• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 2 – A Cooperação entre a União Europeia e o Mercosul

2.1 As relações comerciais

A cooperação económica e as relações comerciais da UE com a América Latina conheceram uma evolução contínua até aos dias de hoje. Até à década de oitenta as prioridades da CEE não eram, de todo, a América Latina mantendo um contacto individual com cada país. Com a importante consubstanciação do Mercosul, que lhe deu mais poder de negociação e atractividade externa44, a União Europeia iniciou negociações complementares com o bloco tendo atingido um pico em Dezembro de 1995 com a assinatura do Acordo-Quadro Inter-regional. Este acordo visava a criação de uma área de livre comércio num curto espaço de tempo. As relações entre o Mercosul e a UE podem ser vistas, desde então, como um empenho de um movimento de comércio e investimentos com capacidade de erguer economias e estimular o desenvolvimento dos países sul-americanos mais pobres e com maior vontade política de se inserirem no comércio mundial e na esfera política de organizações internacionais democráticas.

44 O Mercosul, por si só, é um caso de estudo porque conheceu um aumento incrível no volume do comércio inter-bloco após a sua constituição as trocas, passaram de 4.123 milhões de dólares, em 1990, para 20.650 milhões de dólares, em 1997, o que é um aumento superior a 400%. Este portento económico também se deu no lado das exportações (incluindo a UE) passando-se de 38.099 milhões de dólares para 51.378 milhões de dólares sendo um aumento de mais de 35%, durante o mesmo período. O Mercosul constituiu-se assim, de forma harmónica, como o motor da América Latina para o desenvolvimento porque o comércio na região no mesmo período aumentou 225% (Fontes: CIA World Factbook 2004, IMF WEO Database)

A ajuda prestada pela UE nas várias fases da integração do Mercosul como a supressão de taxas, de limitações e controlo das fraudes comerciais foi importante sendo que existem formas de cooperação estreitas estabelecidas em acordos com várias instituições da UE. O Mercosul pode solicitar ajuda às instituições europeias homólogas o que é uma cooperação importante porque põe à disposição o know-how comunitário.

A primeira metade da década de noventa alteou um remoinho de transformações constantes que passaram pelas negociações multilaterais do comércio - a Rodada do Uruguai do GATT - e a divisão económica global em espaços regionais. A ajuda e envolvimento dos países ricos no arranque e na inclusão económica dos países mais pobres eram desejáveis existindo mesmo vantagens recíprocas. Este estudo torna-se mais interessante pela importância dos actores envolvidos. A União Europeia têm servido de protótipo de inspiração para muitos processos de integração regional e o seu conhecimento, angariado, nesta matéria revela-se como essencial para os primeiros passos da inclusão regional de novos países (independentemente da sua localização geográfica). O Mercosul como um grande agregado económico que é e, a previsão de tornar-se num gigante, com o Brasil à cabeça, é uma experiência viva de como a ponderação deste actor pode tornar-se num magnate para a reputação da UE no mundo e um desafio para consolidar e reforçar a sua predominância política. Neste panorama de globalização das economias as ligações entre os estados são debilitadas para dar relevância a novos actores. A soberania é esvaziada por cima para as organizações supranacionais e para baixo para o poder concertado das regiões. É necessária uma nova disposição multilateral e é com base na mesma que devemos decompor as relações económicas e as relações comerciais entre os dois actores aqui estudados. Neste panorama de globalização das economias as ligações entre os estados são debilitadas para dar relevância a novos actores. A soberania é esvaziada por cima para as organizações supranacionais e para baixo para o poder concertado das regiões. É necessária uma nova disposição multilateral e é com base na mesma que devemos decompor as relações económicas e as relações comerciais entre os dois actores aqui estudados. Neste panorama de globalização das economias as ligações entre os estados são debilitadas para dar relevância a novos actores. A soberania é esvaziada por cima para as organizações supranacionais e para baixo para o poder concertado das regiões. É necessária uma nova disposição multilateral e é com base na mesma que devemos decompor as relações económicas e as relações comerciais entre os dois actores aqui estudados. Neste panorama de globalização das economias as ligações entre os estados 35

são debilitadas para dar relevância a novos actores. A soberania é esvaziada por cima para as organizações supranacionais e para baixo para o poder concertado das regiões. É necessária uma nova disposição multilateral e é com base na mesma que devemos decompor as relações económicas e as relações comerciais entre os dois actores aqui estudados. Neste panorama de globalização das economias as ligações entre os estados são debilitadas para dar relevância a novos actores. A soberania é esvaziada por cima para as organizações supranacionais e para baixo para o poder concertado das regiões. É necessária uma nova disposição multilateral e é com base na mesma que devemos decompor as relações económicas e as relações comerciais entre os dois actores aqui estudados.

