• Nenhum resultado encontrado

3 A DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO E A ALIENAÇÃO NA FORMAÇÃO

3.5 As regularidades

Ao analisarmos as concepções presentes nos currículos dos cursos de Licenciatura em Educação Física (251) e de Graduação em Ciência da Atividade Física e do Esporte (252), concluímos que as concepções apresentadas nestes cursos articulam- se às observadas nos parâmetros-teórico-metodológicos analisados. Em todos os documentos analisados a referência de trabalho tem por base o aprofundamento da divisão social do trabalho e do trabalho alienado, nenhum dos documentos apresenta uma proposição radical que vislumbre a superação da divisão social do trabalho e da alienação na formação inicial, que em última instância apresentam-se na defesa da concepção liberal de trabalho e da dicotomia teoria e prática objetivada na organização curricular.

A análise da concepção de projeto histórico nos documentos nos possibilita afirmar que não há apresentação explícita de projeto histórico no material, no entanto, conceitos como o de pluralidade e democracia e no caso dos documentos referentes à Educação Física, tanto as DCNEF, quanto os currículos 251 e 252, explicita-se a defesa da Educação Física vinculada à construção de estilos de vidas ativos e saudáveis, do consumo da Cultura Corporal como artigo de luxo, mercadoria a ser consumida, comprada e vendida. Há uma coerência entre a concepção de trabalho e a concepção de projeto histórico presentes nos documentos, pois a concepção de trabalho alienado articula-se a manutenção da sociedade de classes, da defesa do modo capitalista de vida. Nenhum dos documentos, mesmo quando se remetem à necessidade de análise crítica da realidade ou a transformação da mesma, materializam tais pressupostos em uma base concreta da defesa da necessidade de superação da sociedade de classes ou da resistência frente ao trabalho alienado objetivando a contribuição para a constituição da consciência de classe.

Quando analisada a concepção de formação, sem exceção nenhuma, todos os documentos tomam por base a formação pautada em competências e habilidades, a fragmentação da formação inicial e a flexibilização da formação, que escamoteia o conceito de precarização do trabalho. A formação por competências e habilidades é exacerbada nos currículos dos cursos analisados (251;252), no qual se objetiva a fragmentação da formação entre licenciados e bacharéis.

Destacamos ainda, no que se refere à fragmentação da profissão, a compreensão de que para resolução do problema da fragmentação da profissão, não “unir” as duas concepções de formação sem a necessária clareza científica sobre a formação ampliada em Educação Física.

Destacamos, três argumentos mais apresentados nos cursos analisados que levaram à fragmentação do currículo: 1) Necessidade disposta na legislação e apresentada pelas DCNPF e pelas DCNEF; 2) Falta de clareza sobre o objeto de estudo da área e de identidade na Educação Física; 3) Os diferentes campos de atuação profissional formatados a partir da demanda do mercado de trabalho.

Sobre a primeira questão, apresentamos a falsidade deste discurso, já que segundo interpretação do próprio CNE ele é equivocado, merece questionamento e foi implementado na área pelo Sistema CONFEF/CREFs. Sobre a segunda questão, comprovamos que a divisão curricular no caso da UFS, não auxiliou a clarear o objeto de estudo da Educação Física, já que, como comprovamos pela análise de conteúdo, ambos projetos de reformulação apresentam confusão teórico-metodológica ao referir-se à concepção de Educação Física. A solução do problema encontra-se, segundo Taffarel (1993), na construção de um currículo a partir de uma unidade teórico-metodológica. Por fim, ainda no que se refere à fragmentação da profissão, apresenta-se um equívoco sobre a compreensão do que define uma profissão, pois

[…] tal divisão corresponde a estratégia do capital de desqualificar o trabalhador em seu processo de formação acadêmica inicial. Estratégia vital para garantir que o capital lide com contradição fundamental no que diz respeito a formação que é educar-alienar, ou seja educar pero

no mucho. […] Entre os argumentos utilizados, dantes como agora,

para sustentar para sustentar a proposta da fragmentação da formação profissional entre Licenciatura e Bacharelado encontramos o da diferença entre os locais de atuação profissional. Desconsidera-se, assim, que o que define a profissão são determinadas necessidades ou demandas sociais que podem ou não estar contempladas no processo de formação (SANTOS JUNIOR, 50-60, 2005).

De acordo com a concepção de trabalho liberal apresenta-se na concepção de formação a unilateralidade como única possibilidade formativa. A formação é pautada no desenvolvimento de competências e na fragmentação entre licenciatura e bacharelado, o que aprofunda a alienação na formação inicial, frente à possibilidade histórica da formação omnilateral.

Nas DCNEF e nos cursos da UFS, configura-se uma concepção de Educação Física que se adequa à formação por competências oscilando entre o positivismo e a fenomenologia, o que objetiva uma profunda indisciplina teórica expressa no currículo.

A falta de disciplina não só se manifesta por um obscuro ecletismo, aparentemente consciente, e para alguns como uma concretização esclarecida do espírito, mas também como uma exposição metafísica e mecânica de idéias, cuja característica essencial talvez seja seu poder de hierarquizar e isolar conceitos, tornando-os alheios a realidade social (TRIVIÑOS, 1987, p. 16).

Finalizando a análise dos documentos, há também regularidade entre os parâmetros-teórico-metodológicos e os cursos analisados, no tocante às concepções de Prática de Ensino e Estágio Supervisionado, configuradas de forma terminal e propedêutica.

O que se apresenta também em todos os documentos é a ausência de clareza teórica sobre o que é Prática de Ensino e Estágio Supervisionado. Tal ausência conceitual tem por base a lógica do pensamento formal que constitui a base dos documentos analisados, assim, configura-se a velha e decrépita ideia de que primeiro deve se aprender na teoria para depois se aplicar na prática, um verdadeiro retrocesso frente à possibilidade de organização curricular a partir da dialética marxista.

A partir das regularidades levantadas, discutiremos a formação de professores frente ao processo de mundialização da Educação, reconhecendo-a não como um dado teórico analisado sem a devida articulação com a totalidade, mas enquanto resposta do capital em crise estrutural para a formação da classe trabalhadora.

4 FORMAÇÃO DE PROFESSORES, UNILATERALIDADE E