• Nenhum resultado encontrado

A presente seção apresenta os objetos de estudo centrais nas análises do trabalho, os custos dos investimentos nos títulos do Tesouro Direto, os quais ocorrem na forma de taxas e tributos. A seção está dividida em duas partes, onde a primeira apresenta as taxas cobradas periodicamente dos investidores do programa e a segunda apresenta o conceito de lucro bruto utilizado aqui e os tributos cobrados nos investimentos. O conteúdo dessa seção é suplementado pelos apêndices A e B.

2.4.1 As taxas cobradas nos investimentos no Tesouro Direto

O primeiro custo de um investimento nos títulos do TD se refere às taxas. Essas taxas são caracterizadas por dois aspectos: 1) são cobradas de acordo com o período do investimento, isto é, se em um determinado momento o investidor não estiver investindo em nenhum título, essas taxas não serão cobradas; 2) são provisionadas diariamente ao longo do período do investimento e incidem sobre o valor de venda dos títulos (ESAF, 2017). O aspecto mais importante a respeito dessas taxas é que elas são cobradas independente do investidor auferir lucro ou não com seus investimentos.

Os valores dessas taxas são cobrados semestralmente dos investidores no primeiro dia útil dos meses de janeiro e de julho ou na presença de algum evento como o pagamento de cupons semestrais ou resgate antecipado dos títulos, desde que os valores acumulados até a data excedam o montante de R$10,00 (Dez reais) (ESAF, 2017).

Os investidores do TD estão sujeitos a duas taxas: 1) taxa cobrada pela B3, referente aos serviços de guarda dos títulos e às informações e movimentação dos saldos do investidor, no valor de 0,3% ao ano (ESAF, 2017); e 2) taxa cobrada pela instituição financeira (agente de custódia) que o investidor realiza as suas operações de investimento nos títulos do TD, essa taxa varia de 0% a 2% ao ano, a depender do agente de custódia 8 (TESOURO DIRETO, 2017).

A taxa cobrada pela B3 começa a ser cobrada um dia após a data da liquidação do investimento (D+2) e é cobrada sobre uma base máxima de R$1.500.000,00, isto é, se o valor total dos títulos na carteira do investidor ultrapassar esse valor, essa taxa de 0,3% a.a. será cobrada sob esse valor e não sob o valor real dos títulos na carteira (ESAF, 2017). O Apêndice A apresenta um exemplo detalhado de como se calcular essa taxa.

8 As taxas cobradas por todos os agentes de custódia habilitados para intermediar investimentos no TD podem ser encontradas em: http://www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto-instituicoes-financeiras-habilitadas .

Em relação à taxa cobrada pela instituição financeira (agente de custódia), destacam-se dois aspectos. O primeiro é que não há um valor máximo para a base de cálculo dessa taxa, como ocorre no caso da taxa cobrada pela B3. O segundo aspecto importante é que essa taxa é cobrada do investidor no momento da compra, e se refere ao primeiro ano de custódia dos títulos; a instituição financeira somente irá voltar a cobrar essa taxa do investidor após o momento que o título permanecer investido por mais de um ano (ESAF, 2017). Vale ressaltar que se o investimento for vendido antes de completar o primeiro ano, o valor pago a título dessa taxa não será devolvido (TESOURO DIRETO, 2017). Após o primeiro ano, essa taxa será cobrada semestralmente do investidor, junto com a taxa cobrada pela B3. A subseção a seguir apresenta os tributos incidentes nos investimentos nos títulos do TD.

2.4.2 Os tributos incidentes nos investimentos de renda fixa

Os investimentos em títulos públicos e em CDB são investimentos do tipo renda fixa (BODIE, KANE e MARCUS, 2014) e a tributação desses investimentos é regida pela Instrução Normativa da Receita Federal do Brasil nº1585 de 31 de agosto de 2015 (IN RFB Nº1585, 31 de agosto de 20159). Essa instrução normativa prevê, para os investidores pessoa física

brasileiros ou domiciliados no país, a aplicação de dois tributos: 1) Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e 2) Imposto de Renda (IR). A cobrança do IR ocorre nos pagamentos dos cupons semestrais (no caso dos títulos públicos que preveem esses pagamentos) e no momento do resgate do investimento, seja na venda antecipada, seja no vencimento do título, já a cobrança do IOF somente ocorre no caso de vendas antecipadas de investimentos resgatados antes de completarem um mês (TELLES, 2013; TESOURO DIRETO, 2017; ESAF, 2017). Em relação às alíquotas desses impostos, estas diminuem com o aumento do tempo que o dinheiro permanecer investido.

