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As Representações Sociais e suas Transformações 2.1 – As Transformações Sociais: Introduzindo Alguns Conceitos

A noção de representação social descrita por Moscovici significa um continum entre o individual e o coletivo. A representação é social porque sua elaboração está estruturada sob o processo de troca e de interação que leva à construção de um saber comum, própria a uma coletividade, a um grupo social ou a uma sociedade inteira. (Moliner, 2001)

Uma representação é constituída de um conjunto de informações, de crenças, de opiniões e de atitudes. Com base na idéia de que as representações são conjuntos de elementos organizados e estruturados, Abric (1976, 1984, 1987, 1994) desenvolveu a chamada “Teoria do Núcleo Central”. Essa teoria foi o ponto de partida para o estudo estrutural das representações sociais e, por conseguinte, estudos sobre as transformações das representações sociais.

As representações são regidas por um duplo sistema: o sistema central, vinculado às condições históricas, sociológicas, sendo também ligada às normas e aos valores sociais, e define a organização e o significado da representação; e o sistema periférico, ligado ao contexto imediato, à historia pessoal do indivíduo e que permite a adaptação da representação às mudanças conjunturais (Campos, 2003, pp. .21-22).

Segundo Rouquette e Rateau (1998), o equilíbrio de uma representação social pode ser rompido sob o efeito de diversos fatores, mas pode-se distinguir dois casos: quando um elemento central torna-se periférico ou inversamente e quando um elemento periférico

torna-se super ativado ou inversamente. Somente no primeiro caso corresponde a uma transformação radical da representação; já o segundo é uma modulação circunstancial que mantém o núcleo central sem mudanças.

As representações sociais se constituem em um processo dinâmico (Flament, 1994, 2001) que pode ser modificado, mudado o seu estado e ser transformado. O aparecimento dos eventos, que é considerado pelo grupo como alarmante e suscetível de ameaçar sua organização atual ou que possa representar um perigo para a sua sobrevivência, provoca o surgimento de práticas novas, que podem ser impostas do exterior ou auto-impostas pelo próprio grupo, para se adaptar à nova situação. Nesse sentido, as representações sociais, no que diz respeito ao objeto considerado, são afetadas.

Dito de outra forma, os eventos suscetíveis de provocarem as mudanças não podem ser apreendidos por uma escala objetiva de importância. O que conta é seu ‘reflexo cognitivo’, ou antes, seu grau de pertinência e, em seguida, seu valor de referencial para certos grupos, mas não para outros. O processo de transformação das representações sociais toma formas diferentes, de acordo com o fato de as novas práticas estarem ou não em contradição com as representações antigas, mas também, em função da maneira pela qual a modificação das circunstâncias é percebida: quando os sujeitos consideram que a mudança ocorrida em seu ambiente é irreversível, o processo de transformação das representações sociais parece irremediável (Guimelli, 2003, p. 60).

O processo de transformação das representações sociais, segundo Moscovici, (1961); Abric (1994); Flament (!994); Rouquette e Rateau (1998); Bonardi e Roussiau (1999); Moliner (2001); Guimelli (2003); Tafani e Bellon (2003) e Campos (2003) está diretamente relacionado às práticas sociais e esta relação, por sua vez, é bastante complexa e pouco estudada. Para Campos (2003), isso ocorre devido à carência de pesquisas e à falta

da construção de um modelo único que possa ser válido para o conjunto das situações sociais.

Em relação à organização de uma representação e seus mecanismos de transformação, Abric (1998); Bonardi e Roussiau (1999) e Flament (2001a) consideram que, quando os atores são conduzidos a desenvolver práticas sociais em contradição com seu esquema de representação, eles poderão interpretar a situação de duas maneiras distintas: 1) os que podem considerar que é possível retornar às práticas anteriores, sendo a situação temporária e excepcional; 2) os que podem considerar que é impossível retornar às práticas antigas, daí a situação ser vista como irreversível. Em relação ao primeiro grupo, Abric (1998, p. 35) afirma que “os elementos novos e discordantes vão ser integrados na representação exclusivamente através de uma transformação do sistema periférico, o núcleo central da representação permanece estável e insensível às modificações”.

