo apresentadas.

Inseridas nas áreas de estudos dos conhecimentos de língua e literatura, as canções recebem o mesmo tratamento problemático dispensado aos textos literários, no tocante tanto a recorrência de letras fragmentadas quanto a sua utilização como suporte para ilustrar ou exemplificar informações históricas e conceitos teóricos. Mas uma vez que a utilização dos livros reclama a nossa autonomia didática, a responsabilidade pelas nossas práticas em sala de aula não podem a eles ser atribuída, pois, mesmo que seja um referencial de apoio a nossa atividade docente, as recomendações e solicitações por eles apresentadas devem ser bem compreendidas apenas enquanto proposições.

Mais problemático do que reproduzir irrefletidamente, na sala de aula, a prática da leitura fragmentada induzida pelos livros, é seguir as proposições, apresentadas em alguns deles, para que os alunos produzam poemas. Consideramos que o objetivo de formar leitores de poemas não implica em formar poetas, até por que tal formação é inexistente, e também porque o gosto pela poesia e pela leitura de poemas não é exclusivo aos poetas. Além disto, impor a produção de um poema, como sendo um gênero textual banal e fácil de ser produzido, pode ser um caminho muito estreito para a visão distorcida dos alunos sobre esta composição ou mesmo para a aversão aos poemas, dado ao provável embate difícil que o aluno enfrentará para produzi-lo.

Certamente que o interesse, individual ou coletivo, pela produção de poemas, não deva ser desconsiderado por nós, mas há uma diferença entre a imposição de uma atividade inadequada e infrutífera para alunos e o apoio a uma manifestação espontânea, cujos resultados podem reforçar uma habilidade particular.

Se a inserção da canção seguisse as mesmas proposições de produção direcionadas aos poemas, ficamos a imaginar como seriam os resultados de solicitações para que os alunos

produzissem letras de canções, as quais, como letras para a música, ainda se poderia exigir que fossem musicadas.

Mas, mesmo sob os riscos do contexto problemático desses livros, a nossa autonomia didática pode ir dando conta dos problemas, à medida que formos convertendo as ocorrências de canções em oportunidades para o nosso trabalho em sala de aula.

No tocante à recorrência de letras fragmentadas, se não devemos reproduzir a prática problemática da leitura fragmentada em sala de aula, o índice de fragmentos já nos serve para apontar que haveremos de buscar a versão integral dessas letras em outras fontes, se quisermos estudá-las na perspectiva que defendemos.

Por outro lado, este índice nos faz lembrar o papel de recurso didático que deve caber aos livros, cuja condição lhes impõe limitações que nos solicitam a procurar aquilo que, veladamente, eles podem estar oferecendo. Daí, podemos enxergar esses fragmentos como um corpus de títulos de canções, a partir do qual, poderemos buscar a versão completa e analisar as viabilidades que oferecem para um trabalho com elas.

A seguir, apresentamos a lista destes títulos, por ordem alfabética, seguidos dos respectivos compositores, da indicação de vezes em que aparecem, referente ao mesmo fragmento ou a fragmentos diferentes da mesma canção, e do (s) local (is) em que aparecem.

IV. Títulos das Canções que Ocorrem, em Versão Fragmentada, nos Livros Analisados.

Alguém Cantando – Caetano Veloso – 01 ocorrência in: Cereja e Magalhães, p. 48. Amor à Natureza - Paulinho da Viola – 01 ocorrência in: Terra e Nicola, p. 261.

Amor I Love You – Carlinhos Brown e Marisa Monte – 01 ocorrência in: Sarmento e Tufano, p.100.

Amigo é Pra Essas Coisas – Aldir Blanc e Sílvio Silva Jr. – 01 ocorrência in: Terra e Nicola, p. 261.

Anos Dourados – Chico Buarque – 01 ocorrência in: Maia, p. 42. A Rita – Chico Buarque – 01 ocorrência in: Cereja e Magalhães, p. 48. Até o Fim – Chico Buarque – 01 ocorrência in: Amaral et al., p. 292.

Até o Fim – Chico Buarque – 02 ocorrências: in: Terra e Nicola, p. 164; Nicola, vol. 1, p. 205. Beija Eu – Marisa Monte e Arnaldo Antunes – 01 ocorrência in: Terra e Nicola, p. 243.

Burguesia – Cazuza e Ezequiel Neves – 02 ocorrências: Sarmento e Tufano, p. 438; Nicola, vol. 3, p. 415.

Cálice – Chico Buarque – 04 ocorrências: in: Cereja e Magalhães, p. 47; Cereja e Magalhães, p. 240; Nicola, vol. 1, p. 239; Nicola, vol. 1, p. 308.

Carinhoso – Pinxiguinha – 01 ocorrência in: Amaral et al, p. 516.

