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2.2 O poema: uma nova visão da realidade

2.2.1 As rimas infantis

Uma palavrinha Encontra Uma irmãzinha Ou uma prima, Isso se chama Rima. Lalau & Laurabeatriz (2007, p. 7)

Na sala de aula, no recreio da escola, em casa, na rua, as rimas infantis impõem-se como estratégia educativa, como contributo para a formação da criança em múltiplos aspetos – sensibilidade, arte, afetividade, motricidade (Nogueira, 2011). As rimas infantis,

perspetivadas como uma forma de expressão da poesia oral, desempenham um papel crucial no processo de ensino e aprendizagem. As rimas, de acordo com Costa (1992), assumem múltiplas funções, entre as quais:

- a sociológica/ pedagógica: aparece como fator de coesão e de correção de certos erros do grupo permitindo testar a capacidade individual e social dos alunos; - a psicológica: consiste na forma da criança se afastar do mundo dos adultos e de

encontrar mecanismos próprios de intercomunicação;

- a compensadora: assume a possibilidade da exploração dos sentimentos e situações do acaso, estimulando a memória;

- a psicolinguística: influencia o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem – rima, aliteração, ritmo, melodia;

- a lúdica: instrui, educa e dá prazer – o prazer de brincar com as palavras, de exprimir as emoções, sentimentos, sonhos e fantasias, a aprendizagem da dimensão poética da própria linguagem e da própria existência;

- a personalizadora: promove a liberdade e atribui identidade ao jovem criador; - a produtiva: consiste num trabalho do criador de poesia;

- a ético-moral: transmite valores – positivos e negativos;

- a catártica: o poeta liberta os instintos de uma forma espiritual e sentimental; - a artística: traduz-se na inserção no mundo das artes – visual e tecnológica. As rimas, relacionadas com a vertente estética, lúdica e linguística, não deixam de parte as relações sociais, contribuindo para uma melhor integração do indivíduo na sociedade. A interiorização de modelos comportamentais e de uma modalidade codificada permite à criança socializar e conviver com os seus pares por intermédio das rimas de jogo, como são exemplo: a cabra-cega, as cantigas de roda ou as lengalengas. As rimas infantis, por um lado, permitem o acesso da criança ao conhecimento e às tradições através da comunicação de texto (de textos curtos a criança passa para textos formal e semanticamente mais complexos); por outro lado, apresentam-se como um ato estético com uma estreita ligação com a linguagem poética (utilização da palavra como objeto, com a possibilidade do significante suplantar o significado e produzir literariedade) (Sarmento, 2000). O seu caráter lúdico e pedagógico permite-lhes serem utilizadas como estratégia para a exploração dos conteúdos programáticos, ou por si só, como meio para desenvolver as funções enumeradas, indispensáveis para a formação de um cidadão ativo, crítico e consciente.

Se, por um lado, a oralidade permanece escondida no corpo de cada pessoa, por outro, as linguagens verbo-musical e corporal despertam na criança o desejo pela poesia oral. Segundo

Dimensão motivacional: po-e-si-a em movimento

Pinto (1999), o contacto da criança com a poesia em idade pré-escolar e com as rimas encontra-se associado a um melhor desempenho a nível da leitura e da escrita. O texto poético permanece no seu status quer pela presença da rima, quer pela sua ausência. A obrigatoriedade da rima não é condição neste tipo de texto. No entanto, importa que as rimas infantis sejam exploradas pelo adulto/ professor de forma dinâmica e flexível. Para Aristóteles (cit. por Nogueira, 2011, p. 2) a “(…) linguagem da poesia é uma linguagem de ritmo”, atribuindo às rimas infantis um papel de “principal elemento estruturador”.

