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As três correntes teóricas complementares à Teoria Representações Sociais

ÀS QUESTÕES EDUCACIONAIS

2.3 As três correntes teóricas complementares à Teoria Representações Sociais

Na história da Teoria das Representações há três grandes colaboradores e três grandes constructos teóricos: Denise Jodelet e a Abordagem Culturalista; Willem Doise e a Abordagem Societal e Jean-Claude Abric e a Abordagem Estrutural.

As três correntes de pensamento dos teóricos citados representam contribuições decisivas à TRS. Elas convergem para as investigações das representações sociais sem serem excludentes entre si, ao contrário, são todas complementares e enfocam aspectos que reafirmam e solidificam a Grande Teoria. Por esta razão, serão apresentadas a seguir sínteses das três abordagens.·.

Em seus construtos Denise Jodelet coloca as representações sociais no status de teoria potencialmente capaz de nos “dotar de uma visão global do que é homem em seu mundo de objetos” (ALMEIDA, 2005, p. 128). Neste sentido, em sua abordagem, as RS são consideradas processos e produtos simbólicos através dos quais indivíduos e grupos compreendem o mundo, sua existência e sua história. São vista como ferramentas que possibilitam a análise das articulações entre as ideias coletivas, nos diferentes âmbitos, sejam eles históricos, regionais, institucionais ou organizacionais.

O enfoque dos aspectos sócio-culturais na abordagem teórica de Jodelet visa apreender discursos sobre determinados objetos, comportamentos e práticas sociais de indivíduos e grupos, como vias de acesso às representações, objetiva também a análise dos registros documentais que servem de suporte para a institucionalização de discursos, comportamentos e práticas, sem deixar de incluir o papel exercido pelos meios de comunicação de massa no controle e na influência das representações sociais.

Denise Jodelet é sem dúvida das mais importantes colaboradoras da proposta teórica de Moscovici. Ela tem sido uma das responsáveis pela manutenção da Teoria das Representações Sociais, no que diz respeito ao trabalho de sistematização e divulgação este referencial teórico-metodológico, ocupando-se do rigor e do detalhamento necessários à grande obra. Sua perspectiva teórica é imprescindível para o entendimento das teorias do senso comum e sua relação com as práticas sociais.

A abordagem Societal, de Doise e seus colaboradores, defende a ideia de que os sujeitos são direcionados em sociedade por dinâmicas sociais interacionais, posicionais ou de valores e crenças gerais. Ela centra-se nas relações grupais e tem como propósito a articulação de quatro níveis de análise no estudo das representações sociais.

O primeiro nível é focado nos processos intraindividuais, levando em conta o modo como indivíduos realizam experiências no seu meio social; o segundo detém-se nos processos enterindividuais e situacionais, visando princípios próprios das dinâmicas sociais; o terceiro

nível objetiva a análise dos processos intergrupais, considerando as diversas posições

ocupadas pelos sujeitos nas relações sociais e suas modulações nos dois níveis anteriores; o

quarto, denominado societal, tem como foco os “sistemas de crenças, representações,

avaliações e normas sociais”, cujo pressuposto apóia-se na ideia de que “características de uma sociedade ou de certos grupos dão significação aos comportamentos dos indivíduos e criam as diferenciações sociais, a partir de princípios gerais”.

Compreendendo as RS como princípios geradores de tomadas de posição, Doise e seus colaboradores agregam também na perspectiva teórica societal uma abordagem

tridimensional para estudar as representações sociais, denominada por Palmonari (2009)

como o Paradigma das Três Fases. Tal modelo metodológico foi inspirado nas dinâmicas de comunicação presente na obra seminal de Moscovici. Ele apresenta uma hipótese específica para cada uma das três fases.