Quanto ao segundo grupo, Abric (1998, p. 35-36) explica que “três grandes tipos de transformações são possíveis: a transformação resistente; a transformação progressiva e a transformação brutal”. A primeira se relaciona com o aparecimento no sistema periférico de “esquemas estranhos” que evitam o questionamento do núcleo central e que permitem mudanças periféricas, sem que seja comprometido o sistema central. Tal esquema só permite uma transformação mais radical se houver a multiplicação de esquemas estranhos.

O segundo tipo de transformação diz respeito à mudança progressiva do núcleo da representação e, por conseguinte, à construção de uma nova representação, no caso em que as novas práticas não são completamente contraditórias ao núcleo central.

O terceiro tipo de transformação acontece quando as novas práticas atacam diretamente o significado central da representação, sem a possibilidade de se fazer uso dos mecanismos defensivos do sistema periférico. Assim, o caráter irreversível das novas

práticas provoca uma transformação direta e completa do núcleo central, conseqüentemente, de toda a representação.

Segundo Abric (1998, p. 36), essas análises dos processos que ocorrem nas transformações das representações “parecem destacar a necessidade de se considerar a organização interna da representação para compreender a dinâmica das representações sociais”. Assim, a relação entre sistema central e sistema periférico aparece como fundamental na atualização, evolução e transformação das representações.

Uma outra metodologia relacionada às transformações das representações sociais foi fundada por Guimelli a partir da técnica das associações verbais. Nessa técnica, o interesse é pelos conhecimentos declarativos do sujeito em oposição aos conhecimentos processuais. O conhecimento declarativo não integra a ordem na qual o sujeito utiliza os conhecimentos em um dado procedimento. Esse modelo chamado por Guimelli (2003) de Esquemas Cognitivos de Base (ECB) é exatamente centrado sobre esse tipo de conhecimento. Um ECB é uma estrutura lexicológica formal, cujas relações são específicas. Para o referido autor, essa definição pode ser compreendida em três níveis quais sejam: primeiro, é uma estrutura formal, visto que, provavelmente, ela é independente do conteúdo; segundo, é uma estrutura lexicológica, na medida em que seus componentes são léxicos; por último, é uma estrutura que envolve funções do léxico no agenciamento do discurso. Vale lembrar que seus componentes léxicos mantêm relações que são identificáveis e quantificáveis. (Guimelli, 2003, p. 63)

A técnica dos ECB se interessa pelos processos que estão na origem de suas transformações, ou seja, para ser mais exato, uma mudança no estado da representação, posta em evidência pelo modelo dos ECB, deveria se manifestar por meio de programas de respostas sensivelmente diferentes de um estado ao outro.

Para Gumelli (2003, p. 66), alguns aspectos são importantes e precisam ser levados em consideração, quando se trata das transformações das representações sociais: a) quando práticas novas não contraditórias com as representações antigas tornam-se freqüentes, o processo de ativação dos esquemas, que prescreve essas práticas, aparece como um forte determinante das transformações sociais; b) até aqui, os estudos que permitem colocar em evidência esse processo foram baseados na noção de script, quer dizer, a partir da noção do esquema seqüencial ou processual e c) na medida em que é fundado sobre o conhecimento declarativo do sujeito, o modelo associativo dos Esquemas Cognitivos de Base permite uma abordagem diferente mas, sem dúvida nenhuma, complementar do conceito de representações sociais.

As pesquisas produzidas sobre a dinâmica e a transformação das

representações sociais, em sua grande maioria, utilizam-se, ou da Teoria do

Núcleo Central ou da técnica dos Sistemas Cognitivos de Base e dizem respeito

ao fenômeno social em processo.

