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AS PROPRIEDADES DO TÓPICO DISCURSIVO: A CENTRAÇÃO E A

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4 TÓPICO DISCURSIVO

4.2 AS PROPRIEDADES DO TÓPICO DISCURSIVO: A CENTRAÇÃO E A

Com o intuito de caracterizar de forma mais específica o tópico discursivo o Grupo De Organização Textual-Interativa do Projeto Gramática do Português Falado (PGPF) determinou-lhe duas propriedades: a centração e a organicidade. Essas propriedades serão detalhadas de forma precisa nas próximas linhas.

4.2.1 A Centração

A centração é caracterizada pelos traços de concernência, relevância e pontualização que foram associados à função referencial da linguagem como pode ser visto no conceito dado por Fávero (2010, p.47) a “centração é o falar-se acerca de alguma coisa, implicando a utilização de referentes explícitos ou inferíveis”. A autora acrescenta ainda que é a centração quem norteia o tópico e que quando há uma nova centração, há um novo tópico. O trabalho da pesquisadora é uma continuidade ao que grupo vinha investigando, a autora utiliza o mesmo objeto analítico na sua investigação dando ênfase aos fatores contextuais.

Ao falar sobre a centração, Jubran (2006) lembra que o Grupo destacava a referecialidade do texto e com isso associava tópico a uma linguagem de caráter mais representacional deixando de lado o caráter interativo. Diante da necessidade de uma abordagem textual-interativa, a autora faz uma revisão sobre o tema e elabora algumas adaptações. Os traços caracterizadores da centração são, pois, atualizados por Jubran (2006, p.35-grifos da autora):

a) a concernência – relação de interdependência entre elementos textuais, firmada por mecanismos coesivos de sequenciação e referenciação, que promovem a integração desses elementos em um conjunto referencial, instaurado no texto como alvo da interação verbal;

b) a relevância – proeminência de elementos textuais na constituição desse conjunto referencial, que são projetados como focais, tendo em vista o processo interativo;

c) a pontualização – localização desse conjunto em determinado ponto do texto, fundamentada na integração (concernência) e na proeminência (relevância) de seus elementos, instituídas com finalidades interacionais.

Segundo a pesquisadora, esses traços que foram definidos por uma abordagem interativa da linguagem podem ser considerados critérios para conferir ao segmento textual o estatuto de tópico discursivo. Em sua revisão, a autora complementa esses traços propondo que a ação interativa do texto se expanda para outras modalidades e gêneros. Acrescenta, ainda, que na função interacional as escolhas linguísticas discursivas do produtor do texto, falado ou escrito, é em função do interlocutor presente no intercâmbio oral ou pretendido no evento comunicativo realizado por meio da escrita.

Ao incluir em seus estudos o texto escrito, Jubran (2006) revê a propriedade de centração, atentando para outro tipo de relação, a do autor-leitor. Nesse caso, a interação ocorre, sobretudo, no momento em que o leitor se põe a ler o texto.

4.2.2 A Organicidade

A outra propriedade que caracteriza tópico é a organicidade que se manifesta nas relações de interdependência tópica que se estabelece de forma simultânea entre dois planos o horizontal e o hierárquico. O plano hierárquico ou vertical compreende a forma com que os tópicos se ordenam num maior ou menor grau de abrangência. Com isso, podemos dizer que há níveis de estruturação tópica que vão da maior porção até os menores constituintes, essa estruturação tópica se desdobra em supertópicos, tópicos, subtópicos e segmentos tópicos, dando origem a quadros tópicos que será melhor explicitado mais a frente.

Quanto ao plano horizontal ou linear, Fávero (2010, p. 53) diz que se refere às articulações entre os tópicos em termos de proximidade na linha discursiva, acrescenta também que sua noção está ligada a introdução de novas informações. Através da linearidade é possível compreender os fenômenos responsáveis pela organização tópica na conversação, são eles: a continuidade e descontinuidade.

A continuidade é caracterizada pela relação de proximidade entre dois tópicos, também está relacionada à introdução de novas informações, um novo tópico só é aberto quando o anterior for esgotado. Segundo Fávero (2010), um novo tópico se dá após o fechamento do outro, com início, desenvolvimento e saída, segundo ela esses mecanismos são detectáveis através de elementos verbais ou traços suprassegmentais, este último presente apenas nos textos conversacionais.

Para que proceda a continuidade, Ilari et al. (1993), apresentam duas condições a contiguidade e o esgotamento. A contiguidade é percebida na relação entre diferentes tópicos, ou seja, um tópico continua o anterior dando sequência ao discurso. O esgotamento acontece quando se encerra o tópico anterior e dá início a um novo tópico.

Já a descontinuidade decorre da suspensão de um tópico sem que ele tenha sido encerrado, isso pode acontecer de forma definitiva ou pelo desmembramento dele em partes que não vão aparecer de forma adjacente na linha discursiva. Isso acontece quando um novo tópico é introduzido antes que o anterior tenha sido encerrado, podendo retornar ou não àquele tópico. De acordo com Ilari et al. (1993), quando há o retorno os fenômenos de inserção e as alternâncias acontecem.

Os fenômenos de inserção podem ser entendidos como “segmentos discursivos de extensão variável que provocam uma espécie de suspensão temporária do tópico em curso”. (LINS, 2008, p. 27). Essa suspensão pode ser exercida de forma interativa ou de interrupção, simplesmente quebrando o fio discursivo. A autora explica que as inserções que desempenham função interativa podem ter origem tanto no locutor como no interlocutor, este quando interrompe o curso com uma pergunta ou pedido de explicação ao locutor. Na função interativa, as inserções são usadas para explicar, ilustrar, atenuar, fazer ressalvas entre outras. A inserção que não desempenha nenhuma função em relação ao tópico em andamento causando uma ruptura no discurso é chamada de digressão. A digressão pode causar problemas na coerência textual quando esta não vem introduzida por marcadores que avisam a suspensão temporária daquele tópico (como a propósito, por falar nisso, desculpa interromper... e etc.). Assim como há marcadores para alertar a interrupção, há marcadores também para reintroduzir o tópico que foi temporariamente suspenso (voltando ao assunto, onde paramos mesmo?... etc.).

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