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3 O TEMPO RAZOÁVEL DO PROCESSO COMO UM DIREITO

3.4 AS REFORMAS PROCESSUAIS E O PRECEITO FUNDAMENTAL EM

Como já observado, tornou-se desejo dos estudiosos do processo que, no sistema processual pátrio, sejam encontrados caminhos e mecanismos que apresentem ritos simples, resolvidos em prazo razoável, e, sobretudo econômicos, que não atropelem a segurança jurídica do processo.

Com a Constituição de 1988, mais especificamente na década de 90, as investidas contra o Judiciário passaram a ser fonte jornalística principal, estando sempre na mídia como um alvo de variados ataques.

A crise que se instalou no Judiciário brasileiro alcançou, a partir dessa década, proporções alarmantes, que se desdobraram a cada dia em fatores de dramática gravidade.

A administração da justiça passou a ser questionada de forma ampla e intensa, especialmente no que se refere à longa demora na prestação jurisdicional, sendo incluída na agenda constitucional de reformas do Estado a questão da eficiência do Judiciário.

Como já evidenciado linhas atrás, o Judiciário brasileiro atrela sua legitimidade a uma credibilidade social. Acontece que essa credibilidade, por sua vez, não vem suportando a exagerada conotação dada à insatisfação popular provocada pela ineficiência, desaparelhamento, falta de efetividade, custo, e lentidão da prestação jurisdicional. Com efeito, o Judiciário brasileiro não acompanhou a evolução da sociedade, nem a globalização, transformando-se numa máquina obsoleta.

Nesse contexto, desde a revisão constitucional de 1993, a reforma das nossas cortes vem refletindo uma das preocupações do Estado brasileiro, em virtude da importância que foi assumindo o Poder Judiciário ao longo dos tempos, principalmente, a partir da Constituição de 1988.

Cumpre mencionar que, a partir de 1994, diversas inovações foram introduzidas com objetivo de dar efetividade ao processo, entre elas, a inserção da tutela antecipada no nosso ordenamento jurídico (art. 273 do CPC), a criação dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais (Lei nº 9.099/95).

Mais tarde, em 2001, com o suposto objetivo de tornar mais célere e efetiva a prestação jurisdicional, foram promovidas algumas reformas processuais, entre elas, a publicação das Leis nº 10.352 e nº 10.358 que alteraram dispositivos do Código de Processo Civil. Merece destaque a Lei nº 10.352, de 26 de dezembro de 2001, que promoveu consideráveis alterações nos institutos do recurso e reexame necessário, com a intenção de tornar mais célere, simples e eficiente a prestação jurisdicional.

Essa reforma ainda minimizou o papel do duplo grau de jurisdição, possibilitando ao tribunal o conhecimento do mérito da lide nos casos de reforma da decisão, que no juízo de primeiro grau extinguiu o processo sem o exame do mérito (§ 3º do artigo 515 do CPC).

Também foram reduzidas as hipóteses de cabimento dos embargos infringentes, sempre sobre o pretexto da celeridade processual. Essa tendência reformatória jurídico- processual pautou-se numa identificação da vocação instrumental do processo.

Como já informado em tópico anterior, a Organização das Nações Unidas (ONU), a partir do ano de 2004, volta olhares para os problemas do Judiciário brasileiro. Em fevereiro de 2004, a ONU apresenta sua primeira tentativa de análise da situação do Judiciário pátrio, enviando uma relatora especial ao Brasil, Asma Jahangir, que em seu relatório sugeriu que fosse enviado ao nosso país uma comissão especial com a finalidade de avaliar e opinar a respeito de questões do Judiciário. Em setembro de 2004 a ONU enviou ao Brasil um relator especial, o argentino Leandro Despouy, com a incumbência de promover uma avaliação do Judiciário pátrio.

Nesse contexto de pressão por reforma da máquina judiciária, com o advento da Emenda constitucional nº 45, promulgada em 8 de dezembro de 2004, o legislador brasileiro buscou promover alterações na estrutura do Judiciário. A Emenda Constitucional nº 45/2004 veio introduzir, no nosso ordenamento jurídico, norma que visa colaborar com o aprimoramento do sistema processual, objetivando tornar mais ágil e célere a prestação jurisdicional. Essa norma positivou formalmente a efetiva prestação jurisdicional em tempo razoável no rol dos direitos fundamentais, acrescentando-se o inciso LXXVIII ao artigo 5º da nossa Constituição Federal de 1988, direito fundamental denominado “tempo razoável do processo”, que assegura a razoável duração do processo e os meios que garantam a sua celeridade de tramitação. A chamada "Reforma Judiciária", elevou à garantia fundamental, no âmbito judicial e administrativo, a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

Os motivos que levaram o nosso legislador a elevar a questão do tempo do processo ao patamar de uma garantia fundamental deixaram patente uma insatisfação da sociedade com a atividade jurisdicional. Fica claro que a jurisdição não deve ser uma prestação estatal apenas em conseqüência do direito de ação, mas deve ser adequada, tempestiva e concretizante.