A seguir, será feito o resumo do livro: La Dynamique des Représentations

Socialés, organizado por Pascal Moliner no qual o tema central de todos os artigos

que o compõem diz respeito ao movimento e as práticas das representações

2.2 – Dinâmicas das Representações, Práticas e Transformações Sociais

Em 2001, a questão da dinâmica das representações sociais e mais, especificamente, a questão da transformação das representações sociais foi objeto de um livro dirigido por Pascal Moliner (2001), no qual relata-se que os primeiros trabalhos os quais, explicitamente, têm colocado a questão da dinâmica das representações consideradas estáveis têm-se inclinado sob o papel das práticas. Esses trabalhos têm sugerido a idéia de que os indivíduos podem ser levados a modificarem suas representações quando engajados em práticas que contradizem suas crenças e saberes antigos. No capítulo 2, Claude Flament (2001b) desenvolve e formaliza essa idéia. Para este autor existe uma relação direta entre práticas sociais e representações. De acordo com Flament, por um lado, as primeiras são particularmente determinadas pela segunda. De outro lado, a preocupação permanente de se manter um universo mental coerente leva os indivíduos a ajustar suas representações às práticas às quais eles têm acesso.

Segundo Flament (2001b), as observações de campo sugerem que os processos de racionalização não são estranhos aos fenômenos da dinâmica representacional. Tais estudos demonstram que as atitudes em relação a um objeto de representação repousam sob os elementos avaliativos desse objeto. Em seguida, o autor tem perguntado se uma mudança de atitude não seria susceptível de modificar certos elementos da representação. No capítulo 3, Eric Tafani e Lionel Souchet (2001) expõem essa problemática. Os resultados por eles apresentados levam a distinguir os efeitos obtidos a partir de uma conduta contra- atitudinal daqueles obtidos a partir de uma conduta, propriamente, contra representacional.

Apoiando-se sobre esta distinção, Nicolas Roussiau e Christine Bonardi (2001) exploram, no capítulo 4, o paradigma do engajamento. Se a adoção de práticas contrárias às

reapresentações aciona um processo de transformação, então deve-se perguntar sobre o impacto dos atos engajantes realizados em laboratório. Ali, o ato contra representacional deve ser visto como a simplificação extrema e necessária de uma prática social problemática.

Esses três capítulos citados acima apresentam a dinâmica representacional como sendo fruto de um processo de racionalização (individual e/ou social?) desencadeada pela realização de um ato ou a adoção de uma prática que contradiz crenças e saberes antigos. Mas outros caminhos são explorados, no capítulo 5, por autores como Gabriel Mugney, Alain Quiamzade e Éric Tafani (2001), os quais defendem que as comunicações poderiam ter um impacto sob as representações sociais. Mas o interesse dos trabalhos que serão apresentados nesse livro organizado por Pascal Moliner é o de mostrar que o impacto pode ser obtido nas condições de laboratório.

Dentro de uma outra direção, Eric Tafani e Sébastien Bellon (2001) defendem, no capítulo 6, o princípio da analogia estrutural segundo o qual os indivíduos elaborariam as representações conforme as posições que eles ocupam no campo social. No capítulo 7, Bernard Gaffié e Pascal Marchand (2001) abordam a difícil questão das ideologias, consideradas ao mesmo tempo determinantes da gênese ou contendo certas representações e como superestruturas organizando coerentemente representações diferentes.

Enfim, segundo Moliner (2001), os leitores interessados em pesquisas empíricas encontrarão, no último capítulo, indicações que podem ser pertinentes para dar conta do caráter dinâmico e da temporalidade das representações sociais.

Assim, o livro apresenta oito capítulos, de diferentes autores, que abordam diferentes questões sobre a dinâmica das representações sociais, por meio dos resultados de pesquisas. Aqui vamos nos ater, sobretudo, a essas últimas, isto é, depois de assumir com

Moliner (2001) a estabilidade, a resistência e a evolução necessária das representações sociais, abordaremos, capítulo por capítulo, no intuito de procurar uma conceituação de transformação das representações sociais. Assim, o resumo que apresentaremos não pretende ser completo; pelo contrário, ele terá, certamente, o viés do interesse do nosso trabalho.

Moliner (2001), no capítulo 1, intitulado Formação e Estabilidade das Representações Sociais traz uma definição de representações como um conjunto de opiniões, de informações e de crenças associadas a um objeto dado. Em uma população homogênea, esses conjuntos são relativamente estáveis e eles somente evoluem muito lentamente. O objetivo do autor, com esse capítulo, é descrever fatores susceptíveis de afetar a estabilidade de uma representação social, provocando também sua transformação.

