• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II – REFERENCIAL TEÓRICO

2.2. Tecnologias, comunicação e as mídias digitais na escola

2.2.1. As TDIC e as mídias digitais no contexto educativo

A passagem do século XX para o século XXI provocou transformações nas áreas da política, economia, sociedade e cultura. O desenvolvimento das ciências e

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

21

Foi uma iniciativa da Fundação Roberto Marinho e da Fundação Padre Anchieta, com o objetivo de transmitir teleaulas com conteúdos do 2° Grau. Atualmente, o Telecurso transmite aulas do Ensino Fundamental, Médio e profissionalizante. Fonte: http://www.telecurso.org.br/. Acesso em 15 dez. 2012.

22

47 das tecnologias trouxe impactos para a sociedade, na construção do pensamento, nas formas de agir e de viver.

A comunicação sofreu mudanças e a informação tornou-se fundamental não apenas na relação entre as pessoas, mas até para o desenvolvimento econômico de um país. Segundo Medeiros (2009),

O nível de acesso a informações significativas tem se mostrado crucial para o sucesso ou fracasso de iniciativas individuais ou coletivas no cenário mundial […] A informação precisa, imediata, rege relações econômicas e define novas estruturas de poder (MEDEIROS, 2009, p. 40).

O sociólogo espanhol Manuel Castells, no primeiro volume (“A era da informação: economia, sociedade e cultura”) de sua famosa trilogia “A sociedade em rede” publicada entre 1996 e 1998, apresenta um panorama em formação, embasado em pesquisas, nas mudanças sociais, econômicas e culturais dos últimos anos do século XX, articuladas pelas novas tecnologias de informação. Surge assim, uma nova estrutura social, a Era da Informação, organizada na lógica das redes.

Castells (2009, p. 566) define as redes como “estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando novos nós desde que consigam comunicar- se dentro da rede, ou seja, desde que compartilhem os mesmo códigos de comunicação”. Leão (2005, p. 22) ao explicar as topologias da rede em seu livro “O labirinto da hipermídia”, acrescenta que a rede “se forma e se transforma a cada momento” e que cada nó tem a capacidade de gerar outra rede23.

Assim, a era da informação (CASTELLS, 2009) se constitui em forma de rede, com conteúdos e informações interligados e se caracteriza pelo capitalismo informacional, ou seja, a geração de riquezas nos processos produtivos mundiais não se resume à produtividade e à competitividade das empresas centradas em fontes de energia, mas na informação, no conhecimento e na produção de tecnologias com capacidade de processamento destas informações e na geração de conhecimentos.

Ainda de acordo com Castells (2009), com a nova forma organizacional da sociedade, a economia tornou-se globalizada. São as grandes corporações que !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

23

O livro “O labirinto da hipermídia: arquitetura e navegação no ciberespaço” foi publicado em 1999 e a autora utiliza a metáfora do labirinto para investigar os sistemas de hipermídia. No trecho citado, Leão esclarece a topologia das redes e explica a diferença entre uma arquitetura da informação em rede (linguagem da hipermídia) e uma arquitetura da informação hierárquica.

48 detêm o poder da informação, geram riquezas e constituem novas hierarquias. Entretanto, nem todos os indivíduos estão conectados nas estruturas das redes. Há vários territórios e grupo de pessoas que não vivem sob as lógicas e os interesses do capitalismo global e são excluídos, digitalmente, não tendo acesso às informações.

Desta forma, torna-se contraditório a ideia de que todos estejam interligados em rede, produzindo e compartilhando informações, enquanto um contingente de pessoas permanece excluído deste contexto atual. Estas, porém, são as características da era da informação. Assim, a cultura e a sociedade vêm se transformando constantemente, por meio das atividades humanas, dos modos de pensar, aprender, comunicar, trabalhar, viver que são “midiatizados” pelas TDIC e mídias digitais.

Para elucidar, o amplo conceito de tecnologia, retomamos as ideias do filósofo brasileiro Álvaro Vieira Pinto (2005), que, em sua extensa obra bibliográfica, explora a complexidade do conceito da tecnologia, considerada como um conjunto de técnicas. Segundo o autor, a técnica não se refere apenas ao modo de fazer do homem, pois trata de um conceito muito mais extenso. A técnica nasce com a existência do homem e o auxilia em sua sobrevivência na natureza, tornando algo inseparável em sua vivência. Assim, a técnica não trata apenas de uma ação para a realização de um produto, mas tem como finalidade a produção das relações sociais, na construção das formas de convivência. O autor complementa esta ideia ao afirmar que “a técnica está ligada à vida, não em sentido idealista e generalizadamente, mas no sentido de depender da produção, pela vida, do seu produto mais elevado, o cérebro humano” (VIEIRA PINTO, 2005, p. 146).

Para Rayça (2008), o termo tecnologia é polissêmico, pois apresenta diferentes significados. Não conduz apenas para o uso do computador e dos aparelhos eletrônicos, mas é um estudo dos conhecimentos científicos que visa trazer melhorias para a vida do homem. Damásio (2007, p.15) complementa este raciocínio, ao afirmar que a tecnologia é um “agente de mudança e produto da evolução cultural e social”.

A escola é um local de mudanças e transformações (FREIRE, 2006), além de ser um espaço refletor da sociedade, em seus fatos sociais, culturais, políticos e

49 econômicos. Com o avanço das tecnologias em diversos setores, a tecnologia também adentrou os espaços escolares pelos próprios alunos ou professores, por fazer parte do imaginário e dos diálogos rotineiros das pessoas (ALMEIDA; VALENTE, 2011) ou por iniciativa da própria escola ou por meio de políticas públicas. Assim coloca Medeiros (2009, p. 140) ao afirmar que “os governos de diferentes países têm investido no acesso e na incorporação do uso das TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) tanto na atividade produtiva quanto na escolarização e na preparação profissional”.

