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As tendências da Região de Planejamento Grama segundo

No documento flaviacalvano (páginas 135-141)

4. MOVIMENTAÇÕES DO PERÍMETRO URBANO E TRANSIÇÃO

4.2 JUIZ DE FORA: AGENTES SOCIAIS E MOVIMENTAÇÕES DO

4.3.3 As tendências da Região de Planejamento Grama segundo

Segundo o Plano de Desenvolvimento Local de Juiz de Fora (2004)43, um importante elemento do Planejamento Estratégico é a análise da dinâmica existente nos diversos setores que compõem cada Região de Planejamento do município, como urbanismo, economia, educação assistência social e saúde. A compreensão da estrutura urbana com base na regionalização do município facilita a identificação das peculiaridades locais e conseqüentemente, da compreensão do município em seu conjunto. A partir destas orientações torna-se possível identificar as tendências que terão maior impacto tanto sobre a região analisada, quanto sobre as tendências gerais da cidade.

Conforme o PDL da área que abrange a Região de Planejamento Grama, entre as tendências que foram apresentadas, as que mais oferecem elementos para a materialização das questões que envolvem os espaços de transição são as que analisam os setores de urbanismo e economia.

Assim, se as questões que envolvem o ordenamento do espaço urbano identificam uma tendência de aumento de pressão sobre o meio ambiente e estrutura da região, com especial atenção aos transportes, conseqüente do aumento de ocupação urbana, pela oferta de empreendimentos imobiliários e conflito quanto aos fluxos, as tendências que envolvem o setor econômico também não são nada animadoras. Quanto à economia os diagnósticos apresentados no PDL apontam para a consolidação de uma estrutura de comércio e serviços ao longo do corredor da MG-353 que, gradativamente, tendem a levar à perda de identidade da região com o aumento de conflitos entre o rural e o urbano.

Desta forma, retornamos a questão que envolve as perspectivas futuras para a Região de Planejamento Grama quanto à metáfora das cores apresentada por Siqueira e Osório (2001 apud REIS, 2006): quais são as estratégias de planejamento destinadas para essa porção da Região de Planejamento Grama, a

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O Plano de Desenvolvimento Local (PDL) “constitui um instrumento que permite a elaboração de um novo padrão urbano de dinamismo econômico e qualidade de vida para as comunidades locais, mediante uma ação sistemática e estruturada da sociedade. Como um instrumento que possibilita o alcance de um destino desejado, o planejamento é o espaço de construção da liberdade social dentro das circunstâncias existentes, delimitando o terreno do possível para implementar as mudanças capazes de moldar a realidade futura” (PDL/JF)

manutenção e preservação destas áreas cinza, ainda com nuances bastante claros ou a expansão do preto, que marca a total urbanização da área em questão?

Um caminho para esta resposta parece se esboçar no Plano Diretor de Juiz de Fora (2004:45) quando este trata dos Instrumentos de Planejamento e do estabelecimento de mecanismos de implantação e gestão destes instrumentos. Quanto a estes instrumentos, o PDJF (2004) dá ênfase tanto às Diretrizes de Desenvolvimento Econômico, quanto ao Macrozoneamento como fatores de grande influência..

Dentro desta perspectiva, no que diz respeito às atividades agrícolas dentro do perímetro urbano, as Diretrizes de Desenvolvimento Econômico propõem, “apoiar a atividade agrícola não só nas áreas rurais, mas também nas áreas intermediárias, caracterizadas como áreas de granjeamento, (...) conceder o uso de áreas ociosas de propriedade do município para a produção de alimentos” e, por último, “promover a criação de hortas comunitárias, principalmente em regiões nas quais possam gerar suplementação da renda familiar” .(PLANO DIRETOR, 2004:80-81) No caso específico da Região de Planejamento Grama, apesar do mesmo documento garantir a possibilidade de um maior adensamento da região ao longo da MG-353, esse, também propõe um projeto de proteção às hortas através da retirada de lançamento dos esgotos domésticos e hospitalares dos cursos d’água que atravessam a região.

Já quanto ao Macrozoneamento, este tem como função definir as zonas urbanas, de expansão urbana e de especial interesse, como é o caso das áreas que se destinam a proteção ambiental. Segundo Roberto Braga (2001:100), “um parâmetro básico a ser observado pelas municipalidades para a delimitação da zona de expansão urbana é a Lei Federal nº 6766/79, modificada pela Lei nº 9785/99”, que estabelece as diretrizes para o parcelamento do solo para fins urbanos. Contudo, tais diretrizes são estabelecidas através de proibições embasadas em critérios, exclusivamente, ambientais. Assim, tais proibições se fazem:

I- em terrenos alagadiços e sujeitos a inundações;

II- em terrenos que tenham sido aterrados com materiais nocivos à saúde;

III- em terrenos com declividade superior a 30%; IV- em terrenos com condições geológicas impróprias; V- em áreas de preservação ecológica;

Ao criar critérios de cunho exclusivamente ambiental, abre-se, então, uma importante questão: ao serem retirados de uma possível demarcação da zona de expansão urbana todas as áreas de risco do município, todo o restante do território estaria sujeito à expansão de assentamentos urbanos?

