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3.6. A Delimitação de Unidades de Paisagem como fundamentação ao Zoneamento

3.6.1. As propostas de Betrand (1971) e a de Monteiro (2000)

As propostas metodológicas elaboradas por Bertrand (1971) e Monteiro (2000) fundamentam-se na taxionômica escalar das Unidades de Paisagem.

Para Bertrand (1971), o estudo da paisagem constitui-se numa questão de método. De acordo com o autor, o estudo da paisagem só é possível através da delimitação e divisão da mesma em unidades homogêneas e hierarquizadas, chegando-se com isso a uma classificação, e para isso, afirma o autor, é necessária à adoção de uma escala. Bertrand (1971) chama a atenção para o fato de que as inúmeras classificações existentes (fitogeográfica, climática, pedológica,

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morfoestrutural, hidrogeomórfica) para a definição de unidades da paisagem aparecem de forma arbitrária, não havendo limites próprios para a ordenação dos fenômenos.

Bertrand (1971) por outro lado, estabelece seis níveis de dimensão escalar, que são divididos pelos elementos estruturais e climáticos, denominados como unidades superiores (zona, domínio e região) e por elementos biogeográficos e antrópicos, chamados de unidades inferiores (geossistema, geofácies e geótopo) – Tabela 3.1.

Tabela 3.1 - Níveis de dimensão escalar na delimitação de Unidades de Paisagem segundo Bertrand (1971).

Unidades Superiores

Zona Corresponde à zonalidade planetária definida pelo clima, biomas e megaestruturas. É definida como de 1ª. Grandeza (mais de 10 milhões de km²).

Domínio Caracterizado por uma combinação de relevo e clima onde define reagrupamentos maleáveis e diferentes, como, por exemplo, domínios alpinos e atlânticos. É uma unidade de 2ª grandeza (de 1 a 10 milhões de km²).

Região Situa-se no interior dos domínios e se define por um andar biogeográfico original; aplica-se tanto a conjuntos físicos, estruturais ou climáticos como pela sua vegetação, por exemplo: frente montanhosa hiperúmida, recoberta por floresta de faia e carvalho. É uma unidade situada entre as 3ª e 4ª grandeza (de 10 mil a 1 milhão de km²).

Unidades Inferiores

Geossistema Resultam da combinação de um potencial ecológico (geomofologia, clima, hidrologia), uma exploração biológica (vegetação, solo, fauna) e uma ação antrópica. Corresponde a dados ecológicos relativamente estáveis, que definem o potencial ecológico do geossistema. Caracteriza-se por uma homogeneidade fisionômica (não necessariamente), uma forte unidade ecológica e biológica, num complexo essencialmente dinâmico. É uma unidade de 5ª grandeza (de 100 a 10.000 km²).

Geofácies Corresponde a um setor fisionomicamente homogêneo, onde se desenvolve uma mesma fase de evolução geral do geossistema (6ª e 7ª grandeza, de 1 a 100 km²).

Geótopo Corresponde ás microformas. É a menor unidade geográfica homogênea diretamente discernível no terreno. É o refúgio de bioceneses originais, ás vezes relictuais e endêmicas. É uma unidade de 8ª grandeza (menos de 1 km²).

Fonte: Bertrand (1971).

O quarto nível de hierarquização (o geossistema) é considerado o mais importante nos estudos geográficos, pois apresentam nesta escala, as maiores inter-relações entre os elementos

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da paisagem. Ressalta-se que a atuação antrópica sobre a paisagem é feita nesta escala (BERTRAND, 1971).

Já a proposta metodológica elaborada por Monteiro (2000) tem como principal contribuição à inclusão da dimensão espacial e da sucessão escalar nos estudos dos fenômenos ambientais. Uma das características fundamentais desse novo enfoque ecológico é seu subsídio à teoria sistêmica através da descrição da seqüência de conjuntos hierarquizados, desde os organismos ou sociedades até a Terra toda como um sistema global.

Uma das preocupações propostas por esse autor está na diretamente ligada com a problemática das ordens de grandeza e dos graus de organização dos fenômenos (taxonomia). Outra questão enfocada pelo autor são as limitações e insatisfações que o tratamento taxonômico conduz em razão de uma falsa concepção de hierarquia.

Para Oliveira (2003), a proposta desenvolvida por Monteiro (2000) considera a inter- relação entre os potenciais ecológicos, a exploração biológica e a ação antrópica passam a ser analisados como relações contidas e/ou integradoras do meio geossistêmico.

Monteiro (2000) faz uma severa crítica à aplicação de modelos criados para os geossistemas, pois esses sistematizam a análise do complexo sistema natural, mas dificultam uma integração dos aspectos antrópicos ao geossistema. O autor considera essencial a existência de estudos integrados nos quais a natureza seja inserida na análise social, e recusa uma abordagem estanque e dissociada das relações espaciais. Tanto que o autor sugere que:

(...) uma tentativa de montagem de “modelos” onde, sob várias maneiras de representar aqueles componentes, o problema dos componentes bióticos no geossistema é focalizado. Partindo da premissa de que integração funcional entre os fatores bióticos e abióticos é virtualmente impossível de modelar completamente ele tenta utilizar modelização gráfica sobre a forma de diagramas de fluxo extensivo. (MONTEIRO, 2000, p. 91)

Monteiro em sua proposta metodológica objetiva a integração das variáveis “naturais” e “antrópicas”, fundindo “recursos”, “usos” e “problemas” configurados em “unidades homogêneas” assumindo um papel primordial na estrutura espacial que conduz ao esclarecimento do estado real da qualidade do ambiente na aplicação do diagnóstico.

A relação entre os “geossistemas” e as “técnicas de avaliação” enfoca a importância que dos geossistemas para a percepção geográfica. Destarte, enfoca também a caracterização dos geossistemas em unidades espaciais que são reveladoras de suas propriedades. Inclusive são

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reveladoras daquelas propriedades advindas da qualidade ambiental, que pode ser descrita, interpretada e explicada a partir da análise/compreensão de suas causas

Monteiro (2000) afirma que é imprescindível a existência de uma análise quantitativa e econômica da qualidade ambiental que representem uma ação no diagnóstico qualitativo. Entretanto, é somente a partir deste diagnóstico que se poderá avançar na elaboração de um prognóstico necessário ao planejamento ou a uma ordenação territorial.

O produto final da proposta elaborada por Monteiro (2000) é a elaboração do Mapa-síntese de Qualidade Ambiental. Este é constituído por uma grande quantidade de informações de caráter natural e antrópico, justificado pela tentativa constante de interação das relações antropogenéticas e espacialização dessas informações , seja na forma de mapa-síntese, seja na de esquemas e perfis que expressem a compartimentação espacial.