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Capítulo I – Enquadramento e Contextualização

I.3. Situação Petrolífera actual

I.2.4 O Futuro

Sem pessimismos exagerados, temos, porém, de aceitar um facto incontestável: o primeiro trilião de barris disponíveis desde as primeiras descobertas em Baku e na Pensilvânia,

48 A EIA perspectivou, para os países asiáticos em desenvolvimento, um aumento de produtos petrolíferos da

ordem dos 37% até ao ano 2020. No mesmo estudo é indicado que a China mais que duplicará o consumo, passando dos 4,2 milhões de barris diários registados em 2000 para os 10,5 milhões esperados para 2020 e cerca de 12 milhões em 2030. Até 2030 todas as regiões do mundo incrementarão o consumo de petróleo, ano em que o consumo global atingirá os 120 milhões de barris por dia.

Posição País Importações

1. Estados Unidos 10,984

2. Japão 4,652

3. República Popular da China 3,858

4. Alemanha 2,418 5. Coreia do Sul 2,144 6. Índia 2,078 7. França 1,915 8. Espanha 1,534 9. Itália 1,477 10. Taiwan 939

Tabela 4 – Principais Países Importadores de petróleo (Valores de 2008, em MBD)

em finais do século XIX, foi consumido nos primeiros 125 anos49 e bastarão apenas mais 30 anos para consumir o segundo trilião.

Não obstante a acumulação de evidências, as grandes empresas petrolíferas e os governos e blocos político-económicos não assumem esse cenário. Porém, cerca de metade do petróleo ainda disponível50 (as actuais reservas mais o pouco que ainda estiver por descobrir) será extraído e a quase totalidade das actuais reservas serão consumidas antes de 204551.

Durante a década de 60 do século XX, o mundo consumia, anualmente, cerca de 6 mil milhões de barris, enquanto eram descobertos, em cada ano, entre 30 a 60 mil milhões de barris. Doravante, a razão está completamente invertida: consumimos mais de 30 mil milhões por ano, quando as descobertas efectuadas a cada doze meses variam entre os 4 e os 8 mil milhões de barris (Laurent, 2007: 274 e Soros, 2008: 282).

Perante estes valores é possível retirar duas conclusões principais: (1) a região do Médio Oriente manter-se-á no futuro absolutamente fundamental no âmbito dos mercados petrolíferos; (2) a Europa, a América do Norte e a região Ásia/Pacífico, os principais centros consumidores a nível global, detêm uma capacidade de produção bastante limitada, sendo este um elemento que se irá acentuar no futuro, com consequências óbvias no crescimento da sua dependência em relação à importação de crude (Pulido, 2004: 55).

O petróleo é presentemente o combustível fóssil mais procurado (estima-se, actualmente, em mais de 80 000 o número de produtos resultantes da indústria do petróleo) e o Golfo Pérsico a região produtora dominante, detentora de dois terços das reservas mundiais conhecidas. Uma região de grande instabilidade, com a possibilidade de constantes conflitos, em que os EUA pretendem manter o domínio contra a oposição de países e milícias armadas regionais. Existe também uma preocupação a prazo quanto às tendências do abastecimento de petróleo, em cujos mercados a China começa a ter um papel importante. Uma situação que deriva, em parte, do facto de a China, como acontece com os EUA, já não ter produção própria suficiente e precisar de importar petróleo do Golfo Pérsico (Abbott, 2007: 47).

Em 2050, não se verificando uma catástrofe de grande impacto, a Terra será habitada por 9,5 mil milhões de seres humanos, isto é, mais 3 mil milhões do que existem hoje.

49 Este trilião representa a metade mais fácil de alcançar, cuja obtenção é mais económica, que apresenta maior

qualidade e cuja refinação sai mais barata.

50

O petróleo remanescente jaz em locais ameaçadores e de acesso difícil, como o Árctico e as profundezas do oceano. “Uma grande parte da metade que resta é difícil de extrair e pode, de facto, consumir tanta energia que deixa de valer a pena obtê-la” (Kunstler, 2006: 41). Daqui em diante, o petróleo vindouro será, segundo a expressão dos geólogos, “mais rude e mais profundo”, não só mais difícil de encontrar e de extrair como também de refinar. A exploração torna-se penosa e as jazidas que restam por descobrir serão cada vez mais difíceis de alcançar. Podemos comparar a exploração do petróleo com a caça. O caçador pode aperfeiçoar as suas armas e torná-las mais sofisticadas, mas não ganha nada com isso se a caça for rareando cada vez mais.

Contaremos mais 360 milhões de habitantes na China, mais 600 milhões na Índia, mais 80 nos EUA. Dois terços dos habitantes do planeta viverão em cidades cuja população terá duplicado, pelo que consumirá o dobro da quantidade de energia (Attali, 2007: 15).