175 Nada Especial – Gabriel Pensador – 01 ocorrência in: Sarmento e Tufano, p. 302. Cobra - Rita Lee & Roberto de Carvalho – 01 ocorrência in: Maia, p. 300.

Construção – Chico Buarque – 02 ocorrências: Maia, p. 73; Nicola, vol. 1, p. 232.

Doce Vampiro – Rita Lee e Roberto de Carvalho – 01 ocorrência in: Cereja e Magalhães, p. 247.

Domingo no Parque – Gilberto Gil - 02 ocorrências: Nicola, vol. 1, p. 211; Nicola, vol. 3, p. 121.

Drão – Gilberto Gil – 01 ocorrência in: Nicola, vol. 2, p. 253. Elegia – Caetano Veloso – 01 ocorrência in: Nicola, vol. 2, p. 199.

Esse Cara – Caetano Veloso - 02 ocorrências: Terra e Nicola, p. 321; Nicola, vol. 2, p. 49. Esotérico – Gilberto Gil – 01 ocorrência in: Nicola, vol. 3, p. 128.

Esperando na Janela – Targino Gondim; Manuca; Raimundinho do Acordeão - 01 ocorrência in: Amaral et al, p. 46.

Eu te amo – Tom Jobim e Chico Buarque – 02 ocorrências: Terra e Nicola, p. 161; Terra e Nicola, p. 261.

Fado Tropical - Chico Buarque e Ruy Guerra – 01 ocorrência in: Terra e Nicola, p. 261. Gota d’água – Chico Buarque – 02 ocorrências: Sarmento e Tufano, p. 360; Terra e Nicola, p. 348.

Homem Primata – Sérgio Brito; Marcelo Frommer; Nando Reis; Ciro Pessoa – 01 ocorrência in: Terra e Nicola, p. 258.

Me Deixa em Paz – Monsueto Menezes – 01 ocorrência in: Terra e Nicola, p. 295.

Mestre-Sala dos Mares – Aldir Blanc e João Bosco – 01 ocorrência in: Nicola, vol. 3, p. 258. Muito Romântico - Caetano Veloso – 01 ocorrência in: Nicola, vol. 2, p. 276.

Nosso Estranho Amor – Caetano Veloso – 01 ocorrência in: Infante, p. 206.

O Bêbado e o Equilibrista – João Bosco e Aldir Blanc – 01 ocorrência in: Terra e Nicola, p. 349.

O Calibre – Herbert Viana – 01 ocorrência in: Cereja e Magalhães, p. 42. O Leito dos Rios – Chico Buarque - 01 ocorrência in: Terra e Nicola, p. 349. O Meu Guri – Chico Buarque - 01 ocorrência in: Nicola, vol. 3, p. 341.

O Que é o Que é – Gonzaguinha – 02 ocorrências: Sarmento e Tufano, p. 402; Terra e Nicola, p. 140.

O Samba da Minha Terra – Dorival Caymmi – 01 ocorrência in: Cereja e Magalhães, p. 386. Pais e Filhos – Renato Russo; Dado Villa-Lobos; Marcelo Bonfá - 01 ocorrência in: Amaral et al, p. 563.

Paratodos - Chico Buarque – 02 ocorrências: Maia, p. 132; Nicola, vol. 1, p. 295. Pedro Pedreiro – Chico Buarque – 01 ocorrência in: Sarmento e Tufano, p. 239. Queixa – Caetano Veloso – 02 ocorrências: Amaral et al, p. 46; Nicola, vol. 1, p. 319. Quereres - Caetano Veloso – 01 ocorrência in: Infante, p. 72.

Refazenda – Gilberto Gil – 01 ocorrência in: Nicola, vol. 1, p. 238.

Retrato em Branco e Preto – Tom Jobim e Chico Buarque - 01 ocorrência in: Terra e Nicola, p. 350.

Sampa – Caetano Veloso – 01 ocorrência in: Terra e Nicola, p. 261.

Se eu Quiser Falar com Deus – Gilberto Gil - 01 ocorrência: Sarmento e Tufano, p. 17. Se Todos fossem Iguais a Você – Vinícius de Moraes e Tom Jobim – 01 ocorrência in: Terra e Nicola, p. 295.

Sinal Fechado – Paulinho da Viola - 02 ocorrências: Sarmento e Tufano, p. 356; Terra e Nicola, p. 261.

Sugar Cane Fields Forever - Caetano Veloso - 01 ocorrência in: Terra e Nicola, p. 348. Travessia – Fernando Brant e Milton Nascimento – 01 ocorrência in: Takasaki, p. 173.

Trocando em Miúdos – Chico Buarque e Francis Hime - 01 ocorrência in: Nicola, vol. 2, p. 198.

Uns Com Tanto – Zé Kéti – 01 ocorrência in: Nicola, vol. 2, p. 87. Vai Passar - Chico Buarque – 01 ocorrência in: Amaral et al, p. 576.