Caraterizadas pelo humor e pela estreita relação com o quotidiano, as rimas infantis apresentam múltiplas vantagens no desenvolvimento holístico da criança: sensibilidade estética, construção do imaginário, aprendizagem da língua, aperfeiçoamento da gramática implícita, estimulação da memória, entre outras potencialidades. As rimas infantis consistem na “(…): percepção e conhecimento de si próprio”; assim como, se relacionam com “(…) a festa da poesia, da comunicação e da liberdade afectiva, a explosão carnavalesca de energias interiores essenciais à vida” (idem, p. 19). Com efeito, facilitam à criança a exploração das suas capacidades cognitivas, linguísticas, afetivas e sociais, comunicando com os outros, a nível sonoro e corporal, e exteriorizando o seu ‘eu’. É aconselhável que o contacto com as rimas infantis sejam mediadas pelo adulto, abertas a novas potencialidades do uso da linguagem: a linguagem/ o corpo, ou seja, a utilização da linguagem verbal e da linguagem não-verbal. A “magia da palavra artística”, o “encontro lúdico-afectivo e cognitivo” propulsionados pelas rimas repercutem-se no saudável crescimento corporal da criança. Isto porque as rimas aliam a dimensão pedagógica à dimensão lúdica (idem, ibidem).

Para Bastos (1999), as rimas infantis, património da poesia oral, persuadem a criança para o seu uso, tendo por sustentação a vertente lúdica, a curta extensão, a repetição constante, o ritmo e a sonoridade, aspetos particulares que envolvem a criança de forma mais imediata com a poesia. As rimas constituem uma referência fonética e semântica que permite estabelecer analogias entre as palavras (Jean, 1995) e construir novos sentidos, dando realce à conotação em detrimento da denotação.

Atualmente, a rima tem tendência a desaparecer, uma vez que a preferência recai na utilização de versos livres, ou seja, versos que se afastam das caraterísticas do verso regular, da métrica tradicional, que utilizam o ritmo natural da fala, podendo apresentar musicalidade. No entanto, a rima tem sobrevivido às revoluções linguísticas predominando ainda na poesia escrita de inúmeros poetas (Jean, idem).

Com base num estudo realizado por Calkins (2002), que se centra na poesia para crianças, a necessidade do recurso à rima encontra-se presente na produção de textos poéticos: “A gente perde a cabeça; tudo o que se consegue pensar é em rimar as palavras” (Calkins,

idem, p. 340). Isto porque, quando produzimos textos poéticos procuramos espontaneamente

rimar as palavras, relacionando-as entre si e, assim, criando uma relação harmoniosa e divertida entre elas. As rimas aparecem associadas a momentos lúdicos e de prazer. Porém, questionamos:

De acordo com Costa (1992, p. 135) as rimas infantis “(...): dado que desempenham uma função lúdica, psicológica, psicolinguística e sociológica, não as devemos proibir, mas antes incentivar o seu uso por parte das crianças”. Para a autora, as rimas infantis desempenham funções imprescindíveis para o desenvolvimento holístico da criança, como já tivemos oportunidade de enumerar; assim sendo, estas funções podem ser desenvolvidas a nível das áreas curriculares. É nas Expressões e na Língua Portuguesa que as funções acima identificadas são mais visíveis. A sua presença relaciona-se preferencialmente com a Língua Portuguesa – iniciação à poesia, apropriação da linguagem escrita, leitura e gramática; a Expressão e Educação Musical – colocação da voz e exploração vocal; e a Expressão e Educação Físico-Motora – gesto, coordenação motora, orientação espacial. Com menos relevo aparecem as áreas curriculares de Estudo do Meio e da Matemática em que a sua presença se verifica nos conteúdos explorados pelas rimas.

Em síntese, as rimas infantis contribuem para o desenvolvimento holístico da criança. Com efeito, de acordo com Coelho (cit. por Costa, idem, p. 135)

(...) quando as primeiras rimas se fixam na sua memória [da criança], tem matéria nova para o jogo: brinca com as rimas. O ritmo, a consonância são aqui muito, se não o principal. Ao mesmo tempo, opera-se no espírito da criança a distinção da linguagem do jogo, a rima, da linguagem da praxe da vida, a prosa. É uma iniciação no mundo da arte.

As rimas infantis permitem à criança a iniciação ao mundo da arte, constituindo-se como uma estratégia de caráter lúdico e pedagógico na aproximação da criança ao(s) saber(es); por exemplo, através de bibliotecas, de visitas de estudo, de jogos florais, de teatros, de clubes de rádio e de oficinas de poesia. A abordagem das rimas em contexto escolar ocorre por intermédio da oralidade – diálogo, canções, jogos – ou pelo recurso à escrita – manuais escolares, jornal – juntamente com a exploração de caraterísticas da poesia – verso, ritmo, metáfora e métrica.

Dimensão motivacional: po-e-si-a em movimento

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