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Capítulo I – Enquadramento e Contextualização

I.3. Situação Petrolífera actual

I.3.1 As Reservas

É essencial para o planeamento futuro do desenvolvimento da economia mundial que haja uma noção clara das quantidades disponíveis e das que o poderão vir a estar, quer por mais jazidas descobertas quer por mais disponibilidade tecnológica na sua exploração e rentabilização. Estas quantidades são designadas por reservas e a sua avaliação é de primordial importância para os governos, agências internacionais, economistas, agências bancárias e para a indústria energética internacional. Como vimos anteriormente, até agora, o mundo consumiu um pouco mais de um bilião de barris. Tendo em atenção as reservas comprovadas do petróleo bruto (figura 4 - existem cerca de 1,4 a 1,6 biliões de barris), perspectiva-se que, ao ritmo de consumo actual, a sua extinção ocorrerá num prazo de cerca de quarenta anos.

O que está em causa não é uma nova crise, que por definição se resolve. Nada que se possa comparar com boicotes, choques petrolíferos ou consequências de pontuais situações políticas vividas no passado. É, pelo contrário, um problema estrutural de esgotamento de uma fonte de energia que é finita e que é a base que permite a vida, como a conhecemos (Rodrigues, 2006: 11).

Como se pode constatar pela análise da figura 4, apenas cinco países (a Arábia Saudita, o Irão, o Iraque, os Emirados Árabes Unidos e o Koweit) detêm perto de dois terços de todas as reservas conhecidas do mundo. Além disso, o petróleo destes países tende a ser de melhor qualidade, grande parte dele é extraído a baixo custo de campos em terra e algum nem precisa de ser bombeado do subsolo, pois chega à superfície sob pressão (Abbott, 2007: 43).

45 Robert L. Hirsch afirma que a Real Academia de Ciências da Suécia notou que 54 dos 65 mais importantes

países produtores de petróleo do mundo tinham ultrapassado o pico da produção e estavam em declínio. Kenneth Deffeyes, da Universidade de Princeton, aponta mesmo uma data (16/12/2005) (Kunstler, 2006: 84).

Figura 3 – Gráfico do Pico de Hubbert

Fonte: “Hubbert´s Peak: The Impending World Oil Shortage”, Kenneth S. Deffeyes, Princeton University Press, 2001: 8

Figura 4 – As 20 maiores Reservas Mundiais de Petróleo em 2007 (em biliões de barris)

Fonte: Departamento de Estatística dos EUA

Ainda que existam algumas incertezas sobre a importância exacta das suas respectivas reservas46, estes quatro países (sem o Iraque) representavam, em 2004, com 19,7 Mb/d, quase um quarto (24,6%) da produção mundial.

Se bem que as jazidas petrolíferas estejam disseminadas um pouco por todo o mundo, a maioria da sua produção flui de uma relativamente pequena área geográfica, o Médio Oriente (Rodrigues, 2006: 35). Esta é, com efeito, uma região estratégica, enquanto conjunto geográfico, pela sua posição de encruzilhada entre três Continentes. Para além disso, apenas uma pequena parte, localizada principalmente em terras xiitas, à volta do Golfo Pérsico, é vital para o futuro energético do planeta (Lopez, 2006: 310).

Por razões geográficas, históricas e estratégicas, a Arábia Saudita, o Iraque e o Irão são os países que assumem maior peso no âmbito da geopolítica regional. A importância destes países para os mercados petrolíferos é inquestionável (Pulido, 2004: 194).

Em matéria petrolífera, nenhum Estado no mundo pode apresentar argumentos tão preponderantes como a Arábia Saudita. Os dados são sobejamente conhecidos: em 2007, o reino saudita detinha cerca de 23% das reservas comprovadas de petróleo convencional (264 biliões de barris) e foi responsável por, aproximadamente, 13% da oferta global. Para além

46 O petróleo, para a Arábia Saudita, não é apenas uma matéria-prima estratégica, é também o segredo de Estado

mais ciosamente guardado (Laurent, 2007: 184). A Arábia Saudita, que tem as maiores reservas potenciais, não fornece dados sobre o esgotamento das reservas existentes (Soros, 2008: 283).

destes valores incontornáveis, a Arábia Saudita regista ainda custos de produção de petróleo bastante baixos, menos de dois dólares por barril, o que lhe dá uma vantagem competitiva muito importante em relação à maioria das explorações mundiais. Com uma produção diária que, ao longo da segunda metade dos anos noventa, oscilou entre valores próximos dos nove milhões de barris, o país detém também uma posição preponderante no interior da OPEP, no seio da qual foi responsável por 32% da produção em 2003 (Rodrigues, 2006: 226).

O Irão é provavelmente a peça principal no tabuleiro de xadrez constituído pela elipse energética mundial já anteriormente mencionada; detém 11,4% das reservas mundiais de petróleo, as segundas depois da Arábia Saudita, ou seja, cerca de 137 mil milhões de barris (Lopez, 2006: 366).

No âmbito do mercado petrolífero, o Iraque pode ser classificado como o Monstro adormecido47. É possível ter uma noção mais completa acerca das potencialidades do país nesta matéria, atendendo aos seus 113 (Rodrigues, 2006: 226) ou 115 mil milhões de barris (que equivale às terceiras maiores reservas comprovadas de petróleo convencional), às grandes quantidades de petróleo por descobrir (pela ausência de verdadeiras campanhas de prospecção há mais de vinte e cinco anos e ainda devido a guerras sucessivas e ao embargo), ao fácil acesso e baixo custo de extracção e à sua situação geostratégica no centro das formidáveis reservas do Golfo Pérsico. O potencial está praticamente intacto (Lopez, 2006: 345).

A menos que surjam outras origens entretanto desconhecidas, apenas a Arábia Saudita, a Rússia, o Iraque, o Irão, o Kuwait, os Emirados Árabes Unidos e a Venezuela terão, individualmente, capacidade para acompanhar o ritmo de crescimento da exigência da procura (Rodrigues, 2006: 150).

Bem ou mal, os Estados Unidos, plenamente conscientes da importância desta região para a economia mundial, já conduziram duas guerras em doze anos e decidiram amarrá-la ao resto do mundo. Sejam quais forem as razões invocadas oficialmente, tanto as bases militares permanentes ou as facilidades utilizadas a título temporário, que se multiplicaram depois do 11 de Setembro, ilustram a perenidade do interesse petroestratégico dos Estados Unidos em relação ao conjunto da zona (Lopez, 2006: 309).

No documento EUA e China: a disputa pelo petróleo (páginas 31-33)

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