Com a cessação da Rodada de Doha a UE decidiu empenhar-se nos acordos bilaterais de comércio entre eles o Mercosul. Segundo o relatório sobre as Relações Económicas e Comerciais entre a União Europeia e o Mercosul, publicado pelo Comité

de Comércio Internacional da UE, pretende-se empregar um ambicioso acordo de associação inter-regional que vença os compromissos assumidos na OMC e inclua temas como: comércio de serviços, investimentos, compras governamentais, propriedade intelectual, simplificação do comércio e solução de contendas. A competitividade que se alcança, por estabelecer laços singulares em vários sectores, estimula e afia o apetite dos colossais económicos. A União Europeia por saber definir bem os seus propósitos e conceder auxílios atractivos nas suas negociações conseguiu garantir um mercado financeiro e uma preponderância política desejável no Mercosul. Abriu-se portas para uma colaboração mais estreita e constante no futuro.45

Em apenas poucos anos alguns investidores europeus injectaram milhões e milhões de euros nestas economias tendo participações relevantes e até mesmo predominantes em muitas empresas da região. Os europeus são os segundos maiores investidores na América Latina seguidos apenas pelos norte-americanos e muito à frente dos japoneses. Os bancos europeus tiveram um papel relevante no refinanciamento da região. O IDE (Investimento Directo Externo) da União Europeia foi de 60% para a América Latina sendo direccionado na sua maioria para o Mercosul mais

45 A influência cultural tem aqui significado pois enquanto antigo colonizador releva uma predominância cultural que é um benefício capaz de conseguir superar as possíveis vantagens que a proximidade geográfica dos Estados Unidos (integrado na NAFTA) possa ter na região. As relações entre a América Latina e os Estados Unidos nem sempre foram boas sendo caracterizadas por uma dominância quase imperial de um grande quintal de extensão natural de influência para o seu território. Com estreitar de laços entre a União Europeia e o Mercosul este pode conseguir contornar esta influência e tornar o seu território mais autónomo na política externa da influência do Norte. A União Europeia têm todo o interesse em promover este cenário porque uma possível integração do Mercosul num projecto de integração hemisférica a todo o continente deixaria a União Europeia como um aliado secundário retirando menos benefícios do mercado e a integração iria no sentido económico e não político como sucedeu com a UE cujo interesse é promover laços com estruturas semelhantes à sua. Estes laços iriam permitir estabelecer relações mais comprometedoras e uma maior influência cultural, política e económica da UE no mundo.

especificamente para o Brasil e para a Argentina. Estes investimentos são fruto dos processos de privatizações das empresas públicas. O comércio entre o bloco europeu e o Mercosul em 2005 abrangeu 51 biliões de euros o que representa 2,3 % do comércio externo da UE. O aumento assombroso dos investimentos e comércio tornaram possíveis a construção de mais estradas, aeroportos e fábricas possibilitando modernizar os países do Mercosul. Este impulso melhorou o padrão de vida destes países. Os dados mostram que existe um oportuno interesse da União Europeia na região e que as suas relações estão em competição directa com os Estados Unidos no acesso, sobretudo, aos mercados.

Em 2009 ocorreu um encontro entre a União Europeia e o Mercosul que pretendeu aproveitar a presidência espanhola da UE para relançar as negociações entre os dois blocos. Estas tinham sido suspensas em 2004. As negociações ficaram tolhidas em virtude da União Europeia exigir uma maior abertura dos mercados para os seus produtos industrializados e serviços e o Mercosul reclamou o mesmo da UE mas para os bens agrícolas. Juntos os blocos concordaram em estabelecer volumes de negociação faseados e desvincular a sua negociação da Rodada de Doha.

Os acordos compreendidos trouxeram grandes benefícios para a UE porque com a formação da NAFTA e o lançamento da Iniciativa das Américas, em 1990, tornou-se imperiosa uma acção por parte da Comunidade para não perder este mercado tão valioso.O mercado valia em 1994 cerca de 18, 2 biliões de dólares com uma carência em bems de alto valor agregado. Neste momento o Mercosul constitui-se, já em termos das exportações da UE, como um pilar marcante com especial destaque para as máquinas e equipamentos de transporte (45%), produtos químicos (22,5%) e automóveis (12,3%). Segundo o EUROSTAT46(em 2006) a UE é um dos principais parceiros do Mercosul sendo que 21% das suas exportações e 18% das importações são feitas neste mercado. No ano 2000 a balança comercial era deficitária (US$ 19.708 milhões de exportações e US$ 20.254 milhões de importações) para o Mercosul em 546,2 milhões mas a partir do ano 2002 a balança passou a superavitária. No ano de 2005 teve um saldo positivo de US$ 9.337 milhões (exportações deUS$ 33.348 milhões e importações de US$ 23.971). A colaboração futura passará ainda pela tecnologia e investimentos. As relações entre o Mercosul e a União Europeia são relevantes para

46 o Gabinete de Estatísticas da União Européia

ambos os blocos porque é uma fonte de possibilidades sem precedentes para biliões de pessoas e, sobretudo, empresas nos dois continentes.

