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5. O CYBERBULLYING

5.4 As questões referentes aos sujeitos no CB: caracterização e

Definir quem são os atores do CB, especificamente quem são as vítimas e os agressores, não é uma tarefa fácil. É preciso considerar a evolução do acesso aos meios eletrônicos de comunicação, a precocidade com que se tem entrado em contato com esses meios, uma vez que são colocados desde cedo à disposição de muitos jovens smartphones e planos de acesso à internet de baixo custo, as organizações familiares, o conteúdo das ofensas, o meio social em que os sujeitos estão inseridos, etc. Além disso, deve-se considerar também a multiplicação das redes sociais e facilidade de acesso em ambientes coletivos.

Em artigo sobre o CB através das redes sociais, Whittaker e Kowalski (2015) descrevem as formas de agressão a partir da perspectiva de quem são as vítimas. Os autores identificam a cyberagressão entre pares (pessoas que se conhecem, como estudantes da mesma escola), contra pessoas desconhecidas, mas que fazem parte de grupos vulneráveis (gordos, pobres, feios), contra pessoa desconhecida do agressor sem motivo aparente (alunos de outras salas), contra grupos sociais específicos (negros, judeus, homossexuais, nordestinos, etc) e contra celebridades. Neste mesmo estudo, os agressores são identificados como, na maioria dos casos (50%), sendo amigos ou conhecidos da vítima. (WHITTAKER E KOWALSKI, 2015).

Fazer uso dessas tecnologias ativamente e por tempo prolongado sem supervisão de adultos é apontado como um dos determinantes para agressores e vítimas de CB. Outro fator que influencia é a ausência de percepção da ofensa (a vítima precisa se sentir ofendida para que seja caracterizado o CB) e da gravidade do dano, bem como a relação entre a proximidade dos envolvidos e a intensidade do ato e de suas consequências (WHITTAKER E KOWALSKI, 2015, DREDGE et al, 2014).

No que concerne à idade, esta tem uma grande variação. Em seu estudo transnacional, incluindo o Brasil, Garaigordobil (2011) encontrou uma variação que vai dos 12 aos 18 anos. Maldonado (2012) estudou jovens entre 13 e 15 anos e considerou a média de idade para o envolvimento no CB em 13,4 anos. Demais pesquisas igualmente apresentam variações quanto à idade, mas todas concordam no fato de que o fenômeno é mais comum entre adolescentes, ao contrário do B, cuja incidência é maior entre crianças (MALDONADO, 2012; TORRES e VIVAS, 2012; OZDEMIR, 2014).

No que se refere ao gênero na caracterização das vítimas e agressores, a literatura não traz um consenso. Meninos e meninas, ora aparecem como vítimas, ora como agressores. Contudo é comum que, no momento da violência, vítimas e agressores sejam do mesmo sexo. Não há menção à diferentes tipos de agressão baseadas em questão de gênero (MALDONADO, 2012).

Também são descritos como fatores determinantes de vitimização a fragilidade e a falta de recursos para o enfrentamento da violência, maior tempo conectado à internet, possuir perfil em redes sociais, usar mensagens instantâneas, chats e webcam, não ter um bom diálogo com adultos responsáveis, ter medo do CB e sentir-se inseguro no ambiente escolar. Já entre os fatores determinantes da agressividade estão a possibilidade de anonimato, a percepção do controle, a crença na imunidade virtual, possuir familiares ou responsáveis que subestimam a agressividade do indivíduo e o uso descontrolado de computadores e aparelhos de acesso à

internet (GARAIGORDOBIL, 2011; MALDONADO, 2012; SCHULTZ et al., 2012; TORRES E VIVAS, 2012).

A figura da audiência, suas reações, percepções e sentimentos, não recebe da literatura uma atenção tão intensa quanto os demais envolvidos no CB. Tal escassez de pesquisas chama atenção, porque é em razão da reação que essa parcela dos sujeitos possa ter que o ato assume maior ou menor gravidade.

Analisando quatro estudos que se debruçaram sobre as atitudes da audiência, foi possível perceber que esta pode dar apoio à vítima, revidar a agressão em nome da vítima ou pedir que o agressor pare reforçar a agressão unindo-se ao agressor ou ignorar o fato por acreditar que se trata de brincadeira ou que não é de sua conta (WHITTAKER E KOWALSKI, 2015; CLEEMPUT, 2014; BARLINSKA et al, 2013; MACHSCKOVA et al, 2013; HUANG E CHOU, 2010).

As possíveis atitudes da audiência observados por Cleemput (2014) foram analisadas sob alguns aspectos específicos que poderiam influenciar no modo como ela reage às agressões. Idade, gênero, empatia, autoeficácia social, níveis de ansiedade social e processos sócio-cognitivos foram considerados. Nesse estudo foi possível perceber que quanto mais jovem a audiência maior a probabilidade de ajudar a vítima. Segundo o autor, isso ocorre porque adolescentes mais velhos tendem a dar mais valor a sua independência dos adultos nessa idade, o que os impede de procurar sua ajuda, bem como os faz valorizar as opiniões do grupo em que estão inseridos, evitando tomar partido contrário. No que se refere ao gênero, o autor não encontrou diferenças entre meninos e meninas no que se refere a defender as vítimas do CB.

Jovens com alto nível de empatia desenvolvido foram apontados, também como sendo inclinados a defender e ajudar as vítimas. Estes conseguem antecipar, entender e experienciar o ponto de vista das outras pessoas. Igual ideia se aplica aos jovens que possuem autoeficácia social. Segundo Cleemput (2014), esta é a capacidade de acreditar na sua possibilidade de lidar com os eventos que afetam sua vida exercendo controle sobre eles e suas emoções diante de tais eventos.

Dentre os aspectos que influenciam atitudes negativas da audiência estão a ansiedade social e os processos sócio-cognitivos de comportamento. No primeiro, temos o medo de ser julgado negativamente ao tomar partido, a tendência de evitar estresse com situações que não lhe dizem respeito e a inclinação natural a evitar novas situações sociais ou pessoas desconhecidas. No segundo são observados os mecanismos psicológicos que levam a audiência a não se posicionar favorável à vítima (CLEEMPUT et al, 2014).

Foram citados quatro desses mecanismos observáveis na audiência do CB: A difusão de responsabilidade, que é a tendência de acreditar que os outros também tem a responsabilidade de fazer algo a respeito, e portanto, não necessariamente precisa ser você a resolver a questão. A apreensão, que é o receio de ser julgado ao se pronunciar publicamente sobre o ato. A ignorância pluralística, que é seguir o comportamento dos demais sobre o ato. Caso ninguém faça nada, você também não fará. E o processo de separação moral, quando a audiência racionaliza e justifica os atos do agressor. Neste último mecanismo as atitudes mais comuns são: aceitar a conduta negativa por possuir um propósito maior (os fins justificam os meios), dar outro nome e outro significado à conduta negativa para torná-la mais aceitável, diminuir o dano causado pela agressão comparando-a a outras formas mais danosas de agressão, minimizar as consequências da agressão, acreditar que a vítima merece a agressão por ser de um grupo específico de pessoas, acusar a vítima de ser responsável pela agressão sofrida (CLEEMPUT et al, 2014).

Outra questão a ser considerada é que se nos casos de B existem consequências também para aqueles que o presenciam. Não foram encontrados estudos que analisem as consequências do CB para a audiência. Faz-se necessário, portanto investigar as percepções desses sujeitos no CB para que se tenha uma compreensão mais ampla do fenômeno.