Sendo assim, na primeira hipótese - “o campo comum das representações sociais”- defende-se a ideia de que, através da comunicação e das trocas simbólicas, “há uma partilha de crenças comuns entre os diferentes membros de uma população acerca de um objeto social” que precisam ser estudadas; na segunda hipótese – “princípios organizadores das variações individuais”- tem por base a premissa de que, em relação aos objetos representados há diferenças e heterogeneidades nas tomadas de posição naturais e busca explicação para as diferenciações entre os indivíduos a partir das relações estabelecidas com dados objetos; na

terceira hipótese – “a ancoragem das diferenças individuais” - As RS “além de exprimirem

um consenso entre indivíduos [...], são também caracterizadas por ancoragens das tomadas de posição em outras realidades simbólicas coletivas” (ALMEIDA, 2005, p. 130-131).

Na década de 1970, a Teoria das Representações Sociais recebeu uma abordagem complementar estrutural denominada de Teoria do Núcleo Central (TNC) por Jean-Claude Abric, seu criador. Esta teoria parte do princípio de que para compreender as representações sociais de um dado objeto é insuficiente conhecer apenas seu conteúdo. É preciso saber como o conteúdo se organiza para a geração de sentido, pois conteúdos idênticos podem dar origem a representações sociais diferentes. O entendimento das representações demanda atuação sobre elas, assimilação da hierarquia de seus elementos constitutivos e as relações existentes sobre eles (ABRIC, 1976).

Em sua Teoria do Núcleo Central, Abric (2003) sustenta que toda representação estrutura-se em torno de um núcleo central que traz em si o seu significado, sua organização interna, sua estabilidade e resistência à mudança. Ele tem como funções: dar sentido e valor aos elementos que o constituem (função geradora); determinar a natureza das ligações entre os elementos, unificando-os (função organizadora) e unificar/estabilizar a relação entre estes mesmos elementos em relação às mudanças (função estabilizadora).

Sobre os elementos que constituem o núcleo central de uma dada representação Sá (2002) aponta dois tipos: (i) os normativos, que pertencem às dimensões social-afetiva,

ideológica e social do núcleo, pois têm origem no sistema de valores das representações e (ii)

os funcionais, relacionados à finalidade operatória e à caracterização descritiva dos objetos

representados nas práticas sociais.

Segundo a TNC, há outros elementos que também entram na constituição das representações sociais e compõem um sistema denominado de periférico. Estes elementos são mais flexíveis, móveis e individuais. Têm como funções: a construção inteligível da representação (função concretizadora); possibilita adaptação para que as informações do meio e mudanças integrem a periferia da representação (função reguladora); assegura o funcionamento instantâneo da representação na orientação de posicionamentos e atitudes (função prescritiva); permite elaborações de representações personalizadas a partir de experiências individuais (função modalizadora) e possibilita a inclusão e a reinterpretação de aspectos contraditórios da representação, protegendo seu núcleo (função defensora).

Em sua complexidade, a representação social, compreendida a partir da TNC, possui os dois subsistemas citados que se relacionam e estabelece a interface entre seus elementos, garantindo entendimento de suas características contraditórias, tais como: consensualidade, estabilidade e inflexibilidade por parte do sistema central e adaptabilidade, flexibilidade e individualidade, estas de acordo com o sistema periférico.

Na análise de uma representação é indispensável o estudo de seu conteúdo, de sua estrutura interna e de seu núcleo central orientados pelos princípios da Grande Teoria moscoviciana, pois desta forma podemos nos aproximar dos sentidos que um dado objeto tem para determinados sujeitos ou grupos, orientando pensamentos e ações sobre a realidade.

Na pesquisa, representações sociais de avaliação em Matemática para alunos com baixo desempenho, buscamos uma aproximação da dinâmica interna das referidas representações, através de seu núcleo central e do sistema periférico (ABRIC, 2003), bem como a análise das categorias sócio-históricas de Jodelet (2000) nos sentidos do campo semântico e nas falas dos participantes da pesquisa, no grupo focal, e dos discursos que permeiam os documentos oficiais.

CAPÍTULO 3:

O PERCURSO PLURIMETODOLÓGICO