O macrozoneamento de Juiz de Fora considera quatro tipos de macroáreas para o município. As Áreas Urbanizadas, que são aquelas que se encontram atualmente ocupadas e compõem a Zona Urbana do município. As Áreas de Consolidação da Urbanização, identificadas como os vazios urbanos no entorno imediato da malha urbanizada que, por suas características ambientais, são favoráveis à ocupação urbana. As Áreas Urbanizáveis de Adensamento Restrito, identificadas como outras áreas não urbanizadas que, tendo ou não características ambientais favoráveis ao adensamento, estão fora das estratégias definidas pelo Plano Diretor para a extensão da área urbana da cidade no horizonte de planejamento até 2010. Finalmente, as áreas de Ocupação Restrita, que são aquelas desfavoráveis à ocupação urbana do ponto de vista físico e ambiental, estando sujeitas a regime urbanístico especial e aos critérios de uso e ocupação do solo de cada Região e Unidade de Planejamento. A três últimas macroáreas encontram-se, atualmente, inseridas na Zona de Expansão Urbana do município (ver mapa 13).

No caso da Região de Planejamento Grama, conforme indicação do mapa a seguir, a área que compõe o menor adensamento populacional da região, apesar de possuir um significativo percentual de Área de Ocupação Restrita, possui, também, grandes espaços sujeitos a consolidação urbana ou a adensamento restrito que, hoje, são ocupados por atividades agrícolas.

Mapa 13 – Juiz de Fora Macrozoneamento. Fonte: PDJF, 2004.

Para Braga (2001) a forma mais adequada para delimitar a área de expansão urbana necessária a um município deve ser:

1. analisar a dinâmica econômica e populacional da cidade e sua expectativa de crescimento a curto e médio prazo;

2. considerar o nível de adensamento urbano atual. Nesse momento, torna-se necessário levar em conta os vazios urbanos existentes dentro da zona urbana, que devem ser áreas de urbanização preferencial, ou até mesmo compulsória, caso cumpram função social.

Tais procedimentos, se bem analisados, reduzem o risco tanto de sub- dimensionamento da zona de expansão, onde a pouca oferta de espaço pode levar ao aumento do preço da terra, como de seu super-dimensionamento, onde a formação de uma rede descontínua da mancha urbana pode gerar dificuldades na expansão da rede de serviços e infra-estrutura, afetando diretamente a qualidade de vida da população envolvida.

Contudo, retornando aos procedimentos mais adequados para a delimitação destas áreas, algumas questões vêm à tona: quais parâmetros são utilizados para analisar a dinâmica populacional de Juiz de Fora, aqueles desejados politicamente, ou aqueles que realmente apresentam as múltiplas facetas da população e economia local? Qual a origem destes vazios demográficos?

Embora Braga (2001) afirme que tal procedimento abre possibilidades para uma melhor delimitação desta fronteira, não podemos esquecer que, historicamente, o processo de urbanização brasileiro se fez sobre um modelo centralizador e excludente, tanto em sua esfera nacional e regional, quanto em sua esfera municipal. Se em âmbito nacional e regional o modelo de urbanização criou e ainda cria espaços diferenciados, como resultado de um desenvolvimento desigual, o mesmo se reproduz quanto a fragmentação dos municípios.

Para Raquel Rolnik (2006:201), com o resultado desse processo temos um “‘apartheid’ que separou nossas cidades em centros e em periferias”, que apresentam-se bastante distintos. Distinção que não se faz apenas pela qualidade da infra-estrutura ou dos níveis de renda, mas, principalmente, pela regulamentação destes.

Ao expandir a fronteira urbana sobre o espaço rural, novas e antigas formas e funções passam a coexistir dentro do perímetro urbano do município. Desta forma, se a segregação sócio-espacial gerada pela valorização da terra provoca, nesta fronteiras, uma aglomeração de população de baixa renda em loteamentos populares e assentamentos irregulares, a reorganização dos espaços de produção industrial, dos serviços e a manutenção de antigas formas e funções agropecuárias,

também dividem esse mesmo território. Território que passa a ser legalmente delimitado a fim de prover as estratégias futuras de desenvolvimento municipal.

Pensando no conflito gerado entre os diversos usos da terra na área de expansão urbana de Juiz de Fora e os conflitos de interesses dos agentes sociais que agem direta ou indiretamente neste território de transição formado na Região de Planejamento Grama que nos reportamos à Menezes. Para a autora, uma grande lacuna se abre quanto aos Planos Estratégicos Desenvolvidos para o Município neste início de século.

A despeito das inovações introduzidas pelo Planejamento Estratégico de Juiz de Fora, as novidades se referem muito mais ao marketing do próprio plano e à promoção de projetos pontuais localizados nas áreas mais bem estruturadas da cidade, do que propriamente a soluções dos graves problemas sociais e da promoção da cidade como um todo articulado. A Prefeitura capitaneou um plano estratégico para a cidade que no discurso e na apresentação da metodologia se apresenta como participativo, mas que na prática é extremamente competitivo e empresarial. (MENEZES, 2007:s/p)

Talvez seja esta a grande questão a ser pensada quanto aos planos estratégicos de desenvolvimento do município. Pensar o território em sua totalidade, a partir de suas várias faces, histórias, territorialidades, possibilidades, onde o espaço de transição entre o urbano e o rural e sua difusa fronteira não sejam planejados como questão secundária, que podem ser subtraídas sem maiores preocupações, em prol de um mercado de terras competitivo, mas, como parte de um todo que criem possibilidades para chegarmos ao desenvolvimento local sustentado.

Possibilidades de desenvolvimento que podem ser encontradas, também, nas manifestações de um território hibrido, no qual urbano e rural interagem criando múltiplos territórios e novas possibilidades de desenvolvimento em velhas e novas formas e funções.

No documento flaviacalvano (páginas 135-141)

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