O Mercosul tem uma vantagem indiscutível nesta associação - a diminuição da

interferência dos E.U.A. na região. A inclusão na NAFTA e o seu alargamento para a

ALCA seria complexo porque teria que existir uma integração das economias que estão em diferentes estágios de desenvolvimento e com uma distribuição de rendimentos altamente desfasada de uma média. Os Estados Unidos e o Canadá sozinhos têm mais de 82% do PIB hemisférico enquanto a Jamaica, Costa Rica, Honduras, El Salvador, Paraguai, Panamá, Guatemala, Equador, Haiti e Nicarágua só representam menos de 1% do PIB. Até o Brasil que é a maior economia da América latina replica apenas por 7,4% e a Argentina, principal parceiro do Mercosul, por menos de 3% da riqueza do continente.47 O Mercosul teria que se solidificar para conseguir ter representatividade no futuro projecto ALCA mas poderia existir dentro de um projecto maior? A experiência da União Europeia indicia que não pois com a formação do Benelux48, que estabeleceu o livre comércio entre os países baixos, em 1958 e, com o posterior alargamento e adesão da Itália, Alemanha e França ao tratado (formando a CEE) existiu uma dissolução do projecto original. Quando os efeitos económicos se assemelharam ao projecto inicial este dilui-se no esboço da inclusão maior. O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães é da mesma opinião ao dizer que existe o receio de os Estados Unidos eternizarem a sua hegemonia económica e política na região pois “ realizariam

seu desígnio histórico de incorporação subordinada da América Latina a seu território económico e a sua área de influência político-militar”49.

A União Europeia já evidenciou ser uma alternativa exequível pela sua experiência pessoal e pela forma como inicia os seus relacionamentos económicos (com clausulas políticas) com o Mercosul mostrando que pretende chegar mais além do que uma simples pareceria económica - espelha o seu modelo político e fortifica a sua afirmação e reputação no mundo ajudando os blocos inter-pares com a sua experiência de consubstanciação. O Mercosul está bem ciente desta vantagem pois sabe que a ALCA têm privilegiado, nas negociações, o acesso preferencial aos mercados de bens deixando de lado temas como a: integração económica, serviços, investimentos e políticas comuns. Se estes temas fossem tratados poderiam conduzir a uma integração

47Fontes: CIA World Factbook 2004, IMF WEO Database 48 Bélgica, Holanda e Luxemburgo

49 BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. A crise da Argentina e os objectivos dos EUA. Revista Espaço Académico, ago.2002, ano II, n° 15

política. Apesar desta hesitação os Estados Unidos são um importante mercado cuja sua agregação ao Mercosul teria também benefícios económicos. Permanecem vários cenários a ponderar, a saber: o estabelecimento da ALCA e o eclipse do Mercosul sem entendimento com a UE, a subsistência do Mercosul concomitantemente com a ALCA e um acordo mais acanhado com a UE e a não materialização da ALCA e o estabelecimento de um Acordo de Livre Comércio com a UE (o mais ambicioso). O cenário plausível seria o segundo - a subsistência da ALCA com o Mercosul permanecendo um acordo de livre comércio com a UE. Segundo o artigo 3 (Minuta da ALCA, 2003) este cenário é exequível porque podem coabitar acordos bilaterais e sub- regionais presentes com os que vierem a ser estabelecidos futuramente desde que o seu alcance seja maior que o da ALCA. Com a fundação do livre comércio em prática, nas Américas, temos que reconhecer que o Mercosul e a sua vocação perderiam a razão de ser porque este não é, ou não quer ser, apenas um projecto económico. A experiência mostra-nos que o Mercosul está bem mais avançado do que aquilo que se propõe para o projecto ALCA sendo já é uma união aduaneira e prevendo um mercado comum, em toda a sua profundidade50 (no Tratado de Assunção com a livre circulação de todos os factores de produção - Artigo 1. Os enunciados dos acordos, ao mostrarem um constante interesse pela união dos povos Sul-americanos, delineiam um outro caminho.

