• Nenhum resultado encontrado

No dia 4 de Fevereiro tivemos uma reunião no PPCP, na qual estavam presentes os/as professores/as Regina Padilha, Dorotéya Gavanski, Márcia Marques, Neusa Moro, Ariel Pires, Déia Silveira, Maristela Rossato, Clarice Linhares e eu. Nessa reunião planejamos os trabalhos que desenvolveríamos em Porto Barreiro com os/as professores/as, conforme as suas solicitações. Assim ficando combinado que iríamos ao município nos dias 09, 10, 11 e 12 do mês supracitado. Aproveitamos o espaço de interlocução e discutimos conteúdos, metodologias que iríamos desenvolver e alguns problemas relativos ao trabalho que os grupos estavam construindo.

No dia 9 de Fevereiro, a professora Regina e eu (grupo de Gestão Educacional), Ariel (grupo de História/Geografia) fomos a Porto Barreiro para trabalharmos com algumas questões referentes ao Currículo do Ensino Fundamental.

Na abertura da programação a Secretária de Educação Ivone deu boas-vindas aos/às professores/as presentes, comentou algumas dificuldades que estavam impedindo o acesso dos/as alunos/as às escolas, como por exemplo: estradas em má conservação devido ao excesso de chuvas e meios de transportes inadequados para transitar em estradas nessas

condições.

Na seqüência a professora Regina e eu conversamos sobre algumas questões importantes que permeiam o pensar sobre o currículo. Nesse diálogo surgiram falas tais como:

“No próprio dia a dia, às vezes tem algo ali no currículo e a realidade é bem diferente.” (professora Soeli)

“Devemos partir daquilo que o aluno tem de bom.” (outra professora)

“Precisamos programar os nossos olhos, a gente reforça os erros. Por quê não elogiar?” (professor Ariel)

“Nós aprendemos a ter medo, não ousamos, somente copiamos.” (outra professora) “Escola, não é cotidiano, ela deve ultrapassar a mídia, a Igreja, deve propiciar apropriações do conhecimento elaborado. O currículo não é só listar conteúdos, mas também como trabalhamos. O currículo é um conjunto de vivências e experiências que são vividas na escola. O interessante para o nosso aluno é aprender. O que? Que conteúdo? O currículo é seletivo.” (professora Regina)

Nesse momento estávamos dialogando e refletindo sobre várias questões que perpassam a compreensão do que é currículo, ancorados na nossa prática e no diálogo com Tomaz Tadeu da Silva, por meio do seu texto: Currículo e identidade social: territórios contestados. In _______. (org) Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em educação. Petrópolis: Vozes, 1995. p. 190-207.

Na continuidade dos trabalhos o professor Ariel coordenou uma dinâmica, na qual os presentes ficaram de mãos dadas, depois se separam, andaram, em seguida ataram novamente as mãos, na posição que estavam. Deu um nó terrível. Levamos quase uma hora para desatar o nó. No final discutimos o que a dinâmica nos ensinou. Algumas colocações: que as coisas parecem sem saída; dá vontade de desistir; dá vontade de enganar; algumas pessoas dão nó; que as coisas tem solução.

Voltamos a questão do currículo e os/as professores/as falaram da necessidade da inclusão no currículo de temas transversais como Cidadania, Política, Educação Religiosa, contudo, esses temas já estarem sendo trabalhados, mas de forma superficial. Eles/as manifestaram o desejo de futuramente realizarem estudos mais aprofundados sobre essas

questões.

Nesses quatro dias de trabalhos, a solicitação da Secretária de Educação foi que trabalhássemos com o Currículo das Escolas de Porto Barreiro, objetivando que junto com os/as professores/as do município, elaborássemos esse currículo. Quanto a essa questão no grupo (PPCP), refletimos muito sobre a solicitação e optamos por um trabalho que permitisse reflexões e a partir delas os/as professores/as de Porto Barreiro, pudessem pensar e construir um currículo que viesse ao encontro das suas expectativas e necessidades. O nosso papel foi o de criar um espaço de interlocução entre prática-teoria ou teoria-prática, que possibilitasse a construção de olhares sobre o Currículo, assim mediando-lhes ancoragens para que eles/as produzissem o currículo que queriam e acreditavam. Também a idéia no final de Dezembro de 1998 era que os grupos de Porto Barreiro trabalhassem nesse dias socializando os “achados” de cada grupo, idéia que não foi concretizada pelos motivos que já comentei: por ser férias escolares, não tivemos espaço para trabalhar com os grupos, na produção dessas oficinas, tal como havíamos discutido e combinado.

O professor Ariel trabalhou com uma metodologia dividindo a turma em quatro grupos com cerca de quatro e/ou cinco professores. Disse-lhes para irem passear nas ruas do centro de Porto Barreiro, sendo que cada grupo ia para uma rua determinada, levando um saco plástico para coletar coisas que encontrassem e lhes chamassem a atenção. O tempo que disporiam para a atividade seria uma hora. Além da coleta de objetos deveriam observar o meio ambiente, entrevistar pessoas, registrar tudo o que observassem.

Ao retornarem à sala de aula, os/as professores/as colocaram o material coletado no chão, separaram o que era plástico, papel e outros elementos, classificando o material. Partindo do material coletado, o professor Ariel deflagrou várias discussões das quais emanaram diversas sugestões para o desenvolvimento de diferentes e diversificados conteúdos de todas as áreas que constituem o currículo básico do Ensino Fundamental.