Esse modelo de tributação regressiva tem como objetivo evitar a realização de investimentos de curto prazo, penalizando os rendimentos desses investimentos com uma carga tributária bastante pesada, mas diminuindo esse peso com o aumento do tempo que o dinheiro permanecer investido no(s) título(s). Os críticos desse sistema de tributação regressiva consideram que apesar dele favorecer os investimentos de longo prazo, ele prejudica a liquidez do mercado de títulos públicos e afasta os investimentos de curto prazo, uma vez que são cobradas alíquotas elevadas para esses casos (AMANTE, ARAUJO e JEANNEAU, 2007;

LEAL e CARVALHAL-DA-SILVA, 2006). Um detalhe importante a respeito do IR é que os investidores estrangeiros são isentos desse tributo (AMANTE, ARAUJO e JEANNEAU, 2007). No que tange à incidência do Imposto sobre Operações Financeiras Regressivo (IOF Regressivo), este somente ocorre nos casos de resgates de aplicações feitas em menos de 30 dias corridos e incide sobre os rendimentos financeiros auferidos no período do investimento (ESAF, 2017). Como mostra a Tabela 1, o percentual da alíquota desse tributo diminui gradativamente ao longo dos 30 primeiros dias do investimento, começando em 96% e zerando a partir do 30º dia que o dinheiro permanecer investido. Quanto aos detalhes pertinentes à apuração desse tributo, o Apêndice B apresenta um exemplo de investimento em um título público resgatado antes de 30 dias após a compra, e apresenta detalhadamente o procedimento de cálculo do IOF e do IR nesses casos, além de demonstrar o peso desses tributos nos investimentos sacados antes de 30 dias corridos.

Tabela 1 – Tabela IOF Regressivo (para investimentos sacados antes de 30 dias)

Dias Alíquota IOF Dias Alíquota IOF

1 96% 16 46% 2 93% 17 43% 3 90% 18 40% 4 86% 19 36% 5 83% 20 33% 6 80% 21 30% 7 76% 22 26% 8 73% 23 23% 9 70% 24 20% 10 66% 25 16% 11 63% 26 13% 12 60% 27 10% 13 56% 28 6% 14 53% 29 3% 15 50% 30 0% Fonte: http://www.bb.com.br/docs/pub/inst/dwn/TabIOFRegressivo.pdf

Já o Imposto de Renda (IR), a IN RFB Nº1585, 31 de agosto de 2015 instrui que a alíquota de IR sobre os rendimentos dos investimentos de renda fixa deve ser aplicada de acordo com o previsto na Lei Nº11.033/200410, sendo o máximo de 22,5% (até 6 meses) e o mínimo de 15% (mais de 2 anos) e esquematizado na Figura 5.

Nos investimentos do TD, o IR incide sobre os ganhos com a valorização do título ao longo do período investido e sobre os cupons pagos semestralmente por alguns dos títulos (ESAF, 2017) como, por exemplo, os títulos do tipo “Tesouro Prefixado com Juros Semestrais (NTN-F)” e “Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais (NTN-B)”. No caso dos títulos que pagam

cupons semestrais, conforme mostra a Figura 5, a progressão da alíquota de IR sobre os valores dos cupons semestrais também decresce com o tempo de investimento. Deve-se enfatizar que não incide IOF sobre os pagamentos dos cupons semestrais, apenas IR (ESAF, 2017). De maneira análoga, o IR nos investimentos em CDB incide sobre as variações no valor do investimento ocorridas ao longo do período que o dinheiro permaneceu investido.

Figura 5 - Alíquotas de IR sobre os rendimentos e cupons auferidos nos investimentos no ‘Tesouro Direto’

Fonte: http://www.tesouro.fazenda.gov.br/detalhes-da-tributacao-do-tesouro-direto

Nas análises dos investimentos nos títulos públicos do TD, a apuração do IR sobre os rendimentos dos investimentos é imprescindível para uma correta avaliação da riqueza gerada pelos investimentos nos títulos, uma vez que ele está presente em todos os momentos que os títulos geram renda aos seus investidores: nos pagamentos dos juros semestrais (cupons), nas vendas antecipadas e nos resgates dos títulos na data do vencimento. Já o IOF, este será analisado de maneira secundária, uma vez que esse tributo somente incide em uma situação bastante específica, que são os investimentos com duração entre 1 e 29 dias corridos.