O termo TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação) se popularizou, na década de 90, para designar “as tecnologias requeridas para o processamento, conversão, armazenamento, transmissão e recebimento de informações, bem como o estabelecimento de comunicações pelo computador” (MARTINS, 2003, p.70). Atualmente este conceito é chamado de TDIC – tecnologias digitais de informação e comunicação, pois é viabilizado por meios eletrônicos e digitais que adquirem, armazenam, processam e distribuem a informação (IBIDEM, 2003). Damásio (2007) complementa o conceito de TDIC ao dizer que,

[...] são o tipo de manifestação tecnológica que maior relevância possui para a nossa organização social [...] são essenciais, porque a sua forma de organização e a sua estrutura permite, individual e coletivamente, coligir, processar e partilhar o conjunto de crenças e valores que facilitam a criação de sentidos partilhados que sedimentam a nossa organização social (DAMÁSIO, 2007, p. 45).

A par disso, o computador, é referência quando o assunto é TDIC. Tornou-se um dos principais meios de comunicação e produção de informação e entretenimento, por sua capacidade multimídia. Packer (2005) define como elementos essenciais da multimídia, por meio de sua evolução histórica, a imersão, a interdisciplinaridade, a interatividade e a narratividade, com exemplos que confirmam a confluência da multimídia entre as artes, as interfaces homem-máquina e a tecnologia da informação. Leão (2005) complementa que o termo multimídia se popularizou no final da década de 80 e apresenta diferentes significados, de acordo com o contexto em que é utilizado, mas que, de um modo geral, trata da incorporação de diferentes informações no computador, como texto, áudio, vídeo, ilustração, animação, entre outras.

A hipermídia surgiu com as múltiplas mídias, usadas na representação e articulação de informações. É uma simbiose dos recursos da multimídia e do

50 hipertexto (bloco de texto linear composto por links), que propicia uma navegação não linear, assim como possibilita a interatividade e a participação dos usuários (MARTINS, 2003; LEÃO, 2005).

As mídias digitais surgiram com base nas tecnologias digitais, ou seja, essas tecnologias convergem mídias, linguagens e informações que podem ser exploradas de forma interativa e potencializadas com a Web, como a televisão digital, jogos, sites e outros.

A interatividade é um termo geralmente usado para caracterizar os novos suportes digitais e as experiências que eles proporcionam. Este conceito, entretanto, não é novo, nem exclusivo das TDIC e das mídias digitais. Damásio (2007) ressalta que a interatividade é um conceito multidimensional e que existem três formas de interação com e pela da mídia:

1. Interatividade entre usuários (user-user): é um processo que promove o surgimento de diferentes pontos de vista sobre uma ideia ou objeto, por meio da troca de informação. O uso das TDIC e das mídias propicia a comunicação interpessoal e pode ser exemplificado pelo email e chat (conversas instantâneas).

2. Interatividade entre usuários e documentos (user-documents): trata da interação de conteúdos e seus respectivos criadores, assim como a produção efetiva dos conteúdos. Este é um modelo de interatividade que já estava presente nas mídias tradicionais, como o rádio, a televisão e o cinema, mas as TDIC aumentaram a interatividade entre os sujeitos e conteúdos e reforçaram o papel ativo dos usuários como produtores de conteúdos.

3. Interatividade entre usuário e sistema (user-system): está relacionado à interface dos sistemas. De acordo com o nível de transparência, facilidade de uso e controle do usuário com o sistema, propicia uma experiência mais ampla de interação.

Assim, a interatividade não é uma característica intrínseca de nenhuma tecnologia, mas proporciona um caráter diferenciador para as propriedades sociais

51 das TDIC e das mídias, ao potencializar o uso, a participação e a “ludicidade” (IBIDEM, 2007).

O uso das TDIC e das mídias digitais na educação resulta em reflexões e mudanças. Possibilita inúmeras atividades pedagógicas que contribuem para a formação do indivíduo e de sua identidade, assim como para potencializar a aprendizagem, o exercício da dúvida, a compreensão de suas ações, a interação com o outro e diferentes formas de produção do conhecimento (ALMEIDA, 2005).

Martins (2003) ressalta que o uso das diferentes mídias e dos recursos tecnológicos auxilia o aluno a compreender a realidade em que vive e, de forma questionadora, contribui para mudanças de seu entorno e de outras realidades.

Entretanto, a integração das TDIC e das mídias digitais ao processo educativo torna-se um desafio constante para o professor que, na maioria das vezes, não possui conhecimento ou formação específica para tal uso. Para as tecnologias fazerem diferença na educação e transcender o uso tradicional da lousa e do caderno, é imprescindível que o professor tenha o domínio das ferramentas, das funções e dos recursos tecnológicos, além do conhecimento de suas características e concepções educacionais (ALMEIDA, 2005). Também é necessário que os professores dominem as linguagens que estão sendo produzidas socialmente na cultura digital (SOARES, 2011) por meio do uso das TDIC e respectivos recursos.

A intencionalidade pedagógica do professor é fundamental na integração das tecnologias em suas práticas e, essencialmente, na aprendizagem do aluno. Almeida (2005, p. 21) afirma que “é imprescindível ter clareza da intenção pedagógica da atividade para definir qual ou quais softwares podem ser mobilizados a fim de atingir os objetivos (aprendizagem dos alunos)”. Para isto, além do domínio tecnológico das TDIC, é preciso que o professor desenvolva competências pedagógicas de uso dessas tecnologias, de modo que ele tenha condições de saber quando, porque e para que utilizar tais tecnologias, a partir da ação e reflexão de sua prática.

O próximo item apresenta o uso das TDIC e das mídias digitais no contexto educativo.

52