No que ele chama de um modelo “sócio-genético” das representações, Elejabarrieta (1996, citado por Moliner, 2001, p. 15) descreve as diferentes etapas do fenômeno. Segundo esse autor, o primeiro momento corresponderia ao aparecimento de um objeto incomum (objeto, situação, pessoa, etc.), no ambiente social do grupo. De acordo com as ameaças que o objeto sofra, o interesse que o objeto suscite ou os conflitos que ele engendre, o objeto seria destacado, ou seja, tido como importante para o grupo, o que acionaria um processo de comunicação coletiva no decorrer do qual se elaboraria e se compartilharia os conhecimentos constitutivos da representação social. Em resumo, pode- se, portanto, dizer que as representações sociais se constroem a partir de processos conjuntos de elaboração e de conhecimento.

O autor divide este capítulo em quatro partes sendo que, no primeiro momento, ele aborda os processos de formação das representações sociais. Segundo Moliner (2001), quando foi proposta a idéia do Pacto Civil de Solidariedade (PaCS) assistiu-se, na França, o

nascimento de um debate cujo foco central residia na definição do que era o casal, a família, o casamento. Nos diferentes grupos sociais e ideológicos que participavam do debate ia-se construindo, pouco a pouco, um corpo de conhecimento fundado sob tradições partilhadas e enriquecidas por milhares de observações, experiências, sancionadas pela prática. As coisas recebiam nomes, os indivíduos iam sendo classificados em categorias; conjecturas iam sendo formadas, espontaneamente, no decorrer da ação ou da comunicação cotidiana. "Tudo isso é armazenado na linguagem, no espírito e no corpo dos membros da sociedade” (Moscovici & Hewstone, 1984, citado por Moliner, 2001, p. 17). Em outros termos, as representações vão se constituindo a partir de processos de categorização de objetos e de pessoas, de inferência e de atribuição causal. Trata-se, portanto, de processos sócio-cognitivos.

O segundo momento desse capítulo diz respeito à estrutura das representações sociais na qual é abordada a teoria do núcleo central (Abric, 1976). Toda a representação se organiza em torno de alguns elementos, chamados elementos centrais, que se reagrupam em uma estrutura nomeada núcleo central ou núcleo estruturante. Trata-se de uma estrutura cujo papel é interno à representação social. Outros elementos da representação são os elementos periféricos. Esses são cognições que apresentam a particularidade de serem, ao mesmo tempo, operacionais e condicionais. O sistema periférico constitui a parte “externa” da representação e é, através dele, que são operacionalizadas as cognições centrais. A idéia de cognições periféricas condicionais foi proposta por Flament (1994, citado por Moliner, 2001). Ela é derivada da operacionalidade dos elementos periféricos, pois as últimas concretizam ou traduzem uma noção central. Mas sabe-se que uma mesma noção pode ser traduzida por vários elementos interligados. Em um terceiro momento, o autor fala da estabilidade e resistência a mudanças, quando a estabilidade das representações pode ser

explicada pelo papel particular que desempenham os elementos centrais. Toda representação pode ser concebida como uma estrutura composta de opiniões, de crenças, de informações, enfim, de cognições interligadas e dependentes de um núcleo. Em outros termos, os elementos que a compõem jamais são isolados. Assim, uma mudança de opinião ou de crença leva a outras mudanças, bem como a modificação de uma informação supõe o reajustamento de toda a estrutura.

Moliner termina seu capítulo em defesa do que ele utiliza como seu subtítulo: a evolução necessária das representações sociais. Por que necessária? Porque, para esse autor, é evidente que as sociedades, as tecnologias, os ambientes físicos evoluem. Nessas condições, as representações devem também evoluir para guardar sua pertinência e sua utilidade. Mas como conciliar essas evoluções necessárias e o princípio de inércia que caracteriza as representações sociais? Para o autor as mudanças ocorrem mas, exceto em casos excepcionais, a dinâmica “natural” das representações sociais é uma lenta evolução, calcada sob o ritmo das evoluções da sociedade.

