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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.4 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

2.4.1 As representações sociais nas organizações

Segundo Abric (2001, p. 156), as representações sociais, “sendo um conjunto organizado de opiniões, de atitudes, de crenças e de informações referentes a um objeto ou a uma situação” é “determinada ao mesmo tempo pelo próprio sujeito [...], pelo sistema social e ideológico no qual ele esta inserido e pela natureza dos vínculos que ele mantém com este sistema social”.

Desta forma, as representações sociais estão entranhadas nos processos de comunicação e nas mais diversas práticas sociais, tais como o dialogo, o discurso, os padrões de trabalho e de produção, emergindo assim como fenômenos colados ao tecido social (CAPPELLE et al , 2001).

Neste aspecto, Motta e Vasconcelos (2002, P. 326) citam que uma organização “é uma minissociedade composta por diversos grupos de atores sociais, com diferentes visões de mundo” e, “que indivíduos que desempenham trabalhos similares”, tendem a desenvolver uma forte tendência a coesão grupal, desenvolvendo “padrões de comportamento, percepção e representação da realidade muito parecidos”.

Nas palavras de Moreira (1999, p.94-96)

Como toda experiência humana se estrutura tendo por referência as dimensões espaço-temporais, é em torno delas que as representações se constroem constituindo núcleos simbólicos, a partir dos quais se dá a tessitura das representações e imagens sobre o trabalho.

[...] Ao recuperar as significações que os sujeitos atribuem às suas experiências nos espaços produtivos, evidencia-se que estes não são conseqüência passiva de processos econômicos que se desenrolam exteriormente a eles, mas que agem também na representação da realidade, contribuindo, intervindo e moldando-a ideal e materialmente.

Esta complexidade do entrelaçamento social existente nas organizações impõe, ao pesquisador, a necessidade de compreender como as questões objetivas (ligadas as práticas produtivas) e subjetivas (relacionadas as práticas simbólicas e as representações que delas emanam) influenciam nas práticas diárias daqueles que se relacionam com estas organizações.

Tanto Cavedon (2003) quanto Morgan et al (1983) sugerem que os mitos, ritos, falas, tradições, metáforas e tantas outras construções simbólicas, são campos férteis para pesquisas que busquem desvendar como as representações sociais

contribuem para o desenvolvimento dos padrões de comportamento organizacional.

Entender como estas formas simbólicas de expressão, enquanto mediadoras entre a realidade e as idealizações, entre o “não familiar” e o “familiar” criam uma nova realidade social e, como o novo vai sendo incorporado ao universo conhecido a partir da tradição ou da realidade consensual, produzindo assim uma transformação das representações da realidade da vida cotidiana (WAIANDT, 2005, P. 65), passam a ser fator primordial para o entendimento das práticas organizacionais.

Utilizando as palavras de Moreira (1999, p. 95), interessa a esta dissertação

[...] examinar o que se passa no interior destas pequenas unidades de produção, as relações que aí se alimentam, os confrontos que aí se desenham e as dimensões social e política que elas exprimem: as experiências da vida cotidiana de seus integrantes e a forma pela qual as relações sociais dão lugar a processos de identificação que se exprimem nas representações culturais dos sujeitos em relação. Estes estando determinados pelas relações sociais de produção e pela sua herança social e cultural, criam ao mesmo tempo um mundo próprio que nós podemos perceber a partir de suas representações imaginárias.

Entendendo ser a linguagem o instrumento maior de reprodução das práticas e das representações simbólicas, pretende-se, a partir da análise do conteúdo da fala dos sujeitos envolvidos na pesquisa, desvendar como os atores sociais contribuem para a criação, reprodução e perpetuação das representações simbólicas no cotidiano laboral de seus pares.

Ao apresentar, de forma preliminar, o desenvolvimento das contribuições teóricas a serem utilizadas na pesquisa, no que tange a cultura, cultura nas organizações simbolismo e representações sociais, pretende-se criar um arcabouço teórico que delimite e guie as próximas fases desta pesquisa. Pode-se afirmar, assim, que o referencial apresentado funcionará como um margeador, sob o qual serão analisados os resultados empíricos da pesquisa a ser elaborada.

Os assuntos relacionados a metodologia utilizada serão foco do próximo capítulo, visando buscar a rigidez metodológica necessária a validação desta pesquisa.

3. METODOLOGIA

Apesar de verificar-se no meio acadêmico propostas da não utilização de uma metodologia específica, na confecção de trabalhos científicos (FEYERABEND, 1977), a priori todo trabalho tem um método que, não necessariamente, precise ser seguido à risca, pois o processo pode exigir modificações. Desta forma, concorda-se com alguns autores que compreendem que o método inclui, também, a criatividade do pesquisador (DEMO, 1992; MINAYO, 2002).

De acordo com Demo (1992, p. 11), método significa, “na origem do termo, estudo dos caminhos, dos instrumentos usados para se fazer ciência”. Não se restringe apenas as técnicas utilizados na pesquisa, pois, além da face empírica à qual estes estão relacionados, a metodologia envolve também “a intenção da discussão problematizante”.

Não se pode, no entanto, subestimar a importância do método para a pesquisa, uma vez que, segundo o autor, o método,

embora apenas instrumental, é indispensável sob vários motivos: de um lado, para transmitir à atividade marcas de racionalidade e ordenação, otimizando o esforço; de outro, para garantir espírito crítico contra credulidades, generalizações apressadas, exigindo para tudo que se diga os respectivos argumentos; ainda para permitir criatividade, ajudando a devassar novos horizontes (DEMO, 1992, p. 12).

A partir desse entendimento, Demo (1992, p. 12) conclui que: “a falta de preocupação metodológica leva à mediocridade fatal”.

Bruyne et al (1977, p. 29), entendem que as escolhas metodológicas não são redutíveis a uma seqüência de operações e procedimentos, pois a prática científica, especialmente em se tratando das ciências sociais, é dinâmica e requer

interpretações e voltas constantes entre os quatro pólos que fazem parte da metodologia: epistemológico, teórico, morfológico e técnico.

Os referidos autores, segundo Volpato (2002, p.120)

concebem a prática científica exatamente como um campo no qual atuam as forças (ou exigências) provenientes desses quatro pólos, o que significa que as escolhas metodológicas em qualquer pesquisa estão sempre condicionadas, explícita ou implicitamente, por essas instâncias.

Conforme proposto por Trivinos (1985), buscou-se, nesta pesquisa, interpretar a realidade tal qual ela se apresenta, entendendo-a a partir da percepção daqueles que se envolvem e do significado que ela adquire para esses indivíduos. Para tanto, a descrição e a interpretação do fenômeno estudado foi feita com a finalidade de atingir sua compreensão apenas. Não foi, portanto, buscado realizar intervenções na organização estudada, ainda que se tenha consciência de que, em um estudo deste tipo, não é possível total neutralidade da parte do pesquisador.