Todas as necessidades, todo o conforto, luxo e milagres da nossa época – aquecimento central, ar condicionado, automóveis, aviões, iluminação, roupa, música, cinema, supermercados, o que quiserem – devem, de uma maneira ou de outra, a sua origem e durabilidade aos combustíveis fósseis baratos. Acima de tudo, e de imediato, enfrentamos o fim desta era (Kunstler, 2006: 15).

Se as previsões em matéria petrolífera são muito delicadas e frequentemente erradas, passou a ser convicção dos operadores que o preço tenderá a aumentar e que a crescente escassez poderá potenciar a competição das grandes potências que necessitam deste recurso para o seu desenvolvimento. Seja qual for o preço do barril, poderemos pensar que se vai manter em alta a médio prazo.

Assim, até daqui a cem anos, a disponibilidade do petróleo terá apenas a ver com uma questão de preço. Em virtude de um princípio económico de base, sabemos que aquilo que é raro é caro. Como corolário, o preço daquilo que se torna raro aumenta (Lopez, 2006: 394).

“Os países industrializados e em vias de desenvolvimento estão cada vez mais dependentes de recursos que têm de importar, especialmente petróleo”.

(Abbott, 2007: 47)

Síntese Conclusiva

Como se explanou, a partir da I GM, o petróleo passou a ser considerado a fonte de energia mais importante do planeta, quer para a indústria quer para a defesa. Trinta anos mais tarde, o petróleo também desempenhou um papel decisivo na II GM, tendo esta sido travada e perdida por países que necessitavam de aceder às reservas de petróleo (Alemanha e Japão).

Os EUA, que viram ser travadas duas grandes GM na Europa e se aperceberam das fragilidades da Grã-Bretanha, aproveitaram para, no final da II GM, lhe retirar as principais reservas mundiais de petróleo da Arábia Saudita. Os EUA, a partir desse momento, e baseados num modelo de desenvolvimento económico assente na abundância de petróleo comercializado a preços baixos, conheceram um elevado crescimento económico que coincidiu com a sua emergência como potência global.

O primeiro choque petrolífero de 1973 serviu para demonstrar que os EUA tinham perdido a capacidade de dominar, controlar e fixar os preços do crude a nível mundial, tendo essa capacidade passado para a OPEP. Cerca de dezoito anos mais tarde, a I Guerra do Golfo provou que as grandes potências não hesitam em fazer a guerra para salvaguardar os seus

interesses vitais (fontes energéticas). Trinta anos após o primeiro choque petrolífero, ficou demonstrado que, quando os EUA sentem que os seus interesses e poder estão em risco, renegam tratados e convenções e, se necessário for, invadem nações soberanas com a finalidade de controlar reservas petrolíferas e assegurar que estas não se transferem para a posse dos seus competidores (China). Esta acção foi o rastilho do quarto choque petrolífero, que se propagou com o boom económico chinês, em 2004, com a recusa da OPEP em aumentar a produção, com um aumento feroz da procura na China e com a acção dos especuladores petrolíferos, tendo atingido o seu pico em Julho de 2008 e terminado com a crise económica mundial.

Na Região do Médio Oriente (muito instável) estão localizados os Estados contendo cerca de 65% das reservas mundiais com existência comprovada e grande parte dos maiores produtores e exportadores de petróleo a nível mundial. O remanescente encontra-se quase na sua totalidade no Continente Africano e na Região do Cáspio.

Como recurso natural não renovável, o petróleo encontra-se próximo do seu esgotamento, o seu consumo tem vindo a aumentar e é certamente aceite que as reservas poderão esgotar-se nas próximas quatro décadas, sendo que, as estimativas apontam para na melhor das hipóteses a actual matriz energética dos combustíveis fósseis se manter por mais vinte, a vinte e cinco anos.

Neste contexto, podemos afirmar que a manterem-se as actuais tendências em torno dos recursos fósseis essenciais, a instabilidade e os conflitos vão persistir, já que, existe uma deslocalização deste recurso natural, que se torna mais notória e ganha maior importância graças à combinação de dois factores: a crescente dependência dos maiores países industrializados do petróleo importado e a localização das reservas fundamentais em áreas muito limitadas.

Desta forma, existe a necessidade de se efectuar um esforço concertado na procura de produtos que possam substituir, ao menos parcialmente, o petróleo, numa perspectiva de médio e longo prazo, já que não subsistem dúvidas de que se impõe um novo paradigma energético. Durante milénios houve o da lenha, a partir do século XIX foi o do carvão, no século XX o do petróleo. No século XXI será preciso alcançar um novo, o das energias alternativas.

No documento EUA e China: a disputa pelo petróleo (páginas 37-41)

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