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Nesta altura, Cuba começa a consolidar-se como principal aliado do MPLA, -tendo entretando iniciado o seu apoio ao movimento marxista angolano parcos anos antes, durante a

confrontação com os portugueses40- e do seu poder popular ao enviar mais de 400 instrutores militares, (que teriam até Outubro para planificar e organizar convenientemente as FAPLA chegando a enviar recrutas angolanos para Cuba de modo a obterem melhor treino), armas e outros bens necessários para a defesa do movimento e posteriormente do país, isto depois de grande insistência por parte dos responsáveis do MPLA, havendo receios de uma escalada do conflito, com a união da FNLA, UNITA, Zaire e da infame África do Sul contra o movimento marxista angolano. Este complot anti-comunista, contaria agora com um apoio ainda mais cerrado dos EUA, cuja hegemonia mundial encontrava-se, segundo os seus altos

representantes políticos entre os quais o Secretário de Estado Henry Kissinger, em jogo, tendo em conta a desastrosa campanha militar no Vietname que terminou com uma vergonhosa retirada americana, havendo portanto a necessidade de fazer ver não só ao público doméstico

39 Ver Gleijeses, Piero “Conflicting Missions: Havana, Washington and Africa, 1959-1976”, cap. 12 pp 251. 40 Ver anexo 5.

como aos seus aliados que os EUA continuavam a deter o monopólio do poder transnacional e o que o seu falhanço no sudeste asiático não influenciaria de forma alguma a determinação em proteger os interesses ocidentais mesmo em países até talvez desconhecidos a nível geral, isto face a perdas de credibilidade no seio de organizações como a NATO.

A União Soviética, por seu lado, nesta fase preludial do confronto entre as facções, mostra-se relutante em apoiar abertamente o MPLA, não hesitando, contudo em enviar mantimentos e material bélico ao movimento de Agostinho Neto, não assumindo um papel de maior intervenção diplomática que poderia ter-lhe conferido um grande prestígio junto do terceiro mundo e sobretudo dos restantes países africanos, tornando-os apologistas ainda mais

insistentes do militantismo e militarismo soviético. Todavia, mesmo quando o MPLA travava uma dura batalha pela supremacia na capital, contra dois grupos apoiados em larga medida pelo ocidente, a URSS mantinha-se serena, tentando tirar partido do novo conceito de détente entre as potências, prevendo esta um desanuviamento das tensões leste/oeste por meio da manutenção do stato quo mundial, e desconfiada do verdadeiro perfil político-ideológico do MPLA e da sua liderança, agravando-se as incertezas do bloco soviético a este nível, no auge do combate pelo poder no país e nem quando as provas de que a África do Sul se preparava para intervir se tornaram evidentes41, os soviéticos mostraram intenção de se envolver mais afincadamente, cabendo ao herói marxista cubano do 3º mundo a tarefa de auxiliar o MPLA face à uniformização da oposição “pró-ocidental” numa frente unida.

Na etapa da pré-entrada de forças exteriores, o combate entre o MPLA e a FNLA/UNITA, caracterizava-se por envolver relativamente poucos efectivos, por vezes com batalhas cujos intervenientes rondavam as poucas centenas, contando o movimento marxista com grande apoio popular em várias regiões, sobretudo na zona circundante a Luanda, que se desdobrava na constituição de grupos de milícias e vigilantes armados que complementavam as forças armadas regulares da facção, que à falta de equipamento necessário ao sucesso militar, contava com um braço urbano popular motivado na defesa e conclusão de acções de destaque em campo aberto.

No meio de toda esta agitação, as forças portuguesas prosseguem a sua retirada previamente negociada da maior parte do território, isto de forma mais intensa no norte do país ,

41 Tendo nesta fase alguns comandos sul-africanos entrado em território angolano de modo a fornecer

armamento e treinar elementos de facções anti-MPLA, chegando mesmo a dominar certas cidades do sul do país, -em especial na região circundante à Barragem do Calueque, situada na província angolana do Cunene, próxima da fronteira com a Namíbia, de vital importância para os interesses sul-africanos- e preparando o terreno para uma anunciada incursão de grande carga bélica.

entregando esta região ao FNLA que se pôde assim reorganizar em Agosto de 1975, rearmando-se graças à ajuda encoberta disponibilizada pelos EUA por influência de

Kissinger, sendo posto à sua disposição diverso material de guerra transportado via Zaire até Carmona, uma das maiores cidades do norte Angolano, ameaçando os bastiões regionais do MPLA e do poder efectivo deste no país, e é neste contexto que se começa a perfilar a entrada de forças exteriores ao conflito com os esforços de Cuba, a exortar junto da União Soviètica um maior apoio ao MPLA, inserindo-se neste contexto a Missão Militar Cubana em Angola (MMCA) liderada pelo coronel Diaz Arguelles, um comité especial militar que tinha como função não só o envio de instrutores militares para Angola, como o acompanhamento e relatório da evolução da situação bélica no país estando nesses relatórios destacademente expressa a importância de Cabinda, enviando Cuba grande parte dos seus efectivos para a dita zona, isto depois de em 1974, o MPLA ter garantido o controlo da região após ter expulsado a FLEC, Frente de Libertação do Enclave de Cabinda, movimento secessionista entretanto fundado, que almejava a independência daquela província, isto em conluio com poderosas empresas petrolíferas e com o Zaire, por razões atrás explicadas, situação esta que seria revesada com a incursão do movimento de Agostinho Neto, que no entanto, vê nesse

momento, a sua autoridade ameaçada com o súbito avanço da FNLA, suportada pelas forças de Mobutu e logística da FLEC, que em Setembro de 1975, chegavam ao Caxito, cidade situada a poucos quilómetros de Luanda, onde foram contudo surpreendidos pela 9ª brigada42, uma unidade de elite das FAPLA, treinada na União Soviética e fortemente armada, que no princípio do mesmo mês, sustém os invasores tanto no Caxito como noutras localidades nortenhas, fazendo o MPLA ganhar terreno, até que em Outubro a África do Sul invadia em larga escala.