Para Luís Felipe Lampreia (ex-ministro das relações exteriores do Brasil): “o

Mercosul é uma realidade de sucesso que veio para ficar, que reforça a identidade internacional dos seus membros e confere massa crítica ao projecto da ALCA. Não vai se diluir no hemisfério, nem constitui uma mera etapa de transição”51

. Seria integralmente possível existir um acordo entre a UE e o Mercosul mesmo com a integração na ALCA só que com o inconveniente de que o acordo teria que ter a aprovação dos Estados Unidos e ajustar-se ao modelo americano defendido para a ALCA - um modelo sobretudo económico que exclui a vertente política do ponto de vista europeu. Estará a União Europeia em condições de fornecer uma alternativa capaz de superar este efeito coactivo e diluir o predomínio dos Estados Unidos concretizando, possivelmente, o terceiro cenário?

A espantosa ampliação do comércio intra-bloco gerou uma onda de produtividade e eficiência que criou novos empregos dinamizando as economias. A União Europeia não é o único empenhado em obter este mercado e a sua actuação e

50 Até agora só se discutiu o acesso de bens aos mercados, os temas de um mercado comum ainda não foram amplamente debatidos. 51 Discurso proferido durante a abertura da II Reunião Hemisférica de Vice-Ministros, em Fevereiro de 1998.

concepção de uma parceria futura e crescimento das relações comerciais e políticas vai ditar o sucesso ou fracasso limitando ou expandindo a sua influência global. Pode-se, em termos comercias e de investimentos, determinar assim sumariamente a importância da UE para o Mercosul.

• A importância comercial da União Europeia para o Mercosul

Actualmente, 60%52 do IDE da União Europeia vai par a América do Sul e quase na totalidade para o Mercosul. A nova vaga de IDE nos países do Mercosul tem os seguintes factores na sua origem: planos de estabilização económica, taxas de crescimento da economia, liberalização comercial com a abolição de tarifas e barreiras não tarifárias, investimento em infoestruturas e o processo de privatização das empresas públicas. Apesar das considerações positivas ainda é comparativamente pequena a participação do Mercosul no comércio mundial relativamente com a da União Europeia e do NAFTA. A componente agrícola no comércio do Mercosul com a UE tem uma grande ponderação em produtos agropecuários. No ano 2000 as exportações agrícolas foram de US$ 19.708 milhões. Apesar de existir uma melhoria na diversificação de produtos no ano 2005 ainda representava 53,9% do total exportado. Segundo o EUROSTAT53 o Mercosul é um parceiro relevante da UE no que toca aos produtos da agropecuária onde em 2005 se evidenciavam: as carnes, os grãos, sementes e resíduos das indústrias alimentares. As exportações nesta área, em 2005, totalizavam US$ 18 bilhões sendo que 57,8% referiam-se apenas a três sub-grupos de exportação: as carnes e miudezas comestíveis (11,2%), as sementes e os frutos oleaginosos e grãos (17,3%) e os resíduos das indústrias alimentares (29%). Este é um sector importante dai a insistencia do bloco para uma liberalização da União Europeia. Nas negociações que decorrem tem que se levar em conta a ponderação de cada cabaz de produtos nos dois mercados.

Devido à estruturação do mundo em blocos económicos coesos e fortes é urgente que o Mercosul celebre parceiras com os seus principais pares económicos nos quais se enquadra a União Europeia. Numa definição muito simples este intercâmbio permite-lhe, de uma forma salutar, que os bens e serviços sejam produzidos e

52Fontes: CIA World Factbook 2004, IMF WEO Database 53 No ano de 2006.

distribuídos num mercado bastante vasto através dos acordos de associação. Constrói-se um sistema virtuoso. O escocês Adam Smith54, que viveu no século 18, ilustrou tais potencialidades ao aconselhar que se devia permitir que um sistema económico flutuasse livremente e, como a água, buscasse o seu próprio nível. A oferta e a procura estabeleceriam o nível de cada produto ou serviços. Os países do Mercosul, muitas vezes submersos no proteccionismo estatal, perceberam, enfim, esta realidade e tomaram providências para um arranque económico. A União Europeia é um bloco importantíssimo para se estabelecer uma parceria porque consegue fazer fervilhar as economias - é a maior potência comercial do mundo - e por isso ampliar o bem-estar na região e a sua modernização e capacitação de quadros. A União Europeia é uma via de escape para que o Mercosul consiga afirmar-se no plano internacional evidenciando-se da política externa dos Estados Unidos para a região e tendo uma voz activa no mundo inclusive quanto a uma possível integração com a ALCA.