Velha Infância – Carlinhos Brown, Marisa Monte e Arnaldo Antunes – 01 ocorrência in: Nicola, vol. 3, p. 204.

Você Não Entende Nada - Caetano Veloso – 01 ocorrência in: Terra e Nicola, p. 243.

V. As Canções em Versão Integral

As ocorrências de canções, fragmentadas ou não, no mesmo espaço dos textos literários, nos parece significativas porque nos deixam relegar, momentaneamente, as discussões sobre as possibilidades e condições de um espaço para a canção no contexto didático e nos dar a oportunidade para procurar como tirar melhor proveito dessas que ocorrem. Nesta busca, um dado a ser considerado é o número de letras, em versão integral,

que os livros nos oferecem, independente dos objetivos pelos quais elas comparecem ou das perspectivas de estudo propostas nos livros.

A apresentação das letras completas promove a concepção das letras como textos integrais para serem lidos e nos disponibiliza estes textos que podem ser trabalhados na perspectiva que pretendermos para as abordagens em sala de aula.

Não podemos desconsiderar a sobreposição do índice de ocorrência das letras integrais em detrimento do índice de letras fragmentadas que, embora seja alto, ainda foi inferior na totalidade dos livros analisados.

Tabela 6 - A Totalidade de Ocorrências de Textos de Canções, em Versão Integral, em Relação à Ocorrência das Versões Fragmentadas

Ocorrência de Textos de Canções na Totalidade dos Livros Valor Absoluto de Textos em Versão Fragmentada Valor Absoluto de Textos em Versão Integral Valor Relativo de Textos em Versão Fragmentada Valor Relativo de Textos em Versão Integral 148 68 80 46% 54%

VI. As Utilizações dos Textos de Canções em Versão Integral

A tendência da utilização de textos literários, especialmente de poemas, como suporte para o estudo de conhecimentos relacionados, tanto à área de Língua (gramática, lingüística e produção de textos) quanto à de Literatura, repete-se com uma grande parte das canções integrais que aparecem nos livros analisados.

Destes casos, as que ocorrem na área de Língua aparecem para exemplificar conceitos gramaticais, estilísticos e lingüísticos; para a demonstração destes conhecimentos, por parte dos alunos, em questões elaboradas pelos próprios autores dos livros; ou, ainda, para introduzir uma unidade, cujo assunto pode ser verificado na temática da letra. As que ocorrem para atender informações sobre os conhecimentos relacionados à Literatura, aparecem para exemplificar conceitos teóricos, para comprovar as características dos períodos literários ou, simplesmente, para ilustrar o assunto de uma unidade, com o qual haja uma correspondência temática.

Mas não podemos pensar que não haja nenhuma contribuição nesses livros. Paralelo ao uso das letras de canções como simples coadjuvantes para o estudo de outros conhecimentos, também ocorrem canções acompanhadas de propostas para a leitura e

interpretação das suas letras. Embora a maioria não direcione à leitura literária, são proposições que solicitam e induzem a uma leitura do texto integral.

As nossas afirmações anteriores que 30 ocorrências de canções são reproduzidas de questões de vestibulares do país e que 19 delas aparecem em forma de fragmentos já antecipam que as outras 11 dessas ocorrências referem-se a textos de canções em versão integral. Dessas onze questões, podemos relacionar sugestões de leituras, a partir de oito delas.

E, como um dado mais positivo, verificamos a ocorrência de canções, não somente acompanhadas de propostas para uma abordagem que encaminha para a leitura literária, mas também com sugestões para a realização de trabalhos de interlinguagem com os conhecimentos relacionados à literatura e com textos literários em prosa e com poemas.

Tabela 7 - A Incidência da Utilização de Canções em Versão Integral Utilização das Canções em

Versão Integral Valor Absoluto

Valor Relativo no Universo das 80 Versões Integrais que

Ocorrem Como exemplos, ilustrações

ou em questões elaboradas pelos autores dos livros

Inseridas em Questões de Vestibulares (reproduzidas nos livros)

Como um texto para o qual há indução à leitura integral ou há uma Proposta de Leitura elaborada pelo autor do livro

Como um texto para o qual há uma sugestão de diálogo com a literatura ou com outros textos literários

41 11 16 12 51% 14% 20% 15%

Indicamos, a seguir, os livros onde ocorrem as dezesseis canções, para as quais há alguma proposta, elaborada pelo autor do livro didático, para a leitura e interpretação das letras ou há uma indução ou orientação para a leitura integral do texto.

Tabela 8 - As Indicações das Canções Apresentadas com Proposta ou Indução à Leitura Integral Livro / Autor Total de Ocorrências Páginas

CEREJA e MAGALHÃES MAIA, João D.

