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2. O VOTO DISTRITAL E A REFORMA POLÍTICA BRASILEIRA

2.1. As Propostas de Voto Distrital da Câmara dos Deputados

Apesar das divergências internas na Câmara dos Deputados66, principalmente entre os

partidos com as maiores bancadas (PSDB, PMDB e PT), acerca da adoção do voto distrital, tramitou na Câmara a PEC nº 10 de 199567, cujo texto trata de forma mais ampla sobre as perspectivas de alterações atuais.

De acordo com o inteiro teor do texto da PEC nº 10 de 1995, o art. 45 da Constituição Federal deve ser alterado para a seguinte redação, acrescentando-se os parágrafos:

Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos pelo sistema distrital misto, majoritário e proporcional, em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal, nos termos da Lei.

§ 3º Para fins deste artigo, cada Estado, cada Território, e o Distrito Federal, será dividido em distritos, correspondentes a pelo menos, metade de representação da respectiva unidade da Federação, na Câmara dos Deputados.

65 BRASIL. Inteiro Teor da PEC 352/2013 da Câmara dos Deputados. Disponível em:

<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=476EBEDA33CA3167D853EA41 34B12645.proposicoesWeb1?codteor=1176709&filename=PEC+352/2013>. Acesso em: 02 jun. 2016.

66 FELLET João, Reforma Política: Entenda os Temas mais Polêmicos. 2014. Disponível em:

<http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/11/141103_reforma_ politica_polemicas_jf_rm>. Acesso em: 02 jun. 2016.

67BRASIL. Inteiro Teor da PEC 10/1995 da Câmara dos Deputados. Disponível em:

§ 4º Os demais Deputados serão eleitos proporcional, na forma da lei.

§ 5º Feitos os ajustes a que se refere o § 1º, procederá o Tribunal Superior Eleitoral, se necessário, ao ajuste do número de distritos correspondentes às unidades da Federação afetadas.

§ 6º Na falta de leis complementares a que se referem os parágrafos deste artigo, poderá o Tribunal Superior Eleitoral fazer os ajustes previstos, com antecedência mínima de 30 dias, sobre as respectivas convenções regionais.

§ 7º O disposto neste artigo, aplica-se na forma da lei à eleição de Deputados estaduais, distritais e territoriais.

O texto da supracitada PEC já padece de um erro formal, já que em seu § 7º, menciona que as alterações do art. 45, e seus parágrafos, devam ser aplicadas apenas às eleições de Deputados estaduais, distritais e territoriais.

Entretanto, sua justificação, inicia-se da seguinte forma: “A presente Proposta de Emenda Constitucional modifica o sistema eleitoral brasileiro, introduzindo o voto distrital misto nas eleições de deputados federais, estaduais, distritais e territoriais”. Não havendo até o momento, nenhuma emenda que corrija esse erro, ou algum substitutivo.

Outro aspecto a ser mencionado é que a lei a que se refere a Emenda Constitucional em epígrafe, seria encaminhada pelo seu autor, como Projeto de Lei (PL), após a apreciação da proposta, mas que já constava do inteiro teor da PEC.

De acordo com este Projeto de Lei e com a PEC 10/199568, metade da representação da Câmara dos Deputados seria eleita através do voto distrital majoritário e a metade restante através do voto proporcional atual.

Hoje, a representação da Câmara dos Deputados é de 513 parlamentares, mas há Propostas de Emenda Constitucional, apensadas à PEC 10/1995, que estabelecem um número menor de Deputados, como a PEC 179/1995, que propõe 500 Deputados ou a mesmo a PEC 28/1995, que propõe 400 Deputados, facilitando o cálculo da metade.

Os Estados da Federação seriam divididos em um número de distritos correspondente a metade da sua representação na Câmara dos Deputados, assim, se atualmente um Estado da

68VOGEL, Luiz Henrique. Estudo sobre a PEC 10/1995, que institui o sistema distrital misto. Brasília. s.n. 2005. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/ documentos-e-pesquisa/publicacoes/estnottec/tema3/20 05_9904.pdf>. Acesso em: 02 jun. 2016.

Federação possui 10 (dez) cadeiras na Câmara Federal, então esse Estado seria dividido em 5 (cinco) distritos, contudo, caso possuísse 11 (onze) cadeiras, então, esse Estado seria dividido em 6 (seis) distritos.

Cada distrito seria composto, tanto quanto possível, pela população de um “módulo distrital”, que é a população da unidade da Federação dividida pelo número de Deputados Federais a serem eleitos pelo sistema distrital, sendo o quociente obtido dessa forma arredondado para o milhar mais próximo.

Para que o módulo distrital seja atingindo, cada distrito se comporia de tantos quantos munícipios fossem necessários, desde que estes tenham algumas características comuns.

Essas características são: contiguidade territorial, facilidade de meios de transporte entre esses municípios, localização na mesma região geoeconômica, não devendo ocorrer subdivisão de zonas eleitorais e de municípios, com exceção de quando a população desse município superar em mais de 10% (dez por cento) do módulo distrital, sendo o Tribunal Regional Eleitoral competente para organizar e delimitar os distritos eleitorais.