Dia 10 de Fevereiro acompanhei a professora Doroteya Gavanski (grupo de Matemática), que foi a Porto Barreiro desenvolver um trabalho pedagógico com os/as professores/as.

Inicialmente a turma foi dividida em quatro grupos, organizados de acordo com as séries que os/as professores/as atuavam (1ª, 2ª, 3ª e 4ª). Em seguida a professora Doroteya

lançou quatro tópicos no quadro negro, solicitou aos/as professores/as que discutissem as questões e as respondessem. Os tópicos foram:

- conteúdos que não foram trabalhados; - conteúdos mais difíceis de serem trabalhados; - dificuldades evidenciadas nos alunos;

- estratégias colocadas em ação.

A realização da atividade durou cerca de uma hora.

Partindo das respostas, colocações e dúvidas dos/as professores, a professora Doroteya trabalhou um farto leque de conteúdos, metodologias, sugestões, que paulatinamente afloravam da interlocução. Relatou que quando concluiu a Graduação, também não sabia para que eram usados muitos dos cálculos de Matemática e disse: “Eu sou uma estudiosa, sou apaixonada pela Matemática. Estudei, pesquisei muito para saber o que sei, mas demorei muito. Não tive a oportunidade de vocês estão tendo, de ter alguém que me desse uma pista.”

Enfatizou a importância do/a professor/a proporcionar aos/às alunos/as atividades diferenciadas, para despertar-lhes o gosto pela Matemática e também condições de se sentirem bem sucedidos.

Dia 11 de Fevereiro acompanhei a professora Ana Lúcia Ferreira que foi à Porto Barreiro trabalhar com os/as professores/as, abordando o Currículo de Ciências.

Iníciou as atividades conversando com os/as professores/as, comparando o processo de ensino-aprendizagem com um bolo, onde o/a professor/a representava um elemento do bolo, o/a aluno/a, outro, a farinha seria a estrutura educacional e assim sucessivamente.

“Temos um laboratório vivo, é importante permitir que o nosso aluno conviva com esse mundo que nós temos (...) para trabalhar com Ciências é preciso curiosidade que é o fermento.” (Ana Lúcia)

Na continuidade, a professora falou sobre o Ensino de Ciências e coordenou várias dinâmicas que podem ser usadas para trabalhar com os conteúdos de Ciências. Na seqüência organizou a turma em cinco grupos, por série.

O grupo da pré-escola coletou material e a partir deles desenvolveram um tema de Ciências, articulando a uma metodologia que facilitasse a aprendizagem dos/as alunos/as. Apresentaram a atividade, explicando como trabalhariam na sala de aula.

O grupo de 1ª série fez um trabalho parecido, só que o ponto de partida foi um texto: Os bichos diferentes (Regina Chambian. O pintinho que nasceu quadrado.)

O grupo da 2ª série partiu de um texto sobre o solo, os/as professores desenvolveram várias atividades e metodologias que podem ser trabalhadas com os/as alunos/as, a partir do tema gerador, articulando os conteúdos de Ciências com outras áreas do conhecimento.

O grupo da 3ª série partiu do tema “reprodução” e da 4ª série dos temas: fotossíntese, teia alimentar, utilidade da árvore. Esses dois grupos seguiram passos parecidos com os já comentados. Em síntese todos os grupos desenvolveram, atividades e metodologias, instigantes, dinâmicas, as quais podem ser usadas em todas as séries, articulando o Ensino de Ciências com outras áreas. A professora levou farto material teórico-prático, onde os/as professores/as puderam pesquisar e desenvolver os conteúdos e as metodologias.

Nesse dia na interação com os/as professores/as, um fato me chamou a atenção. A professora Nelci me contou que quando atuava numa classe multisseriada, numa escola constituída por apenas uma sala, ela em parceria com seus alunos fundaram o Clube da árvore. Coletavam sementes de árvores da região, tais como Bracatinga, Araucária, Acácia Negra, Jabuticaba, dentre outras e produziam mudas dessas espécies. Construíram uma estufa bem simples, de taquara para o desenvolvimento das mudas e recebiam sacos de plásticos da Souza Cruz, para colocá-las. O trabalho foi bem sucedido, os/as alunos/as gostavam, eles/as vendiam e doavam as mudas para quem quisesse, inclusive num concurso regional, conquistaram o primeiro lugar, devido a qualidade e quantidade de mudas que produziram. O Clube durou quatro anos, quando a escola foi desativada, devido ao processo de nuclearização das escolas da região, o Clube também foi. Ingressando no quadro docente de outra escola, a professora Nelci tentou fundar outro Clube, todavia, não conseguiu, porque o prédio da escola é do Estado e não possui espaço condizente para o desenvolvimento do trabalho.

Ao final das atividades do dia a professora Ana Lúcia sugeriu a elaboração de um projeto de Educação Ambiental, onde se verificasse problemas encontrados no Meio Ambiente e se estudasse alternativas de soluções em parceria: escola e população.

No dia 12 de Fevereiro acompanhei a professora Clarice Linhares, Neusa Moro e Maristela Rossato, as quais foram a Porto Barreiro desenvolver um trabalho nas áreas de Língua Portuguesa e Alfabetização.