Deve-se ressaltar que o aparecimento de uma novidade ou de uma

mudança não é, necessariamente, contraditório com as crenças antigas. O esforço

de adaptação ou mudança não leva, obrigatoriamente, a um requestionamento

das representações existentes. O melhor exemplo desse fenômeno nos foi

fornecido pelo trabalho de Guimelli (1988, citado por Moliner, 2001, p. 39). Este é

das representações sociais da caça e dos caçadores. Esses caçadores foram confrontados por uma modificação profunda de seu ambiente, uma vez que eles assistiram, a partir dos anos 60, à proliferação de um vírus (myxomatose) que destruiu as populações de coelhos. Essa mudança obrigou os caçadores a modificar sua maneira de caçar porque o animal de caça se fez raro. Eles foram obrigados, assim, a se engajarem em uma nova prática de “gestão dos territórios de caça”, destinados a favorecer a proliferação do animal. Ora, nessa pesquisa, Guimelli mostrou que essas práticas, aparentemente novas, longe de estarem em contradição com as representações antigas, foram evocadas, mas de maneira marginal, no início do século XX. Com esse estudo, Guimelli mostrou a relação entre práticas novas e transformação nas representações sociais.

Finalmente, o autor termina o capítulo com uma série de questões – como, por exemplo: é possível que um grupo elabore coletivamente uma resposta defensiva face às contradições? – questão pertinente ao nosso trabalho que estará, como veremos, relacionada aos capítulos seguintes do livro.

No capítulo 2, Flament (2001b) trata da relação entre práticas sociais e a dinâmica das representações. O autor inicia citando autores diferentes como Abric, Jodelet e Moscovici para anunciar, em seguida, que ele mesmo prefere a definição de práticas sociais conforme o senso comum tal como dado pelos dicionários, e cita, então, o Robert, dicionário histórico da língua francesa: “no século XIV o substantivo prática significava ‘aplicação de regras e princípio’ em oposição à ‘teoria’. Por volta de 1465, a palavra prática designava uma "maneira habitual a uma pessoa, a um grupo de fazer qualquer coisa". Trata- se, portanto, de um sistema de comportamentos reconhecidos socialmente. Pelo visto essa definição poderia servir para a noção de normas sociais.

Em seguida, o autor discute a relação entre práticas e representações sociais e, sobretudo, o que nos interessa mais de perto aqui, o papel das práticas novas nas transformações das representações. Dentro de uma perspectiva estruturalista, somente quando o núcleo central é modificado é que se pode considerar que a representação foi essencialmente mudada; caso o processo se limite a modificações periféricas, considera-se que se trata de uma adaptação da mesma representação a circunstâncias novas. O princípio que rege a dinâmica é que cada indivíduo possa dizer: “de acordo com as circunstancias, eu faço qualquer coisa inabitual, mas eu tenho boas razões para isso”. O certo é que a análise das boas razões leva a considerar diversos “esquemas de racionalização”, em particular o que foi chamado por Flament, em 1987, de um “esquema estranho”, quando um indivíduo expressa, explicitamente, a contradição entre práticas antigas e novas, propondo uma racionalização, permitindo (por um tempo) suportar a contradição. A combinação dessas análises leva a considerar três tipos de transformação da representação: a transformação progressiva, a transformação resistente e a transformação brutal. Tais transformações foram descritas mais detalhadamente no item 1.2 desse capítulo.

O autor termina o seu capítulo discutindo a relação entre consenso representacional e flexibilidade das práticas sociais, concluindo que as “práticas são aceitas em um país ou em uma classe de pessoas”, isto é, trata-se de valores normativos. Pelo visto, não existe um paradoxo em se conjugar consenso representacional e flexibilidade das práticas, mas há dificuldades em fazê-lo, uma vez que as práticas devem estar em acordo com os princípios definidos pelo núcleo central, e esse ser adaptado às situações novas. Segundo o autor, esta é uma difícil tarefa que as representações sociais têm tentado assumir, sem esquecer que “um sistema cognitivo jamais se engana” e as realidades novas poderão ser de difíceis

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