Neste diapasão, temos a inclusão expressa no sistema constitucional de um novo princípio estampado no dispositivo suprareferido, que caracteriza o escopo de uma necessária modificação da perspectiva do processo civil no Brasil, o que em grande parte é responsabilizado pelo caos que rodeia o nosso sistema judiciário.

É cristalino que as alterações processuais revelam uma constante preocupação do legislador em investir no processo de celeridade, muitas vezes, reduzindo possibilidades jurídicas.

Nos anos de 2005 e 2006, o processo civil pátrio foi marcado por relevantes alterações, especialmente, no processo de execução. Várias leis processuais promulgadas

nesse período apresentavam referências a racionalidade e celeridade processual. São exemplos desse contexto as leis mencionadas a seguir.

A Lei nº 11.187/2005 alterou o Código de Processo Civil no tocante ao regime do recurso de agravo. Com a referida lei, o recurso do agravo de instrumento teve as hipóteses de cabimento reduzidas, e, em certos casos, sendo somente possibilitada ao recorrente a interposição na forma de agravo retido, podendo o juiz converter o agravo de instrumento em agravo retido.

A Lei nº 11. 232/2005 estabeleceu a fase de cumprimento das sentenças no processo de conhecimento, com o escopo de tornar mais simples o procedimento de liquidação da sentença. Essa fase recebeu um caráter de incidente, ou, pelo menos, de complemento à concretização da sentença.

A Lei nº 11.276/2006 alterou o CPC relativamente ao saneamento de nulidades processuais e à forma de interposição dos recursos, com destaque para a positivação da súmula impeditiva, que permite ao juiz o não recebimento do recurso de apelação quando a sentença estiver conforme súmula do STJ ou do STF.

A Lei nº 11.277/2006 possibilitou ao magistrado que já havia proferido decisão de total improcedência em casos idênticos, em matéria considerada exclusivamente de direito, proferir de plano a sentença, com a dispensa da citação.

A Lei nº 11.280/2006, dentre várias outras alterações no Código de Processo Civil, dispôs sobre uma rigidez para o pedido de vistas nos tribunais e sobre os meios eletrônicos.

Já no ano de 2007, cumpre-nos fazer referência à Lei nº 11.441, que alterou os artigos 982, 983 e 1.031 e acrescentou o artigo 1.124A, todos no Código de Processo Civil. Essa lei apresentou a busca por um processo de desburocratização no Judiciário, com a tentativa de desafogar o excessivo volume de processos nas varas e tribunais. Como inovação, permite no caso do inventário e partilha, se todos forem capazes, e no caso da separação e do divórcio

consensual, nas hipóteses dos cônjuges não terem filhos menores ou incapazes, possam ser processados pela via administrativa, por meio dos cartórios extrajudiciais. Essa mesma lei contemplou, ainda, que o inventário e a partilha poderão ser processados por escritura pública, desde que não exista testamento ou interessado incapaz.

Não podemos olvidar que as reformas, por si sós, não serão capazes de resolver a problemática do Judiciário. Em que pesem as virtudes apresentadas pelas alterações processuais referidas, é preciso, por meio de uma percepção crítica, o cuidado quando da busca de tão sonhada celeridade processual, para não atropelarmos o princípio da segurança jurídica.

Também, de nada adiantaria conceder ao jurisdicionado a tutela jurisdicional célere, se o provimento prolatado pelo Judiciário se mostrasse inócuo, insatisfatório, desprovido de efeito, sem possibilidade de concretização.

No caso da Emenda Constitucional nº 45/2004, podemos dizer que as transformações geradas pela reforma processual, que legou ao nosso sistema jurídico a positivação formal do direito ao tempo razoável do processo, tomou um rumo diferenciado, pois objetiva-se dar uma maior efetividade e concretude ao processo.

3.5 POSITIVAÇÃO FORMAL NO ROL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS: