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2 CENÁRIO POLÍTICO BAIANO NO PERÍODO DE GOVERNO DE

2.2 O BOMBARDEIO DE SALVADOR E SUAS CONSEQUÊNCIAS

A tarde do dia 10 de janeiro de 1912 ficou marcada por um dos mais violentos e importantes acontecimentos da história da Bahia, o bombardeio de Salvador. Tal episódio causou muita destruição e morte na capital provocando repercussões em âmbito nacional e assinalando a ascensão ao poder do estado do Seabrismo.

Para Consuelo Sampaio tal fato é marcado por uma curiosidade, diz ela:

“Curiosamente, enquanto se procedia a erradicação das mais poderosas oligarquias nordestinas, inaugurava-se, na Bahia, o apogeu do poder oligárquico. Para tanto concorreu a força dos canhões. Salvador foi bombardeada (10 de Janeiro de 1912). O palácio do Governo foi atingido na ala em que se encontravam a biblioteca pública, e o arquivo público do Estado”. (SAMPAIO 1978 op cit OCRB, 1919, v.XLVI, t.III, p.XIII).

No dia 10/01/1912 ao meio dia, o general Sotero de Magalhães fez saber que: “caso o governo do Estado se recusasse obedecer ao habeas corpus concedido pelo juiz federal aos congressistas filiados ao Partido Republicano Conservador, a Inspetoria da 7ª Região Militar iria intervir pela força em uma hora” (Diário de Notícias, 1912). A cidade parou e a população começou a deixar suas casas e o comércio a fechar as portas.

Sem respostas, às 13 horas e 40 minutos dois tiros de pólvora seca foram disparados do forte do Mar. O General Sotero bombardeia o Palácio do Governo e a Intendência. Os disparos foram efetuados do forte de São Marcelo, do Barbalho, de São Pedro e de Monte Serrat, as ruas do centro foram atingidas.

“De conformidade com as instruções expedidas pelo general inspetor da 7ª região militar, caso o governo do estado não retirasse a força policial do edifício da Câmara de Deputados, o Forte São Marcelo disparou dois tiros de canhão e a 1hora e 10 minutos intimando o governo mais uma vez”. (Diário de Notícias, 17 jan.1912).

7ª região militar – O general Sotero de Meneses, inspetor da 7ª região militar, faz saber que, tendo o governo do Estado se recusado terminantemente a obedecer ao habeas corpus concedido pelo exmo sr. Juiz seccional, para que possam funcionar livremente, no edifício da Câmara dos Deputados, os congressistas convocados pelo exmo. Sr. Barão de São Francisco, presidente em exercício do Senado, cumpre-lhe, em obediência à requisição do mesmo juiz federal, aos poderes competentes da República, fazer respeitar e executar essa ordem de intervenção da força de seu comando, intervenção a que se dará início dentro de uma hora (GAZETA DO POVO, 17 jan. 1912).

A população de Salvador corria sem saber o que estava acontecendo, a cidade vivia um verdadeiro campo de guerra já que os policiais faziam disparos para todos os lados e toda a área que hoje é a Avenida Sete de Setembro foi atingida pelo bombardeio.

Em terra, os policiais do estado guerreavam com os policiais federais, todo trânsito da Capital ficou paralisado e as casas comerciais fecharam suas portas. Muitas foram as vítimas fatais desta terrível disputa pelo poder, vários corpos foram enfileirados na porta do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues que também estava fechado devido ao bombardeio.

O telégrafo também foi fechado para que nenhuma informação a capital Federal chegasse. Finalmente as 17horas e 30 minutos uma bandeira branca foi hasteada substituindo a bandeira Nacional cessando assim às 4 horas de pânico que os soteropolitanos viveram. O bombardeio causou danos irreparáveis, tanto as perdas humanas, até hoje não se sabe exatamente o saldo dos mortos e feridos quanto ao incêndio ao palácio do governo (Figuras 3 e 4) onde estava instalada a biblioteca pública destruindo todas as obras raras que ali estavam inclusive os livros da época colonial, período em que a Salvador tornara-se capital do Brasil.

Figura 3. Palácio do Governo após o bombardeio – 1912.

Fonte: Obras Completas de Rui Barbosa, v.XXXIX, 1921, t.I Reprodução de fotografia original do acervo da Fundação Casa de Rui Barbosa, Rio de Janeiro.

Figura 4. Palácio do Governo após bombardeio 1912

A violência instalada na capital baiana é uma marca indelével na história da cidade, pois revela que o poder estava acima de tudo e de todos. A revista Careta de âmbito nacional (Figura 5) informava que até o oceano estava abalado com os eventos ocorridos na Bahia.

Figura 5. O oceano se “manifesta” contra o bombardeio

Fonte: Revista Careta, ano 5, nº 190, 20/01/1912. Acervo on-line da Fundação Biblioteca Nacional (www.bn.br).

No dia seguinte ao bombardeio, parte da população de Salvador concentrava- se em alguns pontos da cidade como a Praça do Palácio e o Largo do Teatro São João aguardando soluções para os acontecimentos. O povo baiano clamava por explicações que justificassem o bombardeio a uma capital de um país livre, republicano pelas suas próprias forças federais, visto que este deveria ser o primeiro a resguardá-las.

No dia 12/01/1912 O Diário de Noticias confirma a renúncia do governador da Bahia Aurélio Vianna e quem assume o seu posto seria o Presidente do Tribunal de Justiça da Bahia o Sr. Bráulio Xavier.

Com a renúncia de Aurélio Vianna, Rui Barbosa tenta a todo custo que o Cônego Galrão assuma o governo, porém, este se recusa, pois não tinha garantia de vida. Rui Barbosa também tentou embargar a indicação de Bráulio Xavier, mas o presidente Hermes da Fonseca intervém finalizando a questão. Segundo Sarmento (2009), os conflitos ficaram ainda mais acirrados, diz ela:

“A violência inusitada do bombardeio ficou marcada profundamente na alma da cidade, mas os tumultos não ficaram restritos às ocorrências de 10 de janeiro. Até 28 de março, quando Seabra tomou posse do governo do Estado, Salvador viveu um período de turbulência. Aurélio Viana teve que abandonar o governo (12 jan.), sob pressão de uma multidão enfurecida. Refugiou-se no consulado da Venezuela, depois fugiu à noite para o da França, onde uma comissão liderada pelo deputado Simões Filho foi buscar sua renúncia. O governo foi entregue, então, a Bráulio Xavier, presidente do Tribunal da Relação e quarto substituto do governador. Mas, com a repercussão dos eventos baianos na capital federal, especialmente pela palavra de Rui, Aurélio Viana acabou assumindo novamente o governo (21 jan.), para renunciar mais uma vez, quatro dias depois. De volta ao cargo, Bráulio Xavier organizou as eleições que, sem surpresa, deram vitória aos novos donos do poder na Bahia”. . (SARMENTO, 2009 p.98,99)

No dia 28/03/1912 ocorre às eleições para governador da Bahia com candidatos J. J. Seabra e Domingos Guimarães e no dia 29/03/1912 é feita à apuração dos votos com a vitória esmagadora do candidato do PD com 66.956 contra 2.695 do candidato do PRB.

José Joaquim Seabra foi eleito governador da Bahia para o período de 1912 a 1916. Sua trajetória a frente do estado da Bahia foi marcada por uma longa permanência no poder periodizado em dois momentos: (1912 a 1916) período das grandes intervenções urbanísticas na capital baiana e (1920 a 1924) manutenção do controle do poder político. A duradoura estabilidade de Seabra no poder é vista por (SAMPAIO,1989) como uma consequência de seu maior atributo, sua sagacidade política e sua capacidade de articular apoio.