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organização dos hospitais

6.2 As Unidades clínicas integradas

A estratégia dos nossos hospitais públicos está hoje muito dominada pelas questões da eficiência, seja ela clinica ou económica, sobretudo porque no decurso das últimas décadas, os hospitais tiveram uma evolução impressionante em volume de serviços prestados e na efetividade dos seus resultados. Para tal contribuiu o facto destas organizações viverem mergulhadas num clima de permanente evolução do conhecimento e da tecnologia, de novas profissões e superespecialização das existentes, da crescente qualidade técnica dos cuidados e sucesso das terapêuticas.

Esta realidade acabou igualmente por gerar uma mudança do paradigma da gestão, bem como da própria organização dos serviços clínicos.

Assim, de uma gestão facilitadora vocacionada para a angariação de fundos e adoção de novas tecnologias, passamos hoje em dia para modelos de gestão racionalizadores da oferta em que se procuram desenvolver sinergias entre serviços. Estes modelos permitem estabelecer uma fronteira clara entre o que é “mera novidade” da verdadeira “inovação” clínica, fomentar a prática de horários de trabalho mais adequados e sobretudo ajustados ao afluxo da procura, potenciar mecanismos de certificação e acreditação que garantam a segurança dos doentes, criar alternativas consistentes ao internamento clássico e finalmente implementar políticas muito centradas na contenção dos custos de modo a reduzir drasticamente os níveis de desperdício na despesa.

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É obvio que estes modelos de gestão mais exigentes e menos simpáticos face aos múltiplos interesses em presença tocam de forma direta o “core business” da atividade hospitalar, ou seja a prática clinica.

Deste modo, a arquitetura adotada na organização dos cuidados não ficou imune a esta mudança, ainda que de uma forma mais lenta do que aquela que se verificou no âmbito da gestão.

Com efeito, o modelo tradicional em que se estruturavam os cuidados hospitalares, fortemente centrada em serviços monovalentes e que equivaliam à especialidade médica, tem vindo a ser sucessivamente alterada pela criação de unidades integradas multidisciplinares, nas quais se privilegia o interesse do doente encarado no seu todo, bem como a própria eficiência clínica.

A constituição destas unidades, que começa a dar os seus primeiros passos nos hospitais públicos, centra-se não apenas em torno da patologia do doente, mas essencialmente no problema de saúde visto como um todo. A abordagem do doente passa a ser progressivamente holística, ultrapassando a mera visão orgânica da doença, ao promover- se uma gestão integrada desta em todas as suas vertentes.

Estas unidades garantem deste modo uma oferta de cuidados diferenciados nas áreas de intervenção, orientadas por critérios de boas práticas e executadas por equipas de profissionais multidisciplinares e integradas.

Por sua vez o seu funcionamento trará maior rentabilidade dos recursos existentes já que são as necessidades dos doentes que atraem os cuidados até si, impondo por isso a constituição de equipas multi e interdisciplinares que se organizam entre si para dar resposta ao problema de saúde no seu todo.

Este será um caminho que permite ultrapassar as dificuldades de articulação com que hoje os serviços clínicos ainda se deparam quando necessitam da colaboração de outras áreas de cuidados, esbarrando muitas das vezes em burocracias sem sentido, ou em deficientes formas de comunicação.

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Por outro lado estas unidades ao desenvolverem a sua atividade de forma intensiva e exclusiva na área para a qual são reconhecidas geram seguramente padrões de eficiência mais elevados quando comparadas com o funcionamento dos serviços autónomos, que apenas têm uma visão segmentada da doença. Os profissionais que aí exercem a sua atividade acabam por adquirir conhecimento e experiência que lhes permite ultrapassar com rapidez a natural curva de aprendizagem diagnóstica e de tratamento, alcançando elevados níveis de qualidade técnica e de efetividade no resultado.

Simultaneamente este modelo de prestação de cuidados apresenta reais vantagens no quadro da eficiência alocativa. Com efeito, por via da concentração dos recursos que implicam, evitam despesas desnecessárias como aquelas a que frequentemente assistimos, e que se prendem ora com a falta de resposta em tempo oportuno das estruturas de apoio clínico, ou com decisões clínicas que não sendo integrada por vezes são inúteis, pois em nada contribuem para o esclarecimento do problema do doente.

Estas ineficiências potenciam perdas e desperdícios que um estudo independente realizado pelo Tribunal de Contas ao SNS quantificava num valor aproximado de 25%. (Antunes, 2012)

Finalmente, para além de garantir a adequabilidade diagnóstica e de tratamento através da articulação intensiva e qualificada dos cuidados, estas unidades podem igualmente constituir centros de investigação clinica e epidemiológica, assegurando a utilização de novas técnicas terapêuticas experimentais e de ensaios clínicos, colaborando assim no desenvolvimento da investigação básica e translacional.

Em suma, apesar da saúde não ter um preço, na verdade ninguém pode ignorar que a mesma tem um custo, que se apresenta caro, descontrolado e por isso insustentável face à riqueza que o país produz.

Por isso é perfeitamente lícito no atual quadro económico marcado por uma forte contenção orçamental, ao qual a saúde não é alheia, exigir às estruturas de cuidados que repensem as suas tradicionais formas de organização, mediante uma nova abordagem do fenómeno da doença verdadeiramente centradas no interesse do doente e na sustentabilidade do sistema.

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Estas exigências são a nosso ver ditadas por 3 ordens de razões incindíveis entre si: primeiro porque os doentes são acionistas do sistema de saúde por via dos impostos que pagam, em segundo lugar porque as características do SNS (geral e universal) lhes confere o direito a um acesso sem reservas ou discriminatório aos cuidados de sáude, e finalmente porque numa sociedade humanista como a nossa o SNS constitui uma razão de orgulho e de sucesso que foi possível conquistar e que nenhum de nós em consciência quererá por certo perder.

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