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Um conceito fundamental nos estudos que aplicam a Teoria dos Sistemas Gerais é o conceito de Geossistema. Este conceito foi primeiramente enunciado por Sotchava (1977), no início da década de 1960. O autor define Geossistema enquanto “formações naturais” que obedecem à dinâmica dos fluxos de matéria e energia, inerentes aos sistemas abertos que, conjuntamente com os aspectos antrópicos, formam um modelo global de apreensão da paisagem, inserido, pois, de maneira isonômica, o homem na sua integração com o meio natural e na formação e evolução da paisagem.

Vicente e Perez Filho (2003) afirmam que no período entre a metade da década de 1960 até final dos anos 70, autores como Stoddart, Neff, Tricart, Choley, Kennedy, Hartshorne, Snytko, entre outros, analisaram e aplicaram a abordagem sistêmica à Geografia através do conceito geossistêmico, tendo sido Bertrand (1971) que simplifica e flexibiliza através da delimitação de unidades taxonômicas, utilizando uma escala físico-territorial. Sua proposta pressupõe limites mensuráveis (Km, m) para essas unidades, baseados numa escala de tempo (herança histórica da paisagem) e espaço (interação entre os geossistemas), utilizando para isso, a cartografia como instrumento fundamental de análise.

Bertrand (1971) define Geossistema como uma categoria concreta do espaço, composto pela ação antrópica, exploração biológica e potencial ecológico. Vicente e Perez Filho (2003) afirmam que o autor reduziu essa perspectiva devido à dificuldade de sua aplicação, colocando-o como “um modelo teórico da paisagem”, uma idéia condizente com os primeiros enunciados geossistêmicos de Sotchava (1977).

Ainda segundo Vicente e Perez Filho (2003):

A dificuldade de trabalhar-se com a proposta inicial de Bertrand baseava-se e sua não consideração da idéia de sistema, assim como ela é, um modelo teórico- conceitual, o qual toma forma mediante abstrações peculiares. Denominam-se abstrações peculiares a particularização de sistemas, ou seja, sua aplicação para o entendimento de um determinado objetivo, o que nos leva a sistemas em particular como o Ecossistema e o Geossistema.

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Bertrand e Sotchava, entre outros, enfrentaram o desafio da amplitude do objeto da Geografia, na tentativa da modelização de um sistema de apreensão da relação sociedade/natureza na sua expressão espacial, ou seja, um sistema que conseguisse concatenar todos os elementos da geosfera terrestre, ou seja, geral em sua escala de aplicação e, ao mesmo tempo, específico, por representar um

tipo de sistema aberto. (VICENTE e PEREZ FILHO, 2003, p. 337)

A aplicação da abordagem sistêmica nos estudos de Geografia é amplamente divulgada em obras publicadas recentemente no Brasil, como a obra de Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2002). Para os autores, o Geossistema é definido como um conjunto inter-relacionado de formações naturais e antropo-naturais, podendo-se considerá-los segundos esses autores:

• um sistema que contém e reproduz recursos; • um meio de vida e da atividade humana;

• um laboratório natural e fonte de percepções estéticas.

Guerra e Marçal (2006) definem os geossistemas como fenômenos naturais (aspectos geomorfológicos, climáticos, hidrológicos e fitogeográficos) que englobam os fenômenos antrópicos (aspectos sociais e econômicos). Somados representam a paisagem modificada ou não pela sociedade. Seu estudo requer o reconhecimento e a análise dos componentes da natureza, sobretudo através das suas conexões. Entendidos os geossistemas, como unidades naturais integrais, pode-se distinguir suas modificações e transformações como resultantes das ações dos diferentes tipos de ocupação.

No estudo dos geossistemas o conceito de paisagem é uma categoria de análise. Bertrand (1971) define a paisagem como certa porção do espaço, resultante da interação dinâmica e instável de atributos físicos, biológicos e antrópicos, que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem dela um conjunto único e indissociável. Christofoletti (1998) atribui à paisagem a concepção de conceito-chave da Geografia que possibilita a compreensão do espaço como um sistema ambiental, físico e socioeconômico, com estruturação, funcionamento e dinâmica dos elementos físicos, biogeográficos, sociais e econômicos. As relações e distribuições espaciais desses fenômenos são compreendidas na atualidade com o estudo da complexidade inerente as organizações espaciais.

Para Bolós apud Guerra e Marçal (2006), a paisagem em sua abordagem sistêmica e complexa será sempre dinâmica e compreendida como o somatório das inter-relações entre os elementos físicos e biológicos que formam a natureza mais as intervenções da sociedade no

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tempo e no espaço em constante transformação. A autora enfatiza que a dinâmica e evolução da paisagem são determinadas por processos políticos, econômicos e culturais.

Monteiro (2000) fazendo reflexões sobre os diversos trabalhos que tratam dessa temática, afirma que as Unidades de Paisagem (cujas fronteiras são de complexa delimitação, já que têm um espectro taxonômico variado) ocupam um determinado espaço e duram certo tempo e cuja existência é condicionada pelo funcionamento de seus elementos. Ainda para o autor, as forças antropogênicas seriam decisivas na elaboração das paisagens.

Este trabalho adotará o conceito de paisagem como uma formação antropo-natural proposta por Rodriguez, Silva e Cavalcanti (2002). A paisagem para estes é definida como um sistema territorial composto por elementos naturais e antropotecnogênicos condicionados socialmente, que modificam ou transformam as propriedades das paisagens naturais originais. Forma-se ainda, por complexos ou paisagens de nível taxionômico inferior. De tal maneira, se considera a formação de paisagens naturais, antropo-naturais e antrópicas, que se conhece também como paisagens atuais ou contemporâneas.

Rodriguez; Silva e Cavalcanti (2002) afirmam que a Geografia, ao estudar as paisagens naturais, evoluiu em duas direções:

• uma predominantemente biofísica (que partiu dos estudos de Humboldt e Dokuchaev, desenvolvidos ao longo do século XIX) e que formou fundamentalmente as escolas alemã e russo-soviética e que concebia a paisagem como um complexo natural integral;

• uma predominantemente sócio-cultural que analisava a paisagem como um espaço social, ou uma entidade perceptiva. A paisagem natural se conceituava acima de tudo como uma visão fragmentada dos componentes naturais. Essa foi à essência das escolas francesa, anglo-saxônica e europeu-ocidental.

A compreensão dos fenômenos naturais frente às incertezas e às irregularidades levaram os estudos da natureza a uma análise mais complexa, feita de maneira não fragmentada, considerando a sua dinâmica e levando ao entendimento do todo de forma sistêmica, conhecida como abordagem holística da natureza (GUERRA e MARÇAL, 2006).

Os estudos aplicando a abordagem sistêmica e o conceito de paisagem ganha expressão a partir dos anos de 1970, com a consolidação da concepção ambiental, viu-se a necessidade de integrar as correntes espacial (geográfica) e funcional (ecológica) ao estudar a paisagem. O aparecimento do conceito de geossistema, proposto por Sochava, no final dos anos 1960, que

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pressupunha interpretar a paisagem e todo seu instrumento teórico acumulado por mais de 100 anos de estudo, desde uma visão sistêmica, foi um passo importante em integrar a dimensão espacial como a funcional (RODRIGUEZ, SILVA e CAVALCANTI, 2004).

Segundo Tricart (1977), é necessário adotar uma atitude dialética entre a necessidade de análise e a necessidade contrária de uma visão de conjunto, capaz de ensejar uma atuação eficaz sobre o meio ambiente. O autor considera como o melhor instrumento lógico de que se dispõe para estudar os problemas do meio ambiente. Desta forma, o conceito de paisagem se direciona segundo este autor para uma abordagem sistêmica, onde todos os elementos fazem parte da natureza. Nota-se que se deixou de lado o aspecto fisionômico e se passou a trabalhar as trocas de matéria e energia dentro do sistema (complexo físico-complexo-químico e biótico).