INFANTE, Ulisses NICOLA, José de – vol. 1 NICOLA, José de – vol. 2 NICOLA, José de – vol. 3 FARACO, C. Alberto TAKAZAKI, Heloísa H. 03 02 02 03 01 01 01 03 31- 557 – 531 40 / 41 – 165 208 – 303 / 304 253 – 301 – 303 250 327 412 32 – 54 - 76

Indicamos também as doze sugestões que esses autores apresentam para a realização de trabalhos de interlinguagem de letras de canções com os conhecimentos relacionados à literatura ou com outros textos literários. E, ainda, as oito sugestões de estudo explicitadas em questões de vestibulares ou relacionadas a proposições implícitas nessas questões.

Certamente que podemos discordar de alguma sugestão, ou até mesmo de todas elas, ou que, de acordo com as abordagens que objetivamos com os nossos alunos, pode haver necessidade de modificações ou complementações das propostas apresentadas.

Contudo, antes de qualquer apreciação mais detida, consideramos essas sugestões como mais uma reflexão que pode nos auxiliar a pensar, já que “se formos ajuntando uma reflexão daqui, uma experiência dali, uma proposta dacolá e fomos discutindo tudo isso”, não desperdiçaremos nenhum meio para procurarmos pensar em mudanças (PINHEIRO, 2001 p. 21).

VII. Sugestões dos Livros para Trabalhos de Interlinguagem

● A letra da canção “Casa no Campo”, de Zé Rodrix, com os poemas Árcades. (In: MAIA, 2008, p. 205).

● A letra da canção “Pivete”, de Francis Hime e Chico Buarque de Hollanda, e um fragmento de texto extraído do romance “Capitães de Areia”, de Jorge Amado. (In: MAIA, 2008, p. 394 / 395).

● A letra da canção “Clara”, de Caetano Veloso, e a lírica trovadoresca. (In: INFANTE, 2008, p. 79).

● A letra da canção “Atrás da Porta”, de Chico Buarque, e as cantigas medievais. (In: NICOLA, 2005a, vol. 1, p. 320).

● A letra da canção “O Último Pau-de-arara”, de Venâncio, Corumba e J. Guimarães, e um fragmento de texto do romance “A Bagaceira”, de José Américo de Almeida. (In: NICOLA, 2005c, vol. 3, p. 326 / 327).

● A letra da canção “Súplica Cearense”, de Gordurinha e Nelinho, e um fragmento de texto do romance “O Quinze”, de Raquel de Queiroz. (In: NICOLA, 2005c, vol. 3, p. 328 / 329 e 330).

● A letra da canção “Morro Velho”, de Milton Nascimento, e um fragmento de texto do romance “Menino de Engenho”, de José Lins do Rego. (In: NICOLA, 2005c, vol. 3, p. 333 / 334 e 335).

● A letra da canção “Monte Castelo”, de Renato Russo, o texto bíblico da Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios e um Soneto de Camões. (In: FARACO, 2003, p. 110 e 111). ● A letra da canção “Oceano”, de Djavan, e as cantigas medievais. (In: TAKAZAKI, 2004, p.

53).

● A letra da canção “Monte Castelo”, de Renato Russo, e um Soneto de Camões. (In: TAKAZAKI, 2004, p. 66 e 67).

● A letra da canção “Brasil”, de Cazuza, com um texto satírico de Gregório de Matos. (In: TAKAZAKI, 2004, p. 122 e 125).

● As letras das canções “Que país é este?”, de Renato Russo, e “Inútil”, de Roger, com um fragmento da segunda carta de “Cartas Chilenas”, atribuída a Tomáz Antônio Gonzaga. (In: TAKAZAKI, 2004, p. 130 e 131).

VIII. Sugestões de Estudos Explicitadas em Questões Reproduzidas de Vestibulares ou a partir de Proposições Implícitas nessas Questões

● Trabalhar o diálogo temático entre a letra da canção “Prece ao Vento”, de Gilvan Chaves; Fernando Luís da Câmara Cascudo; Alcyr Pires Vermelho, e o poema “O Vento”, de Cecília Meirelles. (A partir de questão do vestibular da UFCE – CE, reproduzida em CEREJA e MAGALHÃES, 2005, p. 188 e 189).

● Diálogo entre a letra da canção “Queixa”, de Caetano Veloso, e as cantigas medievais trovadorescas. (Questão do vestibular da UEPA-PA, reproduzida em AMARAL et al., 2003, p.46).

● Diálogo entre a letra da canção “Sozinho”, de Peninha, e o texto medieval de D. Diniz. (Questão do vestibular da Unama - PA, reproduzida em MAIA, 2008, p.184).

● Trabalhar o diálogo temático entre a letra da canção “Cajuína”, de Caetano Veloso, e os poemas existenciais de Cecília Meirelles. (A partir de questão do vestibular do ITA-SP,