A eleição para Deputados Federais seria realizada simultaneamente de duas formas: cada distrito eleitoral elegeria um Deputado Federal, pelo princípio majoritário, ou seja, seria eleito o candidato que obtivesse o maior número de votos nominais.

De outro lado, a outra metade seria eleita pelo sistema proporcional, recebendo votos os candidatos que figurarem numa lista partidária regionalizada, ou somente o partido ou coligação partidária. Os votos nulos e brancos em quaisquer dos casos seriam desconsiderados.

Além disso, cada deputado formaria uma chapa única e indivisível com mais dois suplentes, podendo o candidato à eleição distrital também concorrer à eleição proporcional concomitantemente, não sendo possível a candidatura em mais de um distrito eleitoral, seja como suplente ou titular e no caso de empate, não haveria segundo turno, elegendo-se o candidato mais idoso.

Nos demais aspectos, a eleição proporcional seguiria o rito que já ocorre atualmente, conforme já mencionado no item 2.1.2 deste trabalho.

Basicamente, este é a modalidade de sistema distrital apresentada pela PEC 10/199569 e suas apensadas: PEC 168/1995, PEC 181/1995, PEC 289/1995, PEC 365/2009.

Contudo, a PEC 352/201370, a mais recente tramitando na Câmara dos Deputados sobre o tema, apresenta uma forma diferente de voto distrital anterior.

Ela propõe que cada Estado da Federação e o Distrito Federal sejam divididos em distritos que podem eleger de 4 (quatro) a 7 (sete) Deputados Federais, mantendo-se o número de representantes atual para cada ente da Federação.

Conforme se observa de sua redação, que até o momento não foi objeto de emendas:

Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal, na forma deste artigo.

...

§ 3º O Tribunal Superior Eleitoral dividirá o território dos Estados e do Distrito Federal em circunscrições destinadas a preencher de quatro a sete lugares na Câmara dos Deputados, na forma da lei, observados os seguintes critérios:

Portanto, a totalidade dos representantes do povo seria eleita por esse sistema (e não somente a metade deles), que, além disso, prevê que o número de vagas destinado ao partido (ou coligação) seria o resultado da divisão do número de votos válidos recebidos por esse partido pelo quociente eleitoral, que é o resultado da divisão do número de votos válidos pelo número de vagas disputadas na circunscrição (distrito), desprezada a fração.

Adicionalmente, o candidato deverá obter um número de votos nominal igual a, pelo menos, 10% (dez por cento) do quociente eleitoral, sendo os lugares restantes, não preenchidos pela utilização desses dois critérios, ocupados pelos candidatos individualmente mais votados, conforme redação do inteiro teor da PEC 532/2013:

Art. 45... ...

69 VOGEL, Luiz Henrique. Estudo sobre a PEC 10/1995, que institui o sistema distrital misto. Brasília. s.n. 2005. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/ documentos-e-pesquisa/publicacoes/estnottec/tema3/20 05_9904.pdf>. Acesso em: 02 jun. 2016.

70 BRASIL. Inteiro Teor da PEC 352/2013 da Câmara dos Deputados. Disponível em:

<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=476EBEDA33CA3167D853EA41 34B12645.proposicoesWeb1?codteor=1176709&filename=PEC+352/2013>. Acesso em: 02 jun. 2016.

§ 5º O número de lugares distribuídos a cada partido será calculado pela divisão dos votos por ele obtidos pelo resultado da divisão do número total de votos válidos apurados pelo número de lugares a preencher, desprezada a fração.

§ 6º Não será eleito deputado o candidato que não tiver obtido votos nominais correspondentes a, pelo menos, dez por cento do resultado da divisão do número de votos válidos dados na circunscrição pelo número de cadeiras a preencher.

§ 7º Os lugares não preenchidos após a aplicação das regras dos parágrafos anteriores serão ocupados pelos candidatos individualmente mais votados. (NR)

Devido a esses critérios, que se constituem, na realidade, em novas cláusulas de exclusão, o Deputado Federal Assis Melo, do PCdoB do Rio Grande do Sul, apresentou voto em separado pela inadmissibilidade da PEC, alegando que o seu texto consubstancia verdadeira afronta ao princípio constitucional do pluralismo político, já que impede a eleição de representantes de partidos menores, enfraquecendo a democracia e reduzindo a discussão.

É claro que a inclusão de um número maior de critérios para se obter uma vaga na Câmara dos Deputados, acaba dificultando a representação de partidos pequenos, porém o excesso de fragmentação na “casa do povo” também dificulta a governabilidade, e segundo o princípio democrático, o povo deve escolher seus representantes e não fórmulas de proporcionalidade matemática.

A minoria deve ser representada na Câmara, desde que seja uma minoria relevante, qualificada, caso assim não fosse, faltariam cadeiras no parlamento para a diversidade de opiniões no Brasil.