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3 O ESPAÇO URBANO DE SALVADOR NO GOVERNO DE J J

3.2 O PLANO DE URBANIZAÇÃO DE SALVADOR

3.2.2 As reformas urbanas na cidade alta

O Plano de Melhoramentos da Cidade do Salvador elaborado por Jerônimo Teixeira de Alencar Lima (Figura 10) contemplava a remodelação da Cidade Alta fundamentado na necessidade de criar uma forte infraestrutura como base de toda a reforma pretendida. A higiene nas ruas, o saneamento básico, trânsito urbano, abertura de avenidas, calçamentos, arquitetura moderna, iluminação, ruas largas e ventiladas tudo o que necessitava uma cidade moderna pela concepção higienista e civilizatória da época. Entretanto, “o projeto executado é uma nova versão do projeto de Alencar Lima de 1910” Pinheiro (2002 p 230), que como os demais planos apresentava como prioridade a abertura de uma larga avenida ligando a praça do Teatro à povoação do Pereira. Os engenheiros responsáveis pelas reformas foram Alencar Lima e Souza Mendes.

O projeto de reforma da Avenida Sete de Setembro expressou a visão urbanística de seus mentores. Eram engenheiros que pensavam a ordenação urbana da cidade pela retificação de suas vias e pelo pouco respeito para com a tradição da cidade, seja ela expressão no campo da natureza ou da cultura. Com o capital adquirido, Seabra deu início a abertura da Avenida Sete de Setembro, entre a Ladeira de São Bento e a Barra.

Muitas desapropriações, demolições e intervenções ocorreram nesta área. Entre a Igreja de São Pedro e a Praça do Campo Grande diversos prédios importantes na cidade foram demolidos entre eles a Igreja de São Pedro Velho. Outros são parcialmente demolidos e ganharam um novo estilo arquitetônico como o edifício do Senado do Estado atual Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, parte da Igreja do Rosário de João Pereira (ou dos brancos) e do Convento das Mercês. O Relógio de S. Pedro ocupa o centro da Praça Rio Branco. Fotos dessa época possibilitam visualizar o processo de abertura da avenida.

Figuras 16 e 17. Ladeira de São Bento e as intervenções de J. J. Seabra

Fonte Acervo do Arquivo Público

Figura 18. Relógio de São Pedro Figura 19. Palácio do Senado

Fonte Acervo do Arquivo Público Fonte Acervo do Arquivo Público

Figura 20. Rua das Mercês Figura 21. Corredor da Vitória

A abertura da Avenida Sete tinha como justificativa a criação de um vetor que liberasse o fluxo da Sé. Diz Pinheiro:

O traçado da avenida projetada tem um total de 4.600m de extensão, 21m de largura com 3m de calçada, com exceção da ladeira que dá acesso à Barra, cuja largura permanece com as dimensões originais. Em 1916, a avenida tem 82.800m2 de asfalto e está equipada com tubulações para as redes de água, esgoto, águas pluviais e instalações para a iluminação elétrica. Uma parte está localizada no Distrito de São Pedro, em seu eixo longitudinal, numa área antes ocupada por uma parte da elite econômica e intelectual da cidade, e que sofre um intenso processo de empobrecimento, A Avenida Sete de Setembro é considerada por Pinheiro (2002 p.228) como a obra de maior importância do governo de Seabra. Já Teixeira (www.cidteixeira.com.br) acredita que a maior das alterações ocorridas se deu no Campo Grande com o corredor de casas e “invasão dos colarinhos brancos”. É de (Pinheiro 2002) a figura 22 com o traçado da avenida Sete e suas áreas de demolição.

Figura 22. Mapa do traçado da Avenida Sete – 1913.

Outro ponto da Cidade Alta afetado pelas reformas empreendidas por Seabra é o Distrito da Sé, A Igreja Sede é o ponto de divisão do distrito e pelo plano de intervenção deveria ser demolida, junto com o palácio Arquiepiscopal e todas as edificações da Rua do Arcebispo. Por falta de verbas esta parte do projeto não foi levada a frente.

A Rua da Misericórdia sofre diversas demolições com o intuito de alargar as ruas e abrir espaço. Diário de Noticias de 13 de junho de 1912:

A freguesia da Sé, que está bem no coração da cidade, deve ser o primeiro. De ruas estreitas sem alinhamentos de beccos immundos, de sobrados escuros, datado dos tempos da colônia, a freguesia da Sé, como ali está, precisa desaparecer.

Entre a Praça do Conselho e a Praça Castro Alves ocorreram muitas demolições para que a rua Chile fosse alargada. A Igreja da Ajuda também é demolida, e a rua ganha seu nome, a pavimentação das ruas é refeita e a cidade vai ganhando contornos e aparência de uma cidade moderna.

Figura 23. Foto da Praça Tomé de Souza e Rua Chile

Fonte: Arquivo Publico

Das intervenções realizadas na Praça do Conselho destaca-se a reconstrução do palácio do Governador avariado pelos bombardeios e a construção do Arquivo do Estado e da Biblioteca Pública.

A cidade estava em plena construção de praças, jardins, parques, banheiros públicos, Vila Policial, Instituto Vacinogênico e o Hospício São João de Deus. Vias foram abertas como a litorânea entre Rio Vermelho e Itapoã, A Avenida Oceânica do Farol da Barra à Praia da Paciência (Figura 24).

Figura 24. Av. Oceânica – Ondina Rio Vermelho

Fonte Arquivo Público

Implementou-se também obras no largo da Mariquita e no Jardim da Graça visíveis nas figuras 25 e 26.

Figura 25. Obras no Largo da Mariquita Figura 26. Jardim da Graça

O remanejamento da população para locais distantes que ainda não

contavam com obras de saneamento básico, transporte, luz e água demonstrava

claramente a segregação na cidade e o descaso para com aqueles menos

favorecidos, reforçando que as obras buscavam mais o embelezamento e a estética

das cidades do que propriamente a saúde e o bem estar da população. A cidade

colonial dava lugar ao aparecimento de uma Salvador moderna, remodelada, com

avenidas, calçamentos, praças edifícios fazendo os baianos acreditarem na ruptura

com o passado.

A análise desse período histórico da Cidade do Salvador demonstra que o

principal destaque da administração de J.J Seabra foram as constantes intervenções

no espaço público e privado da cidade, a partir da concepção de progresso da época

que rejeitava o passado, pois, o considerava como um atraso e símbolo do

conservadorismo. Salvador só veio a conhecer outro boom urbanístico semelhante,

na década de 1970, com a criação das avenidas de vale e da construção da Paralela

que facilitaram a mobilidade da cidade e a criação do vetor norte de expansão da

Cidade.

Um mapa (Figura 27) com a localização das principais obras do governo de

J. J. Seabra permite visualizar a distribuição dessas reformas na Cidade do