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As reformas estratégicas de Botha e intensificar de pressões

3.2 Atitude sul-africana em relação às variadas tensões e início

3.2.2 As reformas estratégicas de Botha e intensificar de pressões

Porém, apesar da aparente invulnerabilidade militar do apartheid em termos domésticos, a luta contra o regime segregacionista prossegue por iniciativa combinada do SACP/ANC, que com o sempre presente apoio soviético procura fazer o governo recuar e ceder na sua faceta discriminatória e anti-democrática congénita, segundo os mesmos.

Consecutivas insurgências civis relativamente organizadas, alegadamente infiltradas e

incentivadas pelo ANC -a par de acções de guerrilha em média escala162- colocam a África do Sul em alerta, o que juntando-se à crescente censura internacional, causadora de avultadas quebras financeiras e exposição do país como inimigo público nº 1 a nível mundial, pesem as supostas mais-valias representadas pelo seu poderio militar e posição baluarte contra o comunismo para o mundo ocidental e em particular os EUA, torna a situação envolvente ao regime problemática o suficiente para que em 1981, o primeiro-ministro P.W.Botha, no âmbito da sua reeleição, declare que efectuará reformas de vulto no regime no âmbito de uma estratégia interna para a sobrevivência163, que seria constituída por meios bélicos, políticos e sociais, após constatação por parte de comandantes militares sul-africanos, que em caso de conflito armado alargado, seria bastante difícil defender uma nação na qual grande parte da sua própria população é hostil, crendo que a chave para a resolução do impasse no qual se encontra a África do Sul, reside no seu plano doméstico, inserindo-se aqui o projecto reformista, que embora excluindo totalmente a possibilidade de domínio da maioria baseada no princípio de um homem um voto164 num estado unitário, é sem dúvida histórico ao representar um certo “suavizar” do apartheid em certas questões, não obstante reforçando a irredutibilidade tanto do Estado como da sua governação a todos os níveis, comprovando-se tal pelos seguintes pontos fulcrais da reforma preconizada por Botha:

162 Sendo disso exemplo o ataque bombista a refinaria da SASOL -empresa de energia e químicos sul-africana- na região de Secunda perpetrado por operacionais do ANC em Junho de 1980.

163 Todos no plano interno se deviam adpatar ou morrer , segundo o mesmo. 164 Slogan internacional para instituição de sufrágio univesal.

O reconhecimento e a aceitação da existência do multinacionalismo e minorias na República da África do Sul;

Estabelecimento de estruturas constitucionais que promovam a consolidação dos bantustões e respectivo desenvolvimento;

Cooperação interracial em áreas de interesse comum;

Remoção de medidas discriminatórias desnecessárias;

Reconhecimento de interdependência económica;

Manutenção da decisão soberana do Estado quanto à determinação da sua defesa;

Busca de uma pacífica constelação de estados austro-africanos respeitante das culturas, tradições e ideais próprios165.

Este último ponto é resultante do esforço efectuado pela diplomacia americana no âmbito do Compromisso Construtivo, ao tentar persuadir Pretória de que nem todos os

países/movimentos africanos anti-apartheid eram satélites da União Soviética.

A referida panóplia reformativa, embora saudada por muitos, era vista como uma simples migalha por grande parte da população negra que ambicionava uma mudança radical, encorajada tácitamente pelas sucessivas condenações de Pretória a nível mundial e

consequências político-económico-financeiras das mesmas e das acções e pressões efectuadas por grupos como o ANC, SACP e PAC que se repetiam.

Esta aparente primária reformulação do regime sul-africano, vai de encontro à concertação proclamada pela administração presidencial de Ronald Reagan pela mão do seu Sec. de Estado Adjunto para os Assuntos Africanos C. Crocker, que procura aparoveitar esta disposição reformista sul-africana de forma a trazer o seu governo às negociações referentes ao conflito angolano, e mais importante neste contexto, à questão da independência da

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Ver Idem. Todas estas medidas visavam inclusive a prosperação de uma classe média negra com alguns direitos e condições monetárias melhoradas que se opusesse ao ANC e outros movimentos anti-governamentais, favoráveis à manutenção do panorama político na nação.

Namíbia, a linha da frente da SADF, considerada problemática primordial devido à controvérsia relacionada com a ocupação ilegal daquele país.

A designada Resolução 435 concebida pelas Nações Unidas, definidora da independência namibiana é estipulada, como já descrito, em 1978, contudo, logo no início da década de 80 é já considerada como sem efeito devido ao acentuar não só do conflito militar em Angola como das crescentes intervenções sul-africanas nos países vizinhos de modo a neutralizar bases e elementos do ANC e SWAPO na senda da sua Estratégia Total, destacando-se a simultaneidade destes factos com a manutenção das imposições mais polémicas e do

apartheid e perpétuação deste, o que faz revigorar as sanções e a condenação internacional. Os sucessivos boicotes, apesar de “requisitados” pela comunidade externa, são vistos por alguns países ocidentais como contraproducentes pois têm efeitos negativos sobretudo sobre os negros pobres flagelados pelo crescente desemprego, aumentando ainda mais a atmosfera explosiva que culmina num retomar dos tumultos a partir de 1984, continuando as populações negra, indiana e mestiça166 bastante descontentes com a incessante discriminação,

organizando violentos protestos por todo o país, estando este sujeito a apreciações mundiais, receando os dirigentes políticos de Pretória que forças externas hostis pudessem aproveitar-se da situação explosiva para intervir de certa forma, sendo decretado o estado de emergência em Julho de 1985167 e consequentemente os poderes das forças policiais e militares são

aumentados exponencialmente de maneira a restaurar a ordem nas townships à volta das grandes “cidades brancas”, por todos os meios possíveis, forças essas possuidoras, por parte do governo de carta branca para basicamente reprimir de forma letal toda a desordem

existente, o que é repetida e fortemente criticado por plataformas anti-apartheid tanto no país como extra-fronteiras, que acusam o governo sul-africano de dar licença para matar às suas autoridades cuja reacção havia já causado centenas, senão mesmo milhares de vítimas mortais nos últimos anos.