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AS TRÊS VARIEDADES FUNDAMENTAIS DE PEIRCE

No documento Anais completos (páginas 44-46)

O signo é definido pela semiótica como algo que representa alguma coisa para alguém sob certo contexto e medida, criando seu próprio sentido dentro do contexto da mensagem. Na concep- ção saussureana, o signo é composto por duas unidades — o significado e o significante — sendo que o significado é o conceito e o significante é o que faz você relacionar algo com o conceito, que pode ser uma imagem, uma palavra escrita ou falada.

Para além da poética, a semiótica, enquanto ciência da linguagem que opera com a articula- ção dos signos que extrapolam o verbal, opera também com os diversos sistemas de sinais, de linguagem e suas relações. A semiótica dialogaria com a música, o cinema, a história em quadrinhos, a moda, a arquitetura, a pintura etc. (CHALHUB, 2005, p.18).

Segundo Jakobson (2007, p.99), Charles Peirce qualificou em três variedades fundamentais a diferença entre a relação imediata significante/significado, unidades de composição do signo. Es- tas variedades foram chamadas de ícone, índice e símbolo.

No âmbito da representação, o ícone ou signo icônico se baseia em uma relação de seme- lhança, onde o representante é uma cópia daquilo que representa. Santaella e Nöth (1999, p.19 e 37) indicam que, em uma visão filosófica, o ícone é uma simulação de um objeto, que pode representar aspectos do mundo visível. Jakobson (2007, p.99-100) completa, afirmando que o ícone é a relação de semelhança entre o significante e o seu significado, por exemplo, a representação fotográfica de um animal e o animal que está sendo representado.

O índice, por sua vez, pode ser classificado como um signo não representativo cuja utiliza- ção apenas indica a existência de um objeto ou sentido. Santaella e Nöth (1999, p.20-21 e p.63) evi- denciam a necessidade do intérprete (receptor ou enunciatário) conhecer o objeto de referência, que está sendo indiciado – caso contrário, o índice não será reconhecido como a representação de algo existente ou uma conexão causal fatual, física e concreta, características do índice. Para Jakobson (2007, p.99-100), o índice atua no vestígio ou no indício próximo de um fato entre o significante e o significado, como exemplo a fumaça como índice de fogo ou uma pegada como índice da presença de algum animal ou pessoa.

Por último, o símbolo que opera dentro de uma ligação aprendida e ensinada, constituindo uma regra. No símbolo, segundo Jakobson (2007, p.99-100), é obrigatório que a pessoa que o inter- preta conheça a regra por trás da ligação entre o símbolo e seu significado, pois é através dela que a mensagem será interpretada corretamente. Caracteriza-se como uma relação que não é entendida naturalmente: “A relação entre o símbolo e seu objeto se dá através de uma mediação, normalmente uma associação de idéias que opera de modo a fazer com que o símbolo seja interpretado como se referindo àquele objeto.” (SANTAELLA E NÖTH, 1999, p.63).

De acordo com Jakobson (2007, p.101), as categorias podem apresentar semelhanças entre si. Um dos traços mais importantes dessa categorização é a dificuldade, talvez até a impossibilida- de, de encontrar um símbolo sem traços de índice, ou um ícone que não tenha a qualidade de um símbolo. As categorias conversam entre si, mas o que categoriza um ícone, índice ou símbolo é a predominância das características de um desses sobre os demais.

É possível realizar uma análise das relações entre a palavra e a imagem utilizando-se das classificações apresentadas por Charles Peirce. Nesta linha de estudo, Santaella e Nöth (1999, p.59) evidenciam as semelhanças e diferenças entre estes dois tipos de signos atribuindo-lhes as qualidades de ícone e símbolo. Para os autores, a imagem-ícone foi um conceito muito aprofundado e estudado ao longo dos anos enquanto a literatura semiótica insistiu em simplificar a palavra-ícone em uma simples representação de um objeto. Os níveis e subníveis do ícone e do símbolo passaram a ser utilizados para resolver essa definição abrangente de ícone, podendo analisar tanto as imagens gráficas quanto mentais e verbais de acordo com uma gama de processos mentais que estes ícones despertam.

O ícone é subdividido de acordo com as funções que adquire em nossa mente, seja em seu aspecto passivo ou ativo, seja por sua pureza adquirida por ter apenas uma natureza mental ou até pela sua capacidade de semelhança não só em imagem, mas quanto em significado. Acerca do símbolo, Santaella e Nöth (1999, p.63-65) indicam que podem ser caracterizadas como um signo simbólico tanto a imagem quanto a palavra, por criarem uma ligação com a imagem mental, através de uma mediação, uma associação da palavra-signo ao objeto. O símbolo, portanto, é formado por componentes indiciais e icônicos que se acentuam e criam novos significados enquanto criam um sincronismo entre o verbo e a imagem, da palavra até a construção de sentenças complexas.

3 PESQUISA

A presente pesquisa é classificada como uma pesquisa exploratória segundo o autor Gil (2002, p.41), pois teve como objetivo principal o aprimoramento de ideias. O método de estudo de caso foi utilizado para aprofundar o conceito proposto nesta pesquisa. Segundo André e Lüdke (1986, p.17), “o estudo de caso é o estudo de um caso. O caso é sempre bem delimitado, devendo ter seus contornos claramente definidos no desenrolar do estudo”. Ainda segundo o autor, o estudo de caso possibilita a utilização de várias fontes de informação.

O tema foi delineado dentro do conceito da semiótica. O objeto de estudo é o videoclipe da música Radio Ga Ga do álbum The Works, lançado pela banda britânica Queen em 1984. Verificou-se a necessidade de utilizar instrumentos da pesquisa bibliográfica para coleta dos dados pertinentes à realização da pesquisa, com análise de artigos científicos, livros e demais materiais já elaborados sobre o tema e as teorias propostas (GIL, 2002, p.44).

Esquema 2 – Sequências do videoclipe Radio Ga Ga

Fonte: elaborado pelo autor.

Após o levantamento das informações, o videoclipe foi dividido em sete sequências de acordo com a relação das cenas com a letra da música. Cada uma das sequências foi nomeada, trans- crita e analisada dentro do conceito da semiótica, identifi cando os signos com o objetivo de descobrir se estes estão relacionados com o discurso crítico da banda.

No documento Anais completos (páginas 44-46)